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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Cultivando um vício


Mais uma vez apelando ao antigo Imitação de Cristo, achei que seria útil discutir um pequeno trecho desse livro à luz da Bíblia.

Para quem perdeu postagens anteriores, o Imitação de Cristo é um livro formado por 4 manuscrito feitos provavelmente entre 1220-1240 por João Gersen, abade do mosteiro de S. Estevão, em Vercelli (Itália). Os manuscritos originais foram depois organizados por Tomás de Kempis no séc. 15. Ele foi usado em larga escala para o ensino religioso em toda Europa, como uma espécie de “código” dos mosteiros, de onde as cidades se refizeram após o esfacelamento de Roma, e de onde ocorreu a cristianização da Europa. Pode-se dizer que boa parte do que conhecemos por Cristianismo está associado a esse livro.

cap IX, parágrafo 4
“Se cada ano extirpássemos um só vício em breve seríamos perfeitos. Mas agora, pelo contrário, muitas vezes experimentamos que éramos melhores, e nossa vida mais pura, no princípio da nossa conversão que depois de muitos anos de profissão. O nosso fervor e aproveitamento deveriam crescer, cada dia; mas, agora, considera-se grande coisa poder alguém conservar parte do primitivo fervor. Se no princípio fizéramos algum esforço, tudo poderíamos, em seguida, fazer com facilidade e gosto.”

Poderíamos discutir a questão do “primeiro amor”de que João fala em Apocalipse 2. No entanto, eu gostaria de abordar algo mais prático, que é justamente o que o início do parágrafo aborda: seria possível evitarmos os vícios, ou hábitos que nos afastam de Deus. No entanto, isso é coisa a que raramente se dá atenção e mais raro ainda se aborda de forma sistemática, apesar da famosa pregação “Sede santos, porque eu sou santo” (1ª Pedro 1.16). De fato, Pedro ainda repete a instrução dada a Moisés muito antes: “Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus” (Levítico 20.7). Nos tendo feito a sua imagem e semelhança, Deus parece querer continuar a Se ver em nós!

Vício (do latim "vitium", que significa "falha" ou "defeito"). Contrário de virtude. É um hábito repetitivo que degenera ou causa algum prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem.

Jesus também abordou a necessidade de um “comportamento correto” de sua forma terrivelmente intimista e prática:

Eu falo do que vi junto de meu Pai, e vós [Fariseus] fazeis o que também vistes junto de vosso pai. Responderam, e disseram-lhe: Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão. Mas agora procurais matar-me, a mim, homem que vos tem dito a verdade que de Deus tem ouvido; Abraão não fez isto. Vós fazeis as obras de vosso pai.
...
Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira. Porque vos digo a verdade, não me credes. (João 8.38-45)

Na prática, somos tentados a acreditar que as regras sociais de “bom comportamento” são aquelas a que a Bíblia se refere: usar roupas longas e de cores sóbrias, não beber, não ouvir rock, não fazer tatuagem, não furar fila, não falar palavrão, ir à igreja, etc. O que proponho aqui é vasculhar a Bíblia atrás do que realmente é posto como degenerador do ser humano. Eis que reuni alguns, para que pensemos em fazer como recomenda a Imitação de Cristo. Ou seja, combatê-los sistematicamente em nós mesmos, começando pelos que cada um tiver em maior conta.

A variedade de nomes e palavras aqui reflete as variedades de tradução para o português. Organizei os vícios em 6 grupos de acordo com uma similaridade que percebi examinando os textos onde são citados, e que explicarei abaixo.

1. Falta de amor a Deus; idolatria; feitiçaria; imoralidade sexual; fornicação; orgias; falta de fé

O amor a Deus é o 1º Mandamento da Lei ditada a Moisés, e também o 1º dos Mandamentos proferidos por Jesus. Ao procurar na Bíblia um significado exato para o que seria “não amar a Deus”, o que encontramos é justamente a substituição do culto a Jeová/Javé por outros deuses como Apis (o boi), Baal, Asherá, Qemosh/Camos, Moloque, Astarte/Astarote, etc, aos quais os israelitas em algum momento creditaram a fertilidade da terra, sua liberdade ou a vitória sobre os povos vizinhos.

Os deuses rivais eram entidades pagãs, deuses ou forças “da natureza”. Quando os israelitas foram absorvidos por potências como a Babilônia ou Roma, eles também encontraram imperadores se nomeando como deuses e exigindo culto a sua pessoa, estátuas suas ou mesmo tronos. Os profetas se opuseram diretamente a outro culto que não o de Javé, mas repetidas vezes o povo foi punido por se desviar e seguir deuses pagãos ou os imperadores.

O culto dos deuses pagãos parecia estar sempre ligado à fertilidade da terra… que era celebrada ou evocada através de atos sexuais e prostituição nos templos. Tratavam-se de sexo ritual entre homem-mulher e entre homens, em duplas ou coletivamente. A cidade de Sodoma, por exemplo, parecia ser adepta dos cultos orgíacos. Dessa forma, inevitavelmente ficaram associados o sexo (público) ao culto pagão, a ponto de o sexo ser considerado pecado! Curiosamente não haveria outra forma de produzir cada ser humano sobre a Terra.

