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segunda-feira, 18 de maio de 2020

A FÉ VAI TE CURAR - QUANDO? E COMO?


“Nas vilas, os doentes eram trazidos a Ele”, ilustração de James Joseph Jacques Tissot feita entre 1886 e 1894. (Marcos 6.55,56)


Como um representante da organização social em tempos remotos, a religião e o poder real sempre ofereceram soluções a tudo que afligisse o ser humano. Sacerdotes e reis sempre foram "culpados" pela fertilidade das terras, produção agrícola, doenças do gado e das pessoas, chuvas e ataques de gafanhotos. Na Bíblia, por exemplo, temos:

E houve nos dias de Davi uma fome de três anos consecutivos; e Davi consultou ao SENHOR, e o SENHOR lhe disse: É por causa de Saul e da sua casa sanguinária, porque matou os gibeonitas. Então chamou o rei aos gibeonitas, e lhes falou ... ‘Que quereis que eu vos faça? E que satisfação vos darei, para que abençoeis a herança do Senhor?’ … E disseram ao rei: ‘O homem que nos destruiu, e intentou contra nós de modo que fôssemos assolados, sem que pudéssemos subsistir em termo algum de Israel, de seus filhos se nos dêem sete homens, para que os enforquemos ao Senhor em Gibeá de Saul, o eleito do Senhor’. E disse o rei: ‘Eu os darei’. (2ª Samuel 21.1-6)

Saul havia traído um juramento de paz aos Gibeonitas, o que foi castigado com a fome de Israel anos após sua morte. Para se livrar da maldição, Davi deveria conseguir o perdão dos Gibeonitas. Esse tipo de punição perante uma quebra de juramento ou mal comportamento aparece muitas vezes no folclore Europeu, e mesmo nas lendas brasileiras. Recorro novamente a um trecho de “O Senhor dos Anéis”, de Tolkien, famoso folclorista Europeu :

Quando Aragorn chegou junto à Pedra de Erech, perguntou: “Perjuros, porque viestes?”
“Viemos para cumprir o nosso juramento e ter paz” – respondeu uma voz da noite, vinda de muito longe.” [Eram as vozes dos mortos, condenados por desobedecerem seu juramento ao 1º rei, antepassado distante de Aragorn]
Então Aragorn disse: “O momento chegou, finalmente. Agora irei para Pelargir no Anduin e vós seguir-me-eis. E quando esta terra estiver liberta dos servos de Sauron, considerarei o juramento cumprido e vós tereis paz e partireis para sempre, pois eu sou Elessar, herdeiro de Isildur de Gondor.”

Durante o domínio de Israel pelos Gregos e depois pelos Romanos, a figura do rei como mediador entre o povo e Deus perdeu muita credibilidade. Afinal, eram reis comprometidos com uma nação estrangeira - Israel esperava um Messias, um novo rei. Ao invés de descrever os pecados que trariam maldições para toda nação, os sacerdotes Judeus então atribuíam as moléstias, pobreza, etc ao comportamento pecaminoso dos homens. Cada um seria culpado dos seus males, e por isso os doentes e pobres não eram apenas pessoas desfavorecidas; estavam sendo castigadas por seus comportamentos.

Aqueles que Ele abençoa herdarão a terra, e aqueles que forem por ele amaldiçoados serão desarraigados. Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor, e deleita-se no seu caminho. Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustém com a sua mão. Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua semente a mendigar o pão. Compadece-se sempre, e empresta, e a sua semente é abençoada. Aparta-te do mal e faze o bem; e terás morada para sempre. (Salmos 37.22-27)

Naquele mesmo tempo, estavam presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios. E, respondendo Jesus, disse-lhes: ‘Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas?’ (Lucas 13.1,2)

A maior parte dos habitantes de Jerusalém morreu no ano 70 d.C., todos os apóstolos morreram de forma terrível, um número enorme de Cristãos morreu antes do séc. 4. Quanto a padecer sem morrer rápido, existem hoje 500 milhões de pessoas vivendo com menos de $2 por dia, imensa maioria delas na África Central. Algumas décadas atrás, esse número chegava em 2 bilhões de pessoas e grande parte desses miseráveis estavam também na Índia e Sudeste Asiático. Seriam as transformações econômicas do leste asiático um sinal da obtenção de graça perante Jesus? Seriam os povos centro-africanos muito pecadores para que Jesus se importe com eles?

Um problema frequente entre as populações pobres é sua falta de estrutura sanitária e médica. Enquanto nos países mais ricos é comum as pessoas terem água limpíssima nas torneiras e fazerem exames de tomografia e ressonância magnética, nos países mais pobres a maioria da população não tem esgoto, nem acesso a termômetros ou antibióticos. Quando não existe uma medicina científica que seja acessível às pessoas, existe a medicina religiosa. Não há um degrau separando esta daquela: ambas estão em maior ou menor grau em todas as culturas, no entendimento e busca de todas as pessoas. Entre os mais ricos predomina a medicina científica, pela qual podem pagar, enquanto entre os mais pobres predomina a medicina religiosa, que se paga com a fé.

A CURA CRISTÃ

Não há um equilíbrio simples. A falta de dinheiro é fácil de entender, mas a medicina religiosa está acessível tanto a ricos como pobres. Na medicina científica, as doenças (hoje) são causadas por parasitas ou mal-funcionamento de órgãos, glândulas, etc. Curar as doenças então significa eliminar os parasitas ou reajustar o funcionamento de um corpo-máquina complexo, na medida do que a tecnologia permite. Na medicina religiosa, quase independentemente da religião, as doenças são punições de ordem espiritual; uma hepatite não é diferente de uma fratura. Curar significa, como nos trechos acima, obter um perdão.

A medicina religiosa é muito antiga em todas as culturas, mas nem sempre foi a única medicina disponível. Entre os indígenas brasileiros, o curandeiro e o sacerdote são a mesma pessoa. As benzedeiras ainda são legítimos representantes desses curandeiros religiosos. Mas o afastamento das figuras religiosas, em comunidades grandes, deu margem a um conhecimento de ervas e práticas curativas (muitas vezes chamadas de ‘simpatias’) que, muitas vezes, embasou a busca por substâncias curativas reconhecidas pela medicina científica. Basta lembrar que o ácido salicílico, primeiro anti-inflamatório, é um componente das folhas do salgueiro europeu, usado na Idade Média para tratar febres. Dessa medicina “mundana” nasceu e evoluiu a ciência médica.

A Igreja sempre foi orientada a cuidar dos pobres e enfermos, dado o exemplo de Jesus como curandeiro. Nesse sentido, desde Roma as comunidades religiosas se dedicaram a um trabalho de assistência social. Não havia distinção entre os pobres, famintos e doentes: o cuidado a todos era provido através de oração, abrigo, cobertores e alimentação. Boa parte dos primeiros hospitais nasceram em rotas de peregrinação até ícones Cristãos, geralmente lugares bíblicos ou tumbas de antigos religiosos para onde as pessoas iam em busca de curas. Os primeiros hospitais foram fundados no séc. 10, durante as Cruzadas, porém o mais antigo médico associado a um hospital Cristão data do séc. 16, na Inglaterra. Essa já era uma inovação compatível com a secularização dos tratamentos, pois os reis ingleses da época estavam em disputa por poder com o Papa.

No mundo Judaico-Cristão, a noção de saúde/enfermidade se confundia com a noção de pureza. Os primeiros ‘centros de tratamento’, nos tempos de Moisés (aprox. 1400 a.C.) foram comunidades de doentes infecciosos, formadas para evitar o alastramento de pragas nas grandes povoações. Apesar desse isolamento forçado, os leprosos da Antiguidade (e dava-se o nome de lepra a muitas enfermidades diferentes) ainda eram tratados como castigos divinos. Mas, caso você chegasse muito perto de um castigado, seria feito impuro (independentemente de ter pecado) e acabaria castigado também. O Templo de Jerusalém, na época Romana, ocupava todo o topo do Monte Moriá e possuía cantos específicos para os doentes, aos quais não era permitido entrar nos lugares mais sagrados. Nesse sentido, Jesus agiu contra as expectativas dos Judeus ao visitar doentes e recebê-los. Essa prática de cura pelo toque de um religioso abençoado foi incorporada pela Igreja Paulina:

[Os Doze, enviados aos pares] expulsavam muitos demônios, e ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam. (Marcos 6.13)

E a multidão dos que criam no Senhor, tanto homens como mulheres, crescia cada vez mais. De sorte que transportavam os enfermos para as ruas, e os punham em leitos e em camilhas para que ao menos a sombra de Pedro, quando este passasse, cobrisse alguns deles. (Atos 5.14,15)

Ao longo da história, muitos religiosos Cristãos foram associados a um poder de cura. Ao contrário do relato de Atos, no entanto, quase em sua totalidade foram pessoas que padeceram de condições ou doenças semelhantes às curas póstumas que lhes foram atribuídas. Alguns dos poucos nomes com o dom de cura atribuído em vida foram Hermione (séc. 1, Ásia Menor), Cosme e Damião (séc. 3, Síria, sabiam preparar remédios e não cobravam por seus tratamentos), Spyridon (sécs. 3-4, Chipre), Panteleimon (sécs. 3-4, Turquia, curava através de orações), Sampson (séc. 5, Roma, curou o imperador Justiniano), Agapitus (início do séc. 11, Ucrânia, também sabia combinar ervas para produzir remédios), Pimen (séc. 12, Ucrânia), Francisco de Assis (séc. 13, Itália), Benedito o negro (séc. 16. Itália) e Lucas (séc. 19, Criméia-Rússia, oftalmologista).

Para quem estava fora do alcance dessas figuras milagrosas, a cura de doenças podia ser alcançada apenas pela purificação no contato com ícones sagrados, lugares santos, etc e não por uma intercessão coletiva em favor do doente. Apenas recentemente essa forma coordenada de oração - fora da liturgia comum dos cultos - ganhou destaque, em grande parte devido ao movimento Pentecostal (séc. 19).

A BUSCA DE CURAS NAS IGREJAS

O Brasil é contado como o 3º país com maior porcentagem de população religiosamente ativa, e também um com índices graves de problemas de saúde infantis e crônicos, típicos de outras terras com más condições sanitárias e/ou baixo acesso a tratamentos médicos.

Os Neopentecostais, em especial, são grupos de igrejas com grande destaque nas intercessões por cura. São igrejas dissidentes de outros grupos evangélicos que surgiram nas últimas duas ou três décadas, como a Universal do Reino de Deus, Renascer em Cristo, Jardim de Deus no Brasil e Casa da Bênção. Essas igrejas vêm atuando, consideravelmente, no campo da saúde, prometendo curas e amparo emocional.

