Panorama da antiga Éfeso. No sentido horário: mapa geral da cidade, com porto, o templo de Diana em uma montanha e o grande teatro na outra; arquibancada do grande teatro onde os artífices confrontaram O Caminho; projeção da aparência do templo de Diana em seu apogeu; a suposta habitação onde viveram João bar Zebedeu e Maria, mãe de Jesus.
Em tempos de Mulher Maravilha, Éfeso significa "cidade fundada pelas amazonas", sendo também, na Antiguidade, a cidade da Grande Deusa Guerreira. Mas a cidade grega de Éfeso ficou famosa no Ocidente devido a carta que Paulo escreveu para a igreja nascente na cidade. Tal carta bíblica foi escrita dentro de uma cela, durante sua prisão em Roma (61-63 d.C.).
Geograficamente, Éfeso é uma cidade portuária na atual Turquia, bem na foz do rio Kaystros, de frente para o azulado Mar Egeu, que no seu outro lado banha a costa da Grécia. Por isso, desde a Antiguidade, os Gregos fixaram moradia em Éfeso.
Já no séc. 7 a.C. havia um templo de Artemis ou Diana ali, indicando que se tratava de lugar sagrado para os Gregos. Esse templo foi destruído por uma terrível tempestade. No meio do séc. 6 a.C. o rei Cresus, poderoso monarca, ordenou a construção de um soberbo templo de mármore no local do antigo. Após 10 anos, seus homens haviam levantado uma das 7 maravilhas do mundo.
No meio do séc. 4 a.C., durante uma revolta, o templo foi incendiado. Não se sabe o que restou dele ou da grade estátua da deusa em seu interior. As chuvas fizeram a foz do rio tornar-se um pântano cheio de mosquitos, além de muita lama, no início do séc. 3 a.C. A cidade então foi deslocada dali para mais ao sul, mas o Templo foi mantido.
Durante o apogeu Grego da era de Alexandre o Grande, no séc. 3 a.C. o templo foi reformado. Éfeso era então uma pérola da civilização: já contava até mesmo com iluminação noturna nas ruas, provida por lamparinas a óleo, além de uma rede de esgotos com água corrente. Conta-se que os habitantes de Éfeso recusaram o ouro de Alexandre para reformar o templo pois, diziam, não era certo um deus reverenciar outro. A nova estrutura, longe da cidade, era ainda maior que a primeira. Éfeso também participou ativamente das batalhas entre as dinastias pós-Alexandre, passando e repassando entre as famílias de Ptolomeu (Egito) e Antíoco (Grécia).
Após várias derrotas, a família de Antíoco acabou perdendo o porto de Éfeso para a República de Roma, em 130 a.C. As disputas pela rica cidade durariam até a época de Júlio César, no final do séc. 1 a.C.
Segundo os historiadores romanos dos sécs. 1 e 2 d.C., graças ao comércio marítimo, Éfeso era considerada a cidade mais rica do mundo, inferior somente a Roma. As imensas ruínas de prédios e teatros luxuosos estão lá até hoje, para testemunhar isso.
A CRISTANDADE
Por volta de 60 d.C., Paulo estava em sua 3ª viagem missionária pela costa do Mediterrâneo. Saindo de Antioquia da Síria, ele havia seguido pelas estradas romanas através da atual Turquia, passado pela cidade grega de Iconium e chegou ao famoso porto de Éfeso, para onde se dirigiam as caravanas do Oriente.
A cidade organizava-se como uma meia-lua ao redor do porto escavado, rodeado de arcos de pedra romanos, como uma muralha junto da qual chegavam os barcos. Em cada ponta da meia-lua havia uma montanha de seus 150 metros. Numa delas ficava encravado o grande teatro, com sua arquibancada mirando o mar, porém com a vista obstruída pelo prédio romano que era o teatro em si. Junto da outra, ficava o Arthemisium, gigantesco templo da deusa da caça, pureza, magia e maternidade, segundo os gregos.
Paulo levava consigo Lucas (médico Romano, o cronista das viagens e muito anos depois um dos evangelistas), Priscilla e Aquila, um casal de judeus que ele havia conhecido em Corinto, além de Tito, Timóteo (seu aprendiz) e Erasto. Esses são os nomes que a Bíblia registrou. O grupo morou por 2 anos em Éfeso. Entre os habitantes da cidade encontraram gregos, romanos e judeus ricos expulsos pelo imperador romano Claudius.
Além da atividade marítima no avançado porto que os gregos construíram e os romanos modernizaram, pelo qual os livros antigos elogiam a cidade, podemos acreditar que havia um grande mercado, ricos e nobres que frequentavam os suntuosos prédios, além de toda atividade religiosa associada ao templo de Diana. O próprio templo era alto consumidor de animais para sacrifícios, moedas para as ofertas, vasos de barro e porcelana coloridos, incenso e perfumes. Pela enormidade da construção, os mármores que empregou e os nomes de grandes reis em suas colunas, podemos supor um centro religioso comparável a Aparecida do Norte, no Brasil. Paulo achou que Éfeso seria um local importante para o Cristianismo.