Desde o século 18, os deuses pagãos foram substituídos terrivelmente pelo individualismo e pelo não-culto. Assim, hoje somos muito mais tentados a creditar nossos sustento, nossas virtudes e nossa liberdade ao dinheiro (Mamon) ou ao próprio merecimento, ao governo (no caso dos países desenvolvidos), ao status social (para quem o tem), a algum conhecido influente, etc. São deuses que não requerem agradecimento algum, e de fato nos abençoam tanto quanto Baal aos seus profetas, quando foram desafiados por Elias! (1ª Reis 18)

2. Falta de amor ao próximo; inimizades; partidos; furtos; ódios; iras; brigas; discórdia; traçar planos perversos; amargura

O “amor ao próximo” foi o ponto crítico da pregação de Jesus, sem o qual - ele explicava repetidamente - a Lei é inútil. Mas não se tratou de uma fala original: Elifaz de Temã, no livro de Jó, já acusava aqueles que não ajudavam aos mais fracos. Vários ítens da lei, como “não matar”, “não roubar”, “não cobiçar a mulher ou o gado alheios”, etc também recaem inevitavelmente nesse ponto em que a nossa sociedade competitiva nos ensina a fazer o contrário do que Deus manda, justamente ajudar aquele para quem podemos perder algo.

Afinal, “amar ao próximo” sempre vai nos condenar a precisar do Pai - e não de nós mesmos ou do apoio social - para vivermos. Quem em sã consciência faria algo assim? Abraão e o rei de Salém* instituíram o dízimo como uma ação “socialista” da Igreja. Salomão já ensinava: “Quem dá aos pobres não passará necessidade, mas quem fecha os olhos para não vê-los sofrerá muitas maldições” (Provérbios 28.27). Malaquias bem nos deixou “Tragam o dízimo todo ao depósito do templo, para que haja alimento em minha casa. Ponham-me à prova", diz o Senhor dos Exércitos” (Malaquias 3.10). João fez isso, Jesus também e ainda aconselhou seus seguidores assim: “O Rei responderá [no Último Dia]: ‘Digo-lhes a verdade: o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram’” (Mateus 25.40). Estranha, Judasmente ou capitalisticamente, mesmo a Igreja e nós temos nos esquecido de “dar aos pobres”, mas não de arrecadar a prosperidade oferecida por Deus.

3. Impureza; desonestidade; mentiras; calúnias; injustiças; imitar “o mundo”

O que é ser PURO? Biblicamente, essa palavra é usada muitas vezes, com poucas explicações. Aparentemente, a “pureza” é atribuída aquilo que se pode ver através e àquilo que não muda, que é constante. Assim, o indivíduo puro é aquele que nada esconde, e que também é perfeitamente justo ou igualitário. Em outras palavras, estamos falando de um sujeito incapaz de privilegiar a si mesmo ou até um conhecido em desfavor de qualquer outra pessoa.

Estou limpo e sem pecado; estou puro e sem culpa. (Jó 33.9)

Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. (Salmos 24.3-4)

Jesus atribui o “domínio desse mundo” a um Príncipe sobretudo mentiroso e injusto (João 14.30), e Paulo aprofunda isso afirmando que a injustiça faz parte do que a nossa carne deseja (Gálatas 5). Seria, portanto, natural às pessoas deixar a pureza e acostumarem-se à injustiça, da qual se tornam praticantes e colaboradoras. Jesus chega a nomear essas pessoas de “filhos do Diabo” (João 8.44).

4. Libertinagem; palavras torpes; gritaria; insujeição; obscenidades

Libertino: aquele que é desregrado em sua conduta; devasso, dissoluto. Pessoa livre da disciplina da fé religiosa; livre-pensador.

Eis aqui o abandono das leis, da moral, de toda regra que confronte a vontade individual e tente fazer as pessoas agirem juntas para algum propósito. É interessante notar que Moisés esmerou-se em produzir um código de leis escritas e constantes, quando outros povos se pautavam na vontade dos reis. Josias resgatou essa Lei, que se perdera na invasão de Jerusalém pelos assírios. Esdras, depois, fez da Lei o símbolo da continuidade de Judá após o cativeiro na Babilônia. Jesus veio quando a Lei estava sendo praticada de forma fria, sem amor a Deus e como um fim em si mesma, fonte de lucro e status ao invés de um auxílio para a vida dos homens.

E se a Lei estabelecia uma forma para os homens agirem entre si, delimitando os limites de cada um, Jesus propunha mais: “Quem quiser ser o maior, seja o menor entre todos” (Lucas 22.26). Não bastava que um deixasse de prejudicar o seu próximo. Era necessário servi-lo, devotar-se a ajudá-lo! Ao invés de uma Lei que exercesse coerção nos homens para moldar seu comportamento, Jesus propunha que a Lei fosse desnecessária porque seu objetivo seria o mesmo no coração das pessoas.

Por outro lado, há algo de terrível na liberdade e que motiva pessoas a uma vida religiosa legalista. Ser livre significa ser responsável pelos seus atos. Estando por detrás de uma doutrina ou lei, os Fariseus mesmo cobiçavam a fortuna, o status e [por isso] eram tidos como “santos”. Quando Jesus disse que a Lei tinha um propósito e não superava as necessidades dos homens, aqueles “santos” que obedeciam a “não matarás” organizaram como Ele seria morto e procuraram alguém [impuro] para fazer isso. E o dinheiro envolvido também não deveria ser ofertado no Templo, para não contaminar a sua pureza. Quem puder ver a superficialidade aí, sinta-se abençoado.

5. Ambição; inveja; ciúme; indignação; olhos altivos

Ambição: motivação dos comportamentos por um desejo forte de recompensa ou superioridade em relação aos demais.

Inveja: ação coercitiva ou agressiva dirigida a um concorrente e motivada por sentimento de posse.

Ciúme: ação coercitiva ou agressiva dirigida a um objeto ou pessoa disputados e motivada por sentimento de posse.

