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sábado, 6 de julho de 2013

O hinário e os hinos

1º Hinário brasileiro, de 1855 - Igreja Evangélica Fluminense
(clique para ampliar)

A música é a expressão de sentimentos através de vibrações sonoras, uma “linguagem por detrás das palavras”. Existe certa musicalidade até no que falamos, e não por acaso a música sempre foi atrelada nos ritos religiosos. Aprender sobre Deus COM MÚSICA é, para todos os humanos, melhor do que aprender SEM MÚSICA. Mas, claro, a Bíblia não é uma coleção de livros de música. Mesmo os Salmos, que são canções, não trazem qualquer tipo de partitura e só possuem alguma sonoridade se cantados no dialeto hebraico original. Dessa forma, a música nas igrejas cristãs precisou ser criada, inventada, ritmada. Como fazê-lo?

O primeiro contato que temos com a música é no ambiente profano, mesmo aquelas canções infantis que usamos para ensinar algo às crianças: Boi da cara preta, Era uma casa muito engraçada, etc. Uma boa harmonia ou ritmo sempre cativam, e a música ainda traz valores culturais, pessoais, do tempo de cada um. Todo os povos são dotados de musicalidade, não existe nem um povo que não tenha sua própria música, assim como não existe ninguém que não aprecie algum tipo de música.

Seria a música profana algo maligno? Paulo recomenda à igreja de Filipos: “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Filipenses 4.8). Paulo não tinha uma Bíblia; assim como ele recomenda, convém que comparemos o que ouvimos com o que realmente é TEXTIFICADO como verdade. Há coisas lindas que as pessoas podem produzir, mas há coisas lindas que podem ser contrárias à Bíblia. Vão dois exemplos de canções consagradas:

Eu sei que vou te amar; por toda a minha vida eu vou te amar; em cada despedida eu vou te amar; desesperadamente, eu sei que vou te amar... (Eu sei que vou te amar, Tom Jobim)

Eu aprendi; a vida é um jogo; cada um por si; e Deus contra todos; Você vai morrer; e não vai pro céu; é bom aprender; a vida é cruel... (Homem Primata, Titãs)

Na 1ª delas, temos uma declaração de amor erótico, de uma mulher para um homem (vejam a letra completa). Isso é bíblico! O Cântico dos Cânticos é muito mais erótico do que Tom Jobim já conseguiu ser. Na 2ª canção, “cada um por si” e “Deus contra todos” simplesmente negam o ensino bíblico de Gênesis a Apocalipse. A letra é poética, o ritmo e a melodia são geniais, mas é encher os pensamentos com aquilo que Paulo mandou rejeitar.

Alguém talvez diga: mas os compositores não são cristãos. Na Bíblia, a maior parte dos personagens também não era. Pregamos um Jesus que visitava os endemoniados e os leprosos, que andava na companhia de publicanos “impuros” e até comia em suas casas. Cada coisa é simplesmente aquilo que apresenta! No caso da música, significa que ela pode trazer elementos cristãos ou não, sem que isso se atrele a sua qualidade sonora.

A MÚSICA SACRA

Música sacra é aquela que tocamos ou cantamos especificamente em ambientes sagrados, com propósitos religiosos. Ninguém é contra ouvir música sacra em casa, mas certamente ouvir música profana no local de culto está fora de questão. Pensamos que é necessário garantir dignidade do templo - o prédio - ao invés de devolver às mãos do Senhor os flagelos com que Ele expulsou os profanadores em Jerusalém. Mas se a música é atraente, se aprendemos música fora do culto, é realmente difícil separar as duas coisas.

Pelo seu poder comunicativo, a música sacra pode acrescentar mais eficácia à pregação. Ela pode criar um elo entre o coração e o texto bíblico. E por isso desejamos que ela seja santa, que exclua todo o profano em si mesma, nas pessoas que tocam ou cantam, no modo como é executada e até na vida do compositor. Mas a música é por demais humana para isso... Se ela for arte verdadeira, se permitir a cada nação incluir como sacras as suas composições religiosas, sua música própria, então como podemos falar em algo TEOLOGICAMENTE universal?

A Bíblia não nos fornece qualquer ensino objetivo de como fazer cultos entre 4 paredes. As descrições são fragmentadas, dispersas em textos com outros propósitos. O seja, a Igreja não tem exemplos das Escrituras para desenvolver serviços de culto! Assim, há uma busca pelos “princípios escriturísticos de culto”, oque depende do entendimento, valores de cada um, etc, variando um tanto entre as culturas e pessoas.

No mundo Católico, existe uma “fórmula ideal” para as missas. Mostraremos a seguir que isso variou muito ao longo do tempo, entretanto. No mundo Protestante, não existe essa fórmula. Para Lutero, por exemplo, as questões litúrgicas (ou seja, referentes ao FORMATO do culto) não eram prioritárias – ele simplesmente conservou a liturgia das missas Católicas. Para as novas Igrejas surgidas após 1500, entretanto, esta era uma questão essencial. O famoso teólogo Protestante Ulrich Zwinglio (1484-1531) enfatizou a pregação da Palavra como elemento central do culto. Ele até suspeitava do “poder sedutor” da música, banindo da Igreja todo tipo de música, artes visuais, iconografias, mandou pintar todas as paredes de branco. Esse modelo mais ou menos continua até hoje.

