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sexta-feira, 13 de junho de 2014

A coisa do ambiente




Para quem acha que ser cristão não tem nada a ver com o ambiente, vai uma nova [porém velha] visão de amor ao próximo mais do que a si mesmo. Como sempre, palmas ao Brabo.

E os príncipes dos sacerdotes, tomando as moedas de prata, disseram: Não é lícito colocá-las no cofre das ofertas, porque são preço de sangue. (Mateus 27.6)

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Aquilo que o diabo sonhou por milênios, um mundo em que não fosse mais possível viver uma vida de não-agressão, o capitalismo neoliberal possibilitou, evangelizou e metastaseou planeta afora. O nosso é um mundo em que não há mais santos, pacifistas ou mesmo gente boa. Ele foi de fato concebido, no seu ventre ideológico, de modo a que não subsista a virtude nem tenha como subsistir.

Houve épocas em que bolsões de paz e de boa vontade, muitos deles sustentados diretamente pelo sopro de Jesus de Nazaré, proveram santuário a este mundo. Os ramos da família anabatista em particular (por exemplo, os irmãos menonitas) foram por séculos os portadores de uma longa e radical tradição cristã de não-violência – inspirando e sendo inspirados por gente como Erasmo, Tolstoi, Gandhi e Martin Luther King. Um fogo semelhante nunca deixou de arder no coração da experiência católica, encarnado (por exemplo) nas paixões de Francesco, no ideal da aventura monástica e na lucidez de Dorothy Day. A não-agressão está, além disso, muito entranhada no ideário de tradições religiosas não-cristãs, em especial no budismo e no jainismo.

Esses, no entanto, foram ideais e realidades de uma outra era, açudes esgotados e sonhos anulados pela amoral capitalista. Ninguém mais é livre, por isso ninguém mais tem como se dar ao luxo de ser bom.

Oculta por trás de multiformes manifestações e múltiplos falsos destinos, o capitalismo tem uma só regra, mas é uma regra rígida: conforme-se. Não me interessa o quê, consuma. Acredite no que quiser, apenas compre. Quem não sabe comprar deve ser ensinado a aprender, e as culturas e pessoas que não estão interessadas em consumir ou em impor seu modo de vida às demais estão condenadas à execração e à morte social, cultural e econômica.

Resistir é inútil. A função da propaganda (e a propaganda ocupou cada centímetro do espaço social) é evangelizar você com a má nova de que você não é feliz, e de que não terá como ser feliz até aprender a comprar o quanto baste, isto é, sem parar. Olhe pra você. Você está longe de ter toda a autorrealização que pode comprar. Para imprimir credibilidade à sua mediocridade você deve consumir. Para se destacar você deve fazer como todos.

A questão central, que as luzes do shopping simplesmente não nos deixam enxergar, é que consumir é agredir, especialmente num mundo interligado como o nosso. Não restam pessoas pacíficas entre nós, nem uma sequer. Não há gente não-violenta, porque todos consumimos.

Há inúmeros sentidos em que, dentro de um capitalismo global, consumir é agredir. Talvez baste citar dois.

Primeiro há a questão dos recursos naturais, e mesmo aqueles dentre nós que creem que o espírito empreendedor não tem limites deveriam poder entender que os recursos têm. Se 20% da população da Terra consomem 80% dos recursos disponibilizados pelo planeta, resulta em primeiro lugar que os bem-sucedidos dentre nós são os que desfrutam muito desautorizadamente do que não é seu. Não importa o que você acredite, o seu MBA não o qualifica a usar o recurso planetário que pertence tanto a você quanto ao seu irmão de um dos sertões do mundo. Na marca dos 7 bilhões de condôminos, a Terra é um cortiço que está ficando pequeno, e nesse condomínio uma minoria dilapida segundo os seus (os nossos) próprios caprichos um patrimônio que é comum, e despeja ao mesmo tempo o seu (o nosso) lixo sobre a cabeça de uma minoria que absolutamente não é responsável por ele.

Além disso, a presente taxa de utilização dos recursos naturais representa não apenas um ultraje para o presente, para gente que está viva agora, mas uma ameaça para o futuro – uma ameaça para os que nascem hoje e terão de encontrar espaço de vida e de dignidade amanhã. Não há como não concordar com os que alertam que é tarde demais para ser pessimista: “sustentável” é menos uma diretiva do que um sonho. Sustentável é o que o futuro seria na melhor das hipóteses, se o nosso presente também fosse. Consumir é agredir porque é de fato consumir, fazer desaparecer – é queimar um mundo que não nos pertence, e como se não houvesse amanhã.

Em segundo lugar, consumir é agredir porque, num espaço de produção globalizado, você não é obrigado a testemunhar as injustiças que patrocinam os seus hábitos de consumo. O capitalismo não apenas alienou o trabalhador do fruto do seu trabalho, conforme diagnosticado por Marx, mas separou também o consumidor da realidade do valor e da produção. Amigo, nada neste mundo custa 1,99. Tudo neste planeta é muito valioso. Tudo é caríssimo, em especial as horas-gente e as horas-futuro, que são horas-vida. Acredite, a máquina fotográfica que você tem no bolso é um milagre e o seria em qualquer tempo e qualquer universo; se você paga por ela coisa de 30 almoços é porque alguém está pagando o restante do valor – e via de regra é o chinês apertado numa fábrica, com as mesmas condições de conforto e o mesmo espaço para se esticar que o frango industrial de que você comprou ontem o filé. E os operários em todo o mundo se sujeitam a esse tipo de indignidade apenas porque vendemos a eles, constantemente e com toda a eficiência, o sonho de aprenderem a comprar com a mesma eficácia que nós mesmos. E quem não gostaria de estar no nosso lugar? Todos os que consumimos, de iPads a goiabinhas Piraquê, somos senhores de escravos.

Desse modo não é difícil entender, com Jean Baudrillard, porque discriminação e exclusão são consequências diretas e imediatas da globalização. O capitalismo tecnológico quer impor sobre as culturas e sobre os indivíduos uma solução de vida sem verdadeira alternativa; todos os que não se submetem ou não desejam esse modo de vida estão por definição discriminados e excluídos. E mesmo os que se sujeitam a desejar a solução indiferenciada tem de se submeter ainda à pedra de moer da eterna insatisfação: a máquina capitalista só funciona enquanto e porque todos nos sentimos pelo menos um pouco discriminados e excluídos, e entendemos que o consumo do produto almejado nos curará dessa inadequação. Gente satisfeita com o que tem (ou com o que não tem) representa a morte do capitalismo; não é à toa que o capitalismo esteja tão bem de saúde.