Os fiéis dessas igrejas são principalmente pessoas de nível socioeconômico baixo e pouca escolaridade. Tal público é em grande parte absorvido da Igreja Católica, que não oferece a intervenção/re-significação na vida dos fiéis, nem a introdução numa hierarquia religiosa, como as Neopentecostais fazem. Para uma população menos instruída, é fácil aceitar a característica mágica da cura nas igrejas, pois já há uma visão mitológica do serviço médico. Não há, de fato, uma distinção entre os médicos e magos conhecedores de poções mágicas que curam ou aliviam sintomas (vacinas, pomadas, gotinhas etc.); os medicamentos são gotinhas que “o doutor mandou tomar”, assim como o pastor que manda tomar água do rio Jordão, o padre que benze com água benta ou o médium que fluidifica água. Se o mundo tecnológico não provê explicações acessíveis, as pessoas se tornam habitantes de um mundo mágico - por falar nisso, você tem idéia de como funciona um celular ou uma doença mental? A falta de entendimento científico certamente equipara a medicina, tratamentos alternativos e a religião.

A explicação religiosa das doenças não diferencia hepatite e fraturas, mas oferece um significado e um entendimento que permite ação. Uma tradicional benzedeira brasileira, por exemplo, pode atribuir um resfriado constante ou da perda do emprego a um “mau olhado”; e isso define um inimigo contra quem lutar. O paciente pode identificar possíveis pessoas que o teriam “enfeitiçado” e usar os recursos religiosos contra isso, além de uma prática curativa e alguma ação social, como evitar tal pessoa. Nas igrejas Pentecostais brasileiras, inimigos comuns são entidades da Umbanda, o Catolicismo e uma “vida em pecado”.

Para os fiéis, o Catolicismo representa um culto a ídolos e a Umbanda, Candomblé e Kardecismo cultuam e abrigam o demônio. Como são geralmente evadidos do Catolicismo, a Umbanda aparece como principal religião concorrente, Não raro, nos cultos Pentecostais são apresentadas pessoas possessas por “exus”. O Catolicismo é identificado sobretudo com a proximidade a imagens de adoração ou velas, bastante comuns em casas e famílias antigas. A “vida em pecado” geralmente é apontada à semelhança do profeta Natã avisando Davi (2ª Samuel 12) e cabe ao fiel “confessar”, quase no estilo Católico, o que seria motivo de seu castigo por Deus.

As duas primeiras explicações (Umbanda e Catolicismo) são reforçadoras do ideal de banir práticas das outras religiões da vida do fiel. Algumas denominações Pentecostais chegam ao ponto de evitar mesmo o contato com pessoas e mídia que não seja “abençoada”. Para o fiel, não se trata de avaliar a eficácia da cura prometida, pois chegar à cura é uma questão de quão empenhado ele mesmo pode ser, quanto consegue banir os representantes de outras religiões e ser puro. Para a medicina científica, por outro lado, é prometida a cura através de um comprimido - isso não depende do paciente e a falha no processo é uma falha da terapia.

A especialização da medicina científica ainda aponta para uma fragmentação do homem, que não é compreendida pelas pessoas. Parece muito mais natural (e lógica) a busca de uma purificação, o afastamento de um inimigo, uma bênção. O não adoecimento também demonstra, a toda a maioria que está sã, um certo grau de proteção e a noção de “corpo fechado”. O fiel batizado, correto, tem o corpo fechado para o mal, podendo até ser atacado, mas, se tiver a “verdadeira fé”, não será atingido. Esse viés também cria um “acobertamento” de enfermidades que podem denunciar uma “vida incorreta”. Pastores e padres, em especial, costumam ser atendidos com níveis graves de depressão, após meses ou anos lutando com o que eles assinalam como “falta de fé”.

A causa das doenças também pode ser atribuída à submissão aos prazeres carnais. Por outro lado, podem surgir re-interpretações para episódios de doenças, principalmente quando atingem pastores. Nesses casos, a doença passa a ser vista como uma provação a ser enfrentada ou um ataque do demônio para fazer calar aquele que leva a palavra de Deus. A doença do pastor, então, seria “um mecanismo do inimigo” para atingir um forte opositor na “guerra santa”.

Muitas igrejas mantém resquícios de uma lógica biológica-científica e apoiam campanhas de aplicação de flúor, verificação de pressão arterial, glicemia etc. Porém, os afetados pelo Mal tradicionalmente apresentam sintomas que chegam a ser caracterizados como “dez sinais de possessão”: nervosismo, dores de cabeça constantes, insônia, medo, desmaios ou ataques, desejo de suicídio, doenças cujas causas os médicos não descobrem, impotência, visões de vultos ou audição de vozes, vícios e depressão. Não é preciso vasculhar muito a literatura psiquiátrica para perceber que TODOS esses indícios, assim como seu conjunto, são indicativos de um quadro ansioso-depressivo, o mais comum em clínicas de psicológicas e psiquiátricas, que representa quase metade dos atendimentos e afeta, em algum momento da vida, 20-30% de todos os adultos no mundo.

Nessa ocupação do nicho de saúde pela medicina científica, psicologia/psiquiatria e a medicina religiosa, no Brasil frequentemente há a desvalorização de um tratador pelo outro. Especialmente no que diz respeito à saúde mental, psiquiatras e psicólogos raramente trabalham em conjunto. O mesmo pode-se dizer de médicos e pastores ou de psicólogos/psiquiatras e pastores. Em alguns casos, o pastor costuma dizer que “não resolve” ir ao médico ou fazer exames. Se o fiel crê que Deus quer salvá-lo, Ele fará isso, mesmo sem a ajuda médica. Os sinais de aflição dão uma idéia ainda mais clara de que temos profissionais de lógicas diferentes abordando os mesmos problemas.

Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta. (Tiago 2,26)

Embora seja tradicional pensar em um duelo de concepções sobre a saúde no sentido "a minha é correta e a sua é superstição", os seres vivos - e não só os humanos - funcionam numa lógica de vários níveis de informação sobrepostos. Aqui, temos os níveis biológico, psicológico e espiritual. Tiago alerta sobre as obras de amor que precisam ser feitas, para que o Espírito se manifeste. Em semelhante, não há como pensar em seres humanos sem corpo, sem espírito e sem um interferindo com o outro. Mais recentemente, ao mesmo tempo em que alguns pastores negam a eficácia da medicina científica como tratamento, outros muitos se graduaram como profissionais de áreas científicas, no interesse de suas comunidades.

A função da Igreja institucional e hierárquica, aqui, é relevante: embora seja o fiel quem deve se “acertar com Deus” e sejam convocadas reuniões de oração por cura, é muito mais frequente no meio Pentecostal que a cura seja provida pela oração, bênção ou toque do pastor e de nenhum outro. Qualquer semelhança com os poucos santos Católicos manifestando o dom de cura não é coincidência. A equiparação à imagem de Cristo curando quando nenhum dos discípulos pôde é recorrente, e por isso mesmo o pastor deve ser não apenas puro e correto, mas o mais puro e correto dentre todos, indo além de uma função como exemplo ou ofício sacerdotal. Essa relação com o pastor como líder, guia e representante de Jesus faz com que grande parte dos fiéis se afaste da igreja quando há troca de pastores, a menos que a troca seja explicitada como decorrente do mais grave pecado e vilania do pastor antigo.

SOBRE AS CURAS RELIGIOSAS

[Deus] nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica. (2ª Coríntios 3.6)

A Bíblia mostra muitas curas religiosas, mas parece uma exacerbação grande das idéias de Paulo acreditar numa invulnerabilidade através da fé, pois ele mesmo descreve a presença de um médico em seu grupo (Lucas) e o adoecimento de Trófimo, seu companheiro de viagem (2ª Timóteo 4.20). 

Fora da esfera de que a doença é “uma responsabilidade do fiel, consequência de seus pecados”, sempre foi bastante comum dos grupos Cristãos a prática de oração pelos doentes, além de cuidados básicos como alimentação e abrigo.

Também fugindo da tradição de que as curas são obtidas pelo toque de alguém abençoado ou pela presença em um lugar santo, mesmo que seja a presença de um intercessor, recentemente diversos pesquisadores estudaram a influência de intercessões sobre a melhora de pacientes internados.

Abaixo faço uma exposição detalhada desses estudos, com links para o acesso aos trabalhos individuais. Esses trabalhos avaliaram principalmente pacientes de cirurgia cardíaca, em que são comuns as intercorrências pós-cirurgia. Alguns resultados são importantes de ser discutidos. Primeiro, os efeitos da oração coletiva beneficiam poucos pacientes 5-25%), sendo esses principalmente os de menor gravidade. Segundo, não há um efeito quantitativo da oração, isto é, 1 pessoa orando não produz menos efeito do que 15. Essa conclusão dificulta muito a avaliação dos efeitos de orações no contexto hospitalar, pois em todos os trabalhos, pelo menos 90% dos pacientes estadounidenses acredita ter alguém orando por sua recuperação. Por outro lado, também torna difícil esperar resultados melhores do que os obtidos atualmente. Terceiro, o efeito da oração intercessória pode ser retroativo, isto é, literalmente agir no passado. Elucubrações mentais muito engraçadas foram feitas no sentido de tentar explicar isso.

Nenhum dos estudos avaliou o papel melhorador de uma pessoa com alegado dom de cura. Aparentemente, essas figuras sempre foram participantes fundamentais das igrejas relacionadas a curas. Busquei por relatos sobre a avaliação criteriosa de pessoas assim, sem muito sucesso. Em geral, os mesmos que colecionam relatos de sucesso também têm muitos relatos de insucesso, atribuídos pelos seguidores a uma fé insuficiente do paciente ou de alguém no seu entorno. A pessoa é curada quando há fé suficiente, comprovada pela obtenção da cura; em outras palavras, a cura ocorre quando se é curado, com 100% de certeza.

Especialmente para as pessoas que crêem num sinergismo de Deus e dos homens no processo de curar, a insistência em tratamentos sem resultado pode ser uma prova de fé. Infelizmente, podendo ser necessárias muitas tentativas de cura antes de um resultado favorável, que viria após a demonstração de fé necessária, se torna especialmente difícil avaliar a eficiência de qualquer processo de cura. Muitas vezes, o resultado dessa insistência é a morte do paciente, entendida também como cura.

Então, como avaliar cientificamente se há religiosos capazes de promover curas? O teste empírico mais óbvio seria examinar pacientes antes e depois da cura, comprovar o desaparecimento sobrenatural de uma causa para doenças. No entanto, esse teste quase que imediatamente "mancha" a fé no curador, o que costuma ser um critério exigido para o sucesso. E quantos curadores se deixam avaliar dessa forma? Não encontrei nenhum relato em trabalhos científicos.