NATUREZA DA MÚSICA SACRA

Nem toda música na Bíblia é música sacra. Há canções de guerra, de lamento, de vitória. E há canções dedicadas ao Senhor. Talvez a aparição mais inquietante da música sacra seja no livro de Jó, o mais antigo das Escrituras, onde lemos que quando Deus lançava os fundamentos da terra, as estrelas da alva cantavam e todos os filhos de Deus rejubilavam (Jó 38.1-7). Se compararmos esta passagem com Isaías 14.12 onde Lúcifer é chamado de estrela da manhã e filho da alva, podemos entender que, mesmo antes da criação do universo, havia no céu uma hoste angelical separada para cantar louvores ao Eterno Deus, da qual Lúcifer parece ter sido o regente (Ezequiel 28.12-15).

A mais forte aparição de música sacra sem dúvida são os 150 Salmos, escritos por Davi e os músicos que ele designou para o Templo. Todos são canções de culto; 55 deles contêm instruções para os regentes sobre a execução de vários instrumentos musicas e as melodias para acompanhamento. Infelizmente, tais melodias não foram “partituradas”.

Os judeus (como nós) faziam canções para os momentos de festa e para os de tristeza. Isso não excluía os cultos. Assim, se tomarmos os Salmos como exemplo, as canções/orações no culto não precisam ser espetáculos vibrantes, eufóricos. Ali também tem muito sofrimento... Há hora para festejar e hora para chorar! O apóstolo Tiago nos deixou esse ensino: “Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores” (Tiago 5.13). Há muito tempo, os compositores de música sacra perceberam que a música influenciava emocionalmente as pessoas. Hoje, dizemos que tem funções de impressão e de expressão.

IMPRESSÃO tem a ver com criar uma atmosfera propícia, que exaltar as pessoas dependendo de sua susceptibilidade ou carências momentâneas. A música de impressão é capaz de criar diferentes “climas”: alegria, paz, tristeza, majestade, etc. Embora possa vir acompanhado de texto, esse tipo de música não depende dele. Ela valoriza o som em si, seu objetivo é emocionar as pessoas, criar um ambiente místico. A música de excelência na Igreja Católica é o Canto Gregoriano, criado pelo papa Gregório Magno entre os séculos 6 e 7. Claramente, a função do canto gregoriano é de “impressão”, usando textos muito curtos em latim ou grego, que são cantados beeem lentamente. Afinal, a liturgia da missa era “mágica” e beneficiaria os presentes, quer entendessem ou não.


A música de EXPRESSÃO é elaborada intencionalmente para que ressaltar o texto, fixá-lo nas pessoas. Como as canções de Tom Jobim e dos Titãs acima! Ela é um veículo para o texto, eleva a letra e não a melodia. No ambiente religioso, talvez os Salmos ofereçam o exemplo mais excelente de música de expressão.

Ouça aqui os salmos cantados (a numeração é a grega, usada nas Bíblias Católicas. Em geral, isso representa -1 na numeração hebraica, usada pelos Protestantes)

Nas palavras do reformador João Calvino (1509-1564), “... o canto por um lado concilia dignidade e graça aos atos sacros, por outro, muito vale para incitar os ânimos ao verdadeiro zelo e ardor ao orar. Contudo, impõe-se diligentemente guardar que não estejam os ouvi dos mais atentos à melodia que a mente ao sentido espiritual das palavras...”.

Essa fala repetia Santo Agostinho, que estruturou a teologia cristã no séc. 4: “Porém quando me lembro das lágrimas derramadas ao ouvir os cânticos da vossa Igreja nos primórdios da minha conversão à fé, e ao sentir-me agora atraído, não pela música, mas pelas letras dessas melodias, cantadas em voz límpida e modulações apropriadas, reconheço, de novo, a grande utilidade desse costume... Quando, às vezes, a música me sensibiliza mais do que as letras que se cantam, confesso com dor que pequei”.

Dessa forma, a emoção e a música de impressão no culto têm seu lugar: a emoção deve passar pelo entendimento das verdades de Deus, e não ser um fim em si mesma. Portanto, uma música sacra ruim é aquela que chama demais a atenção para si (seja pelo ritmo intenso, seja pela melodia enfática), desviando a atenção da Palavra. A boa música sacra, por outro lado, abre caminho para o texto, explica e inculca-o.

Convém explicar algo mais de música. RITMO é a marcação do tempo ou a freqüência em que a ação se repete. O ritmo mexe com a velocidade com que pensamos, com a nossa excitação, podendo ser algo lento como um canto gregoriano ou rápido como uma balada de rock. Já a MELODIA é a sucessões de sons diferentes, e ela mexe com nossas emoções. Não há necessidade do Espírito Santo para fazer um auditório chorar; basta usar a melodia certa! Harmonia pode ser definida como os sons simultâneos numa música. A combinação de vozes em um coral, por exemplo, forma uma harmonia. A harmonia excita e exige do intelecto para ser decifrada, analisada. Mozart usava a harmonia como ninguém.

O detalhe é que nosso cérebro é limitado nas informações que consegue receber. Quando uma música valoriza demais o ritmo, o entendimento da letra é desligado. Por isso, o ritmo é um dos elementos mais valiosos para o desligamento das pessoas nos centros de umbanda, ioga, zen budismo, etc.. "Mantra" nada mais é do que uma pequena melodia repetida tantas vezes que se torna um ritmo. Excesso de ritmo leva as pessoas a pararem de pensar. O excesso de melodia também é ruim: as pessoas se emocionam, choram ou riem, sem que a Palavra seja sequer compreendida. Já o excesso de harmonia pode tornar uma música tão complexa que as pessoas mais simples deixam de identificá-la como música. É preciso moderar os elementos da música, se o propósito dela é servir a um culto, se é usada para fixar a Palavra.