A definição exata dos significados de ambição, inveja e ciúme é necessária aqui, porque não existem comportamentos “de ambição”, “de inveja” ou “de ciúme”. Todos são sentimentos presumidos pela própria pessoa ou por outros que sabem mais do que está sendo mostrado em um discussão irritada, por exemplo. Além disso, embora o Ciúme seja condenado, é traduzido em algumas versões que “o Espírito que em nós habita tem ciúmes” (Tiago 4.5), ou que Deus manifestou ciúmes pelo Templo onde Ezequiel viu colocadas imagens de outros deuses, na porta norte do pátio (Ezequiel 8.3).

Mas que espécie de Deus nos recomenda sermos como Ele e nos proíbe o ciúme, quando Ele mesmo o manifesta? Exatamente um Deus QUE NOS POSSUI, e jamais entregaria a outro.

Lembrem-se dos dias do passado; considerem as gerações há muito passadas. Perguntem aos seus pais, e estes lhes contarão... Quando o Altíssimo deu às nações a sua herança, quando dividiu toda a humanidade... Numa terra deserta ele os encontrou, numa região árida e de ventos uivantes. Ele o protegeu [a Seu povo] e dele cuidou... O Senhor sozinho o levou; nenhum deus estrangeiro o ajudou. Mas eles o deixaram com ciúmes por causa dos deuses estrangeiros, e o provocaram com os seus ídolos abomináveis. Sacrificaram a demônios que não são Deus, a deuses que não conheceram, a deuses que surgiram recentemente, a deuses que os seus antepassados não adoraram. (Deuteronômio 32)

Tão ruim quanto é se as pessoas tomam como deuses a si próprios e dizem aos outros “Eu fiz isso”, ou “Eu sou responsável por aquilo”. Comportalmentalmente falando, isso aparece quando alguém recusa ajudas ou reprimendas porque “não estão à sua altura”. Tal orgulho é citado entre as coisas que Deus mais odeia.

6. Conversas tolas; bebedeiras; gracejos imorais; insensatez; falta de exortação; falta de ensino

Sem pestanejar, o Livro de Provérbios atribui muitos adjetivos a isso, mas o principal é INSENSATO, ou TOLO, aquele que não pensa, e cujo destino será a própria destruição. Esse personagem caricato não apenas se afasta dos bons conselhos, mas tenta arrastar outros para sua falta de sabedoria ou loucura. Ele não personifica o mal, nem a obra da maldade, apenas se afasta irresponsavelmente dos ensinos que o Senhor proveu. E jamais ensinará o que é certo aos demais, antes ensinará como bom o que é pior.

Como que atribuindo uma culpa por simplesmente desprezar o ensino do Senhor, esse talvez seja o vício mais gravemente ligado à natureza humana. Para o repetirmos e empoderarmos, basta não nos instruirmos no que Deus ensinou ao longo de 10 mil anos e mais de 300 gerações de sábios, profetas e santos. Basta ignorar, deixar de fazer, rir e esnobar aos outros a própria ignorância como se fosse um tesouro a se guardar. É só não fazer nada...

Certamente muitas pessoas com dificuldades para ser felizes também vão enxergar aí a desculpa perfeita para si mesmos: ao invés de fazer o bem a mim ou qualquer outro, vou me afundar no biblicalismo e recitar para o vento o que há na Bíblia. Jesus fez isso mesmo. Ah, não fez?! Como no começo da frase, a quem isso vai ajudar? Qual faminto será alimentado, qual doente será curado, e qual injustiçado terá ajuda nisso? Não é a Bíblia feita de vidas ao invés de enunciados? Como Ele mesmo disse, “também está escrito...”

O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo? (Isaías 58.6-7)

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Certamente que cada um de nós pode enxergar nessa lista de desventuras algumas que lhe cabem. Não somos perfeitos, e Paulo mesmo argumenta que a carne nos conduz ao mau. Mas não é sem valor que cada um invista tempo e esforço em fazer como recomenda o pequeno parágrafo lá no início. De pouco em pouco, podemos nos tornar mais próximos ao que agrada Deus.

*Salém era uma das cidades situadas no terreno fértil às margens do Mar Morto. Numa histórica batalha, os reis de Sinar, Elasar, Elão e Goim se uniram para dominar as outras cidades. Sabendo que seu irmão Ló estava prisioneiro (pois Sodoma era uma das cidades atacadas), Abraão reuniu outros reis para fazer oposição aos primeiros. Entre eles estava o rei de Salém, Melquizedeque, chamado honrosamente de "sacerdote do Deus Altíssimo". Davi freqüentou um tabernáculo em Salém, o que sugere que se tratava de um lugar religioso.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Quais são as diferentes respostas que Deus dá à oração?

Texto furtado a olhos vistos e extorquido muito espontaneamente de Kenneth V. Ryland.

Há orações que Deus simplesmente não vai ouvir?

Quando você pensa sobre o que significa ser um cristão, a idéia de NÃO receber uma resposta à oração parece contrária a qualquer noção de cristianismo. Um cristão que não se comunica com Deus não é realmente um Seu seguidor. Como chegamos ao ponto onde os cristãos estão tão fora de sintonia com Deus que não têm certeza de muita coisa? De repente o cristianismo é uma apólice de seguro contra o lago de fogo... afinal, é melhor estar do lado vencedor.

Mas, o que dizer sobre a declaração de Jesus de que Ele veio para que pudéssemos ter vida, e a tivéssemos em abundância? (Jo 10.10) Como Deus pode conceder-lhe uma vida abundante se você nem consegue falar com Ele e não tem idéia de quando Ele está falando com você?

O cerne da oração é a comunicação com Deus, de forma que a falha aí simplesmente sabota tudo o que Jesus veio contar. Se você quer ter maior proximidade com Deus, há várias recomendações bíblicas para sua oração.