O livro de Atos nos conta sobre sua permanência lá. Conhecedor do hebraico, latim e grego, Paulo encontrou uma dúzia de judeus Cristãos instruídos na doutrina de João Batista. Ele lhes mostrou o batismo do Espírito Santo, quando começaram a falar em línguas e profetizar. Seu sucesso entre os Judeus o levou a pregar por 3 meses na sinagoga de Éfeso. Ao contrário do que pode parecer, a afeição dos Judeus pelo Cristianismo foi enorme e eles provavelmente contavam entre seu maior público (ver Stark, 1996, na bibliografia).
Devido as disputas entre os Judeus sobre a ressurreição, que acabariam por separar eles dos Cristãos, Paulo mudou suas pregações para uma escola de filosofia, de um grego chamado Tirano. Ali estudavam jovens mais abastados, em especial os filhos do sumo sacerdote da sinagoga. Paulo aparentemente os instruía a afastar demônios e curar pessoas em nome de Jesus.
Suas pregações e milagres tornaram-se famosos, a ponto de atrair a população da cidade. Voltando-se do culto de Diana - considerada uma mestra da magia - para o Cristianismo milagroso de Paulo, os habitantes começaram a desfazer-se publicamente de seus livros de feitiços. E abandonaram a compra de peças religiosas de prata, usadas no culto da deusa.
Essa interferência no funcionamento de Éfeso deve ter sido sentida pelos comerciantes. A Bíblia relata que Demetrius, líder dos artífices de prata, organizou uma revolta contra Paulo e seu grupo, chamado então O Caminho.
No grande teatro a céu aberto da cidade, esse grupo de artífices convenceu ou matou Gaio e Aristarco, dois gregos companheiros de Paulo. Os nobres da cidade interviram no conflito, mantendo Paulo afastado e por outro lado fazendo com que as reclamações tomassem a via de um processo legal. Enquanto isso, Paulo foi instruído a tomar um barco rumo a Macedônia.
A CARTA
De sua prisão em Roma, Paulo mandou a Éfeso uma carta fundadora do Cristianismo. Ele falava sobre a revelação espiritual do Espirito Santo como forma de instrução (Efésios 3.3), a participação irrestrita dos gentios (Efésios 3.6), a divisão divina de tarefas dentro da Igreja (Efésios 4.11,12), a necessidade de evitar os conflitos internos (Efésios 4.26). Paulo também alertava sobre a necessidade de pureza e sabedoria (Efésios 5.5,15), o que conquistou os devotos de Diana.
"Os escravos sirvam de boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens. Saibam que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre. E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu, e que para com ele não há acepção de pessoas." (Efésios 6.7-9)
Não era simples manter uma igreja coesa entre os ricos e poderosos, pessoas acostumadas com a liderança. Timóteo era um dos companheiros de Paulo quando chegou a Éfeso. Na sua carta específica a esse aprendiz, Paulo revela ter deixado ele como guardião de Éfeso, na responsabilidade de impedir que novas doutrinas desfigurassem a Igreja.
"Os escravos sirvam de boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens. Saibam que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre. E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu, e que para com ele não há acepção de pessoas." (Efésios 6.7-9)
Não era simples manter uma igreja coesa entre os ricos e poderosos, pessoas acostumadas com a liderança. Timóteo era um dos companheiros de Paulo quando chegou a Éfeso. Na sua carta específica a esse aprendiz, Paulo revela ter deixado ele como guardião de Éfeso, na responsabilidade de impedir que novas doutrinas desfigurassem a Igreja.
"Te roguei, quando parti para a Macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns que não ensinem outra doutrina, nem se dêem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação de Deus" (1ª Timóteo 1.3,4)
Numa passagem de sua carta, Paulo sutilmente instrui os crentes contra o culto de Diana, que se tratava de uma deusa da noite, com cerimônias feitas sob a lua:
"Não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as. Porque o que eles fazem em oculto, até dizê-lo é torpe. Mas todas estas coisas se manifestam, sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo manifesta." (Efésios 5.13-16)
Numa passagem de sua carta, Paulo sutilmente instrui os crentes contra o culto de Diana, que se tratava de uma deusa da noite, com cerimônias feitas sob a lua:
"Não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as. Porque o que eles fazem em oculto, até dizê-lo é torpe. Mas todas estas coisas se manifestam, sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo manifesta." (Efésios 5.13-16)
Éfeso também é nomeada como uma das igrejas do Apocalipse que João, como profeta, usa para instruir todas as outras. Novamente, há uma instrução para a igreja não se desviar de seus objetivos originais.
