sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A extinção dos fariseus


Esse belo texto nasceu da formosa Cláudia Nunes Horácio. Foi um grande texto, reto e íntegro. Papo reto mesmo. Infelizmente, ele caiu nas nossas mãos e virou isso que mostramos aí.

COMO NASCERAM OS FARISEUS

A palavra Fariseu significa "separado". O mais antigo relato sobre os Fariseus é do historiador judeu-romano Flávio Josefo (100-37 d.C.), que fala de "quatro seitas" em que os judeus foram divididos no 1º século a.C.:
  1. os essênios, que eram apolíticos e que podem ter surgido como uma seita de sacerdotes dissidentes que rejeitaram os sacerdotes nomeados como politicamente ilegítimos;
  2. os saduceus, principais antagonistas da fariseus na alta-classe, que não aceitavam a tradição oral;
  3. os fariseus, sacerdotes da alta-classe que davam valor à tradição oral;
  4. os zelotes, anti-romanos revolucionários que eram conhecidos pelo uso de força militar;
A classe dominante judaica estava dividida entre os Fariseus e os Saduceus que, à época de Jesus, mantinham seu governo submisso-aliado-ou-suportando as imposições romanas. Conflitos entre Fariseus e Saduceus ocorriam desde a separação das castas a partir do cativeiro babilônico, quando as regras sociais precisaram ser favorecidas em meio a uma cultura diferente. Durante a conquista da Judéia por César, novamente os judeus foram imersos numa outra cultura e esses conflitos reacenderam. Eram disputas entre  as famílias sacerdotais e aristocratas; entre os favoráveis ao modo de vida greco-romano e aqueles contrários; entre os salientavam a importância do 2º Templo como local de oração¹ e aqueles que enfatizavam a Lei e os valores profético; entre diferentes interpretações da Torá e como aplicá-la para a vida judaica, se criam ou não na Torá Oral e na Ressurreição dos Mortos.

A BÍBLIA E OS FARISEUS

Os Fariseus não são mencionados em nenhum ponto do AT. Antes de Jesus, os escritos bíblicos mais recentes datam de Esdras, Neemias e Malaquias, sendo os relatos mais modernos de 430 a.C. Durante a invasão da Judéia por Alexandre (anos de 300 a.C.) e o governo grego que se seguiu, assim como durante a invasão romana (anos de 30 a.C), nenhum escrito aceito como inspirado foi produzido. Fora da literatura inspirada por Deus, há os livros de I e II Macabeus (existentes na Bíblia Católica), que cobrem os anos entre 175 e 37 a.C.. Assim, quando os livros bíblicos voltaram a ser escritos, a Judéia já havia sido governada por gregos² e estava atualmente nas mãos dos romanos, com os Fariseus integrando a elite político-religiosa. Notas importantes sobre os Fariseus aparecem no NT, onde Jesus os acusa de terem sentado-se à cadeira de Moisés (Mt 23), advertindo o povo para guardar-se com cuidado do fermento dos fariseus e dos saduceus (Mt 16:6), pois eram sepulcros caiados cheios de podridão e raça de víboras (Mt 23). De forma semelhante, os Fariseus acusavam Jesus de curar em nome de Belzebu, violar a Lei trabalhando no sábado, comer em casa de prostitutas e publicanos, etc.

Enquanto os Fariseus se atentavam à Lei e à necessidade de serem moral/socialmente enaltecidos (qualquer semelhança com a Teologia da Prosperidade é mera coincidência), Jesus falava em levar o Reino de Deus até os que mais necessitavam dele, a todo tempo, dia ou hora (Mt 9.12), pois mais valor havia em servir que ser servido. Posteriormente essa mensagem seria estudada e esmiuçada por Saulo Tarseus (chamado Paulo pelos judeus), um instruído romano nascido em rica família de Fariseus, que abriu mão de seus títulos, poder, dinheiro e terminou a vida pregando o Evangelho de dentro de prisões romanas (Atos 23.6).

O DECLÍNIO E EXTINÇÃO(?) DOS FARISEUS

 O 2º Templo foi destruído pelos romanos em 70 d.C., caindo assim um dos principais objetos de culto dos Fariseus e aos quais eles atribuíam a maior importância no governo da sociedade judaica. Os últimos Zelotes foram mortos em Masada apenas 3 anos depois. Da mesma forma, sem o Templo e sob a pesada repressão romana ao judaísmo, os Saduceus dispersaram-se. Os Essênios tiveram suas comunidades saqueadas e foram mortos pelos romanos nos anos seguintes, conseguindo esconder o que sobrou de sua cultura nas famosas cavernas de Qumram, às margens do Mar Morto.

Por sua tradição oral e aliança com o governo romano, os Fariseus resistiram à Queda do Templo. Yohanan ben Zakkai, um líder Fariseu, foi nomeado o primeiro Patriarca e restabeleceu o Sinédrio, agora sem posições de Saduceus em seu meio. Em vez de dar o dízimo aos sacerdotes e sacrificar no Templo, os novos Rabinos passaram a financiar instituições de caridade e estudar os textos da Torá nas Sinagogas. O imperador Adriano tentou re-edificar o Templo em 132 d.C, como um templo de Júpiter, mas então o Sinédrio rebelou-se, sendo eliminados em 135 d.C. Até a conquista de Jerusalém pelos islâmicos, os romanos proibiram qualquer nova tentativa de organização política dos judeus.