Não foi à toa que Gandhi entendeu depressa que para abraçar adequadamente o ideal da não-agressão não bastava baixar as armas e oferecer a outra face: era preciso afastar-se deliberadamente das cadeias do consumo e adotar um modo de vida ao mesmo tempo responsável e sustentável. Ele intuiu que a verdadeira não-violência, no seu sentido mais radical da coisa, requer consumir o que se planta, vestir o que se fia, assumir a responsabilidade pelo próprio lixo, abrir mão das ilusões do consumo, abandonar as armadilhas da novidade e ignorar a ficção útil da propriedade privada. E o capitalismo está construído de modo a que você permaneça convencido de que não tem liberdade para fazer qualquer uma dessas coisas.

A perfeição do mecanismo está em que somos nós mesmos nossos catequizadores. Nosso modo de vida insiste, na verdade ele comprova, que não existe uma alternativa ao moinho do consumo. Você não é livre e jamais será, mas não vai sentir falta da liberdade enquanto estiver com um cartão de crédito ou sonhando com um.

Como resultado, a violência foi efetivamente institucionalizada, tendo se tornado o combustível até mesmo dos mais inocentes. A liberdade que temos, quando temos, é a de escolher, a cada momento, a agressão menor – e mesmo essa frágil decisão está se tornando cada vez mais difícil e improvável. As cadeias são cada vez mais eficazes e os encadeamentos cada vez mais complexos. Quem pode nos ensinar a viver de outra forma? Somos paupérrimos, só sabemos comprar para viver. O ciclo de agressão da produtividade e do consumo está entranhado em tudo que fazemos, tudo que desejamos, tudo que sonhamos. Os mais carolas, amantes de paz e inofensivos dentre nós patrocinam a agressão aberta e foram para sempre maculados por ela. Somos todos cúmplices e vítimas da mesma violência capital.

A tragédia está em que o amor não foi capaz de nos unir, mas a complacência universal com a injustiça nos tornou irmãos. Somos a máfia, e na máfia todos se cuidam, para que a máfia não tenha como mudar. Da máfia ninguém sai.

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Retirado semvergonhadamente do livro "As divinas gerações"

domingo, 19 de maio de 2013

Sodomia & Gomorria

Ló e sua família são retirados de Sodoma por anjos

Duas cidades se tornaram símbolos da ira divina e até hoje inspiram a imaginação das pessoas: Sodoma e Gomorra, símbolos da ira divina. Aqui vamos discutir um pouco sobre o que levou essas cidades à destruição e o que elas representavam para o Oriente Médio, na época em que existiram.

A primeira referência às cidades aparece no começo do livro de Gênesis, logo após Abraão e Ló dividirem entre si as terras vizinhas ao rio Jordão.

E aconteceu nos dias de Anrafel, rei de Sinar, Arioque, rei de Elasar, Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de Goim, que estes fizeram guerra a Bera, rei de Sodoma, a Birsa, rei de Gomorra, a Sinabe, rei de Admá, e a Semeber, rei de Zeboim, e ao rei de Belá (esta é Zoar). Todos estes se ajuntaram no vale de Sidim (que é o Mar Salgado).

Doze anos haviam servido a Quedorlaomer, mas ao décimo terceiro ano rebelaram-se. E ao décimo quarto ano veio Quedorlaomer, e os reis que estavam com ele, e feriram aos refains em Asterote-Carnaim, e aos zuzins em Hã, e aos emins em Savé-Quiriataim, e aos horeus no seu monte Seir, até El-Parã que está junto ao deserto. Depois tornaram e vieram a En-Mispate (que é Cades), e feriram toda a terra dos amalequitas, e também aos amorreus, que habitavam em Hazazom-Tamar.

Então saiu o rei de Sodoma, e o rei de Gomorra, e o rei de Admá, e o rei de Zeboim, e o rei de Belá (esta é Zoar), e ordenaram batalha contra eles no vale de Sidim, contra Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de Goim, e Anrafel, rei de Sinar, e Arioque, rei de Elasar; quatro reis contra cinco.

E o vale de Sidim estava cheio de poços de betume; e fugiram os reis de Sodoma e de Gomorra, e caíram ali; e os restantes fugiram para um monte. E tomaram todos os bens de Sodoma, e de Gomorra, e todo o seu mantimento e foram-se. Também tomaram a Ló, que habitava em Sodoma, filho do irmão de Abrão, e os seus bens, e foram-se. (Gn 14.1-12)

Trata-se de uma cena de guerra ocorrida por volta de 3000 a.C. O território ao redor do Jordão era povoado por pastores e agricultores que habitavam vilas sob o domínio ou ao redor de cidades-estado rodeadas por muralhas. Várias delas são citadas nesse trecho. Sodoma, Gomorra, Admá (ou Adamá), Zeboim e Belá (Zoar) eram as chamadas cidades da planície, uma faixa de terra muito fértil e irrigada ao redor do Mar Morto (ou também Mar Salgado). Aparentemente, as cidades-estado exerciam poder político umas sobre as outras, o suficiente para que 4 delas se rebelassem contra a principal (Elão), que também reuniu seus aliados. Como a disputa se deu nas terras de pastoreio que couberam a Ló (isto é, o leste do Jordão), ele foi feito refém dessa guerra.

Anrafael é apontado pelos arqueólogos como Amirapaltu ou também Kamu-rabi, um dos grandes reis que iniciaram a unificação da Babilônia, então repartida em muitos pequenos reinos. Outros reis na região eram Khudur-Lagamar ("servo da deusa Lagamar" ou Quedorlaomer), Eri-Aku (Arioque) e Tudkhula (Tidal). Eles já haviam conquistado os Refains, Zuzins e Emins, tidos como povos de gigantes guerreiros. Aparentemente, os reis das cidades da planície rebelaram-se contra os reis babilônicos (leia-se deixaram de pagar-lhes tributos) e estes chegaram ao Jordão para reafirmar seu poder capturando as cidades rebeldes.

Abraão aparece com um exército para afastar os babilônicos, juntando suas forças com o rei de Sodoma, provavelmente a cidade mais poderosa da planície. Temos aí o aparecimento de Melquisedeque, rei de Salém (provavelmente um aliado do oeste do Jordão), a quem o poderoso Abraão entrega o primeiro dízimo registrado na Bíblia. A passagem citando o conflito de poderes, entretanto, não dá a entender sobre os usos e costumes nas cidades da planície, onde Ló (outro líder tribal) habitava com sua família (ou clã, o que pode significar centenas de pessoas).