Conhecer a vontade de Deus

Vamos começar por admitir o óbvio: às vezes, a resposta de Deus é "não". Outras vezes, é "espere, pois eu vou atender ao seu pedido mais tarde." Então, quando você sente que Deus não está ouvindo você, pode ser que ele só não esteja dando a resposta que você quer ouvir.

Ter de esperar e exercer a virtude da paciência não é fácil, especialmente em nossa cultura em que a gratificação imediata é rei. A tentativa de Deus em nos ensinar paciência parece tão fora de passo com o nosso estilo de vida! No entanto, deve ficar claro que o Pai Celestial não está particularmente interessado em manter seu estilo de vida rápido. Ele se interessa mais em se ver você equipado com as virtudes que vão durar pela eternidade. Ele é um pai e, como qualquer pai, está muito mais preocupado com a forma como você vai sair.

Então, quando você orar, tenha em mente que o seu pedido terá de ser em linha com a meta que Ele tem na paternidade de você. Caso contrário, não espere receber uma resposta favorável. Ele não vai te dar nada que impeça você de passar a eternidade em Seu reino. Esta é outra maneira de dizer "E esta é a confiança que temos Nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que Lhe fizemos." (1Jo 5.14-15).

Pedir segundo a Sua vontade (não a nossa), é uma das chaves para prever o tipo de resposta que iremos receber. Deus trata conosco da mesma maneira como lidamos com nossos próprios filhos. Se meu filho de 7 anos me pedisse para levá-lo ver um filme censurado ou para um bar, a única resposta que poderia esperar é "não". Permitir que o meu filho veja cenas tórridas ou que freqüente bares é contrário à minha vontade. Seria ruim para ele, saiba disso ou não. Há certas coisas que minhas crianças nunca pediram porque sabiam que seria contrário à minha vontade em defender os seus próprios interesses. Você também precisa saber o que está dentro da vontade de Deus antes de pedir... caso contrário, você pode estar perdendo seu fôlego e seu sono por algo que você nunca vai ganhar.

Mas, dirão alguns, "é tão difícil saber a vontade de Deus. Como eu posso ter certeza qual é a Sua vontade?" Se você é um cristão novo, tal resposta é compreensível. No entanto, para aqueles que têm sido membros do corpo de Cristo, esta resposta costuma ser desculpa para ganhar alguma margem de manobra em ter nosso próprio caminho. Afinal, se não sabemos, como podemos ser responsabilizados por as nossas orações serem inúteis? "Se Deus tivesse revelado Sua vontade antes de eu ter problemas, eu poderia ter evitado isso." Que maneira conveniente de transferir para Deus a culpa por nossos erros!

Na realidade, não é difícil saber a vontade de Deus em 99% das circunstâncias da vida.

Deus cercou Seus filhos com evidências de Sua vontade. Jesus disse que Seus seguidores (por exemplo, você e eu) não seríamos servos, mas amigos. Ele deixou claro para nós o que estava fazendo, porque Ele estava fazendo isso, e o que Ele espera de Seus seguidores (Jo 15:15). Temos recebido o Espírito Santo para nos conduzir a toda a verdade (Jo 16:13).

Com tanta atenção e direção de Deus, por que seria difícil saber o que Deus quer de nós? Os caminhos de Deus não são "insondáveis", como foi o caso quando Israel invocou profetas para revelar a verdade de Deus para eles. Temos as Escrituras, que contém milhares de exemplos de como Deus lida com seres humanos, o que Sua vontade é, e o que Ele espera. Temos o Espírito Santo para instruir nossa mente em pensar como Deus pensa, e temos acesso direto a Deus. Jesus fez disso uma realidade. Não há mais uma cortina entre nós e o Santo dos Santos. Devemos parar de esperar lá fora: Deus abriu as portas para nós. É hora de ir e falar com nosso Pai.

Portanto, temos poucas desculpas para não conhecer a vontade de Deus. Mas há os 1% de tempo em que nós temos um dilema e não sabemos que caminho seguir. E é justo perguntar como podemos saber da vontade de Deus em tais circunstâncias.

Se você tiver esgotado todos os canais normais de tentar determinar a vontade do Pai - o estudo da Bíblia, aconselhamento com aqueles que são sábios na fé e orar como ora normalmente - e ainda não sabe o que fazer, há ainda uma maneira de descobrir o que Deus quer que você faça. Estenda o velo.

Estenda o velo

Você conhece a história de Gideão (Juízes 6, 7 e 8)? Os israelitas se afastaram de Deus após a geração de Josué e submergiram na adoração de Baal. Por causa de sua desobediência, Deus deu-os nas mãos de seus inimigos, os midianitas. Deus também permitiu que os amalequitas e os povos do Oriente empobrecessem Israel. Após alguns anos de opressão, o Anjo do Senhor foi a Gideão, que estava debulhando do trigo no lagar (piscina rasa, no chão, onde se pisam os frutos). Gideão tinha medo dos midianitas, e então o anjo disse que ele seria um homem de valor, conduzindo Israel à vitória contra seus inimigos.

Gideão não aceitou avidamente a oportunidade. Ele precisava de uma prova de que Deus estava realmente falando. Será que Deus se zangou quando Gideão pediu a confirmação? Não. Deus cumpriu com o pedido. Depois que o Senhor disse a Gideão para ir contra os midianitas e amalequitas, Gideão respondeu dizendo ao Senhor: "Se você vai salvar Israel por minha mão, eu preciso de uma prova de que você estará comigo. Porei um velo no eirado à noite, e se ele estiver cheio de orvalho da manhã e no chão em torno estiver seco, então eu sei que você vai salvar Israel por minha mão" (minha paráfrase).