Alguns pesquisadores tentaram contornar tal dificuldade avaliando a saúde de comunidades religiosas em comparação com a população em geral. Obviamente, temos o problema de que não há como esperar o dom de cura de todos os líderes religiosos. Mas podemos esperar uma proximidade maior com pessoas "curativas" nas comunidades religiosas, se é que isso tem algo a ver com a Igreja. Nos EUA, quando se contabilizaram a ocorrência de infartos e AVCs entre 40 mil pessoas hospitalizadas, aqueles com maior frequência em igrejas mostraram menos casos de AVCs, especialmente idosos homens brancos e mulheres negras. Mas, antes de pensarmos em uma escolha sexual e racial a respeito de quem Deus cura, esses são justamente os grupos mais atingidos. Eles se beneficiaram muito do afastamento de bebidas, cigarro, glutonaria, assim como de ambientes violentos.

Por fim, até as doenças psicossomáticas ligadas a ansiedade e depressão, em que as igrejas tanto de dedicam curar (pois carregam os sinais de possessão demoníaca), são problemáticas. O único grande estudo médico a abordar essa questão (nos pacientes cardiopatas, para variar) justamente colocou um ponto perigoso, que é o de a expectativa de receber orações criar ansiedade. Nesses pacientes, a expectativa de contar com orações produziu piora dos seus quadros.

Comparadas com tratamentos atuais de psicologia e psiquiatria, as melhoras para transtornos mentais oferecidas pela igreja são muito pequenas. Na verdade, apenas são melhores que nada e costumam ser serviços gratuitos, aos quais muitos podem recorrer. Lembram, por isso, a atenção de alimento, cobertores e abrigo oferecida aos doentes na Idade Média.

RESUMINDO A MISSA

O que tentei trazer aqui, baseado em pesquisas científicas de alto calibre, foi uma apreciação de como a fé está ligada com a saúde das pessoas. Observamos que há o relato Bíblico de curas; que há um conceito de saúde diferente do científico, explorado pelas igrejas sobretudo entre as populações menos instruídas; que não existe algo quantitativo nas orações coletivas, 1 pessoa orando é tão efetivo quanto muitos; que há pouco benefício real dessas orações, pelo menos para os pacientes cardiopatas; que as comunidades religiosas fazem um papel interessante de evitar hábitos ruins que comprometem a saúde dos mais velhos.

No entanto, mostrei também que há uma dificuldade metodológica grande em avaliar as curas religiosas. Recentemente, esse tema se tornou mais importante pela recusa, em todo o mundo, de comunidades em seguir recomendações científicas de saúde. Em quase todas as situações, os religiosos afirmaram que suas reuniões eram mais protetoras do que as leis de isolamento social. A menos que estejamos com moléstias transmissíveis atingindo (e que não seja de forma grave) sobre menos de 10% dos membros das comunidades, posso afirmar agora que uma coisa não se equipara com a outra.

Não há, provavelmente, um modo de verificar o quanto a sua oração por um doente é funcional. Eu prefiro não pecar pela falta.. E não há modos éticos de avaliar os poderes curativos de pessoas que aguentam ser tais como Jesus, Pedro e João. Comparando os modelos teológicos em que "Deus cura por sua própria vontade" e "Deus cura mediante nossas orações", há uma evidência do tamanho de uns 15% em favor da 2ª alternativa.

Por isso, há de se pensar que a oferta de medicina científica pelas comunidades religiosas, ao preço mais baixo que puderem, seria o modo de unir a força vinculadora da fé com práticas terapêuticas realmente efetivas. Infelizmente, no mundo todo, perecer ou ser curado de uma doença tem muito mais relação com o acesso a medicina científica do que com a prática de oração.

Como disse Tiago, o Espírito há de se manifestar pela oração e pelas obras juntos.

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ESTUDOS INÚTEIS REFERENCIADOS AQUI

Abercrombie A, A biblical response to mental illness and suicide: what should we conclude…, Biblical Counseling Institute, abr/2013.

British Broadcasting Channel (BBC), Developments in patient care, Bitesize.

CERQUEIRA-SANTOS, Elder; KOLLER, Sílvia Helena; PEREIRA, Maria Teresa Lisboa Nobre. Religião, saúde e cura: um estudo entre neopentecostais. Psicologia: ciência e profissão, v. 24, n. 3, p. 82-91, 2004.

HESS, Denise. Faith healing and the palliative care team. Journal of social work in end-of-life & palliative care, v. 9, n. 2-3, p. 180-190, 2013.



Roser M, Ortiz-Ospina E, Global extreme poverty, ourworldindata.org, 2019.

SILVA, CAB; VASCONCELLOS, MP. Da doença ao milagre: etnografia de soluções terapêuticas entre evangélicos na cidade de Boa Vista, Roraima. Saúde e sociedade, v. 22, n. 4, p. 1036-1044, 2013.


Tolkien JRR, O senhor dos anéis - O retorno do rei, 1955, versão digital por Cláudia Tressoldi, issuu.com

Zebrun CK, Stefanar JY, Saints who were physicians and hearlers, Department of Christian Education - Orthodox Church in America, 2018.

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apêndice
GRANDES ESTUDOS SOBRE A INFLUÊNCIA DE INTERCESSÃO RELIGIOSA

O 1º grande estudo foi Statistical inquiries into the efficacy of prayer, de Francis Galton, publicado no Fortnightly Review v. 12, p 125-35, 1872. Ele coletou as idades de morte de 6473 homens que ultrapassaram os 30 anos (era uma época sem antibióticos) e não morreram de acidentes. Separando-os entre religiosos e não religiosos, famosos ou desconhecidos, Galton observou que, em todos os casos, a expectativa de vida era de aprox. 66-68 anos. Entre várias discussões, Galton observou que mesmo os admirados e religiosos não gozavam de sobrevida maior. Logo, a interferência das orações no máximo atingiria os 1os anos de vida ou a ocorrência inesperada de acidentes.

O trabalho de Galton foi uma exposição qualitativa. Apenas muitos anos depois, alguém efetivamente quantificou os efeitos da oração intercessória. Randolph C. Byrd publicou "Positive Therapeutic effect of intercessory prayer in a coronary care unit population, South Med J, v. 81, p. 7, 1988", onde ele tomou 336 pacientes de uma unidade hospitalar para cirurgias cardíacas. Metade dos pacientes foi sorteada para receber orações diárias por sua melhora. Para isso foram recrutados Cristãos praticantes (segundo eles mesmos e seus líderes) de várias comunidades Protestantes e Católicas. Os "orantes" recebiam os nomes dos pacientes, o conhecimento de que passariam por cirurgia cardíaca e nada mais. No momento de alta dos pacientes, seus prontuários foram coletados e estudados.

A maioria dos pacientes era portador de cardiomegalia, angina, histórico de infarto e edema pulmonar. Algumas coisas não foram afetadas pelas orações intercessórias: nº de dias na UTI, nº de dias internado, nº de medicações, taquicardia (16%), presença de angina (10%), mortalidade (8%), pressão arterial e medicações usadas para controlar a pressão. Mas Byrd encontrou algumas coisas mudadas: falha cardíaca congestiva após a cirurgia (4 vs. 10%), uso de diuréticos para reduzir a pressão arterial (3 vs. 8%), ocorrência de pneumonia e uso de antibióticos (2 vs. 8%) e necessidade de intubação (0 vs. 6%). Comparando o resultado geral dos procedimentos, 79% tiveram bons resultados, enquanto 18% tiveram maus resultados. Byrd ressaltou que todas as alterações no grupo que recebeu orações foram associadas a melhoras, e as mesmas podem ser contabilizadas como beneficiando cerca de 5% dos pacientes. Como ele mesmo enfatizou, não houve como limitar as orações dos próprios pacientes ou de familiares, em qualquer um dos grupos. Pensando no padrão das famílias estadounidenses (casal + 2 filhos), é provável que cada paciente do grupo “sem oradores” contasse, na verdade, com 4 pessoas orando por si, enquanto cada um do grupo “com oradores” contasse com 5. Essa pequena diferença talvez respondesse pelo resultado de Byrd.

Um outro estudo significativo veio da famosa Clínica Mayo, uma versão bem avantajada do Hospital Albert Einstein brasileiro (Aviles JM, Whelan SE, Hernke DA, et al., Intercessory prayer and cardiovascular disease progression in a coronary care unit population: a randomized controlled trial, Mayo Clinic Proceedings v. 76, n. 12, p. 1192–1198, 2001). Aqui, 799 pacientes com problemas cardíacos atendidos por uma unidade hospitalar foram monitorados por 26 semanas. Metade deles, por sorteio, foi designada para um grupo de 215 intercessores recrutados em comunidades religiosas locais. Cada um dos intercessores orou ao menos semanalmente por 4 a 7 pacientes, sobre os quais foram fornecidos de início dados como nome, idade e resumo do diagnóstico. No final das 26 semanas, o histórico dos pacientes foi comparado. Lembrando o trabalho de Byrd, isso significava 4 a 6 intercessores por pacientes do grupo recebendo orações, além, talvez, dos próprios pacientes e seus familiares.

A maioria dos pacientes havia sido admitida no hospital por infarto do miocárdio, além de um histórico de alto colesterol plasmático e hipertensão. Considerando eventos como morte (8,5%), infarto (0,3%), intervenção vascular (5%), internação (19%) e atendimentos de emergência (8,3%) durante as 26 semanas, não foram detectadas diferenças significativas entre os grupos com e sem intercessores. Apenas 10 a 15% dos pacientes recebendo orações pareceu ter se beneficiado disso, considerando cada um dos ítens avaliados; no geral, o efeito se perdia por completo. Separando os pacientes de baixo e alto risco, os de baixo risco tiveram aprox. 50% sendo beneficiados pelas orações, enquanto os de alto risco tiveram 0 a 10% beneficiados, dependendo do critério. No final, a Clínica Mayo concluiu que os efeitos da intercessão religiosa, se existiam, eram pequenos e só conseguiam favorecer os pacientes em melhores condições. A Clínica avaliou como um problema do estudo a variedade de intercessores, a variedade de crenças dos pacientes e o não seguimento dos intercessores (orações semanais vs orações diárias), coisa que Byrd havia feito.

