domingo, 17 de fevereiro de 2013

Andando por Moabe - ESTUDO BÍBLICO

mapa das terras ao redor do Jordão
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Moabe – esse é o nome de um antigo reino do Oriente Médio (atual Transjordânia), que parece descender dos gregos que formaram o povo fenício. Ao saírem do Egito com Moisés, os israelitas povoaram o lado oeste do rio Jordão, com seu reino se estendendo a partir do Mar Morto em direção ao norte. Os moabitas povoaram o lado leste, entre o Mar Morto e o rio Jaboque, onde Jacó lutou com Deus (Gn 32). Moabe e Amon foram por muito tempo os reinos dominantes do leste do Jordão, ora lutando entre si (e contra Israel também), ora se unindo contra exércitos invasores. 

Israel, a Filístia (terra de Golias), Moabe e Amon faziam parte da área de influência do Egito (ao sul) e Assíria (ao norte). Isso significa que eram reinos subordinados, que vendiam produtos das caravanas egípcias e assírias, ou prestavam ajuda militar em troca de proteção durante as grandes invasões de outros povos. Moabe e Israel freqüentemente combatiam por terras, mas inevitavelmente os camponeses e marinheiros de um e outro se cruzavam, tornavam-se amigos e até constituíam famílias. No entanto, as diferenças religiosas faziam os moabitas serem amaldiçoados pelos israelitas e vice-versa. 

As guerras entre Israel e Moabe foram numerosas, até a destruição de ambos os reinos pela invasão babilônica no séc. 6 a.C., quando moabitas, amonitas e israelitas foram escravizados e levados para servirem nas terras do norte. 

QUEM ERAM OS MOABITAS? 

As primeiras referências a Moabe são de Abraão e Ló repartindo a terra entre si (Gn 13). Ló escolheu para si as terras verdejantes do leste do Jordão, enquanto Abraão ficou com o lado oeste. O rio Jordão corre em uma grande fenda nas montanhas da Palestina, que segue de norte a sul, até o Mar Morto. Nesse mar, a quantidade de sal depositada pelo rio é tão grande que as margens estão cheias de “esculturas naturais” em sal, muitas tendo dado origem a lendas como a esposa de Ló. 

O Mar Morto então era chamado de mar de Arabah (qualquer semelhança com Arábia é mera verdade), a oeste dele se erguiam as montanhas de Judá e a leste, ao norte, as montanhas de Gileade (do Cântico dos Cânticos). Saindo de Judá e percorrendo 15 Km até o outro lado do mar de Arabah chegava-se Moabe. Subindo as encostas encontrava-se um altiplano a 1300 m acima do mar, com fortes ventos e quase sem árvores, mas com extensos e férteis gramados, que permitiam o plantio de grãos e a criação de gado. Na parte mais ao sul do reino, junto ao sul do mar de Arabah, haviam existido as grandes cidades de Sodoma e Gomorra (onde habitaram Abraão e Ló). O terreno das montanhas mudou com os passar dos anos e hoje esses lugares estão no fundo do Mar Morto. 

A capital de Moabe era Dibon. Essa cidade era rota das caravanas egípcias e assírias, além de extrair calcáreo das rochas e vender bálsamos (resinas de plantas perfumadas ou medicinais). Isso garantia um comércio muito rico, inclusive com Israel. 

Os israelitas viam os homens de Moabe como seus parentes na descendência de Abraão, porém faziam questão de desmerecer esse parentesco. Em hebraico, Moabe significava “saído do pai”. Moisés colocou assim em Gênesis a visão que os israelitas tinham de Moabe: 

E subiu Ló de Zoar, e habitou no monte, e as suas duas filhas com ele; porque temia habitar em Zoar; e habitou numa caverna, ele e as suas duas filhas. Então a primogênita disse à menor: Nosso pai já é velho, e não há homem na terra que entre a nós, segundo o costume de toda a terra. Vem, demos de beber vinho a nosso pai, e deitemo-nos com ele, para que em vida conservemos a descendência de nosso pai. E deram de beber vinho a seu pai naquela noite; e veio a primogênita e deitou-se com seu pai, e não sentiu ele quando ela se deitou, nem quando se levantou. 

E sucedeu, no outro dia, que a primogênita disse à menor: Vês aqui, eu já ontem à noite me deitei com meu pai; demos-lhe de beber vinho também esta noite, e então entra tu, deita-te com ele, para que em vida conservemos a descendência de nosso pai. E deram de beber vinho a seu pai também naquela noite; e levantou-se a menor, e deitou-se com ele; e não sentiu ele quando ela se deitou, nem quando se levantou. E conceberam as duas filhas de Ló de seu pai. 

E a primogênita deu à luz um filho, e chamou-lhe Moabe; este é o pai dos moabitas até ao dia de hoje.” (Gn 19.30-37

A estória não é verdadeira: a datação desse trecho coloca-o muito após a escrita das outras partes de Gênesis. Os estudiosos crêem que foi incluída como um apêndice, para imortalizar uma anedota recontada inúmeras vezes e que vazia dos moabitas motivo de riso entre os judeus. Apesar disso, muitos casamentos entre homens israelitas e mulheres moabitas aparecem na Bíblia, o que faz supor que as mulheres de Moabe eram cortejadas pelos homens de Israel (Nm 31). 

