segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O amanhecer dos mortos vivos - ESTUDO BÍBLICO

quadro de Juan de Flandes (1460-1519)

O título se parece muito com alguns filmes de terror trash dos anos 80, mas é bem real.

E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras; e abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados; e, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram a muitos.

E o centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo o terremoto, e as coisas que haviam sucedido, tiveram grande temor, e disseram: Verdadeiramente este era Filho de Deus.
” (Mt 27.50-54)

O evento foi registrado apenas por Mateus Levi, antigo cobrador de impostos. Mas o que isso significava? Quem foram os ressuscitados? O que se deu deles?

O QUE ELES ERAM

No tempo de Jesus, a liderança dos judeus estava dividida entre os Fariseus e os Saduceus. Os Fariseus acreditavam no merecimento da Glória por suas práticas de purificação, enquanto os Saduceus simplesmente não acreditavam na ressurreição dos que haviam morrido. Segundo a crença judaica, a morte significava a imersão permanente das almas num “hades” (mundo sem sensações, penumbroso, etc) chamado Sh’eol. Mas Daniel já havia escrito que, no final dos tempos, “muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno” (Dn 12.2). Finalmente, 600 anos depois dele, Paulo descreveu o fim dos tempos dizendo que “num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1Co 15.52). Incorruptíveis significa semelhantes ao corpo que Cristo assumiu ao elevar-se ao céu, com um corpo compatível com a glória de Deus. Isso poderia se aplicar aos mortos que levantaram quando Jesus expirou, não fosse um detalhe: não era o final dos tempos.

Paulo prosseguiu sua descrição ainda referindo uma ordem para as ressurreições: “Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda” (1Co 15.23). Ou seja, Cristo ressuscitaria primeiro em forma incorruptível. Quando os mortos voltaram à vida, segundo Mateus, Ele acabara de morrer. Não poderiam estar em formas celestiais... o que se soma ao fato de que não foram ao céu após sua ressurreição, mas vaguearam pela terra até Jerusalém.

Alguns mortos, como o filho da sunamita (2Rs 4.18-37), a filha de Jairo (Mt 9.23-26), o filho da viúva de Naim (Lc 7.11-17) e Lázaro (Jo 11.14-44), já haviam sido ressuscitados antes da morte e ressurreição de Jesus. Estes, porém, não foram glorificados e nem receberam o dom da imortalidade ao serem ressuscitados. Dessa forma, esperamos que a ressurreição dos santos a que Mateus se refere seja semelhante à de Lázaro, a filha do centurião, etc, uma ressurreição para o corpo carnal e humano, não ainda aquela prometida para o Apocalipse.

Os líderes judeus haviam subornado os guardas para negarem a ressurreição de Jesus (Mt 28.11-15), mas esses santos ressuscitados finalmente “entraram” em Jerusalém “e apareceram a muitos” (Mt 27.53) como testemunhas autênticas da ressurreição de Cristo e do Seu poder sobre a morte (Ap 1.18).

PRÁTICAS FUNERAIS NA ÉPOCA DO 2º TEMPLO

Um judeu que morresse em Jerusalém durante o período do Segundo Templo era geralmente enterrado antes do anoitecer, ou pelo menos dentro de 24 horas após a morte. O corpo era levado para o túmulo da família cortado na rocha, onde era lavado e embrulhado em mortalhas e colocado em uma cavidade chamada kok (plural kokim) dentro do túmulo, ou em um banco no túmulo chamado arcosolia. O corpo era deixado para se decompor.

A família retornava para casa e passava um período de sete dias de luto intenso, chamado shiva. Eles iriam virar a cama da pessoa morta, esmagar quaisquer vasos de cerâmica na casa (porque eles haviam sido ritualmente profanados pelo morto), e os homens não se barbeariam nessa semana. A família e os amigos visitatiam a família em luto. Após essa semana, a família passava por um período menos intenso de luto de 30 dias, chamado sholshim. No aniversário de um ano da morte do indivíduo, a família voltava para a sepultura e reuniu os ossos, ungiao-os com azeite e vinho, e então os colocava em uma caixa de ossos ou ossuário, que ficava em um canto do túmulo.