"Escreve ao anjo da igreja de Éfeso: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro: Conheço as tuas obras, teu trabalho e a tua paciência. Que não toleras os maus e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos. Sofreste, e tens paciência; trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste. Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres. Tens, porém, isto: que odeiess as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio." (Apocalipse 2.1-6)
"Escreve ao anjo da igreja de Éfeso: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro: Conheço as tuas obras, teu trabalho e a tua paciência. Que não toleras os maus e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos. Sofreste, e tens paciência; trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste. Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres. Tens, porém, isto: que odeiess as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio." (Apocalipse 2.1-6)
ERA ROMANA
Éfeso desfrutou de grande riqueza durante o governo romano. Uma de suas mais belas construções, a biblioteca de Celsus, é fruto dessa época. Além do lucrativo comércio de incenso, especiarias, peles, tecidos e porcelanas que vinham por barcos do Iêmen e Índia, ali se desenvolveu um braço importante da Cristandade.
No séc. 3, uma das principais sinagogas na cidade foi convertida em igreja Cristã. Uns 100 anos depois, sob o governo de Bizâncio, aquela construção seria expandida até ser uma grande catedral no início do séc. 6. Ainda no séc. 4, a Basílica de Maria sediou um concílio que declarou a mãe de Jesus como figura divina, mãe de Deus, e assim fundou um dos pilares do Catolicismo Romano.
EPITÁFIO
A igreja de Éfeso não acabou com a partida de seu mestre e fundador. Muito pelo contrário, Paulo escreveria sua famosa carta para a igreja de Éfeso vários anos depois. Acredita-se que João bar Zebedeu, o evangelista, tenha feito parte dessa igreja e fixado moradia em Éfeso, pouco depois da estadia de Paulo ali. Como Jesus comandara João explicitamente a cuidar de sua mãe, a tradição local (os Católicos Ortodoxos, pelo menos) têm por certo que Maria permaneceu em Efeso, também. De fato, na cidade atual existe uma casa muito antiga, tida por sagrada, e as tumbas de João e de Maria, atribuídas aos personagens bíblicos.
Éfeso foi arrasada no ano 262 d.C., por um ataque vingativo dos Godos, um povo guerreiro da Europa Central que era manobrado por Roma como soldados. Mesmo o grande templo foi saqueado e destruído. Eles eram um povo temeroso em batalha: Roma os mandaria depois para o norte da África, do outro lado do Mediterrâneo, mas seu retorno no final do séc. 5 destruiria a própria Roma. Éfeso se recuperou bem lentamente após esse ataque, o que demostra a importância crítica do templo na economia local.
No final do séc. 4 d.C., Theodosius I, imperador de Bizâncio (Roma Oriental), profundamente religioso, empreendeu perseguição e morte a todos os pagãos. Éfeso estava perto demais de sua capital, Constantinopla, para não ter sido expurgada. O que restava do templo de Diana foi demolido e as pedras usadas para levantar igrejas. Santa Maria tornou-se a patronesse da cidade.
Novamente cheio de lama e areia trazidas pelo rio, o porto de Éfeso foi se tornando inutilizável e a cidade foi lentamente despovoada. Em 614 d.C. um terremoto danificou seriamente as grandes construções, então usadas como mercados e moradias. As pessoas haviam voltado para o vale onde tinha sido a Antiga Éfeso, nos tempos de Alexandre o Grande, e habitam lá até hoje.
A partir de 654 d.C. a cidade sofreu sucessivos ataques dos califas do Islã, caindo sob domínio árabe em 1090. Entre 1097 e 1304, o porto de Éfeso foi disputado em várias batalhas entre o Islã e os cavaleiros das Cruzadas.
Em 1304, a cidade foi finalmente tomada pelos turcos Seljuk, islâmicos sunitas. Desde então seu nome passou a ser Selçuk. Hoje, a cidade turca (com população majoritariamente grega) tem seus 40 mil habitantes.
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PAPÉIS VINDOS DO MAR
Atos 19
Cartwrith M, Temple of Artemis at Ephesus, Ancient History Encyclopedia, ancient.eu, 26/jul/2018.
Chronology of Paul's ministry, understandchristianity.com
Ephesus, history.com, 2/fev/2018.
Ephesus - wikipedia
House of the Virgin Mary - wikipedia
Selçuk - wikipedia
Stark R, The rise of Christianity, Princeton University Press, 1996, The mission to the Jews: why it probably suceeded, cap 3.
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PAPÉIS VINDOS DO MAR
Atos 19
Cartwrith M, Temple of Artemis at Ephesus, Ancient History Encyclopedia, ancient.eu, 26/jul/2018.
Chronology of Paul's ministry, understandchristianity.com
Ephesus, history.com, 2/fev/2018.
Ephesus - wikipedia
House of the Virgin Mary - wikipedia
Selçuk - wikipedia
Stark R, The rise of Christianity, Princeton University Press, 1996, The mission to the Jews: why it probably suceeded, cap 3.
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