Lutero já dizia: "eu sei que amanhã, 2ª feira, vocês vão esquecer o que eu estou falando agora no meu sermão. Mas os hinos que os faço cantar, jamais vão ser esquecidos". Por isso mesmo, toda música sacra deve passar pelo crivo da Bíblia, ou corre o risco de catequizar a igreja com baboseiras teológicas. Mas se a música for ruim, também não fixará coisa alguma. O célebre músico Johan Sebastian Bach passou 45 anos de sua vida trabalhando como músico de uma única Igreja (a Igreja de St. Thomaz, em Leipzig). Sua obra inteira foi S.D.G. (Soli Deo Gloria). Ele assinava assim. Essa era a sua finalidade; por isso ele fazia o melhor que podia, exatamente porque era para a glória de Deus. Quem dirá Antônio Vivaldi (compositor de As Quatro Estações), que era padre!

Quando falamos de música boa ou ruim, estamos apenas desejando que ela realize seu propósito SACRO. Existem músicas "de louvor" muito boas, assim como existem músicas "de hinário" que precisam ser revistas. O sacro, na verdade, aquilo que é verdadeiramente aceito por Deus, não tem nada a ver com o tipo de sons; tem a ver com o coração e lábios limpos, tem a ver com o cantante e com Deus.

E A MÚSICA SACRA MUDOU AO LONGO DO TEMPO...

Algumas pessoas argumentam que a Igreja Primitiva dirigia seus próprios cânticos, que cantar e dirigir cânticos eram coletivos, não um evento profissional dirigido por especialistas. No entanto, a Bíblia mostra que já em 1000 a.C. havia um serviço de música especializado, antes mesmo que houvesse um Templo (1ª Crônicas 16.4).

Com muitos hinos compostos por Davi e seus músicos, o livro dos Salmos é o hinário mais antigo que se conhece, usado tanto por judeus como por cristãos. Novas feições musicais foram inseridas com o aparecimento de cânticos e hinos especificamente do Cristianismo (1ª Coríntios 14.26; Efésios 5.19; Colossences 3.16).

Diderentemente dos músicos do templo, que usavam címbalos, tambores, chifres e cítaras, os 1os cristãos aparentemente não usavam instrumentos na sua adoração a Deus. Isso porque o uso de instrumentos no Velho Testamento estava associado com as ofertas e cerimônias do templo, que não aconteciam nas sinagogas após a Diáspora. Desta forma, nos dias de Jesus e dos apóstolos, o canto à capela (só com vozes) era o modo usado para se louvar a Deus. As canções usadas talvez ainda incluíssem os Salmos, mas haviam composições novas, como fica sugerido no Magnificat de Maria.

A minha alma engrandece ao Senhor,
E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador;
Porque atentou na baixeza de sua serva;
Pois eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada;
Porque me fez grandes coisas o Poderoso;
Santo é seu nome, e a sua misericórdia é de geração em geração sobre os que o temem.
Com o seu braço agiu valorosamente;
Dissipou os soberbos no pensamento de seus corações.
Depôs dos tronos os poderosos, e elevou os humildes.
Encheu de bens os famintos, e despediu vazios os ricos.
Auxiliou a Israel seu servo, recordando-se da sua misericórdia;
Como falou a nossos pais, para com Abraão e a sua posteridade, para sempre.

Quando o Cristianismo se tornou a religião ESTATAL romana, a prática do coral foi adotada do costume romano iniciar as cerimônias imperiais com música. Foram fundadas escolas especiais e os cantores do coral foram reconhecidos como “clero de segunda ordem”. Assim nasceu o cantor profissional na igreja, e cantar na adoração cristã agora estava sob o controle do clero e do coral. Para os corais, o bispo Ambrósio de Milão (339-397 d.C.) escreveu os primeiros hinos pós-apostólicos de que se tem conhecimento.

Na época de Constantino, surgiram corais infantis nos orfanatos. Era um costume pagão estendido ao Cristianismo, pois os pagãos acreditavam que as vozes dos meninos possuíam poderes especiais! No séc. 5, os cristãos passaram a usar templos e prédios (antes destinados às divindades greco-romanas) e começaram a refinar a liturgia cristã, que substituiu a simplicidade inicial por uma cerimônia formal e institucional. A melodia ganhou multivocais e contracantos. Com a dificuldade das melodias e dos arranjos, o povo foi definitivamente substituído pelos corais. Foi se tornando mero espectador, adorador passivo.

Perto do fim do século 6, o papa Gregório reorganizou a Schola Cantorum (escola de cantores) em Roma. A Schola profissionalizou cantores nos coros cristãos ao longo de todo o Império Romano. Cada cantor agora era um clérico treinado por 9 anos e tinha de memorizar todos os famosos “cânticos gregorianos”. Os “meninos cantores” entretanto persistiram, geralmente cantando em missas para a realeza. À medida que Roma Ocidental se fragmentou, o lado Oriental (ou Bizantino) aprimorou os cantos em grego. A Igreja Ocidental fundou monastérios por toda Europa, a fim de catequizar os pagãos; nesses mosteiros, o canto gregoriano manteve o latim, língua de Roma. O famoso canto “Dedit Dominus Confessionem Sancto Suo”, dos monges cistercianos franceses do séc. 12, por exemplo, consiste em repetições de “O Senhor deu sua santa confissão”, uma referência a Neemias 9.3. Ouça esse canto AQUI.