Velo é um couro peludo de carneiro, que se usava para dormir ou fazer roupas. Quando Gideão levantou de manhã, a lã está cheia de orvalho, mas o chão em torno estava seco. Essa prova foi suficiente? Não. Gideão teve a audácia de dizer ao Senhor "Preciso de mais provas. Esta noite, se você fizer o chão ao redor da lã ficar molhado de orvalho e o velo ficar seco, então eu saberei que você guiará Israel por minha mão". Deus ficou irritado? Não. Sem uma palavra dura sequer, o Senhor cumpriu com o pedido mais uma vez. Dessa vez Gideão finalmente aceitou o fato de que o Senhor realmente lhe entregaria os inimigos de Israel.

Mas isso não é tudo. Mais tarde, mesmo sem um pedido, o Senhor deu Gideão uma confirmação adicional. Como Israel estava prestes a invadir o arraial dos midianitas e amalequitas, Deus disse a Gideão para tomar o seu servo e esgueirar-se para o acampamento dos inimigos de noite, onde ouviram o sonho de um midianita. O sonho revelava que os inimigos de Israel seriam derrotados pela "espada de Gideão". Cobrado por esta nova confirmação, Gideão levou seu clã para derrotar o inimigo.

Deus não mente, não nega ao povo a confirmação de Sua vontade. Como pai, você não estaria disposto a expor sua vontade para um filho, sem qualquer sombra de dúvida? Afinal, você não quer que seu filho entre em apuros. Você quer que ele seja bem-sucedido em tudo que faz, e vai impedir que o seu filho bagunce a própria vida.

Deus não faz diferente, apenas Seu amor por você e Seu interesse em seu sucesso são muito maiores do que o seu interesse por seus próprios filhos. Se é imperativo que você saiba qual é a Sua vontade, continue perguntando e buscando até que esteja claro. E, se ainda há dúvida na sua mente, pare e peça a confirmação. Quando se trata de saber o que Deus espera de você em termos de ações e atitudes, você tem todo o direito de pedir instruções claras e inequívocas de Deus. Ele nunca fez da Sua vontade um mistério para a humanidade; peça orientação e você receberá.

Lidando com o silêncio de Deus

O que fazer nesses casos, quando você orou com fé, tem feito tudo o que você precisa fazer, sabe que não está pedindo nada fora da vontade de Deus, mas ainda não há resposta? O amigo doente ainda está doente. Você ainda está sem dinheiro e sem emprego à vista. O cheque não veio como prometido. Todos nós passamos por tais experiências. Estamos pedindo com fé, mas Deus não está dizendo nada.

O que você faz quando isso acontece? A maioria não faz nada. Nós podemos rodear um pouco falando sobre o nosso "teste de fé", mas, no final, o silêncio de Deus é aceito com resignação estóica (ou desdenhosa), assumindo que pedir mais sinais é falta de fé. Assumimos um fatalismo bíblico e piedoso. Afinal, Deus ainda parece duro, não é mesmo?

Não tenha tanta certeza de que o silêncio de Deus é sua resposta final, ou que é "sinal" para você calar a boca. Se você tiver feito tudo certo e tiver feito o seu pedido com fé, considere Seu silêncio como um convite para se aproximar Dele e falar. Se sua fé está alinhada com Ele, é perfeitamente normal querer saber por que Deus "não retorna as ligações". Se você tem orado com fé, então você deve persistir perguntando por que a resposta de Deus é "não", ou porque Ele é silencioso. Deus realmente deseja se comunicar com você porque você é seu amigo e filho. "Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e difíceis, que não sabes" (Je 33:3).

Então, ore sem cessar e não desista até que Deus responda de uma forma ou outra; até que você esteja certo da Sua vontade. Alguns vêem essa busca persistente da atenção de Deus como  falta de fé, mas a verdade é que a Bíblia está repleta de exemplos de persistência. E aqueles que têm sido persistentes com Deus têm sido recompensados com o Seu amor e favor.

Havia dois cegos sentados à beira da estrada, quando Jesus veio de Jericó. Eles gritaram para que Jesus tivesse misericórdia, mas a multidão que seguia Jesus tentou silenciá-los. Qual foi sua resposta? Eles gritaram ainda mais alto. Jesus ficou tão impressionado com a sua persistência que  teve compaixão deles e os curou (Mt 20:29-34).

Imaginem o curso da história se Jacó tivesse dito: "Tudo bem, eu desisto", quando o Senhor lhe disse para ir embora. Gênesis 32:24-29 registra o duelo mais fantástico da história: Jacó luta com alguém que ele identifica como Deus, até amanhecer. Quando o dia vem, o Senhor diz a Jacó: "Deixa-me ir, porque já a alva subiu". Apesar de ferido e esgotado, Jacó responde: "Não Te deixarei ir, se não me abençoares". O Senhor não fica chateado pela persistência de Jacó; Ele lhe recompensa com uma nova história e um novo nome, porque Lhe agradou. Jacó mostrou sua fé através da persistência, e foi recompensado porque estava disposto a empenhar-se com Deus! Por outro lado, se com resolução - e desdenho pelos infortúnios - Jacó se recusasse a confrontar Deus, teria sido o mesmo que retirar-se da presença Dele, e não teria havido nenhuma bênção.

Deus espera participação ativa de seus filhos. Lembre-se também que Jesus nos diz para pleitear nosso caso diante do Pai, com persistência implacável, até recebermos a Sua graça. Ele diz que devemos ser como a viúva ante o juiz injusto (Lc 18:1-8). "E Deus não fará justiça aos Seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que seja tardio para com eles?". Em outras palavras, embora Deus nem sempre responda imediatamente, ele irá responder se você não desistir. Sua persistência é prova de fé.