ONDE FICAVAM AS CIDADES

As cidades da planície eram tidas como plantadas em terreno muito fértil, que Ló preferiu para si quando repartiu as terras com Abraão.

Olhou então Ló e viu todo o vale do Jordão, todo ele bem irrigado, até Zoar; era como o jardim do SENHOR, como a terra do Egito. Isto se deu antes de o SENHOR destruir Sodoma e Gomorra. Ló escolheu todo o vale do Jordão e partiu em direção ao leste. (Gn 13.10)

A Bíblia sem dúvida dá vários indícios de onde as cidades situavam-se ao redor do Mar Morto:

[Os anjos instruem a Ló] E aconteceu que, tirando-os fora, disse: Escapa-te por tua vida; não olhes para trás de ti, e não pares em toda esta campina; escapa lá para o monte, para que não pereças. (Gn 19.17) [ou seja, Sodoma - a cidade principal do vale de Sidim - ficava na planície, perto das montanhas]

Ló partiu para as montanhas e... “Apressa-te, escapa-te para ali; porque nada poderei fazer, enquanto não tiveres ali chegado. Por isso se chamou o nome da cidade Zoar. Saiu o sol sobre a terra, quando Ló entrou em Zoar.” (Gn 19.22-23). Essa cidade existe até hoje, no sul do Mar Morto. Então Sodoma deveria estar a oeste dela. Abraão podia observar Sodoma de onde estava fixado, logo, era preciso que a cidade ficasse numa altitude bem abaixo das colinas de Samaria.

Grande parte da dificuldade em se localizar hoje os restos dessas cidades da Era do Bronze (3500-2000 a.C.) está no fato de que o relevo e o clima mudaram bastante no Oriente Médio. Alguns locais submergiram sob o mar, outros eram vales férteis e hoje são parte de desertos. Rios a que os textos se referem mudaram seu curso ou desapareceram. No caso das cidades da planície, a periferia do Mar Morto mudou bastante: o Mar Morto, localizado sobre uma falha tectônica, era bem menos baixo (~ 300 m abaixo do nível do mar) do que é hoje.

Buscando vestígios de cidades na região ao redor do Mar Morto, várias ruínas soterradas foram encontradas. Como a água do Mar Morto não serve para consumo, especula-se que as cidades da planície abasteciam-se da água de vários ribeiros com 20-50 Km de extensão (dos quais só restam os leitos secos) que desciam das colinas de Moab. As cidades-ruína encontradas foram chamadas de Bab-edh-dhra (provavelmente Sodoma), Numeira (provavelmente Gomorra), Safi, Feifa e Khanazir. Despejando sedimentos no solo rico em minerais das margens do Mar Morto, os ribeiros devem ter feito da planície um terreno muito fértil, talvez até “como o jardim do Senhor”. Numa sociedade movida pelo pastoreio e cultivo de grãos, seria equivalente as cidades da planície eram a região mais rica de Canaã. As pesquisas no local encontraram, na mesma profundidade onde estão os restos da cidade, vestígios fossilizados de cevada, trigo, uvas, figos, linho, grão de bico, ervilhas, favas e azeitonas.


Cidades ancestrais e os rios fósseis que as abasteciam

Sodoma era a maior das cidades, e se a nomeação das ruínas está correta, ela ocupava uma área de 9-10 acres (~ 40 Km², ou a área da cidade de Palmas, capital de Tocantins), cercada por muralhas de pedra com 7 m de espessura. A população devia ser de aproximadamente 1000 pessoas. No lado nordeste, foram encontrados os restos do que devia ser o portal da cidade, guardado por duas torres de vigia, que davam acesso à muralha: "E vieram os dois anjos a Sodoma à tarde, e estava Ló assentado à porta de Sodoma; e vendo-os Ló, levantou-se ao seu encontro e inclinou-se com o rosto à terra" (Gn 19.1).

O imenso cemitério entre Sodoma e Gomorra e os restos miscigenados de cerâmica no local dão a entender que era uma área comum usada pelas várias cidades para seus funerais.

COM O QUE SE PARECE A IRA DE DEUS

Então o SENHOR fez chover enxofre e fogo, do SENHOR desde os céus, sobre Sodoma e Gomorra, e destruiu aquelas cidades e toda aquela campina, e todos os moradores daquelas cidades, e o que nascia da terra. E a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal. Abraão levantou-se aquela mesma manhã, de madrugada, e foi para aquele lugar onde estivera diante da face do SENHOR. Olhou para Sodoma e Gomorra e para toda a terra da campina; e viu que a fumaça da terra subia, como a de uma fornalha. (Gn 19.24-28)

De fato, as escavações arqueológicas descobriram que as cidades mais ao norte da planície foram destruídas quase simultaneamente por volta de 2350 a.C., ao que parece, em um fantástico incêndio. A ira divina pode ter vindo sobre as cidades segundo o comentário de Gênesis sobre a batalha contra os babilônicos: "Ora, o vale de Sidim era cheio de poços de betume e, quando os reis de Sodoma e de Gomorra fugiram, alguns dos seus homens caíram nos poços e o restante escapou para os montes" (Gn 14.10).

O betume é uma forma “inacabada” de petróleo, e os poços de betume são conhecidos por expelir gás metano. Tanto o gás quanto o betume são muito inflamáveis, então uma"centelha divina" poderia  transformar em enorme fogueira toda aquela região. Além disso, lembrando que o vale do Jordão está sobre uma falha tectônica, a ocorrência de terremotos ali é bem comum, e existem pesquisadores que acreditam na devastação das cidades por um tremor simultaneamente com o incêndio. É possível que uma quantidade de magma tenha vindo à superfície, incendiando os poços de betume ou fazendo jorrar betume em chamas para o alto e sobre as cidades.

Hoje, as ruínas das cidades da planície “aparecem” às margens do Mar Morto, abaixo de quase 1 m de sedimentos. Com a aridez aumentando e elevação do terreno ao longo dos milênios, os ribeiros que vinham de Moab cessaram de fluir e o Mar Morto esticou suas bordas por uma área maior e também ao sul, tragando o que restou das cidades queimadas. O número considerável de esqueletos encontrados sugere que a população não deve tempo de escapar do desastre: como na famosa erupção do Vesúvio que destruiu a cidade de Pompéia, os habitantes das cidades da planície foram carbonizados junto com as cidades, enquanto Abraão observava estarrecido, do outro lado do Mar Morto, nas colinas de Hebron.