Um estudo realmente interessante foi publicado por Leibovici L - Effects of remote, retroactive intercessory prayer on outcomes in patients with bloodstream infection: randomised controlled trial, British Medical Journal, v. 323, n. 7327, p. 1450–1451, 2001. Uma lista de 3393 pacientes com infecção sanguíneas de um hospital de Israel foi sorteada para formar 2 grupos. Um deles deveria receber orações de um religioso, o outro não; o critério de comparação seria morte, ocorrência de febre e o tempo de internação. A oração foi feita sobre um livro com os nomes dos pacientes. O detalhe é que os pacientes já haviam deixado o hospital 4 a 10 anos atrás! Como Deus não estaria limitado ao tempo, essa intercessão deveria fazer com que as pessoas tivessem melhoras no passado.

A maioria dos pacientes havia contraído infecção urinária (ou outros tipos, como infecção pulmonar) enquanto estava internada no hospital, então todos os casos se tratavam de infecções acompanhadas desde o início. Curioso como isso pode soar, Leibovici encontrou os pacientes com maiores tempos de internação (> 15 dias) permanecendo menos tempo internados quando recebiam oração (no futuro). Para mais de 75% dos pacientes, porém, não houve efeito algum.

Em 2005, Krucoff MW et al. publicaram "Music, imagery, touch, and prayer as adjuncts to interventional cardiac care: the Monitoring and Actualisation of Noetic Trainings (MANTRA) II randomised study", Lancet, v. 366, n. 9481, p. 211–217. Nesse trabalho estadunidense, bem semelhante ao de Byrd, novamente houve o recurso a 748 pacientes passando por cirurgia cardíaca. A maioria já sofrera um infarto e era portador de diabetes. Metade deles teve dados como nome, idade e diagnóstico secretamente passados a 12 grupos de religiosos locais, sendo esses Cristãos, Islâmicos, Judeus ou Budistas. Cada paciente recebeu orações por 5-30 dias, dependendo da rotina das comunidades religiosas. Os históricos dos pacientes ao longo de 2 anos foram comparados.

Krucoff recolheu alguns dados interessantes. Por exemplo, 89% dos pacientes acreditava que algum amigo ou familiar estivesse orando por ele. Nos 1os 6 meses após a cirurgia, não houve diferença entre os grupos na ocorrência de algum evento cardiovascular (37%), algum evento grave (25%), re-internação (34%) ou morte (3,5%). Ao final dos 2 anos de seguimento, considerando as diferenças entre os grupos, a maior delas foi na re-internação (25% dos pacientes foram beneficiados por orações) e a menor foi na ocorrência de mortes (nenhum benefício). Estatisticamente, nem a maior foi significativa. Como no caso do estudo de Byrd, aqui pode ter ocorrido o mascaramento de efeitos dos grupos de oração pela presença (grande) de orações de familiares e amigos, embora quantitativamente esse estudo tenha provido um número considerável de "orantes" para cada paciente.

O mais atual desses grandes estudos sobre o efeito de intercessão espiritual foi Benson H, et al., "Study of the Therapeutic Effects of Intercessory Prayer (STEP) in cardiac bypass patients: a multicenter randomized trial of uncertainty and certainty of receiving intercessory prayer". American Heart Journal, v. 15, n.4, p. 934-942, 2006. Ele reuniu pacientes de cirurgia cardíaca de quase todas as grandes instituições hospitalares na costa leste dos EUA. Embora os pacientes fossem de fés variadas (ou mesmo ateus/agnósticos), eles foram atribuídos a grupos de oração Cristãos. Os 1802 pacientes participantes foram sorteados entre 3 grupos, mas apenas o grupo 3 recebeu aviso de que receberia orações. Essas, entretanto, foram feitas somente após o período de avaliação (30 d). Os grupos 1 e 2 não receberam qualquer aviso. No grupo 1 não houve orações (a não ser de amigos e parentes); no grupo 2 houve orações feitas por 3 grupos de religiosos (2 Católicos e 1 Protestante) que recebiam diariamente os nomes de pacientes, durante 14 dias. Cada lista tinha a instrução de orar pelo sucesso na cirurgia, com boa e rápida recuperação após ela.

Como sempre, a maioria dos pacientes eram hipertensos, com histórico de infarto e diabetes. 80% tinha afiliação religiosa, sendo 60% Protestantes. Cada grupo diário de "orantes" tinha 10-58 pessoas, reunidas de 1 a 4 vezes por dia. Pelo menos 95% dos pacientes acreditava que haveria alguém orando por eles durante a cirurgia. Benson encontrou que 58,6% dos pacientes avisados sobre as orações (grupo 3) teve alguma complicação no período de análise. Nos grupos não avisados (1 e 2, com e sem oração), ambos tiveram intercorrências em 50% dos pacientes. Nos 3 grupos, essas intercorrências foram principalmente complicações cardíacas (31%) e pulmonares (23%). Nenhum dos problemas de saúde avaliados foi estatisticamente diferente entre os grupos com e sem oração: as principais diferenças foram a ocorrência de diabetes e falência renal (20% menor no grupo com oração) e doença obstrutiva pulmonar (20% maior no grupo com oração). A principal conclusão do estudo acabou sendo sobre o grupo avisado das orações, que teve 20% mais ocorrência de todos os problemas de saúde avaliados. Benson atribuiu isso a um efeito de ansiedade, tendo o cuidado de comparar os grupos 1 e 3, para evitar o efeito retroativo das orações, conforme observado por Leibovici.

OBISESAN, Thomas et al., Frequency of attendance at religious services, cardiovascular disease, metabolic risk factors and dietary intake in Americans: an age-stratified exploratory analysis, The International Journal of Psychiatry in Medicine, v. 36, n. 4, p. 435-448, 2006 chegou a entrevistar quase 40 mil pessoas nos EUA e relacionar a ocorrência de infartos e AVCs (as principais causas não infecciosas de morte) com a frequência em serviços religiosos. Os resultados foram interessantes.

Na população acima de 60 anos, mais propensa a morrer dessas causas, não houve qualquer relação entre infartos e a frequência religiosa; mas houve 25% menos relatos de AVCs. Isso foi especialmente válido para homens brancos (40% menos AVCs) e mulheres negras (66% menos AVCs).

Entre as causas "mundanas" mais sugeridas para essa diferença, claro, estavam a adoção de estilos de vida mais saudáveis entre os religiosos (menos fumo, menos bebida, menos associação com violência) e a evitação de depressão/ansiedade pelo convívio social e atribuição de significados lógicos para as ocorrências diárias. E isso não era mentira: quando foi introduzida a probabilidade menor de ocorrência desses problemas, estruturalmente em homens brancos e mulheres negras, desapareceu por completo o efeito protetor da frequência às igrejas.

Um estudo significativo avaliou ainda as intervenções religiosas não sobre as doenças diretamente, mas sobre os níveis de ansiedade e depressão de doentes. GONÇALVES, Juliane PB et al. Religious and spiritual interventions in mental health care: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled clinical trials. Psychological medicine, v. 45, n. 14, p. 2937-2949, 2015 reuniu dados sobre o tratamento de 3150 pacientes, a maioria deles usuários de drogas, pacientes de ansiedade e cardiopatas. Metade deles passou por intervenções religiosas que incluíram psicoterapia de bases religiosas, recursos audiovisuais como leituras e músicas, serviços pastorais e formas de meditação, geralmente por 1 a 6 semanas. Todos os pacientes incluídos tiveram seus níveis de ansiedade e depressão monitorados por escalas clínicas.

Cerca de 60% dos pacientes teve melhora dos sintomas de ansiedade (contra 40% que não teve benefício), o que é pouco significativo. No quesito sintomas de depressão, apenas cerca de 20% dos pacientes de beneficiou das intervenções. Comparando-se esse resultado com parâmetros clínicos de terapia psicológico-psiquiátrica atuais, onde 90-95% dos pacientes de ansiedade e 70% dos pacientes de depressão obtém melhoras, trata-se de uma eficácia muito fraca. O principal benefício dessa abordagem, então, estaria na forte vinculação dos pacientes aos serviços religiosos e seu baixo custo.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Quais são as diferentes respostas que Deus dá à oração?

Texto furtado a olhos vistos e extorquido muito espontaneamente de Kenneth V. Ryland.

Há orações que Deus simplesmente não vai ouvir?

Quando você pensa sobre o que significa ser um cristão, a idéia de NÃO receber uma resposta à oração parece contrária a qualquer noção de cristianismo. Um cristão que não se comunica com Deus não é realmente um Seu seguidor. Como chegamos ao ponto onde os cristãos estão tão fora de sintonia com Deus que não têm certeza de muita coisa? De repente o cristianismo é uma apólice de seguro contra o lago de fogo... afinal, é melhor estar do lado vencedor.

Mas, o que dizer sobre a declaração de Jesus de que Ele veio para que pudéssemos ter vida, e a tivéssemos em abundância? (Jo 10.10) Como Deus pode conceder-lhe uma vida abundante se você nem consegue falar com Ele e não tem idéia de quando Ele está falando com você?

O cerne da oração é a comunicação com Deus, de forma que a falha aí simplesmente sabota tudo o que Jesus veio contar. Se você quer ter maior proximidade com Deus, há várias recomendações bíblicas para sua oração.

Conhecer a vontade de Deus

Vamos começar por admitir o óbvio: às vezes, a resposta de Deus é "não". Outras vezes, é "espere, pois eu vou atender ao seu pedido mais tarde." Então, quando você sente que Deus não está ouvindo você, pode ser que ele só não esteja dando a resposta que você quer ouvir.

Ter de esperar e exercer a virtude da paciência não é fácil, especialmente em nossa cultura em que a gratificação imediata é rei. A tentativa de Deus em nos ensinar paciência parece tão fora de passo com o nosso estilo de vida! No entanto, deve ficar claro que o Pai Celestial não está particularmente interessado em manter seu estilo de vida rápido. Ele se interessa mais em se ver você equipado com as virtudes que vão durar pela eternidade. Ele é um pai e, como qualquer pai, está muito mais preocupado com a forma como você vai sair.

Então, quando você orar, tenha em mente que o seu pedido terá de ser em linha com a meta que Ele tem na paternidade de você. Caso contrário, não espere receber uma resposta favorável. Ele não vai te dar nada que impeça você de passar a eternidade em Seu reino. Esta é outra maneira de dizer "E esta é a confiança que temos Nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que Lhe fizemos." (1Jo 5.14-15).

Pedir segundo a Sua vontade (não a nossa), é uma das chaves para prever o tipo de resposta que iremos receber. Deus trata conosco da mesma maneira como lidamos com nossos próprios filhos. Se meu filho de 7 anos me pedisse para levá-lo ver um filme censurado ou para um bar, a única resposta que poderia esperar é "não". Permitir que o meu filho veja cenas tórridas ou que freqüente bares é contrário à minha vontade. Seria ruim para ele, saiba disso ou não. Há certas coisas que minhas crianças nunca pediram porque sabiam que seria contrário à minha vontade em defender os seus próprios interesses. Você também precisa saber o que está dentro da vontade de Deus antes de pedir... caso contrário, você pode estar perdendo seu fôlego e seu sono por algo que você nunca vai ganhar.