O norte de Moabe era uma terra de disputa de vários povos, incluindo os israelitas. Nessas terras morreu Moisés, nas cercanias do monte Nebo, e lá foi sepultado (Dt 34). 

PORQUE OS MOABITAS ERAM ODIADOS?

Moabe não ergueu grandes construções e a terra foi varrida por diversos povos, assim não sobraram muitos vestígios para contar sobre eles. Tudo o que temos são alguns restos de locais de cultos (sobretudo círculos de pedras), profecias em paredes de cavernas e uma longa descrição de uma batalha contra os israelitas que um rei dos tempos de Senaqueribe deixou, agradecendo a seu deus pela vitória. 

Embora as mulheres moabitas fossem aceitas em casamento com hebreus, seus filhos homens somente seriam hebreus após a 10ª geração (essa era uma forma sutil de dizer que jamais seriam aceitos). Certa vez, uma praga foi lançada sobre os israelitas porque se uniram aos moabitas em seus cultos, só terminando quando todos os moabitas foram expulsos do arraial israelita (Nm 25). Após a expulsão comandada por Moisés, todos os utensílios em que tocaram foram ainda limpos com fogo ou lavados (Nm 31). 

Além da disputa de terras, Moabe era um reino politeísta, como Amon, a Fenícia e os reinos gregos. Sua principal divindade era Chemosh, Quemós, ou Baal-Chemosh, o “senhor das aberturas”. O culto desse deus incluía sacrifícios humanos nos montes (principalmente de crianças), à semelhança de Moloque (divindade do reino de Amon) e do que o anjo ordenou que Abraão fizesse. As vítimas eram os primogênitos, queimados vivos como oferendas. Além disso, banhavam-se no mar de Arabah para se purificar e defecavam publicamente em grandes latrinas em frente aos ídolos. Essa estranha prática fornecia o que os sacerdotes de Chemosh precisavam para suas previsões (Jr 48). 

Os rituais de Moabe eram odiados pelos sacerdotes israelitas e pelo próprio Senhor, principalmente porque atraíam os judeus (2Rs 3). Muitos foram levados a “se prostituírem” com os ídolos de Moabe. Nos tempos de Josué, Balaão era um sacerdote da cidade de Baal-Peor, chamado pelo rei Balak para amaldiçoar os israelitas. Depois de repreendido pelo Senhor, Balaão acabou abençoando os israelitas, mas ensinou as mulheres de Moabe a se casarem com os israelitas e introduzirem seu culto no reino vizinho (Nm 22-25, Jz 10.6). Salomão teve duas esposas moabitas, que construíram altares a Baal-Chemosh nas montanhas vizinhas ao Templo (1Rs 11). Os músicos que compuseram alguns dos Salmos condenaram isso (Sl 106.28)... Em Apocalipse, o Senhor também condena os seguidores de Balaão na igreja de Pérgamo (Ap 2.12-17). 

Com muitos casamentos entre israelitas e moabitas, as relações entre os povos não eram sempre ruins. Curiosamente (e não tão curioso assim, pois os hebreus compartilhavam os campos de pastoreio em Moabe e cortejavam as moabitas), o próprio Davi tinha sangue moabita nas veias. Sua bisavó, Rute, era mulher moabita que se casou com o filho de Elimeleque, um pastor hebreu (Rt 1, Rt 4). Mais tarde, quando era perseguido pelos homens de Saul, Davi pediu que o rei de Moabe protegesse seus pais (1Sm 22). 

Quando Salomão deixou que os cultos de Moabe fossem praticados em Israel, esses templos foram chamados de “a heresia de Moabe”. E os altares dos tempos de Salomão infelizmente permaneceram em uso: imagine-se cultuar a Deus no Templo, ouvindo os gritos dos sacrifícios de crianças nas montanhas. Somente por volta de 600 a.C. o rei Josias, ao receber as Escrituras e uma ameaça de morte da parte de Deus (2Rs 22), finalmente mandaria destruir todos os ídolos e altares nas montanhas, para que Israel voltasse a crescer na nova era de liberdade que se iniciava com a queda da Babilônia (2Rs 23). 

O FIM DE MOABE

Após as invasões babilônicas, os israelitas, amonitas e moabitas estavam espalhados em outras terras, servindo como escravos. Quando os persas se expandiram e conquistaram as terras da Babilônia por volta de 600 a.C., os povos dominados pelos babilônicos foram tornados amigos da nova superpotência. Ciro, o novo rei (Dn 1.21), libertou muitos escravos e financiou que Neemias reconstruísse Jerusalém. O reino de Moabe, no entanto, não foi refeito. No livro de Neemias, ele menciona os árabes como aliados dos amonitas... Os "árabes" eram uma junção de tribos persas vivendo a leste do mar de Arabah. Moabe não é mais citado (Nm 4).

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