O Alcorão (~600 d.C.) traz uma versão semelhante da destruição de Sodoma, reforçando a hipótese de uma explosão vulcânica. No texto, os anjos que retiraram Ló e sua família explicam-se:

E quando se cumpriu o Nosso desígnio, reviramos a cidade nefasta e desencadeamos sobre ela uma ininterrupta chuva de pedras de argila endurecida (sura 11.82)

Então, destruímos os demais, e desencadeamos sobre eles um impetuoso torvelinho; e que péssimo foi o torvelinho para os admoestadores (que fizeram pouco caso)! (sura 26.172-173)

E desencadeamos sobre eles uma tempestade. E que péssima foi a tempestade para os admoestados! (sura 27.58)

COMO ATRAIR A IRA DIVINA

Quando Deus anuncia a Abraão que destruiria Sodoma e Gomorra, onde Ló (e seu clã) havia ido morar, Ele diz que passaria pelas cidades em pessoa para ver se o que falavam delas era verdade:

As acusações contra Sodoma e Gomorra são tantas e o seu pecado é tão grave que descerei para ver se o que eles têm feito corresponde ao que tenho ouvido. Se não, eu saberei”. (Gn 18.20)

Bem, sabemos o final dessa “inspeção divina”. O livro de Gênesis não dá evidências claras sobre o que se dava de tão terrível nas cidades da planície. No entanto, em suas visões o profeta Ezequiel cita as cidades para compará-las à Jerusalém que o Senhor também castigaria:

[Jerusalém, ] sua irmã mais velha era Samaria, que vivia ao norte de você com suas filhas; e sua irmã mais nova, que vivia ao sul com suas filhas, era Sodoma. Você não apenas andou nos caminhos delas e imitou suas práticas repugnantes, mas em todos os seus caminhos logo você se tornou mais depravada do que elas. Juro pela minha vida, palavra do Soberano Senhor, sua irmã Sodoma e as filhas dela jamais fizeram o que você e as suas filhas têm feito. Ora, este foi o pecado de sua irmã Sodoma: Ela e suas filhas eram arrogantes, tinham fartura de comida e viviam despreocupadas; não ajudavam os pobres e os necessitados. Eram altivas e cometeram práticas repugnantes diante de mim. Por isso eu me desfiz delas conforme você viu. (Ez 16.46-50)

Dessa forma, o terrível pecado das cidades parece estar ligado à falta de generosidade e arrogância. Sodoma é citada no livro judaico chamado de Mishnah (que significa estudo, revisão). Esse livro é uma versão escrita das tradições orais no tempo dos fariseus (530 a.C. - 70 d.C.). O livro foi escrito pelo rabino Yehudah haNasi por volta de 220 d.C. Nele, encontramos

Há quatro tipos entre os homens: Aquele que diz: "O que é meu é meu e o que é seu é seu" - este é o tipo mais comum, embora alguns digam que este é o tipo de Sodoma. Aquele que diz: "O que é meu é teu e o que é teu é meu" - ele é um homem ignorante. Aquele que diz: "O que é meu é teu e o que é teu é teu" - ele é um homem santo. E aquele que diz: "O que é seu é meu, e o que é meu é meu" - ele é um homem mau. (Pirkei Avot, cap. 13)

Daí, podemos mais uma vez inferir que Sodoma e Gomorra eram cidades de egoísmo abundante. Além disso, os povos semitas valorizam por demais a lei de hospedagem, isto é, a necessidade de acolher bem aos viajantes que chegam na casa de alguém. Isso aparece implicitamente por toda a Bíblia (como por exemplo em Ex 22.21), com os espias de Josué sendo acolhidos na casa de Raabe (Js 2.1), José e Maria sendo acolhidos em um estábulo, quando não encontraram lugar para pernoitar (Lc 2.7), Jesus sendo acolhido por Zaqueu (Lc 19.5) e Paulo por Judas de Damasco (Atos 9.11). O Alcorão igualmente valoriza essa prática. Por outro lado, quando os anjos apareceram a Ló na porta de Sodoma e foram acolhidos por ele, os habitantes da cidade que os viram logo organizaram uma milícia para violentar ou humilhar os visitantes, como se fazia com os vencidos numa guerra.

Os dois anjos chegaram a Sodoma ao anoitecer, e Ló estava sentado à porta da cidade. Quando os avistou, levantou-se e foi recebê-los. Prostrou-se, rosto em terra, e disse: "Meus senhores, por favor, acompanhem-me à casa do seu servo. Lá poderão lavar os pés, passar a noite e, pela manhã, seguir caminho. Não, passaremos a noite na praça", responderam. Mas ele insistiu tanto com eles que, finalmente, o acompanharam e entraram em sua casa. Ló mandou preparar-lhes uma refeição e assar pão sem fermento, e eles comeram. Ainda não tinham ido deitar-se, quando todos os homens de toda parte da cidade de Sodoma, dos mais jovens aos mais velhos, cercaram a casa. Chamaram Ló e lhe disseram: "Onde estão os homens que vieram à sua casa esta noite? Traga-os para nós aqui fora para que tenhamos relações com eles". Ló saiu da casa, fechou a porta atrás de si e lhes disse: "Não, meus amigos! Não façam essa perversidade! (Gn 19.1-7)

Ló não era natural da cidade, mas de repente teve de se confrontar com uma prática daquele povo que todos os semitas abominariam. Muitos teólogos associam aqui uma prática homossexual disseminada em Sodoma, o que certamente não parece ser o caso, dada a atitude de Ló, inconcebível nos dias de hoje:

"Não, meus amigos! Não façam essa perversidade! Olhem, tenho duas filhas que ainda são virgens. Vou trazê-las para que vocês façam com elas o que bem entenderem. Mas não façam nada a estes homens, porque se acham debaixo da proteção do meu teto". (Gn 19.7-8)

A ABOMINAÇÃO DE SODOMA

Não há dúvidas de que o extermínio das cidades da planície foi um evento genocida, ou seja, com o objetivo de destruir todo um povo com determinada característica que o Senhor achou extremamente nociva ao seu povo, que começava a crescer no lado oeste do Jordão. A destruição de Sodoma e Gomorra (e demais cidades vizinhas, com exceção de Zoar) foi o 2º evento mais destrutivo da história bíblica, perdendo apenas para o Dilúvio.