Mateus usa uma combinação curiosa de palavras: “... abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados … saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa”. Quando se levantaram? Quando apareceram em Jerusalém? Ao que parece, a ressurreição dos justos deu-se junto com o expirar de Jesus, mas seu aparecimento só após a ressurreição Dele, no 3º dia. Isso deve indicar que as tumbas ficavam longe dos muros da cidade.

De fato, as tumbas da época do 2º Templo ficavam fora dos muros de Jerusalém. Mais de 1000 tumbas do período do Segundo Templo já foram (atualmente) encontradas na área, distribuídas em 3 anéis, ou círculos, em torno da cidade. O círculo interior consistia de túmulos no Vale do Hinom (a oeste e sul da cidade) e do Vale do Cedron e Monte das Oliveiras (a leste da cidade). O anel do meio incluído o Vale de Refaim e do lado de trás do Monte das Oliveiras. O anel externo consistia de túmulos que eram 4 ou 5 milhas de distância de Jerusalém, e possivelmente foi a partir dessas tumbas que os santos ressuscitados saíram.

UMA MANHÃ POSSIVELMENTE INESQUECÍVEL

Quando Cristo ressuscitou dos mortos ele tornou-se as primícias dos que dormem (1Co 15.20-23). Vamos usar um pouco a imaginação: Jesus foi crucificado na sexta-feira, sábado foi o Shabat, dia de descanso. A maioria das pessoas em Jerusalém provavelmente ficou em casa naquele dia. No primeiro dia da semana, domingo de manhã, um grupo de mulheres saiu do Portão Gennath (Porta dos Jardins) para o túmulo de José de Arimatéia, a fim de ungir o corpo de Jesus. Outras pessoas deixaram a cidade de manhã cedo também: elas seguiam a tradição dos saduceus sobre o corte da oferta de cevada para o Templo. Iam em direção aos campos de cevada no Vale de Refaim, a oeste de Jerusalém (cf. Is 17.5). Você pode imaginá-los deixando as portas da cidade com foice na mão e cestas em seus ombros, em atitude festiva... Enquanto caminhavam para os campos de cevada, viram algumas pessoas se aproximando deles, indo em direção à cidade. Vários devem ter encontrado os próprios parentes sepultados havia alguns dias, e provavelmente usando como roupas as mortalhas!

PORQUE MATEUS LEVI SE DEU A ESSE TRABALHO

Agora, estas pessoas saíram de seus túmulos e andaram atá a cidade. Talvez alguns tivessem sido enterrados havia pouco tempo, como as demais ressurreições que Eliseu e Jesus realizaram. Ao entrarem na cidade, certamente encontraram seus familiares que devem ter se assombrado muito com o ocorrido, mas não o suficiente para serem ouvidos pelas autoridades … ou para que os Saduceus e Fariseus se preocupassem em pagar pessoas para testemunhar de forma contrária. Por mais surpreendente que o reaparecimento dos familiares mortos possa ter sido, o caso parece ter sido “abafado” o bastante para que apenas Mateus Levi tenha falado sobre isso.

Ainda assim, apenas Mateus registrou esse fato, e em poucas linhas. Mateus é o evangelho escrito para os judeus. O tema de Mateus é que Jesus é o verdadeiro Senhor de Israel. Ele faz o que Israel deixou de fazer. Sua ressurreição é o que faz a ressurreição final previsto no Antigo Testamento possível (a ressurreição é prevista em Dn 12.2 e Ez 37.13). Mateus mencionar estes santos sendo levantados confirma seu principal ponto que Jesus realizou o que Israel não poderia. A ressurreição é garantida de que a barreira entre Deus e o homem foi demolida, quando o véu do templo foi rasgado. Então, Mateus fez questão de menncionar isso por causa de seu significado teológico para sua audiência judaica, em especial os Saduceus.

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