Quando Deus não vai te ouvir

Deus quer ter uma comunicação íntima contigo. Mas você deve saber também que existem momentos em que você poderia muito bem não perguntar, porque Ele não vai ouvir...

Um desses momentos é quando você está pecando e sabe bem disso. Se estiver pecando sem saber, Ele fará todo o imaginável para que você descubra se corrija. Ele ainda vai lhe dar uma ajuda extra para se livrar do pecado. No entanto, se você tem se posto em contrário à Sua vontade e recusa-se a parar, não espere uma resposta quando você orar, pois a resposta já é "não". Deus não ouve pecadores, para protegê-los do Seu juízo (Is 59:1-3).

Quando um pecador se arrepende há muita alegria no céu, e Deus certamente vai ajudar essa pessoa, porque o arrependimento é o que Ele mais procura no pecador. Por isso, se sua consciência foi se incomodando com algo que você tem feito, é provável que Deus esteja lhe dizendo para parar e desistir. Só então você poderá contar que Deus ouve suas petições. Afinal, qual pai favorece a criança que se recusa a ouvir as suas instruções?

Outro tipo de comportamento que transforma a resposta de Deus é perdoar. Jesus deixou muito claro que aqueles que que se recusaram a perdoar esperem o perdão de Deus. "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai não vos perdoará as vossas ofensas" (Mt 6:14-15).

A razão para isso deve tornar-se óbvia se você pensar no assunto. Submetendo-se a torturas e morte, Jesus pagou o preço pelo perdão de Deus para você. Agora você não tem que morrer para pagar seus pecados. Se Ele estava disposto a dar tanto que você tem o perdão de Deus, você deve estar disposto a conceder perdão aos outros. Em comparação com o que Cristo fez por você, o seu perdão aos outros é realmente uma questão pequena. Assim, não alimente as mágoas e ofensas que você sofreu... Não deixe o sol se pôr sobre sua ira, pois você vai dar ao diabo uma abertura em sua vida (Ef 4:26-27). Resolva suas diferenças de forma rápida; repare as ofensas, na medida em que for capaz, e perdoe os outros setenta vezes sete vezes (Mt 18:22).

A falta de perdão garante que você não irá receber a atenção que você quer de Deus. Isto é ser arrogante ou orgulhoso. Orgulho e arrogância são tão ofensivos a Deus que você poderia estar fazendo tudo certo e encontrar-se longe de Deus, por ser orgulhoso. "Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes" (Tg 4:6). Na verdade, dentre as coisas humanas que Deus encontra de pior, o topo da lista é a arrogância. "Estas seis coisas o SENHOR odeia, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, ..." (Pv 6:16).

Qualquer pai é repelido por uma exibição de orgulho ou arrogância em uma de suas crianças, e Deus não é diferente. Então confira você a sua atitude. Tenha certeza que você não está fazendo-se "superior" em relação aos outros. Certifique-se que você estima as outras pessoas como melhores do que a si mesmo (Fp 2:3-4). Ou seja, coloque as necessidades dos outros à frente das suas próprias. Esse é o melhor antídoto para o orgulho.

Há muito mais que poderia ser dito sobre as ações e atitudes que bloqueiam a comunicação com nosso Pai, mas a maioria dos problemas que encontramos cai nas três categorias mencionadas: pecado, perdão e orgulho. Então, faça como o Paulo recomenda e examine a si mesmo (2Co 13:5). Certifique-se que a sua linha de comunicação com Deus permanece em aberto.

Alguns maus conselhos sobre oração

Nossa aproximação de Deus afeta nossa capacidade de orar com eficácia. Acrescentemos aqui comentários sobre uma "moda" de que a reivindicação é a maneira mais eficaz de orar. Muito tem sido escrito e proclamado no púlpito sobre fórmulas de oração. Alguns declaram que não há uma fórmula eficaz para intercessão, ou para a cura. Outros apresentam fórmulas para as orações de louvor e imprecatórias (que rejeitam, punem ou castigam). Há verdadeira receitas para garantir que "Deus vai ter que conceder" nossos pedidos.

Há, no entanto, uma coisa ignorada na teologia de fórmulas de oração: não estamos lidando com um computador. Estamos lidando com Deus. Não somos feiticeiros queimando encantamentos para evocar um demônio que realize o nosso desejo... somos filhos aprendendo a falar com nosso pai.

Será que tínhamos uma fórmula para falar com mamãe e papai, garantindo que conseguiríamos deles qualquer coisa? Obviamente não. As conversas com meus pais estavam sempre cheias de nuances. Não eram apenas as palavras que trocávamos... o ar estava cheio de emoções, atitudes, expressões faciais e gestos, uma comunicação que abrangia a totalidade do meu (pequeno) ser. Que ofensa a Deus, pensarmos que Ele seria poderia convocado a nos atender por um coro ensaiado de palavras! Nossa capacidade de conhecer o Pai e falar com Ele leva tempo e muita atenção. Requer convivência!

Aqueles que defendem as “virtudes" de orações pré-formuladas estão tentando encontrar a maneira do preguiçoso chegar às riquezas. Acham que podem manter Deus mais longe que o comprimento do próprio braço e ainda receber Suas bênçãos. Eles querem o lucro máximo com investimento mínimo. No entanto, de uma extremidade da Bíblia à outra, Deus concede Seus favores a Seus amigos, àqueles a quem Ele conhece intimamente. Aqueles que promovem o negócio da oração-fórmula pode muito bem ser os únicos a quem Cristo, o juiz, declara:

"Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, você que praticais a iniquidade!"  (Mt 7.23).