As cidades da planície ficavam em território dos Cananeus (descendentes de Canaã, neto de Noé). Os Cananeus habitaram a região entre o Mediterrâneo e o vale do Jordão de 8000 a 1000 a.C., sendo conhecidos a partir de 4000 a.C. como comerciantes de azeite, vinho, pistache, trigo e cevada. Entre os principais povos com os quais se relacionavam estavam o Egito e a Suméria, que compravam tinturas de conchas. As escavações arqueológicas na região revelaram bastante sua cultura: os deuses principais eram Baal (senhor dos montes) e Astarte (a deusa da fertilidade, conhecida como Ishtar entre outros povos). Baal era retratado como um jovem guerreiro e vingador, geralmente segurando uma lança. Astarte era descrita como uma mulher sedutora, geralmente de quadris largos e seios grandes, às vezes também uma grávida.

Os cultos de Baal eram realizados ao redor de pilares sagrados nos montes (Jz 2.13, 1Rs 11.5), com o sacrifício de animais como oferenda, a exemplo do que os hebreus faziam. No entanto, entre os restos de sacrifícios foram encontrados ossos de porcos, um animal tido como imundo pelos hebreus, e também restos de crianças. Os animais e as crianças tinham seu sangue recolhido em reentrâncias com formato e tamanho de xícaras ao redor dos pilares, e depois eram enterrados ao redor deles. Já os cultos de Astarte eram realizados em templos, onde sacerdotisas e sacerdotes separados se ofereciam à prática de relações sexuais com o objetivo de produzir a reprodução dos animais e das plantas sobre a terra. Curiosamente, o povo Cananeu originalmente adorou a Javé, constituindo um contraponto aos Sumérios na região. Com o passar do tempo, entretanto, absorveram deuses Sumérios e elaboraram suas próprias divindades pagãs (isto é, ligadas à terra).

Os Cananeus também tinham lugares de adivinhação, como os gregos. Eram basicamente cavernas com espaço para 1 ou 2 pessoas, as quais se comunicavam por orifícios na pedra com outras cavernas vizinhas ocupadas pelos sacerdotes ou adivinhos. Dessa forma, as vozes dos adivinhos pareciam vir da própria terra! Vários lugares assim foram encontrados na Grécia e também em Canaã, assim como nas bordas da planície ao redor do Mar Morto, muitas vezes com objetos rituais deixados em seu interior.

O profeta Ezequiel usa a palavra “abominação” especialmente para definir os ídolos que existiam em toda terra de Canaã. Aparentemente, esse desvio de um povo originalmente ligado aos hebreus foi o que despertou a ira do Senhor, de forma semelhante ao que aconteceria mais tarde no Êxodo, quando os hebreus passaram a cultuar o deus-boi Ápis, do Egito, fazendo-lhe um ídolo revestido de ouro (Ex 32.1-6).

O texto de Judas dá uma referência diferente ao pecado de Sodoma e Gomorra:

Mas quero lembrar-vos, como a quem já uma vez soube isto, que, havendo o Senhor salvo um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu depois os que não creram; e aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia; assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno. (Jd 1.5-7)

Aqui, Judas Tadeu, um dos apóstolos, dá a entender que grandes motivos de condenação ao inferno eram a vinda de anjos à Terra para se relacionarem com humanos (Gn 6.1-7) e a fornicação (também traduzida como prostituição) de Sodoma e Gomorra, que “foram após outra carne”. Na Bíblia, o termo “prostituição” é ligado ao ato sexual, mas também fortemente ligado à idolatria:

E sucedeu que, como Gideão faleceu, os filhos de Israel tornaram a se prostituir após os baalins; e puseram a Baal-Berite por deus. (Jz 8.33)

Quando alguém se virar para os adivinhadores e encantadores, para se prostituir com eles, eu porei a minha face contra ele, e o extirparei do meio do seu povo. (Lv 20.6)

Disse mais o SENHOR nos dias do rei Josias: Viste o que fez a rebelde Israel? Ela foi a todo o monte alto, e debaixo de toda a árvore verde, e ali andou prostituindo-se. (Jr 3.6)

O fato de “ir após outra carne” pode ter muitas interpretações, mas considerando-se as falas de Jesus, podemos entender que se trata de acreditar em homens e não em Deus, os tais “adivinhadores” que conduziam os homens e eram comuns nas cidade da planície, enfurecendo o Senhor: "Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens. E, chamando a si a multidão, disse-lhes: Ouvi, e entendei: O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem. Então, acercando-se dele os seus discípulos, disseram-lhe: Sabes que os fariseus, ouvindo essas palavras, se escandalizaram? Ele, porém, respondendo, disse: Toda a planta, que meu Pai celestial não plantou, será arrancada. Deixai-os; são condutores cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova". (Mt 15.8-14)

Um dos livros apócrifos escrito por volta de 600 a.C., conhecido como livro de Jasher (ou ainda "Sepir Ha Yasher", ou ainda Sabedoria dos Justos) comenta sobre as abominações de Sodoma e Gomorra e a batalha onde os reis da cidades da planície lutaram contra os babilônicos. Nesse livro, conta-se que habitantes das cidades costumavam ir por 4 vezes ao ano para um vale com suas famílias e lá entregarem-se a relações sexuais entre eles, trocando esposas e esposos, jovens e velhos, para depois retornarem a suas casas e ocupações sociais, sem dizer uma palavra (cap. 18). Não há como negar que esse habito se parece muito com os "bacanais", rituais pagãos de fertilidade que existiram na Grécia e em Roma, realizados nos solstícios e equinócios.

O Livro de Jasher ainda conta sobre uma lei das cidades sobre dar prata aos que apareciam pedindo por comida. Então esperavam que o viajante morresse de fome, para depois pegar de volta a prata que haviam dado. Na estória, uma das filhas de Ló ilude os homens da cidade para levar pão a um faminto e acaba sendo presa e morta numa fogueira por ter ajudado o viajante (cap. 19). Essa estória também se pareia muito bem com o tratamento dado pelos homens da cidade aos viajantes (anjos) que Ló recebeu em sua casa.

Dessa forma, embora o termo “sodomia” tenha adquirido conotações sexuais ao longo da história, Sodoma e Gomorra parecem ter sido aniquiladas devido a violações explícitas do código hebreu sobre o qual haviam surgido, tanto por sua adoração a deuses pagãos como por sacrifícios de inocentes e o enaltecimento do egoísmo como se fosse uma virtude.

O PARENTESCO COM OS HEBREUS

Esse é exatamente o ponto que coloca o genocídio das cidades como uma eliminação daquilo que poderia se propagar ao povo de Abraão, no lado oeste do Jordão. Por volta de 2350 a.C. A dinastia dos reis nas cidades da planície era aparentada com os hebreus. A aceitação de Ló e seu clã em Sodoma mostra exatamente isso: se era lei matar de fome os estrangeiros ou quem os ajudasse, como Ló se estabeleceu facilmente lá, vindo dentre os Caldeus junto com Abraão?

