sábado, 2 de fevereiro de 2013

No meio da gente errada


Aproveito aqui para tomar emprestadas (mas não devolverei) as palavras de Ricardo Gondim, um dos mais vigiados pastores, hereges, heterodoxos, etc da internet.

"Desde a adolescência, organizei minha vida com valores religiosos. Freqüentei e lecionei em escolas dominicais. Militei em grupos de jovens cristãos. Estudei em um instituto bíblico. Conheci bem os bastidores do mundo religioso, tanto no Brasil como nos Estados Unidos.

Sincero e zeloso, sempre procurei cumprir as exigências de todas as instituições que participei. Se a igreja não permitia as mulheres cortarem o cabelo, briguei com a minha por aparar as franjas; se era pecado ir ao cinema, eu, que não aceitava essa proibição absurda, para evitar mau testemunho, viajava para longe se queria ver algum filme.

Relevei disparates, incoerências e hipocrisias eclesiásticas, porque considerava a causa de Cristo mais importante que as pessoas. Para não "escandalizar", fazia vista grossa para comportamentos incompatíveis com a mensagem cristã.

Abraçado às instituições, acabei conivente de mercenários, alguns intencionalmente cobiçosos. Justifiquei tolices argumentando que as pessoas eram minimamente sinceras. Nem sei como me iludi a ponto de dizer: "fulano faz bobagem, muita bobagem, mas é sincero".

Cheguei a um tempo de vida, que algumas reivindicações da religião perderam o apelo. Com tantas decepções, deixei de acreditar na pretensa santidade dos religiosos. Considero piegas as pregações de que Deus exige uma santidade perfeita. Lembro imediatamente dos malabarismos que testemunhei que tentavam falsear tantas inadequações, dos jogos de esconde-esconde para não expor demagogias.

Jesus não conviveu com gente muito certinha. Ao contrário, ele os evitava e criticava. Começou seus milagres produzindo vinho para um casamento. Isso mesmo: vinho, não suco de uva. Chamou os austeros sacerdotes de sepulcros caiados, de cegos que guiam outros cegos, de hipócritas e, o mais grave, de condenarem os prosélitos a um duplo inferno. Cristo gostava da companhia dos pecadores, que lhe pareciam mais humanos.

Jesus alistou pessoas bem difíceis para serem apóstolos: Pedro era tempestivo; Tomé, hesitante; João, vingativo; Filipe, lento em compreender; Judas, ladrão. Acostumado com os freqüentadores de sinagoga e com os doutores da Lei, por que ele não buscou seguidores nesses círculos? Talvez, não entendesse santidade e perfeição como muitos.

Jesus aceitou que uma mulher de reputação duvidosa lhe derramasse perfume; elogiou a fé de um centurião romano, adorador de ídolos; não permitiu que apedrejassem uma adúltera para perdoá-la; mostrou-se surpreso com a determinação de uma Cananéia; prometeu o paraíso para um ladrão nos estertores da morte. Sabedor das exigências da lei, por que Jesus não mediu esforços ou palavras para enaltecer gente assim? Talvez, não entendesse santidade e perfeição como muitos.

Para Jesus, santidade não significava uma simples obediência de normas. Para ele, os atos não valem o mesmo que as intenções. Adultério não se restringe a sexo, mas tem a ver com valores que podem ou não gerar uma traição. O ódio que explode com ânsias de matar é mais grave do que o próprio homicídio. Para ele, portanto, pecado e santidade fazem parte das dimensões mais profundas do ser humano. Lá, naquele nascedouro, de onde brotam os primeiros filetes do que se transformará em um rio, forma-se o caráter. E santidade depende da estrutura do ser, com índole que gera as decisões.

Para Jesus, santidade se confunde com integridade; que deve ser compreendida como inteireza. As sombras, as faltas, as inadequações, os defeitos, bem como as luzes, as bondades, as grandezas, as virtudes, de cada um precisam ser encaradas sem medos, sem panacéias, sem eufemismos.E sem condenações, pois Ele mesmo desafiou os acusadores da mulher adúltera. "Quem não tiver pecado, atirem a primeira pedra". Sobrou apenas Ele mesmo, que não tinha pedras.

Deus não requer vidas perfeitinhas, pois ele sabe que a estrutura humana é pó; não exige correção absoluta, pois para isso, teria que nos converter em anjos. As prostitutas, que souberem lidar com faltas e defeitos com inteireza, precederão os sacerdotes bem compostos, mas que vivem de varrer as faltas para debaixo dos tapetes eclesiásticos. O samaritano, que traduziu humanidade em um gesto de solidariedade, é herói de uma parábola que descreve como herdar o céu. O tempestivo Pedro, que transpirava sinceridade, recebeu as chaves do Reino de Deus. A mulher, que fora possessa de sete demônios, anuncia a alvissareira notícia da ressurreição.

Os mandamentos e a lei só serviram para mostrar que para produzir humanidade não servem os legalismos. Integridade e santidade nascem do exercício constante de confrontar suas luzes e sombras trazendo-as diante de Deus e mesmo assim saber-se amado por Ele."