Na Idade Média, a dramaturgia e a encenação das histórias bíblicas foram usados como ferramentas de cristianização. O “2º clero” vestia roupas simbólicas; o sacerdote e o coral promoviam diálogos musicais. Isso se manteve até o século 10, as monarquias na Europa começaram a disputar territórios.

Até o século 9, o canto gregoriano ERA a música sacra. Uma música vocal em latim ou grego, com uma linha melódica apenas, ou seja, que se adaptava ao ritmo das palavras. Claro que poucos fora da igreja entendiam o latim ou o grego, mas o canto e a própria cerimônia religiosa eram considerados mágicos, ou seja, seu fim estava em simplesmente ser recitados. A música profana era semelhante, mas admitia o acompanhamento de instrumentos e danças, além de ter como tema as paixões humanas.

Pelos séculos 12 e 13, o órgão foi incorporado na Missa, como acompanhamento. Nessa época aflorou o Humanismo, que declarava o homem como centro do universo. Os humanistas davam muita importância ao ser humano e ao natural. Leonardo da Vinci e Michelangelo Buonarotti ousaram dar rostos humanos a Deus! A música deixou de seguir o ritmo das palavras para tomar um ritmo regular e certa exatidão na duração das notas, o que era necessário para sincronizar instrumentos. Mais ainda do que antes, o compositor precisava de altos conhecimentos de escrita musical. Essa época marcou uma mudança das composições anônimas (canto gregoriano) para composições autorais. Freqüentemente, cléricos eram chamados à vida na corte por sua fama como músicos.

No séc. 16, a música religiosa incluía duas formas musicais: a missa e o moteto. A missa era organizada como um ritual, contendo vários cantos como o Kyrie Eleison (Ó Senhor, tem misericórdia de nós - Salmo 51.1), o Gloria in excelsis Deo (Glória a Deus nas alturas – Lucas 2.14), o Credo in unum Deum (Creio em um só Deus), o Sanctus (Santo, Santo, Santo; Senhor Deus dos Exércitos; Céu e a Terra estão cheios da Vossa glória; Hosana nas alturas - como em Jó 37), o Benedictus (Bendito é aquele que vem em nome do Senhor; Hosana nas alturas – como Lucas 19.38) e o Agnus Dei (Cordeiro de Deus; que tirais o pecado do mundo; Tende piedade de nós; Cordeiro de Deus; que tirais o pecado do mundo; Dai-nos a paz – como João 1.29). Em meio a uma divisão dos cristãos em Católicos ou Protestantes, a missa do séc. 16 foi adotada pelas 1as igrejas Protestantes, podendo incluir recitais.

O moteto era um canto a 4, 5 ou mais vozes, construído em cima de pequenos textos, que podiam ser pequenas frases em que cada voz cantava uma palavra. No início o texto era em latim; mais tarde, passou ao o francês e outras línguas nas outras vozes. Quase não havia uma música instrumental independente do canto, pela baixa qualidade dos instrumentos.

A principal contribuição da música dos reformadores foi a restauração da música na congregação e o uso de instrumentos. João Hus (1372-1415 d.C.) da Boêmia e seus seguidores estiveram entre os primeiros a usar a música não-profissional. Lutero também encorajou o cântico congregacional, mas a música sacra Protestante só alcançou seu auge no século 18, durante o avivamento de Wesley na Inglaterra.

Entre os Protestantes, não havia consenso quanto ao uso de instrumentos. Enquanto os Puritanos (de Zwinglio) destruíam os órgãos das igrejas, os Luteranos e Calvinistas os aproveitavam ao máximo. Calvino acreditava que a música inflamava humano com zelo espiritual, podendo trabalhá-lo. O ponto central da música na igreja era primeiramente o que se cantava; a música era direcionada à congregação e devia ser simples, sem requerer treinamento ou habilidade daquele que a cantaria. Seu foco, obviamente, foi restaurar o canto dos Salmos.

Aqueles que introduzem novidades, métodos inventados de adoração a Deus, realmente cultuam e adoram a criação de suas próprias destemperadas imaginações” (Calvino).

Em algumas partes da Europa, o canto da missa simplesmente passou a ser coletivo, incluindo o Kyrie Eleison, Gloria in Excelsis, e posteriormente o Nunc Dimitris (ou Cântico de Simeão - Lucas 2.28-32). Com exceção do Kyrie, os demais foram traduzidos para as línguas populares. Sem a tradução, o Kyrie lentamente desapareceu das igrejas Protestantes. Porém, outros cantos congregacionais foram inseridos: os Dez Mandamentos (largamente utilizados), a Oração do Senhor, o Credo dos Apóstolos e outros. Contudo, os que em maior numero foram metrificados e inseridos na liturgia foram os salmos. Calvino providenciou para que eles fossem traduzidos diretamente do hebraico para o francês:

1539 - Alcuns Psalmes et Cantiques mys em chant
Talvez o 1º Hinário, de Calvino e Clement Marot, incluía 19 salmos, o Cântico de Simeão, os 10 mandamentos e o Credo dos Apóstolos.
1542 - versão com 49 salmos
1551 - 34 salmos metrificados por Theodorus Beza
1552 - versão com 83 salmos
1561 - todo o saltério

Theodorus Beza e François Gindrom também introduziram os 1os Cânticos que não eram transcrições bíblicas.