Também, quando o Senhor revela a Abraão o seu plano para destruir as cidades, Abraão começa uma espécie de “pechincha” para convencer o Senhor a não realizar Seu intento.

Destruirás também o justo com o ímpio? Se porventura houver cinqüenta justos na cidade, destruirás também, e não pouparás o lugar por causa dos cinqüenta justos que estão dentro dela? Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra? Então disse o SENHOR: Se eu em Sodoma achar cinqüenta justos dentro da cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles. E respondeu Abraão dizendo: Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza. Se porventura de cinqüenta justos faltarem cinco, destruirás por aqueles cinco toda a cidade? E disse: Não a destruirei, se eu achar ali quarenta e cinco. E continuou ainda a falar-lhe, e disse: Se porventura se acharem ali quarenta? E disse: Não o farei por amor dos quarenta. Disse mais: Ora, não se ire o Senhor, se eu ainda falar: Se porventura se acharem ali trinta? E disse: Não o farei se achar ali trinta. E disse: Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor: Se porventura se acharem ali vinte? E disse: Não a destruirei por amor dos vinte. Disse mais: Ora, não se ire o Senhor, que ainda só mais esta vez falo: Se porventura se acharem ali dez? E disse: Não a destruirei por amor dos dez. E retirou-se o SENHOR, quando acabou de falar a Abraão; e Abraão tornou ao seu lugar. (Gn 18.23-33)

O que se segue é justamente um par de anjos chegando a Sodoma para retirar de lá a Ló, sua esposa e as duas filhas. Abraão conseguiu salvar os justos, mas não impediu que as cidades fossem destruídas. O sofrimento de Abraão e seu esforço pelas cidades, em mais de uma ocasião, novamente reforça quanto os hebreus no oeste do Jordão eram ligados aos Cananeus do outro lado. Essa ligação, da mesma forma que havia possibilitado a Ló se estabelecer em Sodoma, muitas vezes permitiu que os Cananeus e até os Moabitas levassem seus costumes (e principalmente seu culto pagão) para o povo hebreu. Mesmo depois da destruição das cidades, não faltaram profetas falando contra os cultos dos “altos” (ou postes-ídolos) e de Baal entre os hebreus.

Se era abominável ao Senhor ver esses cultos vindo ao Seu povo a partir dos estrangeiros, quanto mais seria de outros hebreus?

Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando dividia os filhos de Adão uns dos outros, estabeleceu os termos dos povos, conforme o número dos filhos de Israel. Porque a porção do SENHOR é o seu povo; Jacó é a parte da sua herança. Achou-o numa terra deserta, e num ermo solitário cheio de uivos; cercou-o, instruiu-o, e guardou-o como a menina do seu olho. … Ele o fez cavalgar sobre as alturas da terra, e comer os frutos do campo, e o fez chupar mel da rocha e azeite da dura pederneira. Manteiga de vacas, e leite de ovelhas, com a gordura dos cordeiros e dos carneiros que pastam em Basã, e dos bodes, com o mais escolhido trigo; e bebeste o sangue das uvas, o vinho puro. … 

E, engordando-se Jesurum, deu coices (engordaste-te, engrossaste-te, e de gordura te cobriste) e deixou a Deus, que o fez, e desprezou a Rocha da sua salvação. Com deuses estranhos o provocaram a zelos; com abominações o irritaram. Sacrifícios ofereceram aos demônios, não a Deus; aos deuses que não conheceram, novos deuses que vieram há pouco, aos quais não temeram vossos pais. … Porque a sua vinha é a vinha de Sodoma e dos campos de Gomorra; as suas uvas são uvas venenosas, cachos amargos têm. … Esconderei o meu rosto deles, verei qual será o seu fim; porque são geração perversa, filhos em quem não há lealdade. ... Porque um fogo se acendeu na minha ira, e arderá até ao mais profundo do inferno, e consumirá a terra com a sua colheita, e abrasará os fundamentos dos montes. Males amontoarei sobre eles; as minhas setas esgotarei contra eles. (Dt 32)

VAI LÊ TAMÉM, Ó...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O evangelho dos desconstrutores


Texto original furtado copiosamente do Ministério Sementes de Cristo. Mantenha sigilo.

2Tm 3.1-5Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. 

O amor que temos por nós mesmos é uma de nossas causas de impedimento para amarmos ao próximo e a Deus. Todo o pecado procede do amor egoísta que temos por nós mesmos. Não que esse amor seja de todo ruim: Jesus mandou que amássemos ao próximo como a nós mesmos, sem excluir nenhum dos dois. Mas quando reforçamos o amor a nós mesmos, somos recompensados de forma previsível, o que é ser recompensado DUAS vezes; uma pela recompensa do amor que nos protege, outra porque essa ação diz que somos SENHORES de nós mesmos. Amar ao próximo, por outro lado, não traz recompensa. Se traz, é um "amor com anzol", que na verdade é amor a nós mesmos. Amar ao outro só por ele mesmo só pode ser recompensado por Deus. Isso exige nossa fé, e o nosso EU não é lá dos melhores, que se satisfaça com a fé.

Quando seguimos a Jesus e andamos com Ele, deixamos de lado o amor próprio e passamos a amar ao outro, ai passamos a amar a Deus. Nossos objetivos não existem mais e passamos apenas a termos como objetivo salvar vidas e almas, anunciando a Jesus o Salvador, falando de seu amor e demonstrando este amor. Simplificando, não complicando ainda mais a vida das pessoas.

Jesus certa vez contou que aquele que se exalta SERÁ humilhado. Em seguida olhou os fariseus e os acusou de fechar o Reino dos Céus aos homens e a si mesmos em suas complicações, que só desviam os homens da vontade de Deus acerca do amor e santidade (Mt 23.12-13).

NÃO NOS CABE SER ACUSADORES, mas sim restauradores de pessoas. Jesus não veio acusar ou punir, mas sim ensinar e remediar. Certamente não podemos resolver todos os problemas do mundo, mas precisamos fazer a nossa parte com fé que Jesus fará a Dele, transformando os corações e os convertendo em amor. O amor Dele é grande e inexaurível, grande o suficiente para contaminar as pessoas para que deixem de amar a si mesmo para amar ao outro, se alegrar com a alegria do outro e chorar com a tristeza do outro. Nossos problemas, ainda que sejam problemas, ficam em segundo plano SE passamos a tentar a ajudar a que o próximo resolva o seu com Cristo.

Loucura? Sim, Ele mesmo anunciou que o seu ministério seria chamado loucura perante os homens.