Mas, dirão alguns, "é tão difícil saber a vontade de Deus. Como eu posso ter certeza qual é a Sua vontade?" Se você é um cristão novo, tal resposta é compreensível. No entanto, para aqueles que têm sido membros do corpo de Cristo, esta resposta costuma ser desculpa para ganhar alguma margem de manobra em ter nosso próprio caminho. Afinal, se não sabemos, como podemos ser responsabilizados por as nossas orações serem inúteis? "Se Deus tivesse revelado Sua vontade antes de eu ter problemas, eu poderia ter evitado isso." Que maneira conveniente de transferir para Deus a culpa por nossos erros!

Na realidade, não é difícil saber a vontade de Deus em 99% das circunstâncias da vida.

Deus cercou Seus filhos com evidências de Sua vontade. Jesus disse que Seus seguidores (por exemplo, você e eu) não seríamos servos, mas amigos. Ele deixou claro para nós o que estava fazendo, porque Ele estava fazendo isso, e o que Ele espera de Seus seguidores (Jo 15:15). Temos recebido o Espírito Santo para nos conduzir a toda a verdade (Jo 16:13).

Com tanta atenção e direção de Deus, por que seria difícil saber o que Deus quer de nós? Os caminhos de Deus não são "insondáveis", como foi o caso quando Israel invocou profetas para revelar a verdade de Deus para eles. Temos as Escrituras, que contém milhares de exemplos de como Deus lida com seres humanos, o que Sua vontade é, e o que Ele espera. Temos o Espírito Santo para instruir nossa mente em pensar como Deus pensa, e temos acesso direto a Deus. Jesus fez disso uma realidade. Não há mais uma cortina entre nós e o Santo dos Santos. Devemos parar de esperar lá fora: Deus abriu as portas para nós. É hora de ir e falar com nosso Pai.

Portanto, temos poucas desculpas para não conhecer a vontade de Deus. Mas há os 1% de tempo em que nós temos um dilema e não sabemos que caminho seguir. E é justo perguntar como podemos saber da vontade de Deus em tais circunstâncias.

Se você tiver esgotado todos os canais normais de tentar determinar a vontade do Pai - o estudo da Bíblia, aconselhamento com aqueles que são sábios na fé e orar como ora normalmente - e ainda não sabe o que fazer, há ainda uma maneira de descobrir o que Deus quer que você faça. Estenda o velo.

Estenda o velo

Você conhece a história de Gideão (Juízes 6, 7 e 8)? Os israelitas se afastaram de Deus após a geração de Josué e submergiram na adoração de Baal. Por causa de sua desobediência, Deus deu-os nas mãos de seus inimigos, os midianitas. Deus também permitiu que os amalequitas e os povos do Oriente empobrecessem Israel. Após alguns anos de opressão, o Anjo do Senhor foi a Gideão, que estava debulhando do trigo no lagar (piscina rasa, no chão, onde se pisam os frutos). Gideão tinha medo dos midianitas, e então o anjo disse que ele seria um homem de valor, conduzindo Israel à vitória contra seus inimigos.

Gideão não aceitou avidamente a oportunidade. Ele precisava de uma prova de que Deus estava realmente falando. Será que Deus se zangou quando Gideão pediu a confirmação? Não. Deus cumpriu com o pedido. Depois que o Senhor disse a Gideão para ir contra os midianitas e amalequitas, Gideão respondeu dizendo ao Senhor: "Se você vai salvar Israel por minha mão, eu preciso de uma prova de que você estará comigo. Porei um velo no eirado à noite, e se ele estiver cheio de orvalho da manhã e no chão em torno estiver seco, então eu sei que você vai salvar Israel por minha mão" (minha paráfrase).

Velo é um couro peludo de carneiro, que se usava para dormir ou fazer roupas. Quando Gideão levantou de manhã, a lã está cheia de orvalho, mas o chão em torno estava seco. Essa prova foi suficiente? Não. Gideão teve a audácia de dizer ao Senhor "Preciso de mais provas. Esta noite, se você fizer o chão ao redor da lã ficar molhado de orvalho e o velo ficar seco, então eu saberei que você guiará Israel por minha mão". Deus ficou irritado? Não. Sem uma palavra dura sequer, o Senhor cumpriu com o pedido mais uma vez. Dessa vez Gideão finalmente aceitou o fato de que o Senhor realmente lhe entregaria os inimigos de Israel.

Mas isso não é tudo. Mais tarde, mesmo sem um pedido, o Senhor deu Gideão uma confirmação adicional. Como Israel estava prestes a invadir o arraial dos midianitas e amalequitas, Deus disse a Gideão para tomar o seu servo e esgueirar-se para o acampamento dos inimigos de noite, onde ouviram o sonho de um midianita. O sonho revelava que os inimigos de Israel seriam derrotados pela "espada de Gideão". Cobrado por esta nova confirmação, Gideão levou seu clã para derrotar o inimigo.

Deus não mente, não nega ao povo a confirmação de Sua vontade. Como pai, você não estaria disposto a expor sua vontade para um filho, sem qualquer sombra de dúvida? Afinal, você não quer que seu filho entre em apuros. Você quer que ele seja bem-sucedido em tudo que faz, e vai impedir que o seu filho bagunce a própria vida.

Deus não faz diferente, apenas Seu amor por você e Seu interesse em seu sucesso são muito maiores do que o seu interesse por seus próprios filhos. Se é imperativo que você saiba qual é a Sua vontade, continue perguntando e buscando até que esteja claro. E, se ainda há dúvida na sua mente, pare e peça a confirmação. Quando se trata de saber o que Deus espera de você em termos de ações e atitudes, você tem todo o direito de pedir instruções claras e inequívocas de Deus. Ele nunca fez da Sua vontade um mistério para a humanidade; peça orientação e você receberá.

Lidando com o silêncio de Deus

O que fazer nesses casos, quando você orou com fé, tem feito tudo o que você precisa fazer, sabe que não está pedindo nada fora da vontade de Deus, mas ainda não há resposta? O amigo doente ainda está doente. Você ainda está sem dinheiro e sem emprego à vista. O cheque não veio como prometido. Todos nós passamos por tais experiências. Estamos pedindo com fé, mas Deus não está dizendo nada.

O que você faz quando isso acontece? A maioria não faz nada. Nós podemos rodear um pouco falando sobre o nosso "teste de fé", mas, no final, o silêncio de Deus é aceito com resignação estóica (ou desdenhosa), assumindo que pedir mais sinais é falta de fé. Assumimos um fatalismo bíblico e piedoso. Afinal, Deus ainda parece duro, não é mesmo?

Não tenha tanta certeza de que o silêncio de Deus é sua resposta final, ou que é "sinal" para você calar a boca. Se você tiver feito tudo certo e tiver feito o seu pedido com fé, considere Seu silêncio como um convite para se aproximar Dele e falar. Se sua fé está alinhada com Ele, é perfeitamente normal querer saber por que Deus "não retorna as ligações". Se você tem orado com fé, então você deve persistir perguntando por que a resposta de Deus é "não", ou porque Ele é silencioso. Deus realmente deseja se comunicar com você porque você é seu amigo e filho. "Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e difíceis, que não sabes" (Je 33:3).

Então, ore sem cessar e não desista até que Deus responda de uma forma ou outra; até que você esteja certo da Sua vontade. Alguns vêem essa busca persistente da atenção de Deus como  falta de fé, mas a verdade é que a Bíblia está repleta de exemplos de persistência. E aqueles que têm sido persistentes com Deus têm sido recompensados com o Seu amor e favor.

Havia dois cegos sentados à beira da estrada, quando Jesus veio de Jericó. Eles gritaram para que Jesus tivesse misericórdia, mas a multidão que seguia Jesus tentou silenciá-los. Qual foi sua resposta? Eles gritaram ainda mais alto. Jesus ficou tão impressionado com a sua persistência que  teve compaixão deles e os curou (Mt 20:29-34).

Imaginem o curso da história se Jacó tivesse dito: "Tudo bem, eu desisto", quando o Senhor lhe disse para ir embora. Gênesis 32:24-29 registra o duelo mais fantástico da história: Jacó luta com alguém que ele identifica como Deus, até amanhecer. Quando o dia vem, o Senhor diz a Jacó: "Deixa-me ir, porque já a alva subiu". Apesar de ferido e esgotado, Jacó responde: "Não Te deixarei ir, se não me abençoares". O Senhor não fica chateado pela persistência de Jacó; Ele lhe recompensa com uma nova história e um novo nome, porque Lhe agradou. Jacó mostrou sua fé através da persistência, e foi recompensado porque estava disposto a empenhar-se com Deus! Por outro lado, se com resolução - e desdenho pelos infortúnios - Jacó se recusasse a confrontar Deus, teria sido o mesmo que retirar-se da presença Dele, e não teria havido nenhuma bênção.

Deus espera participação ativa de seus filhos. Lembre-se também que Jesus nos diz para pleitear nosso caso diante do Pai, com persistência implacável, até recebermos a Sua graça. Ele diz que devemos ser como a viúva ante o juiz injusto (Lc 18:1-8). "E Deus não fará justiça aos Seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que seja tardio para com eles?". Em outras palavras, embora Deus nem sempre responda imediatamente, ele irá responder se você não desistir. Sua persistência é prova de fé.

Quando Deus não vai te ouvir

Deus quer ter uma comunicação íntima contigo. Mas você deve saber também que existem momentos em que você poderia muito bem não perguntar, porque Ele não vai ouvir...

Um desses momentos é quando você está pecando e sabe bem disso. Se estiver pecando sem saber, Ele fará todo o imaginável para que você descubra se corrija. Ele ainda vai lhe dar uma ajuda extra para se livrar do pecado. No entanto, se você tem se posto em contrário à Sua vontade e recusa-se a parar, não espere uma resposta quando você orar, pois a resposta já é "não". Deus não ouve pecadores, para protegê-los do Seu juízo (Is 59:1-3).

Quando um pecador se arrepende há muita alegria no céu, e Deus certamente vai ajudar essa pessoa, porque o arrependimento é o que Ele mais procura no pecador. Por isso, se sua consciência foi se incomodando com algo que você tem feito, é provável que Deus esteja lhe dizendo para parar e desistir. Só então você poderá contar que Deus ouve suas petições. Afinal, qual pai favorece a criança que se recusa a ouvir as suas instruções?