A humanidade é constante em suas tragédias, farsas e demonstrações de fé. Enquanto erradicamos a poliomielite, ou revolucionamos as comunicações, escravizamos economicamente os povos mais pobres, evitamos o vizinho que bebe, etc. Nas tragédias, vemos gente se arriscando para salvar os que puder, alguns até morrendo para tentar salvar os outros, e também aqueles que estão mais interessados em lucrar algo com o pesadelo do próximo. Será o mesmo que pedirá ajuda quando a coisa ficar feia...

O mesmo Judas que foi pago para entregar Jesus foi ao Sinédrio devolver o dinheiro, e não encontrou consolo ao atirar pelo chão suas moedas. Judas enforcou-se, o corpo podre caiu do alto e marcou uma terra como impura, destinada àqueles que a Graça supostamente não podia suportar. Mas também, através dele, uma profecia estava sendo cumprida:
 

O SENHOR, pois, disse-me: Arroja isso ao oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles. E tomei as trinta moedas de prata, e as arrojei ao oleiro, na casa do SENHOR.
Zacarias 11:12-13
Se parece bem aos vossos olhos, dai-me o meu salário e, se não, deixai-o. E pesaram o meu salário, trinta moedas de prata.

O SENHOR, pois, disse-me: Arroja isso ao oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles. E tomei as trinta moedas de prata, e as arrojei ao oleiro, na casa do SENHOR.
Zacarias 11:12-13
"Se parece bem aos vossos olhos, dai-me o meu salário e, se não, deixai-o. E pesaram o meu salário, trinta moedas de prata. O SENHOR, pois, disse-me: Arroja isso ao oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles. E tomei as trinta moedas de prata, e as arrojei ao oleiro, na casa do SENHOR." (Zacarias 11:12-13)
Se parece bem aos vossos olhos, dai-me o meu salário e, se não, deixai-o. E pesaram o meu salário, trinta moedas de prata.

O SENHOR, pois, disse-me: Arroja isso ao oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles. E tomei as trinta moedas de prata, e as arrojei ao oleiro, na casa do SENHOR.
Zacarias 11:12-13
Se parece bem aos vossos olhos, dai-me o meu salário e, se não, deixai-o. E pesaram o meu salário, trinta moedas de prata.

O SENHOR, pois, disse-me: Arroja isso ao oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles. E tomei as trinta moedas de prata, e as arrojei ao oleiro, na casa do SENHOR.
Zacarias 11:12-13
Se parece bem aos vossos olhos, dai-me o meu salário e, se não, deixai-o. E pesaram o meu salário, trinta moedas de prata.

O SENHOR, pois, disse-me: Arroja isso ao oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles. E tomei as trinta moedas de prata, e as arrojei ao oleiro, na casa do SENHOR.
Zacarias 11:12-13

O campo comprado, Aceldama (ou "campo de sangue", terreno de argila vermelha donde se faziam potes de barro, e que depois virou cemitério de estrangeiros), hoje abriga uma igreja. Pessoas vão ao cemitério de Judas, comprado pelo Sinédrio com o dinheiro da traição, para suplicar justamente àquele a quem eles condenaram. Não é hilário? Enquanto isso, mendigos (com quem, claro, nem Deus se importa) impressionam igrejas com seu canto e pastores milagreiros se elegem ao senado prometendo perseguir os homossexuais, acobertam suas mansões e reivindicam para si o que Cristo prometeu a todos, em especial à turba de cobradores, ignorantes, ex-possessos, etc que o seguiam. Quanto será é preciso pagar a eles pelo que o Senhor chamou de Graça?

Curiosamente, nos enganamos que é preciso ir na igreja certa, usar as roupas certas, comer o alimento certo, ter os costumes corretos e fazer o que esá prescrito para ser digno de Deus. Há uma lei não biblica que supostamente Deus nos impõe... pois quanto a lei bíblica, Jesus não parecia afeito a ela, se terminava por escravizar os homens. Mas Jesus mesmo disse que homem algum jamais poderia ser digno perante o Pai (Mt 11.27; Lc 10.22). Mesmo assim, todos poderiam chamar a Ele, que só não os ouviria quando seus propósitos fossem maus. E propósitos são tão passageiros... especialmente aqueles que se tornam realidade!

A santidade que Deus recomendou aos homens, não a podemos ter por nossa aparência ou fingimento. Na verdade, não a podemos ter enquanto formos impuros. Mas Jesus a encontrou naquele que comia gafanhotos à margem do Jordão, naqueles que perambulavam atrás Dele, pescadores, ricos cobradores, instruídos perseguidores de cristãos e até ladrões à beira da morte. Não havia Moisés fugido para perto do monte Horebe após matar um Egípcio? Sim, somos falhos, mas Deus espera que procuremos os seus braços, apesar disso. Com Ele, nossas "falhas" até se mostram os caminhos que podemos usar para fazer Sua vontade.

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