Nossas angustias somem, porque damos ânimo a angustiados. Ele nos convocou a essa tarefa. Nossas verdades desaparecem, para que a verdade da palavra Dele brilhe diante dos olhos do próximo. Nossos desejos são satisfazer desejos, nossas ações são para edificar e não destruir. Nossos passos são pequenos, mas caminham numa única direção. Não construímos barreiras: nós destruímos muros.

Não somos fortes, porque na nossa fraqueza é que somos sólidos em Cristo. Tentamos ser firmes, mais vacilamos e nos arrependemos, por não sermos consumidos em nossas falhas, mais agradecidos pela misericórdia derramada.

O amor próprio é o que o mundo ensina e cobra. Mas esse amor próprio nos destrói e nos afasta de Deus. Por nos amarmos, ACHAMOS QUE SOMOS MERECEDORES DE ALGUMA COISA. Não somos! Achamos que somos justos. E nem passamos perto de saber o que é justiça! Achamos que podemos agradar a Deus e achamos que o decepcionamos. Sempre buscamos os nossos interesses e furamos fila, deixando os interesses dos outros para depois. Primeiro eu, depois eu, depois eu e aí QUEM SABE os outros. Se aparecer algo bom, “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Egoísmo... Somos muito egoístas e ainda achamos que somos amantes de Deus e do próximo. PODEMOS CONQUISTAR O AMOR DELE  SE NÃO TEMOS SEQUER O NOSSO AMOR?

Quem somos? Nada somos sem o Espírito de Deus em nós! Portanto devemos nos deixar sermos guiados e pendermos para o lado do vento que vem dos céus. Soprado do trono do Rei, que nos dá animo e nos impulsiona a praticarmos as boas obras.

Por isto somos apenas pó. Mais quando o nosso Rei Jesus dá ordem, a poeira do pó se junta e se cola e dá liga, então participamos do corpo de Cristo e ninguém pode ser contra nós, por que o Rei está agindo através de nós. E o Rei só age através de nós, se estivermos dispostos a amar como Ele nos amou. Ai podemos dizer que, em nós também está consumado, pois já não vivemos em nós mesmos mais Cristo em nós vive.

Somos diferentes, mais o amor nos une e por isto sabemos respeitar as nossas diferenças que convergem para o que é perfeito. Em Cristo. Somos moldados até que tenhamos nos tornado sem mácula, quando nos deixamos ser lavados pelo sangue do cordeiro então, por meio de água e pela palavra estamos prontos para adentrar ao reino que nos está preparado desde a fundação do mundo. Pois foi nos dada uma marca que é Cristo. E não é uma marca para vermos, mas para mostrarmos aos demais. Essa marca não nos pode ser tirada, ainda que tentem arrancá-la, ela não sai, porque nada pode nos separar do amor que está Nele.

Obrigado meu Rei, por me amar primeiro para que eu soubesse que o amor é bom e poderoso.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Ainda é possível ser feliz a dois?


isso também é sexo?

Esse é um recorte do iG São Paulo, felizmente guardado pelo Valter Jr. Depois, claro, falamos dele.

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Na última década, os números de divórcios bateram recordes atrás de recordes no Brasil, ano após ano. O único ano que isso não aconteceu foi em 2004, quando também não houve queda, apenas estabilização da taxa.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano passado foram registrados cerca de 188 mil divórcios no País, ou seja, para cada cinco casamentos há um divórcio. Quem faz parte dessa estatística é a agente de viagens Ângela Maria Nogues, 49. Depois de 25 anos de união, entre casamento e namoro, dois filhos e uma traição, ela resolveu se separar. “Não digo que foi fácil, mas hoje sei que o divórcio me fez um bem enorme”, diz.

Para Nelson Sussumo Shikicima, presidente da comissão de direito da família da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), a descomplicação da lei dos divórcios, que hoje podem ser feitos nos cartórios, ajuda a elevar ainda mais essas taxas. “Agora você pode casar em um dia e se divorciar no outro, de forma mais barata e sem complicações de justiça”, diz. Mas faz uma ressalva: quem quiser se reconciliar terá que casar outra vez (para isso que antigamente servia o período de separação).

Entre 1984 e 2007, o aumento no número de divórcios foi de 200%. Outro dado importante, ainda é a mulher que costuma terminar o casamento: dos 188.098 pedidos de divórcio feitos no ano passado, 71,7% partiram delas. “Isso desmente que a mulher tenha o casamento como interesse”, diz Shicicima. Segunda ele, nada indica que essa tendência irá mudar.

Ângela conta que levou quatro anos para reestruturar a vida, mas fez amigos novos, aulas de dança e hoje namora um homem que a respeita e trata com carinho. O que ela acha do divórcio? “Uma benção. A vida já nos traz tantas preocupações, por que viver com quem não nos dá valor?”, questiona.

Experimentações sexuais
Depois da geração Y, conheça a geração flex

Se no começo dos anos 60 alguém dissesse que em 2010 seria tão fácil se divorciar quanto se casar, ou que as mulheres não subiriam virgens ao altar, essa pessoa provavelmente seria internada como louca. Por isso, quando a sexóloga Regina Navarro diz que a bissexualidade é uma tendência que deve predominar nas próximas décadas, é melhor não duvidar.

Não é novidade que os jovens iniciam a vida sexual hoje mais cedo, com cerca de 15 anos. Há uma década costumava ser por volta dos 17. O que mudou em 2010 foi o surgimento do que Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos do sexo da USP, chamou de “geração flex”. Meninos e meninas que iniciam a vida sexual com meninos e meninas do mesmo sexo.

Regina acha que as barreiras entre o que é masculino e feminino estão se dissolvendo. “Não há mais nada que interesse ao homem e que não interesse à mulher, e vice-versa”, diz. Com isso, a tendência é buscar no objeto amoroso características de personalidade que lhe agradam. O que não precisa estar necessariamente no sexo oposto. Para ela, isso tem acontecido principalmente com as meninas. “Não quer dizer que teremos um maior numero de lésbicas. Mas quem tiver tendência ao homossexualismo talvez se encontre mais cedo”, diz Carmita, que também é autora do livro “A Descoberta Sexual do Brasil”.

As duas especialistas concordam quando o assunto são os meninos. “Para eles ainda é muito mais difícil se liberar de estigmas da sociedade patriarcal, na qual ele é o forte, o que não chora e o que tem a homossexualidade ainda quase como doença”, diz Regina, autora do polêmico “A Cama na Varanda”.