Os Saltérios sem dúvida superaram as Bíblias, em vendagem. Por ser um livro muito mais volumoso, a Bíblia usava mais papel e era um livro caro no séc. 16. Aconteceu, entretanto, que os Saltérios se transformaram em um grande negócio para os Protestantes leigos. Estavam desejosos de algo mais, que os fizesse poder abraçar com maior integralidade as doutrinas ouvidas na explanação da Palavra. Ao cantar, eles “tornavam viva” a sua fé.

No começo do séc. 17, a música instrumental (antes um acompanhamento dos vocais) ganha independência e passa a ser expressão da própria música. Tanto na música vocal como na música instrumental os compositores se empenhavam na MELODIA para que as pessoas fossem afetadas por elas.

Pelo séc.18, o órgão tomou o lugar do coro nos cultos cristãos. É interessante, mas não há qualquer evidência de instrumentos musicais na igreja cristã até a Idade Média. Após esse período, toda música durante o culto era realizada sem instrumentos. Calvino continuou esta prática. Ele acreditava na música, mas achava que os instrumentos eram pagãos. Assim, reavivaram-se os corais (inclusive nas igrejas Protestantes), de forma que havia (como na igreja Católica) uma “música especial” que a congregação simplesmente assistia.

Ao final do século 19, apareceram coros de crianças nas igrejas americanas. O local do coro é sugestivo: o coro não só voltou, com roupões eclesiásticos, mas ocupavam a frente do “público”! Na igreja Católica, o papa Pio X reagiu ao crescente laicismo e estabeleceu que a língua própria da Igreja Romana sempre seria a latina. Foi proibido cantar em língua vulgar nas cerimônias; o coro ainda devia ser composto por homens de conhecida piedade e probidade de vida (e as mulheres foram consideradas incapazes do canto sacro).

Nas igrejas contemporâneas, Católicas e Protestantes, o coro tem sido substituído pelo “grupo de louvor”. Essa “equipe de adoração” surgiu na Capela do Calvário (EUA), em 1965. Chuck Smith, o fundador da denominação, começou um ministério para “hippies e surfistas”, convidou-os a transformar sua música em uma nova música sacra. Ele deu à contracultura uma base para sua música, levando-os a fazer exibições aos domingos pela noite. A nova forma musical começou a ser chamada “louvor e adoração”.

Nas igrejas Protestantes, o edifício ainda tem poucos símbolos religiosos. A roupa dos cantores agora é normal, são usados vários instrumentos. Apenas algumas denominações usam hinários. Os cânticos são corinhos animados e positivos ricos em RITMO e MELODIA, que a congregação acompanha cantando, com palmas, balançando os corpos com as mãos levantadas e às vezes dançando. O enfoque de quase todos os cânticos é uma experiência individual, são cheios de pronomes na primeira pessoa - “eu, mim, meu”. Em algumas poucas congregações, a coletivização do louvor fez com que os fiéis passassem a compor a música, levando-a para ser ensinada aos demais. Tantos nas igrejas Protestantes como Católicas, as mulheres recentemente voltaram a compor o grupo de canto e até representam a maioria nesses grupos. Vários grupos passaram a cantar música sacra em espetáculos fora da igreja, como forma de evangelização.

HINOS BRASILEIROS

Os hinos são músicas que vêm da metrificação de trechos bíblicos ou de composições independentes. Eles levam uma mensagem congregacional, sendo ao mesmo tempo evangelizadores e instrumentos de coesão denominacional. O 1º hinário brasileiro - Psalmos & Himnos - foi organizado pelo casal Kalley, fundadores da Igreja Evangélica Fluminense, a 1ª igreja evangélica em língua portuguesa no Brasil, em 1855. Os hinos eram traduções de composições européias e logo foram adotados por várias denominações no país. Em 1891, compositores da Assembléia de Deus e da Igreja Batista do Brasil criaram um hinário destacando as doutrinas pentecostais: o Cantor Pentecostal, com 44 hinos e 10 corinhos. Em 1922 surgiria a Harpa Cristã, com 300 hinos. Mas em 1932, a Harpa Cristã já havia sido ampliada para 400 hinos! A Harpa Cristã tem sido o principal hinário brasileiro desde então, o que talvez se explique pelo fato de cada crente assembleiano ter que possuir o seu próprio exemplar do hinário.

O Cantor Cristão foi adotado pela Igreja Batista do Brasil, que o ampliou para 571 hinos em 1921. Nesse meio tempo surgiram também obras de menor impacto como o Hymnário Evangélico e a Lyra Christã. A Igreja Presbiteriana do Brasil introduziu o Novo Cântico, um manual com cerca de 400 hinos dividido por assuntos como oração, evangelização, vida cristã, reforma, advento, natal, passagem de ano, vida futura, trindade, etc.

Mais conservadores, a Igreja Evangélica Luterana do Brasil publicou no Brasil o Hinário Luterano (em alemão) em 1824. A obra trazia hinos alemães da Reforma Protestante até a Guerra dos Trinta Anos (séculos 16 e 17) e hinos dos Estados Unidos do século 19, que foram traduzidos antes do início do séc. 20. Os hinos mais antigos, ainda são adaptações de canto gregoriano, com as melodias em partitura.