O poder da oração focada

Quando você era criança, provavelmente orou: "Deus, abençoe mamãe e papai, e por favor, proteja-nos com seus anjos. Amém". Isso era bom o suficiente para a tenra idade. Afinal, sabíamos pouco sobre o mundo ou qualquer um nele, não havia muito a esperar de nós. Mas, infelizmente, muitos cristãos nunca foram além de "abençoe mamãe e papai". É simples dizer porque suas orações são ineficazes, mas eles continuam perplexos quanto à razão.

Uma das coisas mais importantes para a oração eficaz é o foco. Naturalmente, esse princípio funciona em qualquer empreendimento. A qualidade das criações de um mestre carpinteiro é proporcional a sua habilidade com as ferramentas, a sua atenção a cada detalhe, e sua determinação para produzir uma cadeira ou mesa perfeita.

Nas relações humanas damos atenção para os problemas e necessidades daqueles que amamos, pensando que de alguma forma poderíamos ajudar. Por outro lado, quando ouvimos sobre a fome na África ou a taxa de mortalidade por câncer, podemos dizer "muito ruim", mas esses pedaços de notícia raramente nos levam a atos de compaixão ou generosidade. E, mesmo quando respondemos às massas famintas através de alguma ONG, não temos com “aliviar o sofrimento dos outros” a mesma motivação que temos quando esse "outro" é um amigo ou um parente.

Pense no que isso significa em termos de oração. Você pode orar com o mesmo fervor para alguém que nunca conheceu e para alguém querido? É duvidoso. Quando oramos por alguém, precisamos de informações específicas o suficiente para sermos movido de compaixão verdadeira por aquela pessoa.

A Bíblia diz que Jesus aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu (Hb 5.8). Nesse ponto ela nos descreve também, se permitimos a Cristo viver dentro de nós. Temos a Sua imagem e aprendemos muito através do sofrimento. O que podemos aprender com a dor nos faz eficazes em nossas orações. Qualquer um que sofreu com o divórcio sabe de antemão o que sente um irmão passando por isso. Em circunstâncias semelhantes, a pessoa pode intervir eficazmente com Deus pelo sofrimento de seu próximo, enquanto este provavelmente será incapaz de orar competentemente por causa do tumulto emocional.

Da mesma forma, aqueles que sofreram com uma doença grave são mais capazes de orar eficazmente pelos doentes. A memória do próprio sofrimento nos traz as necessidades do doente em foco, de tal forma que outros nunca poderiam entender. Qualquer uma das nossas experiências de vida faz entender as aflições das pessoas. A nossa proximidade para com elas e desejo de seu bem-estar nos motivam a "estar na brecha" para interceder por eles.

Conclusão

Obviamente, este artigo não contém tudo o que pode ser dito sobre a oração. Há livros e outros materiais de estudo disponíveis (e, infelizmente, também alguns materiais enganosos). É minha esperança que você procure todas as vias possíveis de conhecer mais intimamente o Pai.

Ore e dependa Dele para discernir entre o útil e o inútil. Se você procurar ativamente por Ele, confiará mais em Sua direção e ajuda do que nas "autoridades". Não digo que você deve jogar fora seus livros e deixar seu cérebro na porta da igreja antes de entrar... pelo contrário, a intimidade com Deus permitirá que você vislumbre toda autoridade real, porque você conhece Ele e Sua vontade.

Em nossa discussão, falamos sobre compreender Deus e Sua vontade. Mas tão importante quanto saber a Sua vontade é fazer a Sua vontade. Isso é onde muitos de nós falham. Assim como estamos mais dispostos a considerar os pedidos dos nossos filhos quando vemos neles um desejo real de fazer o que pedimos, Deus é mais acessível e generoso quando obedecemos. Deve-se ressaltar, entretanto, que a nossa obediência não pode ser com a finalidade de evitar a punição. Pelo contrário, devem ser originários de nosso desejo de agradá-Lo. Uma pessoa que obedece simplesmente para evitar a punição é uma pessoa que não crê na bondade de Deus, e é a Sua bondade (não a ameaça do inferno) que nos leva ao arrependimento (Rm 2.4).

Desde o início, Deus mostrou que deseja um relacionamento baseado no amor, em vez de medo. É a partir desse amor que passamos a conhecer o coração de Deus e obedecê-Lo com um coração compreensivo. Podemos acreditar que tudo o que pedimos, em nome de Jesus, Ele ouvirá. Ele disse: "lançai todos os seus cuidados sobre Ele, porque Ele tem cuidado de vós" (1Pe 5.7).

"Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais. Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração." (Jr 29.11-13)

Então, o que você está esperando? Tenha ousadia diante do trono da graça (Hb 4.16) e faça suas petições conhecidas por Deus, pois a intimidade que você e Ele vão compartilhar é o que faz cada oração ser respondida.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A carta perdida


Certa feita uma carta não foi entregue. Quem deveria levá-la, deixou-a sobre um muro, onde todos pudessem pegar.

Passou um homem feliz, rindo-se da vida e tudo nela. Em seu cérebro, quando via uma formiga estouravam milhares de descargas de serotonina, que lembravam da antiga casa de criança; e lembravam do afeto da mãe quando via uma senhora, do cão amigo quando passava um vira-latas. O homem viu a carta ali... Que ótima surpresa alguém ter deixado uma carta para ele! Abriu e leu atentamente... De repente uma gargalhada. Devia ser uma carta do seu amável pai, e que bom era ter feito uma surpresa assim. O homem voltou a carta onde estava e foi cantarolando comprar um presente para o pai.