No entanto, estudos recentes mostram que até entre os meninos há uma novidade que era inaceitável há dez anos. “Eles agora entendem a possibilidade de serem traídos; não que desejem, mas passam a compreender que se eles traem podem ser traídos”, conta Carmita. Parece que é o começo do fim da filosofia “joga pedra na Geni”. E mais um sinal de uma sociedade mais igual entre homens e mulheres.

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Dentro dessa temática de sexualidade, é difícil ficar indiferente quando se fala em tantos “finais” de casamentos. São famílias desfeitas! Ok, você pode dizer que agora as pessoas sentem liberdade para não ficar casadas à força. Liberdade é muito legal. Mas já parou para pensar o quão pouco se tem investido nos relacionamentos? Fala-se demais em “encontrar a pessoa certa”, mas nem se menciona “ser a pessoa certa”. Por algum motivo, agora Deus precisa nos colocar junto com alguém que seja naturalmente ideal para nós ou usamos contra Ele a nossa liberdade - deixamos o outro e vamos procurar a cara metade noutro lugar. Por trás da “liberdade” nos relacionamentos (e o afrouxamento das leis reflete essa necessidade humana), está o fato de que nós estamos muito menos flexíveis quanto às nossas vontades. O parceiro que se adapte a mim: se não, se o “encaixe” não for bom, procuro outro. Talvez chegue o dia em que trocaremos de filhos, até achar um agradável, ou que troquemos de deus, para achar um que seja do nosso jeito (!).

Já pensou se Jesus procurasse discípulos que fossem adequados a Ele?

Quando largamos um relacionamento para procurar outro, estamos desistindo de estar felizes com aquele a quem dissemos amar. No namoro, estamos APRENDENDO a amar mas, no casamento, espera-se que seja um amor para toda a vida. É curioso ver que muitos separados tornam a casar, dizendo ter encontrado o “verdadeiro amor”. A imaturidade com que as pessoas propõem casamento não combina com a inflexibilidade que cultivam.

Ok, separações podem ser inevitáveis se um dos lados exigir demais do outro. Mas nós cristãos precisamos DEMONSTRAR que somos diferentes, fazer um esforço a mais não para “nos amoldarmos ao outro”, mas para “buscar a felicidade de uma forma diferente do que imaginamos”. Para começar, a felicidade do parceiro precisa ser o ideal de um relacionamento. Isso significa ir a lugares que não são seus preferidos (mas serão, se isso agradar o outro), fazer coisas que não são do seu agrado (mas serão, pelo mesmo motivo), etc. As pessoas têm desistido facilmente uns dos outros, têm desejado uma felicidade “de mão beijada”, como se diz para aquilo que é ganho sem esforço. Pior do que isso, têm construído relacionamentos para agradar a si mesmas. E o parceiro, nessa?

É uma tradição do ocidente que se aprenda muito pouco sobre sentimentos, a vida toda. Para a imensa maioria, os sentimentos são aprendidos pela experimentação, sem conselhos válidos dos pais ou de amigos, sem outra referência além do que a mídia diz. Se falam que separar é bom, eu me separo. Se dizem que ser homossexual é bacana, vou experimentar isso. Se criminoso aparece como homem de status, vou agir como criminoso. Que bando de “maria-vai-com-as-outras” estamos nos tornando! Apesar de o Evangelho ser gritado em 12 canais de TV, manhã, tarde, noite e madrugada, o que é que isso tem nos ensinado sobre como participar da nossa própria família? Talvez tenha ensinado a abandonar o barco no primeiro balanço, ou talvez que a família vale muito pouco, ou que só podemos ser felizes seguindo as próprias regras.

Também, não aprendemos a dar valor nos papéis sócio-familiares dos homens e mulheres. Muitos garotos não se orgulham do pai, ou não vêem o pai sendo homem fora de casa. Porque faria questão de ser como ele? E o pai também não reconhece sua função. Muitas meninas não se orgulham das mães, não vêem ela agindo perante a sociedade. Iriam querer ser como ela? Será que a mãe sabe o exemplo que dá? O vazio de valores faz com que homens e mulheres, no fim, somente tenham de referência sexual o próprio corpo. É pouco, e nessa confusão a bi-sexualidade e a a-sexualidade aumentam, como uma espécie de caos. Não faz mais diferença ser homem ou mulher, e como isso se distancia dos propósitos que Deus deu à humanidade!

É engraçado ver que as pessoas estão cada vez mais rígidas quanto ao que querem e cada dia mais flexíveis quanto ao que consideram seus deveres sociais ou perante Deus.

Eu admito que um mundo patriarcal é ruim, principalmente para quem não é a liderança. Nascer mulher e aprender que você não tem voz é péssimo. Mas ficar sem saber o que é ser mulher e o que é ser homem também não ajuda. De novo, no ocidente nós somos crentes de que essa diferença se sabe desde o nascimento, ou então seria ensinado. Como não é ensinado, você deveria saber. Claro que alguns parecem saber. Mas e quem não sabe?

A bíblia ensina bastante sobre homens e mulheres. Claro que os escritores são antiquados: o mais novo deles morreu a pelo menos 1700 anos. Mas ali há uma demonstração do que Deus esperava de homens e mulheres quando os fez. Ele não os fez a-sexuados: deu sexualidade a ambos e ensinou como proceder para ser felizes.

Aos homens coube liderar a família, ser aquele que proveria as regras do lar. Repare que isso não é tirania: é governo e, se é baseado em Deus, é governo com amor. É estabelecer firmeza, mas buscando o bem dos demais acima do o próprio bem. Deus ensina que o homem deve seduzir a (sua) mulher no dia a dia, e deve ser um exemplo para os demais. À mulher coube acolher as pessoas, dar amor através do auxílio e do gerenciamento das emoções - Jesus foi sempre auxiliado por mulheres. A mulher também precisa maravilhar o (seu) homem. Certamente todos temos esses “arquétipos” de um pai a quem temer e uma mãe com quem se poderá contar. Homens e mulheres são propósitos (diferentes) de Deus e ele fez nossos corpos e mentes habilitados para sermos como Ele deseja.

Detalhe: as pessoas não nascem assim resolutas. Não é fácil ser homem, nem tampouco ser mulher. Todos precisamos ser ensinados e vamos aprender por toda a vida. Aprenderemos com os pais? Um pouco. Aprenderemos com a sociedade? Outro tanto. Aprenderemos com Deus? Espera-se que sim, mais um tanto. Num mundo ideal, os pais e a sociedade ensinarão o que vem de Deus. Não que Ele seja egoísta - Ele simplesmente é o Criador.