Outro tipo de comportamento que transforma a resposta de Deus é perdoar. Jesus deixou muito claro que aqueles que que se recusaram a perdoar esperem o perdão de Deus. "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai não vos perdoará as vossas ofensas" (Mt 6:14-15).

A razão para isso deve tornar-se óbvia se você pensar no assunto. Submetendo-se a torturas e morte, Jesus pagou o preço pelo perdão de Deus para você. Agora você não tem que morrer para pagar seus pecados. Se Ele estava disposto a dar tanto que você tem o perdão de Deus, você deve estar disposto a conceder perdão aos outros. Em comparação com o que Cristo fez por você, o seu perdão aos outros é realmente uma questão pequena. Assim, não alimente as mágoas e ofensas que você sofreu... Não deixe o sol se pôr sobre sua ira, pois você vai dar ao diabo uma abertura em sua vida (Ef 4:26-27). Resolva suas diferenças de forma rápida; repare as ofensas, na medida em que for capaz, e perdoe os outros setenta vezes sete vezes (Mt 18:22).

A falta de perdão garante que você não irá receber a atenção que você quer de Deus. Isto é ser arrogante ou orgulhoso. Orgulho e arrogância são tão ofensivos a Deus que você poderia estar fazendo tudo certo e encontrar-se longe de Deus, por ser orgulhoso. "Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes" (Tg 4:6). Na verdade, dentre as coisas humanas que Deus encontra de pior, o topo da lista é a arrogância. "Estas seis coisas o SENHOR odeia, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, ..." (Pv 6:16).

Qualquer pai é repelido por uma exibição de orgulho ou arrogância em uma de suas crianças, e Deus não é diferente. Então confira você a sua atitude. Tenha certeza que você não está fazendo-se "superior" em relação aos outros. Certifique-se que você estima as outras pessoas como melhores do que a si mesmo (Fp 2:3-4). Ou seja, coloque as necessidades dos outros à frente das suas próprias. Esse é o melhor antídoto para o orgulho.

Há muito mais que poderia ser dito sobre as ações e atitudes que bloqueiam a comunicação com nosso Pai, mas a maioria dos problemas que encontramos cai nas três categorias mencionadas: pecado, perdão e orgulho. Então, faça como o Paulo recomenda e examine a si mesmo (2Co 13:5). Certifique-se que a sua linha de comunicação com Deus permanece em aberto.

Alguns maus conselhos sobre oração

Nossa aproximação de Deus afeta nossa capacidade de orar com eficácia. Acrescentemos aqui comentários sobre uma "moda" de que a reivindicação é a maneira mais eficaz de orar. Muito tem sido escrito e proclamado no púlpito sobre fórmulas de oração. Alguns declaram que não há uma fórmula eficaz para intercessão, ou para a cura. Outros apresentam fórmulas para as orações de louvor e imprecatórias (que rejeitam, punem ou castigam). Há verdadeira receitas para garantir que "Deus vai ter que conceder" nossos pedidos.

Há, no entanto, uma coisa ignorada na teologia de fórmulas de oração: não estamos lidando com um computador. Estamos lidando com Deus. Não somos feiticeiros queimando encantamentos para evocar um demônio que realize o nosso desejo... somos filhos aprendendo a falar com nosso pai.

Será que tínhamos uma fórmula para falar com mamãe e papai, garantindo que conseguiríamos deles qualquer coisa? Obviamente não. As conversas com meus pais estavam sempre cheias de nuances. Não eram apenas as palavras que trocávamos... o ar estava cheio de emoções, atitudes, expressões faciais e gestos, uma comunicação que abrangia a totalidade do meu (pequeno) ser. Que ofensa a Deus, pensarmos que Ele seria poderia convocado a nos atender por um coro ensaiado de palavras! Nossa capacidade de conhecer o Pai e falar com Ele leva tempo e muita atenção. Requer convivência!

Aqueles que defendem as “virtudes" de orações pré-formuladas estão tentando encontrar a maneira do preguiçoso chegar às riquezas. Acham que podem manter Deus mais longe que o comprimento do próprio braço e ainda receber Suas bênçãos. Eles querem o lucro máximo com investimento mínimo. No entanto, de uma extremidade da Bíblia à outra, Deus concede Seus favores a Seus amigos, àqueles a quem Ele conhece intimamente. Aqueles que promovem o negócio da oração-fórmula pode muito bem ser os únicos a quem Cristo, o juiz, declara:

"Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, você que praticais a iniquidade!"  (Mt 7.23).

O poder da oração focada

Quando você era criança, provavelmente orou: "Deus, abençoe mamãe e papai, e por favor, proteja-nos com seus anjos. Amém". Isso era bom o suficiente para a tenra idade. Afinal, sabíamos pouco sobre o mundo ou qualquer um nele, não havia muito a esperar de nós. Mas, infelizmente, muitos cristãos nunca foram além de "abençoe mamãe e papai". É simples dizer porque suas orações são ineficazes, mas eles continuam perplexos quanto à razão.

Uma das coisas mais importantes para a oração eficaz é o foco. Naturalmente, esse princípio funciona em qualquer empreendimento. A qualidade das criações de um mestre carpinteiro é proporcional a sua habilidade com as ferramentas, a sua atenção a cada detalhe, e sua determinação para produzir uma cadeira ou mesa perfeita.

Nas relações humanas damos atenção para os problemas e necessidades daqueles que amamos, pensando que de alguma forma poderíamos ajudar. Por outro lado, quando ouvimos sobre a fome na África ou a taxa de mortalidade por câncer, podemos dizer "muito ruim", mas esses pedaços de notícia raramente nos levam a atos de compaixão ou generosidade. E, mesmo quando respondemos às massas famintas através de alguma ONG, não temos com “aliviar o sofrimento dos outros” a mesma motivação que temos quando esse "outro" é um amigo ou um parente.

Pense no que isso significa em termos de oração. Você pode orar com o mesmo fervor para alguém que nunca conheceu e para alguém querido? É duvidoso. Quando oramos por alguém, precisamos de informações específicas o suficiente para sermos movido de compaixão verdadeira por aquela pessoa.

A Bíblia diz que Jesus aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu (Hb 5.8). Nesse ponto ela nos descreve também, se permitimos a Cristo viver dentro de nós. Temos a Sua imagem e aprendemos muito através do sofrimento. O que podemos aprender com a dor nos faz eficazes em nossas orações. Qualquer um que sofreu com o divórcio sabe de antemão o que sente um irmão passando por isso. Em circunstâncias semelhantes, a pessoa pode intervir eficazmente com Deus pelo sofrimento de seu próximo, enquanto este provavelmente será incapaz de orar competentemente por causa do tumulto emocional.

Da mesma forma, aqueles que sofreram com uma doença grave são mais capazes de orar eficazmente pelos doentes. A memória do próprio sofrimento nos traz as necessidades do doente em foco, de tal forma que outros nunca poderiam entender. Qualquer uma das nossas experiências de vida faz entender as aflições das pessoas. A nossa proximidade para com elas e desejo de seu bem-estar nos motivam a "estar na brecha" para interceder por eles.

Conclusão

Obviamente, este artigo não contém tudo o que pode ser dito sobre a oração. Há livros e outros materiais de estudo disponíveis (e, infelizmente, também alguns materiais enganosos). É minha esperança que você procure todas as vias possíveis de conhecer mais intimamente o Pai.

Ore e dependa Dele para discernir entre o útil e o inútil. Se você procurar ativamente por Ele, confiará mais em Sua direção e ajuda do que nas "autoridades". Não digo que você deve jogar fora seus livros e deixar seu cérebro na porta da igreja antes de entrar... pelo contrário, a intimidade com Deus permitirá que você vislumbre toda autoridade real, porque você conhece Ele e Sua vontade.

Em nossa discussão, falamos sobre compreender Deus e Sua vontade. Mas tão importante quanto saber a Sua vontade é fazer a Sua vontade. Isso é onde muitos de nós falham. Assim como estamos mais dispostos a considerar os pedidos dos nossos filhos quando vemos neles um desejo real de fazer o que pedimos, Deus é mais acessível e generoso quando obedecemos. Deve-se ressaltar, entretanto, que a nossa obediência não pode ser com a finalidade de evitar a punição. Pelo contrário, devem ser originários de nosso desejo de agradá-Lo. Uma pessoa que obedece simplesmente para evitar a punição é uma pessoa que não crê na bondade de Deus, e é a Sua bondade (não a ameaça do inferno) que nos leva ao arrependimento (Rm 2.4).

Desde o início, Deus mostrou que deseja um relacionamento baseado no amor, em vez de medo. É a partir desse amor que passamos a conhecer o coração de Deus e obedecê-Lo com um coração compreensivo. Podemos acreditar que tudo o que pedimos, em nome de Jesus, Ele ouvirá. Ele disse: "lançai todos os seus cuidados sobre Ele, porque Ele tem cuidado de vós" (1Pe 5.7).

"Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais. Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração." (Jr 29.11-13)

Então, o que você está esperando? Tenha ousadia diante do trono da graça (Hb 4.16) e faça suas petições conhecidas por Deus, pois a intimidade que você e Ele vão compartilhar é o que faz cada oração ser respondida.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Clamando a Deus

- Leeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiteeeeeeeee !!!!

Todavia os filhos do teu povo dizem: Não é justo o caminho do Senhor; mas o próprio caminho deles é que não é justo.” (Ez 33.17)

Se você leu mais de uma vez o versículo acima, provavelmente já se viu trilhando um caminho onde a Teologia da Prosperidade é completamente sem sentido: você tenta andar nas diretrizes do Senhor, mas a prosperidade foge de você. Você não está em guerra contra os céus, nem deixa de fazer suas orações, mas simplesmente não vem auxílio lá do alto. Talvez Deus esteja “de mal” contigo por algum motivo, que você precisa descobrir e resolver o quanto antes.

De repente você já ouviu algo como “tua oração não passa do teto”, ou “esse não é o plano de Deus para você”. São frases [não bíblicas, mas quase] de uma crueldade sutil...

Se esse é o seu caso, você se tornou uma vítima do Cristianismo. Enquanto há pessoas fazendo atos cristãos de solidariedade e amor por aí, independente das suas religiões, andam também às multidões gente de consciência pesada pelo constrangimento de não doar (peraí... doar?) o quanto o pastor pretende que dêem, por não se comportarem como deveriam se comportar ou até não pensarem como deveriam pensar (e o pastor é bidu?). Você pode se entristecer por eles, mas faça isso por você também. Você está sofrendo por aquilo que Jesus anunciou que você não sofreria, sem passar perto de sofrer aquilo que ele falou que te machucaria. Quando Mateus termina sua narração e anota “eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos, amém.” (Mt 28.20), o que Jesus pretendia dizer? Que Ele estaria junto de um grupo seleto e santo até o final? Que estaria pendurado numa cruz sobre a porta para sempre verem ele ali? São palavras bem claras.