ET VOCIS PODERUM LEREM SI QUISEREM
Arte e Júbilo - O fim do período de Louvor, 2010
Cantor Cristão – wikipedia
Flauzino I, Colégio Teresiano – CAP/PUC, Estudo dirigido do 2º bimestre de 2012
Harpa Cristã – wikipedia
Hinário Luterano – wikipedia
Missa Católica – wikipedia
Novo Cântico – wikipedia
Salmos e Hinos – wikipedia
Silva JH, A música na liturgia de Calvino em Genebra, Fides Reformata 7(2), 2002
Verdadeiros - A músicana na Bíblia, 2011
Zágari M, O que é boa música evangélica?, 2012

sábado, 24 de setembro de 2011

Góspel de ontem


do original de Antognoni Misael

Janires Magalhães Manso foi um cantor de música gospel com início de carreira no fim da década de 1970. Fundou a banda Rebanhão em São Paulo, no ano de 1979. Um ano depois se mudou para o Rio de Janeiro, onde formou um novo grupo, mas que permaneceu com o mesmo nome. Após gravar quatro discos com o Rebanhão, Janires deixou a banda em 1984 e foi para Belo Horizonte, lugar onde conheceu um novo time de músicos e juntamente com eles formou a Banda Azul. Depois de duas gravações com a Banda Azul, Janires morreu em um catastrófico acidente automobilístico, quando voltava do Rio de Janeiro para Belo Horizonte, no ano de 1988.

Sempre que dou uma pesquisada na nossa música cristã de hoje em busca de algo novo tenho sempre a impressão de encontrar “mais do mesmo”. É sério! Não bastasse as centenas de comunidades ‘estilo louvor’, os famosos globais da Som Livre, a panelinha da MK – na ressalva, claro, da turma alternativa que se mantém na linha do Elo, Logos, VPC, João Alexandre, Jorge Camargo e todos dessa vertente – sinto bastante falta de gente criativa, irreverente e de peito aberto para enfrentar as engrenagens desse mundão. Então parei um pouco e pude me perguntar “onde estão os ‘Janires’ de hoje”?

Não sei vocês, mas sinto muita falta de artistas evangélicos que formem opinião pra essa imensa juventude do “gospel”; que provoquem a cabeça e mentalidade juvenil promovendo nessa gente uma adoração com entendimento. Noto que é tão comum ver muitos ‘fãs’ lotando shows e gravações de DVD’s da turma gospel, mas que, quando confrontadas com a dura realidade da Igreja e do Brasil, apenas reproduzem os atos e discursos “proféticos” dos seus ícones sem que se portem de forma inteligente diante do mundo e das pessoas. Então quando ouço os discos do Grupo Rebanhão e/ou Banda Azul (ambas de idealizadas por Janires) tenho a sensação de que retrocedemos.

Volto a me perguntar: “onde estão os ‘Janires’ de hoje”? Onde estão os que ironizam os políticos corruptos e os edônicos comerciais da TV? Onde estão os que parodiam os filmes e imbecilizam as novelas? Cadê os ‘Janires’ que falam das realidades, de sonhos, fracassos, frustrações, do pecado e da miséria, mas sem nunca esquecer de revelar o fulgurante contraste da estonteante luz, a indizível graça e a paz de Jesus Cristo? Gente, chega de ‘astro Gospel’ fazendo arquivo confidencial no Faustão e recebendo homenagem no Raul Gil!

Recordo que o Janires não era bem visto pelo “clero” evangélico da época. Era rejeitado pela roupa, cabelo, jeito de falar e seu estilo de música. Certa vez ao promover um evento em praça pública em São Paulo no intuito de tocar um rock pra evangelizar a turma descrente, foi surpreendido pelas lideranças de algumas igrejas evangélicas as quais (sob inspiração da ditadura) proibiram que seus membros presenciassem aquele louvor em via pública.

Gente, quando julgamos pela aparência perdemos a oportunidade de nos surpreender com a essência das pessoas – os que julgavam o Janires realmente não o conheciam – ele era um exemplo vivo de cristão autêntico.

Num congresso de louvor que estive presente na cidade de Campina Grande-PB, ouvi do grande Paulão (do Grupo Logos) a curiosa história do dia em que o encontrou em um evento evangélico. Ele descreveu que viu um cara que se vestia bem diferente, roupa meio jogada, parecendo um hippie, com uma mochila de lado, sentado na escadaria do prédio e lendo um livro; ao achar aquela aparência fora dos padrões da época relutou em não julgar, e quando foi notado pelo próprio Janires, este rapidamente se levantou, ofereceu a paz do Senhor e um forte abraço. Paulão revelou que nos olhos daquele jovem via-se alegria e amor pelas pessoas; e aquele livro que o Janires atenciosamente lia na escada era uma Bíblia bastante gastada e cheia de anotações.

Janires era intenso. Em plena época de ditadura no Brasil, não se conformava com a repressão militar e as injustiças. Quando integrante do Rebanhão, mostrou sua crítica em “Casa no céu”: “Lá não terá vizinho reclamando o aumento da gasolina”, “Lá não terá buraco no meio da rua”, “Lá não terá trombadinha nem trombadão desrespeitando os 80km/h fugindo da poluição”. Às vezes direcionava sua insatisfação aos próprios evangélicos. Na música “Etc e tal” disse: “Embaixo da ponte as pessoas roubando e matando… em cima da ponte…crentes tranquilamente se achando no direito de ficar descontentes com Deus, não comprou carro novo não”… Na sua composição mais conhecida, “Baião”, fez uma análise da situação social do planeta: “Sem Jesus Cristo é impossível se viver nesse mundão, até parece que as pessoas estão morando no sertão, é faca com faca, é bala com bala, metralhadoras e canhões, até parece que a faculdade só tá formando lampiões… e o dinheiro anda mais curto do que perna de cobra”…

Pelo que li e ouvi daqueles que viveram próximo Janires, descobri que ele não andava ansioso com a vida, não se apegava a fama e a bens materiais. Quando morreu, ficou de legado apenas algumas roupas e seus equipamentos musicais. Um ex-integrante do Rebanhão, Paulo Marotta, confidenciou o seguinte :

Janires não era um homem comum. Ele não se preocupava em casar, constituir família, arrumar um bom emprego, comprar isso ou aquilo, essas coisas que têm tanta importância para nós. Vivia do que produzia. Sua música, seu artesanato: camisetas e impressos em silk-screen. Frequentemente recebia ofertas, às vezes muito boas, mas sempre achava alguém que precisasse mais do que ele daquele dinheiro. Assim como recebia, dava generosamente”.