A RESSURREIÇÃO

Os Fariseus desapareceram como casta, deixando em seu lugar a tradição rabínica dos judeus. No entanto, há rumores de que estejam tentando se re-estruturar, ressurgir das cinzas no tempo de seus descendentes, como para reabrir feridas do passado. Não apenas os Fariseus podem estar por aí, bem vivos, mas também seus comparsas Saduceus, ansiosos pelo velho combate de poder, agora em nome de Jesus. Seguem algumas perguntas que podem ser importantes.

1. O termo Fariseu significa separatistas, separados. Quem são os separatistas hoje? Os fariseus também eram membros de um dos principais grupos religiosos dos judeus. Quem são os membros de um dos principais grupos religiosos gentios hoje? Quem acha que o Reino é só deles e que todo o resto do mundo é filho do diabo (ou o Belzebu antigo)?

2. Os fariseus seguiam rigorosamente a Lei de Moisés e as tradições e os costumes dos antepassados, porém mais importante que isso seguiam uma tradição oral que eles mesmos criaram e que se embasava na imagem social que mantinham. Quem hoje diz que segue a Bíblia, mas que na verdade incluem na surdina os costumes e as tradições religiosas, como se fossem muito mais que criações humanas?

3. Os Fariseus acreditavam na ressurreição e na existência de seres celestiais, enquanto os Saduceus eram contra. Os Fariseus não se davam com os Saduceus, mas se uniram aos inimigos para combater Jesus e os seus seguidores. Quem briga entre si hoje, mas se unem para combater outro grupo religioso e os pregadores da graça de Jesus?

4. Os Saduceus eram membros de um pequeno, mas poderoso. Faziam parte desse grupo os sacerdotes e as pessoas ricas e de influência (curiosa religião essa...). Quem faz parte deste pequeno e seleto grupo clerical hoje?

5. Os Saduceus baseavam os seus ensinamentos principalmente no pentateuco. Quem tem ressuscitado a Lei hoje, após Jesus ter pregado sua simplicidade e profundidade e após Paulo ter explicado-a esmiuçadamente aos gentios?

6. Os Saduceus negavam a ressurreição, o juízo final e a existência de anjos e espíritos. Quem tem ensinado hoje que os dons cessaram, que não há mais milagres e são frios como iceberg?

7. Os Saduceus não se davam com os Fariseus. Dividiam cadeiras no Sinédrio e regulavam o destino do povo de Deus em nome de Deus (como então DOIS GRUPOS? Só Deus sabe...) Quais grupos religiosos não se dão hoje, mesmo sendo da mesma religião?

8. O escriba era o homem que copiava e interpretava a lei de Moisés. Os escribas CRIARAM aos poucos um sistema complicado de ensinamentos conhecido como "a tradição dos anciãos". Quem são hoje os modernos escribas? Quem interpreta oficialmente a bíblia hoje? Quem são os que compilam “a tradição dos anciãos” hoje? Quem sistematiza o ensinamento das Escrituras e são considerados os intérpretes autorizados das Escrituras?

Jesus censurou os escribas, eles tiveram parte na morte de Cristo e perseguiram a Igreja primitiva. Eles eram chamados também de "doutores da lei". A qual de nós Jesus ainda censura por termos nos tornado discípulos dos Fariseus, dos Saduceus e dos escribas?

DE QUEM VOCÊ É DISCÍPULO?

Esses personagens que descrevi acima eram TODOS CRENTES, eles “faziam a Obra”, eles gerenciavam o Reino de Deus na Terra, eles se achavam os certos, foi justamente com eles - os posseiros do Reino de deus - que Jesus teve os maiores confrontos. São estes os principais argumentando pela morte de Jesus. Eles não aceitaram que Jesus era o Messias porque, segundo a hermenêutica tradicional em suas mentes, Jesus JAMAIS poderia ser o Messias. Se Ele fosse o Messias, eles estariam errados!

Era inaceitável que o Messias vivesse daquela maneira que Jesus viveu, amigo de samaritanos, não cumprindo as tradições, escandalizando judeus e se colocando acima de Moisés como Ele fazia ao dizer “ouviste o que foi dito... eu porém vos digo”.

O que de fato Jesus estava fazendo é NEGAR as interpretações malucas das Escrituras, era se colocar ACIMA delas e isso os fanáticos religiosos NUNCA aceitariam, nem aceitam, sempre ficam violentos e cegos a ponto de matar. Foi assim antes, há 2000 anos atrás e é assim hoje. Os fariseus e companhia não aceitam que algo seja CONTRA a interpretação limitada que têm (e que temos, sempre) das Escrituras. As Escrituras não falam, e por isso o Espírito Santo sempre será necessário para dar vida às palavras escritas. Se algum outro assim fizer, faz o mesmo que Satanás ao tentar Jesus.