Vejamos agora o outro lado dessa questão, ou seja, Jesus. Se você pudesse estar junto de seu filho em todo tempo, vendo desde o momento em que ele ri até o momento em que ele rouba um lápis do colega de escola, você sempre faria o que ele quer? Se não OBEDECESSE o que ele pede, significaria que o deixou ou que não o ama? Você o deixaria, podendo estar ali e tendo prometido que estaria? Antes de prosseguirmos é recomendável que você faça as pazes com Ele, ou vai precisar voltar e ler tudo de novo.

Um conceito que aprendi recentemente é que não existe isso de “esse não é o plano de Deus para você”. Essa frase traz embutida a idéia de que você está jogando CONTRA Deus, mesmo sem saber como isso acontece. Você não sabe o rumo certo, só precisa se culpar por estar no rumo errado! E ainda faz crer em um Deus bem frustrado, que risca planos rígidos e assiste quieto as pessoas contínua e repetitivamente escapando dele. Talvez alguma hora ele se canse dessa atividade... No entanto, Ele poderia mudar os planos a qualquer momento, poderia até interrompê-los definitivamente, e sem dúvida conhecia todo o desenrolar da história bem antes de traçar qualquer coisa. No VT, o nascimento de Jesus, sua vida e morte são anunciados mais de 400 anos do ocorrido. Duvido que eu viva tanto. De que forma eu escaparia ao olhar de alguém que vê meu futuro? Como ele faria um plano [falível] no qual eu não me encaixe? Em todos os seus tormentos, Jó afirmou algo bem interessante ao próprio Senhor: “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido.” (Jó 42.2).

Se você assumir que os personagens bíblicos estiveram fielmente sobre o plano de Deus (e se eles não estiveram, quem estaria?), talvez você deva notar que foram muito menos problemáticos que você, sem falhas e que não sofriam. Por favor esqueça Jesus orando no Getsêmani, Davi se escondendo em cavernas ou fingindo de louco entre os Filisteus, Asaph vendo Jerusalém ser saqueada, Jó raspando as chagas com cacos... Concentre-se nas partes boas. Provavelmente eles não seriam notados hoje, e talvez fossem repreendidos por algum pastor mais bem sucedido e com noções próprias do que é estar nos planos de Deus. A infalível ajuda de repreender a vítima! Desde os tempos de Jó isso ajuda muito.

Não há como negar que é perturbadora a idéia de que, inclusive na hora ruim, você ESTÁ nos planos Dele. Deus é bom mas ele conduz ao sofrimento. Nunca disse que não o faria, mas preveniu que faz isso por amor. Mesmo quando negou a Jesus, não podemos negar a mensagem levada por Pedro aos corações! Quando esteve fugindo no deserto, Davi escreveu as orações recitadas no tempo, séculos adiante. Talvez isso te forneça a confiança de ser otimista para perguntar “o que vem agora?”. Pedir a ajuda de um Deus com o qual você esteja em paz deve ser muito mais confortável, e sem dúvida é mais sincero.

Chegamos então na 2ª frase aterradora que você deve conhecer: “tua oração não passa do teto”. Será verdade, isso? Será que algumas orações que você faz simplesmente não são ouvidas? Bom, se você imaginar um pai ouvindo o filho choramingar por uma coisa que vai machucar ele (quantos bichos de vidro eu não quis segurar, quando criança!), isso é bem provável da parte de de Deus. Não exatamente o não ouvir, mas o não atender essas orações, para seu próprio bem. Você não tem como conhecer o futuro das suas ações, mas Ele tem. Algumas orações de fato ficam sem resposta imediata:

"E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante [de Caim]." (Gn 4.3-5)

Jesus mesmo contou uma parábola sobre o fariseu e o publicano fazendo orações no Templo, onde o fariseu tem sua oração rejeitada (Lc 18.10-14). Na Bíblia, há muitas orações que podem servir de bons exemplos não de formato, mas de conteúdo. Há a oração de Davi suplicando pelo perdão de Deus, muitas pedindo por auxílio, a oração intercessória do próprio Jesus suplicando pela proteção dos homens. Supondo que repeti-las seja tão inútil quanto Ele mesmo afirma de cima de um incógnito monte na Galiléia,

... quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está no secreto. Então seu Pai, que vê no secreto, o recompensará. E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos.” (Mt 6.6-7)

aqui seguem algumas orientações para quem espera pelo auxílio. Afinal, Tiago nos avisa que certas orações serão sempre inúteis: “Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis. Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.” (Tg 4.2-3). Para fugir desse mal exemplo, que elas inspirem você a aproximar-se do Senhor, mesmo sabendo que em nenhum momento Ele esteve tão longe como você imagina.

INTERCESSÃO

Jó possuía 3 amigos que combinaram fazer-lhe uma visita, para falar como estavam tristes pelo que lhe havia acontecido e para darem um pouco de consolo e ânimo (Jó 2.11): Elifaz, da região de Temã, Bildade, da região de Suá, e Zofar, da região de Naamá. Mais tarde, outro amigo, Eliú, mais jovem que os outros, juntou-se a eles (Jó 32.1-5). Suas falas foram absolutamente corretas com a sabedoria judaica, mas ao final o Senhor exige que eles se desculpem a Jó. Porquê? Porque simplesmente não falaram a verdade sobre Jó, apesar de seu conhecimento teórico. Você também provavelmente não conhece a verdade sobre sua situação ou de outros, ainda que seja experiente, mas isso o Senhor conhece. E ele mesmo, ainda conhecedor dos pecados de uma certa mulher adúltera e de toda humanidade, intercedeu a Deus por ela e por nós. Isso te sugere algo?

PERDÃO

Então Elifaz, de Temã, Bildade, de Suá, e Zofar, de Naamate, fizeram o que o Senhor lhes ordenara [se humilharam perante ele]; e o Senhor aceitou a oração de Jó. Depois que Jó orou por seus amigos, o Senhor o tornou novamente próspero e lhe deu em dobro tudo o que tinha antes.” (Jó 42:9-10). Ao invés de se irar e sofrer com quatro outros homens [irreais] vivendo dentro dele e adicionando dor a seus pensamentos, Jó simplesmente perdoou eles e deixou que cada um seguisse seu caminho. Deus avisara de antemão que aceitaria a oração perdoadora de Jó. Jesus de fato dedicou boa parte de sua estada aqui em distribuir perdões a quem os pedia. Porque você imagina que Ele não aceitaria a sua ou de qualquer outro?

BÊNÇÃO

Por volta de 700 a.C., Balaão era um profeta arameu itinerante¹, conhecido mesmo em outras terras por um dom que recebera de Deus. Quem Balão abençoasse, seria abençoado pelo Senhor; quem ele amaldiçoasse, seria amaldiçoado pelo Senhor. Por causa desse dom, Balaão foi convocado à presença do rei Balaque, do reino de Moabe, que temia a aproximação dos israelitas. Balaão estava acostumado a recorrer ao que ele mesmo chamou depois de magia, que consistia em acender altares para pedir o favor de Deus. Quando entendeu que o Senhor desejava a bênção sobre aquele povo, Balaão atinou para a infantilidade de suas práticas e para Quem provia o poder sobre os povos (Nm 24.1). Da maneira mais simples e mais “poderosa”, Balaão orou abençoando eles e até dando a eles o seu dom (Nm 24.9).

Provavelmente a transferência do dom funcionou, pois não são mencionadas outras profecias de Balaão. Numa era de conquistas e reis que ofereciam fortunas, Balaão nem ao menos conhecia o povo que Balaque temia. Sua bênção seguiu a instrução do próprio Deus, com quem o profeta conversava.

Ainda que você não seja um profeta, deveria atentar a quem Jesus destinou sua bênção quando disse “vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei” (Mt 28.19-20). Ele destinou a benção de servi-Lo a TODOS que o quisessem. Se Ele fez isso, porque existe alguém que você não pode abençoar?

No alto do monte, Jesus dedicadamente ensinou ao povo: “Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Até os publicanos amam quem os ama, e até os pagãos saúdam seus próprios irmãos. Sejam diferentes, perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês, que faz raiar o seu sol sobre maus e bons, que derrama chuva sobre justos e injustos" (Mt 5.44-48). A justiça de Deus não está em punir, mas em perdoar e modificar pelo amor.


Parece bem estranho alguém orar sem fé, mas entre acreditar e crer há uma diferença sutil. Tiago diz que “o homem que duvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento, é alguém que tem mente dividida e é instável em tudo o que faz. Não pense tal homem que receberá coisa alguma do Senhor.” (Tg 1.5-8). Ora faz o que manda o Senhor, ora faz o que manda o colega, ou o que for mais conveniente. Continuando, ele avisa que apenas ouvir a palavra e não praticá-la faz esquecê-la, enganando o homem a si mesmo (v. 22-24). Dessa forma, Tiago equipara ter fé a FAZER o que manda o Senhor, de forma simples e clara. Não se trata de escutar ou acreditar, ter fé é FAZER.

Mas orar geralmente é pedir por algo que não se pode fazer. Você ora por alguém doente, quando não pode curá-lo; ora pelo sucesso de alguém quando não pode provê-lo você mesmo; ora por proteção quando acredita estar indefeso. Onde está o fazer? Está justamente em confiar que sua oração foi ouvida, e ouvir a Deus sobre ela. Segundo Tiago, isso está em se arriscar estando indefeso, oferecer ajuda quando é você quem precisa dela. Como os que iam pregar a povos estranhos nos tempos de Paulo, isso é orar na prática... O misterioso autor da Carta aos Hebreus arremata que “Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem Dele se aproxima precisa crer que Ele existe e que recompensa aqueles que O buscam.” (Hb 11:6).