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Só porque você ficou, curioso a partir desse momento tem na aba e-música a rádio Rebanhão. Vai ver!

site BACANA sobre música cristã
http://artedechocar.blogspot.com

site com a discografia do Rebanhão
http://bandarebanhao.blogspot.com/p/discografia.html

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Música bíblica

instrumentos hebreus dos tempos do Antigo Testamento

A música foi criada por Deus e já existia mesmo antes de haver o homem. No livro de Jó, o mais antigo das Escrituras, lemos que quando Deus lançava os fundamentos da terra, as estrelas da alva cantavam e todos os filhos de Deus rejubilavam (Jó 38.1-7). Se compararmos esta passagem com Isaías 14.12 onde Lúcifer é chamado de estrela da manhã e filho da alva, podemos entender que, mesmo antes da criação do universo, havia no céu uma hoste angelical separada para cantar louvores ao Eterno Deus, da qual Lúcifer parece ter sido o regente (Ez 28.12-16).

O homem é criatura de Deus e recebeu a música como um dom divino. Mesmo os povos mais primitivos são dotados de musicalidade. Não existe nem um povo que não tenha sua própria música, assim como não existe ninguém que não aprecie algum tipo de música. Vivemos em um universo musical onde, desde que nascemos, somos envolvidos pela música e aprendemos a apreciá-la.

A primeira passagem bíblica referente a música e instrumentos musicais se encontra em Gênesis 4.21. O texto se refere às bases da cidade edificada por Caim e seus descendentes. Entre os pilares daquela sociedade primitiva encontramos a agricultura (v.20), a indústria (v.22) e a música (v.21). Vemos nesta passagem a importância da música na vida do homem. Os profetas bíblicos eram também músicos. Durante o êxodo, a profetisa Miriã conduziu as mulheres em danças e cântico usando seu tamborim e celebrando a vitória do Senhor sobre os egípcios (Ex 15.20-21). Em 1 Samuel 10.5, Saul encontra um grupo de profetas que profetizavam acompanhados de seus instrumentos musicais. Isaías compôs canções como a encontrada no capítulo 26:1-6 de seu livro.

A música na Bíblia era dividida em instrumental (Sl 33.2,3 e 150) e vocal (Sl 98.5; 2Sm 19.35 e At 16.25). Os títulos de 55 salmos contem instruções para os regentes sobre a execução de vários instrumentos musicas e das melodias que deveriam ser utilizadas no acompanhamento.

O fator mais interessante quando observamos a música na Bíblia é a sua rica variedade e as poucas restrições quanto ao seu uso. Há variedade de instrumentos, variedade de sons e volumes, variedade de adoradores, variedade de posturas e modos, variedade de lugares, variedade de ocasiões e variedade de motivos.

Sendo a música um dom de Deus ao homem, a melhor forma de agradecer a Deus por esta dádiva é fazer música para seu louvor e Sua glória. Em Hebreus 13.15, somos exortados a louvar a Deus de duas maneiras: por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome.

A música como dever religioso – que deve ser oferecida como sacrifício de louvor – é o que nós chamamos de música sacra, ou sagrada, música de louvor e adoração. Existe, no entanto, uma música espontânea, que brota de um coração cheio da vida de Deus, através do Espírito Santo – é o fruto dos lábios que confessam o seu nome (Ef 5.18,19). Esta música, que não deixa de ser louvor a Deus, não precisa ser feita de palavras ou expressões religiosas. Ela reflete as experiências da vida de alguém que conhece a Deus e não precisa estar afirmando isto com os lábios para que as pessoas tomem conhecimento. Sua vida é uma expressão de sua intimidade com o Criador. É por este motivo que a música encontrada nas Escrituras é ampla e está relacionada a todas as áreas da vida humana.

A adoração dos judeu nos tempos bíblicos era um estilo de vida, não uma atividade confinada aos cultos realizados no templo no dia de sábado. Sendo assim, a música utilizada por eles estava relacionada a uma grande variedade de atividades diárias e era usada com diversos fins e propósitos, tais como: para promover alegria (Gn 31.27; Ec 2.8); na guerra (Js 6 e 2Cr 20.21-22); como expressão de arte e poesia (Cantares de Salomão); como forma de protesto (Sl 73); para confissão (Sl 32 e 51); para oração (Sl 7, 38, 64, etc.); para testemunho (Sl 23, 46, etc.); para terapia (1Sm 16.14-17, 23); como dever religioso (Sl 81.1; 95.1; Is 30.29); como expressão de lamento e tristeza (Lamentações).

A Bíblia não nos fornece instruções específicas sobre estilos musicais. Sabemos apenas que instrumentos de diversos tipos eram usados pelos judeus. Estes instrumentos eram divididos em três categorias: de cordas, de sopro e de percussão. Foi o Rei Davi quem promoveu o uso de tais instrumentos, além de instituir os cantores vocais e regentes de música (1Cr 15 e 16). Parece, no entanto, não ter havido nenhuma ordem divina para isso, senão a iniciativa pessoal e a criatividade de Davi.