Minutos depois veio um menino, resmungando a bronca que levara por ter batido no irmão. Nada de serotonina para ele, ao invés disso, muita noradrenalina. Chutou uma lata, atirou um pau no cachorro no meio-fio e agarrou a carta, amassando-a entre os dedos. Olhou o remetente. Ele o conhecia e tinha medo dele. Será que estava no muro dele? Olhou em volta, preocupado. Colocou a carta no lugar e fugiu.

Um senhor passou, procurando o neto. Quando se apoiou no muro, pôs acidentalmente a mão sobre a carta. Não era para ele, mas ficou curioso. Abriu-a e passou meia hora lendo, admirando-se com os detalhes. Era um milagre! A carta falava de toda a sua vida, e das vidas de muita gente que ele conhecia, falava até onde estava o seu neto. O senhor a fechou cuidadosamente, desamassando e a voltou no lugar. Voltaria para agradecer o dono daquela casa, mas antes precisava buscar o garoto. Tomou seu rumo e saiu, pensativo.

Um bêbado passou, segurando no muro. Tinha pisado no “presente” que um cão deixara no meio da rua. Quando viu a carta, foi incisivo: limpou seu sapato com ela, amassou e jogou por sobre o muro.

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Em um livro famoso, B.F. Skinner fala sobre o “mundo sob a pele”, que é todo o entendimento de uma pessoa sobre si mesmo. E todo esse entendimento é só dela! Quando aprendemos algo, toda informação desse mundão de Deus precisará pular o “muro” que separa o “fora de nós” do mundo “dentro de nós”. Não é pouca coisa: do lado de dentro da mente há trilhões de conexões entre células eletro-químicas, que de alguma forma assombrosa formam um ser organizado, como um grande cardume de pequenos peixes que juntos fingem ser um peixe grande. Nesse mundo não há letras nem sons e as idéias são muito reais, como ondas passando pela multidão de pequenos seres.

Para pular esse muro, passar para o lado de dentro, tudo na verdade é traduzido. A bola vermelha se transforma em “idéia da bola” e “idéia do vermelho”. A idéia da bola é construída com pedaços de antigas recordações sobre uma forma redonda, enquanto a idéia do vermelho é buscada entre todo o vermelho já visto na vida. Uma bola vermelha, ali, não é uma bola nem é vermelha. Ela é uma coletânea de todas as bolas, em todos os tempos, e de todos os vermelhos. Essa gigantesca biblioteca que se chamará “bola vermelha” vai, algum dia, ser buscada quando pular para dentro outro objeto redondo ou outro objeto vermelho, como a coleira vermelha de um cão. E idéias NÃO SÃO só informações desses objetos, elas carregam as emoções relativas a cada um. Essas emoções são repassadas a novas idéias, são modificadas, mes sempre estão lá.

O que dizer da Palavra de Deus? Como ela vai para esse mundo surreal que é o nosso interior?

Quando lemos, a imagem de cada palavra pula o muro porque é traduzida por informações prévias de toda leitura que já foi aprendida. Lá, não são mais palavras: são idéias de cenas já vistas, de experiências vividas, de expectativas (quando há baixa serotonina associada), desagrados (quando há noradrenalina associada), são muitas emoções e recordações que se unem para traduzir a leitura em idéia. Dependendo do humano, cada um faria a sua interpretação particular da Palavra (e de fato o fazem...).

A unidade das interpretações, da tradução de palavra escrita em vida (pois idéias são vivas e dependem de haver vida) e dada pelo Espírito Santo, segundo conta Pedro:

Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo. (2Pedro 1:20-21)

Não há ciência que explique isso; como o fluxo de informações eletroquímicas gerando uma idéia pode ser cirurgicamente guiado. Parece curioso que, ao invés do livre-entendimento, possamos querer contar com um entendimento direcionado! Mas o Espírito Santo não apenas modifica as idéias, Ele também ensina. Paulo não foi um seguidor de Jesus quando ele andava entre os homens. Enquanto Jesus ensinava, Paulo era um instruído fariseu, de família rica, que se tornara oficial romano (Roma sempre usou forças locais em seus exércitos e administração) e atuara junto ao Sinédrio para coibir o alastramento da “seita” cristã.

No caminho de Damasco, Jesus produziu uma mudança gigantesca em Paulo. Não apenas o tornou um cristão (e não haviam escritos cristãos onde ele pudesse aprender), mas iluminou-o com conhecimento/inspiração para escrever as cartas das quais recebemos instrução milhares de anos depois. Ao contrário dos profetas, que receberam instrução sobre o que haveria de vir, Paulo recebeu conhecimento profundo do presente e pôde saber das bases espirituais sobre as quais o mundo se constrói, longe das vistas de todos. Quantos inspirados por Deus andarão entre os homens, falando da Palavra de Deus sem terem sido instruídos pelo ensino humano? E quantos andarão enganados, inspirados por homens e achando que falam de Deus?

Enquanto os católicos defendem que apenas o sumo pontífice - sucessor funcional de Pedro - é capaz de interpretar a palavra de Deus, desde o século XVI os protestantes argumentam que qualquer um PODE ser inspirado a ter a compreensão apropriada do que está escrito. 

E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas. Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivoE Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus. (Mateus 16:13-19)

Enquanto dependermos do lado humano lendo, buscando conhecimento, está claro que muitas opiniões diferentes existirão, e estão por aí centenas de teologias para mostrar que isso acontece. Quando porém somos agraciados com o entendimento que Deus fornece, todas essas filosofias e diferenças sucumbem a uma voz maior. Seremos capazes de ouvi-la?

Algum de nós quererá falar com o autor da carta?