Era inaceitável Ele igualar as pessoas, como judeus e gentios, homens e mulheres, escravos e livres, israelitas e samaritanos, assim como é inaceitável para os modernos fariseus igualar crentes e descrentes, heterossexuais e homossexuais, divorciados e casados, fiéis e adúlteros, magros e gordos, brancos e negros, filhos de Deus e filhos do diabo.

MAS COMO EU ENTENDI QUE NÃO ERA DISCÍPULO DE JESUS E SIM DA RELIGIÃO?

Eu reli o antigo testamento em ordem cronológica dia após dia ininterruptamente por muitas horas até acabar. Quando eu cheguei no Novo Testamento com todas as informações fresquinhas na minha cabeça, logo vi que os judeus estavam certos, que Jesus JAMAIS poderia ser o Messias. Pensei comigo: “se eu fosse judeu eu também não acreditaria que Jesus era o Cristo”, ele seria no máximo um falso Messias.

Por que cheguei a esta conclusão? Porque são inúmeras passagens bíblicas onde Mateus, Paulo, o autor aos Hebreus³ entre outros, tiraram os textos de seus contextos para provar que Jesus era o Cristo e isso na regra hermenêutica que aprendi é totalmente errado, pois “texto fora de contexto é pretexto para heresia”.

Aí ou eu apostatava da fé em Jesus, ou continuava crendo que Jesus é o Messias e que o problema está na hermenêutica, ou seja, que a interpretação das Escrituras conforme a igreja praticou desde Constantino era TOTALMENTE ERRADA. Com isso dei início as minhas pesquisas sobre hermenêutica e reencontrei o Rev. Caio Fábio, que me ensinou que Jesus é a chave hermenêutica que abre as Escrituras, que a única forma correta de ler a bíblia é a partir de Jesus.

Então temos de entender as Escrituras a partir de Jesus e não Jesus a partir da Escrituras. Um universo imenso se abriu diante de mim e enxerguei TUDO muito diferente dos mais de vinte anos de protestantismo presbiteriano. Pela primeira vez depois da minha conversão eu entendi o Evangelho de Jesus Cristo.

Faça você mesmo o teste, tire a prova dos 9, pegue a sua bíblia e a cada versículo do AT mencionado nos livros que citei acima, a saber: Mateus, cartas de Paulo e Hebreus, vá no texto original do AT e veja o contexto e observe que os textos originais não estão dizendo nada do que os autores do Novo Testamento dizem em relação a eles. As citações são dos textos fora dos seus contextos para provar o que os escritores do Novo Testamento queriam provar, mas quando lemos estes textos junto com seus contextos no Antigo Testamento, vemos que não dá para aceitar o argumento dos apóstolos como prova SE usarmos as regras da hermenêutica tradicional.

Então ou Jesus não é o Messias ou a hermenêutica tradicional NÃO serve para interpretar as Escrituras,. Você decide. 

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¹ O Templo original (de Salomão) havia sido destruído em 586 a.C., na invasão da Judéia pelos babilônicos. O 2º Templo caiu sob a invasão do imperador romano Tito em 70 d.C., após as revoltas que ocorreram contra o domínio romano (nessa época foram guardados os documentos de Qumran, ou Manuscritos do Mar Morto). Em 363 d.C., o imperador Juliano tentou reconstruir o Templo, mas falhou. Em 691 d.C. o Islã estava em expansão e a Judéia havia sido invadida pelo califa Abd al-Malik ibn Marwan, que iniciou a construção do Domo da Rocha na montanha onde Maomé havia recebido a iluminação divina, ou seja, onde estava antes o Templo de Jerusalém. Este edifício permanece lá até hoje e é um local sagrado de peregrinação para os islâmicos.

² Os Macabeus foram um grupo revoltoso importante nessa época inter-testamentária, que combateu a implantação do paganismo grego e restaurou  PELA FORÇA DA ESPADA o governo judeu de 163 a 33 a.C., sendo derrubados depois pelas legiões romanas.

³ Não se conhece quem foi o autor da Epístola aos Hebreus. O estilo não confere com o modo de escrever de Paulo, nem tampouco pode ser Timóteo, pois ele é citado em 3ª pessoa. Autores possíveis são cristãos líderes dos grupos que se formavam, como Apolo, Lucas, Barnabé, Clemente de Roma, Silas, Filipe e Priscila. Esse mistério é descrito pelo escritor romano Orígenes, no século 3: "Só Deus sabe ao certo quem escreveu a epístola." O livro de Hebreus é usado como um argumento final em defesa do Cristianismo. Usando uma lógica cuidadosa (e portanto de um judeu muito bem instruído na escola grega) e referindo-se freqüentemente ao testemunho, o escritor define que Jesus Cristo é o filho de Deus e digno da nossa fé. O livro compara e contrasta Jesus com toda história do AT e argumenta que Jesus é o clímax de todas as coisas do passado.
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COISAS QUE TE RECOMENDAMOS LER, POR SUA CONTA E RISCO

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