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¹ A relação de Balaão com o Deus hebraico é controversa. Aparentemente, Balaão pertencia a um povo politeísta, que chamava Deus pelo nome Elohim (deuses). A apresentação dele "Fala, Balaão, filho de Beor, e fala o homem de olhos abertos; fala aquele que ouviu as palavras de Deus, e o que sabe a ciência do Altíssimo; o que viu a visão do Todo-Poderoso, que cai, e se lhe abrem os olhos." (Nm 24.15-16) também lembra em muito a apresentação de um oráculo dos tempos antigos. Aparentemente, Balaão teve um contato com Deus, mas isso não o modificou completamente. No livro de Apocalipse, o Senhor diz a João [de Patmos] uma mensagem para a igreja de Pérgamo: "Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem." (Ap 2.14)

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http://www.bible-history.com/isbe/B/BALAAM/
http://www.aish.com/ci/sam/48965991.html

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Intercedendo perante o Senhor


A INTERCESSÃO DE JEREMIAS

A desgraça assolaria, em breve, toda nação de Judá. Mesmo assim, o povo se negava a abandonar o pecado. Jeremias deseja interceder pelo povo, mas o Senhor, mais uma vez, adverte ao profeta da ineficácia da sua intercessão. Deus ignorará a intercessão do profeta porque o povo, premeditadamente, não se arrependerá. O Senhor acusa os falsos profetas por conduzirem Judá às falsas visões, adivinhações, vaidade e engano (Jr. 14.14). Tais falsários seriam os primeiros a sofrerem os julgamentos divinos quando a calamidade chegasse sobre a nação.

Jr 14.11. Disse-me mais o SENHOR: Não rogues por este povo para seu bem. Quando jejuarem, não ouvirei o seu clamor, e quando oferecerem holocaustos e ofertas de alimentos, não me agradarei deles; antes eu os consumirei pela espada, e pela fome e pela peste.

Então disse eu: Ah! Senhor DEUS, eis que os profetas lhes dizem: Não vereis espada, e não tereis fome; antes vos darei paz verdadeira neste lugar.

E disse-me o SENHOR: Os profetas profetizam falsamente no meu nome; nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei; visão falsa, e adivinhação, e vaidade, e o engano do seu coração é o que eles vos profetizam.

Nos dias atuais, conforme nos antecipou o Senhor Jesus, existem muitos falsos profetas (Mt. 24.11; Mc. 13.22). De vez em quando, aparece alguém que deseja se passar por Cristo. Dentro e fora das igrejas acumulam-se os falsos ensinadores, mestres que não atentam para a Palavra de Deus. A respeito deles, diz Judas em sua Epístola:

"Estes [os falsos profetas] são manchas em vossas festas de amor, banqueteando-se convosco, e apascentando-se a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas; Ondas impetuosas do mar, que escumam as suas mesmas abominações; estrelas errantes, para os quais está eternamente reservada a negrura das trevas.

A filosofia da auto-ajuda tem favorecido o surgimento de vários profetas do engano. Dizem ao povo que tudo está bem, que podem encontrar saída por conta própria, e que não precisam de Deus. Ao invés de proclamarem arrependimento, induzem as pessoas a massagearem o ego, e a viverem distanciadas de Deus. Os profetas do Senhor, neste tempo, devem continuar intercedendo e pregando ao povo, conduzindo-os à sã doutrina (II Tm. 4.1-5).

2 Tm 4.1Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.

A RESPOSTA IMEDIATA DO SENHOR

A doutrina da intercessão é bíblica e deve ser observada pela igreja. Na história de Israel, Deus ouviu a intercessão de Moisés e Samuel (Ex. 32.11-14; Nm. 14.13-24; Dt. 9.18-20; I Sm. 7.5-9; 12.19-25). No caso de Jeremias, porém, a resposta do Senhor foi negativa (Jr 14.11).

 Jr 7.16Tu [Jeremias], pois, não ores por este povo, nem levantes por ele clamor ou oração, nem me supliques, porque eu não te ouvirei. Porventura não vês tu o que andam fazendo nas cidades de Judá, e nas ruas de Jerusalém? Os filhos apanham a lenha, e os pais acendem o fogo, e as mulheres preparam a massa, para fazerem bolos à rainha dos céus, e oferecem libações a outros deuses, para me provocarem à ira.

Jr 11.13. Porque, segundo o número das tuas cidades, são os teus deuses, ó Judá! E, segundo o número das ruas de Jerusalém, levantastes altares à impudência, altares para queimardes incenso a Baal. Tu [Jeremias], pois, não ores por este povo, nem levantes por ele clamor nem oração; porque não os ouvirei no tempo em que eles clamarem a mim, por causa do seu mal.

De nada adiantaria interceder por Judá, pois a morte, a espada, a fome e o cativeiro seria inevitável. Não porque o Senhor assim desejasse, mas porque Ele sabia, pela Sua onisciência, que o povo não daria ouvidos às palavras do profeta. Mesmo a religiosidade judaica não seria capaz de deter o julgamento, pois tudo não passava de mera exterioridade. As orações, jejuns e sacrifícios serviam apenas para ocultar a ausência de temor a Deus.

Em relação aos falsos profetas, se o povo tivesse conhecimento da Palavra de Deus, saberia que eles não traziam uma revelação do Senhor:

Dt. 18.20. Porém o profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá. E, se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o SENHOR não falou? Quando o profeta falar em nome do SENHOR, e essa palavra não se cumprir, nem suceder assim; esta é palavra que o SENHOR não falou; com soberba a falou aquele profeta; não tenhas temor dele.

Jr. 13.6Sucedeu, ao final de muitos dias, que me disse o SENHOR: Levanta-te, vai ao Eufrates, e toma dali o cinto que te ordenei que o escondesses ali.

E fui ao Eufrates, e cavei, e tomei o cinto do lugar onde o havia escondido; e eis que o cinto tinha apodrecido, e para nada prestava. Então veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Do mesmo modo farei apodrecer a soberba de Judá, e a muita soberba de Jerusalém. Este povo maligno, que recusa ouvir as minhas palavras, que caminha segundo a dureza do seu coração, e anda após deuses alheios, para servi-los, e inclinar-se diante deles, será tal como este cinto, que para nada presta. Porque, como o cinto está pegado aos lombos do homem, assim eu liguei a mim toda a casa de Israel, e toda a casa de Judá, diz o SENHOR, para me serem por povo, e por nome, e por louvor, e por glória; mas não deram ouvidos.

2Ts. 2.7. A verdade é que o mistério da iniqüidade já está em ação, restando apenas que seja afastado aquele que agora o detém. Então será revelado o perverso, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e destruirá pela manifestação de sua vinda.

A vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás, com todo o poder, com sinais e com maravilhas enganadoras. Ele fará uso de todas as formas de engano da injustiça para os que estão perecendo, porquanto rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar. Por essa razão Deus lhes envia um poder sedutor, a fim de que creiam na mentira, e sejam condenados todos os que não creram na verdade, mas tiveram prazer na injustiça.

A resposta negativa de Deus não é uma demonstração de rejeição ao Seu povo. A disciplina faz parte do processo instrutivo de Deus:

Pv. 3.11. Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, assim como o pai faz ao filho de quem deseja o bem.

Essa mesma passagem é lembrada por Paulo às igrejas dos hebreus (Hb. 12.6). Está na moda uma teologia que valoriza apenas o amor de Deus, transforma-o num vovô bonachão, que a ninguém castiga, esquecendo que Ele, além de amor (1Jo.4.8), é também fogo consumidor (Hb. 12.29) e que a Sua ira permanece sobre aqueles que não crêem em Cristo (Jo. 3.36).

Hb 12.28. Por isso, tendo recebido um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade; porque o nosso Deus é um fogo consumidor.

Jo 3.36. Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.

A falta de temor ao Senhor está construindo uma geração de cristãos insubmissos à Palavra de Deus. Como nos tempos em que não havia rei em Israel, cada um faz o que bem entende (Jz. 21.25), a ortodoxia está sendo substituída pela pura subjetividade, o experiencialismo chega a ter maior valor que a Escritura. Para essa geração, a resposta de Deus é não, pois o sim de Deus somente se encontra em Jesus Cristo, fora dele, tudo o mais é mera especulação humana.

2Co 1.18Antes, como Deus é fiel, a nossa palavra para convosco não foi sim e não. Porque o Filho de Deus, Jesus Cristo, que entre vós foi pregado por nós, isto é, por mim, Silvano e Timóteo, não foi sim e não; mas nele houve sim. Porque todas quantas promessas há de Deus, são nele sim, e por ele o Amém, para glória de Deus por nós.

A PRÁTICA CRISTÃ DA INTERCESSÃO

Ainda que Deus tenha instruído Jeremias para que não intercedesse pelos judeus, essa, porém, deva ser uma prática rotineira entre os cristãos. Aquele, conforme destacamos anteriormente, tratou-se de uma revelação específica para o profeta.

Em hebraico, o verbo PALAL tem o sentido de interceder, o encontramos em 1Rs. 8, nesse capítulo Salomão utiliza essa palavra 20 vezes intercedendo pelo povo de Israel. Moisés intercedeu pelo povo de Israel e obteve resposta:

Nm 11.1E aconteceu que, queixou-se o povo falando o que era mal aos ouvidos do SENHOR; e ouvindo o SENHOR a sua ira se acendeu; e o fogo do SENHOR ardeu entre eles e consumiu os que estavam na última parte do arraial. Então o povo clamou a Moisés, e Moisés orou ao SENHOR, e o fogo se apagou.

Nm 21.6. Então o SENHOR mandou entre o povo serpentes ardentes, que picaram o povo; e morreu muita gente em Israel. Por isso o povo veio a Moisés, e disse: Havemos pecado porquanto temos falado contra o SENHOR e contra ti; ora ao SENHOR que tire de nós estas serpentes. Então Moisés orou pelo povo.

Dt 9.19. [Moisés] Porque temi por causa da ira e do furor, com que o SENHOR tanto estava irado contra vós para vos destruir; porém ainda por esta vez o SENHOR me ouviu. Também o SENHOR se irou muito contra Arão para o destruir; mas também orei por Arão ao mesmo tempo.

Samuel também intercedeu pelos israelitas (1Sm. 7.5; 12.19,23), bem como Esdras (Ed. 10.1-3) e Daniel (Dn. 9.4-7). Em grego, o verbo interceder é ENTUNCHANÕ e pode ser encontrado em At. 25.25. Paulo utiliza essa palavra a fim de ressaltar o ministério do Espírito a fim de responder às necessidades dos santos (Rm. 8.27). Cristo é o Exemplo Maior de Intercessor, pois, no Céu, intercede, perante Deus, em nosso favor (Rm. 8.34; Hb. 7.25). Paulo orienta a interceder – ENTEUXIS – por todas as pessoas, apresentando-as perante Deus:

2Co 13.5. Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados. Mas espero que entendereis que nós não somos reprovados. Ora, eu rogo a Deus que não façais mal algum, não para que sejamos achados aprovados, mas para que vós façais o bem, embora nós sejamos como reprovados.

CONCLUSÃO

Os cristãos precisam exercitar a intercessão. Essa prática, na verdade, é uma demonstração de amor pelos outros.

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texto desdobrado daquele que foi deixado cair pelo Pr. Júlio Fonseca quando passou pelo caminho de http://www.idagospel.com/2010/12/o-poder-da-intercessao.html