No Novo Testamento, os cristãos primitivos aparentemente nem sequer usavam instrumentos na sua adoração a Deus. Isso porque o uso de instrumentos no Velho Testamento estava associado com as ofertas e cerimônias do templo, que não aconteciam nas sinagogas após a Diáspora. Desta forma, nos dias de Jesus e dos apóstolos, o canto vocal a capela (sem instrumentos) era o modo usado para se louvar a Deus. Alguns dos chamados pais da igreja chegaram até mesmo a considerar os instrumentos usados no Velho Testamento como símbolos da graça cristã (Eusébio, c. 260 – c. 340). Somente após a Reforma no Século 16 é que a adoração com instrumentos musicais voltou a ser aceita na Igreja Cristã.

Encontramos também nas referências bíblicas um incentivo a inovação na hinologia e nos cânticos. Vários textos bíblicos falam de ocasiões em que o povo cantou algo novo a Deus. Exemplos disso podem ser vistos no cântico de Moisés (Êx 15) e no Magnificat de Maria (Lc 1.46-56). Alguém de outra época só entenderá completamente as letras desses cânticos se conhecer o contexto histórico no qual eles foram escritos. Assim é também com muitos dos salmos. Por isso somos exortados diversas vezes a apresentar a Deus canções novas que mostrem ao povo de nossa época o que Ele tem feito por nós (Sl 33.3; 40.3; 96.1; 98.1; 149.1; Ap 5.9). O cântico novo surge dentro de um contexto histórico e fala ao povo da época sobre algo que Deus tem feito. Este tipo de hinologia tem o poder de revelar que Deus está vivo, está presente, atuando na história humana.

Assim, apesar de a Bíblia estar repleta de recomendações e incentivos para que o homem adore ao Criador, a única instrução bíblica específica que temos de como deve ser essa adoração é a de Jesus à mulher samaritana: “Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24).

A adoração a Deus, seja ela vocal ou instrumental, qualquer que seja o ritmo ou melodia, deve brotar no mais íntimo do ser humano como uma expressão de reconhecimento e reverência ao Criador.

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Esse texto, conta-se, foi originalmente publicado na Bíblia de Estudo Louvor e Adoração da Editora Fôlego, 2007. Eu apenas encontrei-o no armário de http://www.projeto242.com/2011/?p=38.

domingo, 14 de agosto de 2011

Música Góspel não é Música Cristã



O mundo atual é, acima de tudo, multimídia: há fotos, vídeos, música onde quer que se vá. Acreditem, já houve um tempo em que a fotografia decorria de saber manusear uma câmera, revelar o filme e finalmente ter um papel-retrato para exibir. Levava-se a foto para um conhecido ver, álbuns eram coisas muito íntimas, que se exibia para a família e amigos mais chegados. 

Também houve um tempo em que os vídeos eram fotografias trocadas tão rápido que nosso cérebro intuía o movimento. Então, havia um templo especial para ver essas coisas, e chamava-se cinema. Não o cinema como arte, mas o cinema como local onde se viam os filmes com pipoca e uma boa companhia.

Por estranho que pareça, a música já teve seu pudor, também. Muito tempo atrás, havia um músico que era responsável por fazer música. Se quisessem ouvir música, as pessoas precisavam ir até o músico! Dependendo da disponibilidade desse profissional, muitos passavam anos aprendendo tocar instrumentos, para levar a música às (suas) casas.

Mas então, como disse a Galadriel de Tolkien, “O mundo mudou...”. O rádio roubou a música e deu-a aos pobres, para toda casa, para todo andante. É facil ouvir a expressão “24 horas de música”, o que quer dizer que estarão tocando mesmo se ninguém estiver ouvindo! A televisão roubou vídeo e levou-o parta a sala da família - a cadeira do cinema virou a poltrona da sala, onde você pode roncar deliciosamente enquanto um ganhador do óscar de melhor filme é exibido. A fotografia foi roubada pelo CCD e o monitor. O arrojado componente eletrônico permitiu jogar fora o filme e enviar a fotografia pelos fios elétricos e ondas de rádio, para ser mostrada pelo comparsa vídeo do outro lado. Sem nenhum papel, nem álbum...

Por essa disseminação indiscriminada do que era valioso antes, cogitou-se que a música das igrejas pudesse ser usada para pregar a palavra de Deus. Jesus nada cantou ou tocou que merecesse ser registrado - antes conviveu com as pessoas ensinando o que era certo - mas a Bíblia traz muita música. Davi era músico de Saul, os Salmos são canções. Daí pensa-se que ouvir a palavra de Deus cantada talvez seja significativo para conquistar os corações. Dessa forma foi que as músicas cantadas para o louvor de Deus foram levadas aos gentios...

Soltas no mundo, as músicas de louvor produziram um dilema: as pessoas não vão à igreja (ou vêm à Igreja?) pela música, mas oferecem a música à Deus. A música não é o objetivo, mas sim um sacrifício, uma espécie de incenso sonoro. Logo, como a música mostraria o Reino de Deus a alguém que já não pisasse as terras Dele? Repare o quanto se fala em música de “louvor e adoração”. Isso é o que chamaria de Música Cristã - uma música produzida pelos cristãos, para Deus. Claro, ela pode ser feita para ensinar a palavra de Deus, mas apenas a palavra falada (ou cantada?), não a palavra praticada que Jesus ensinou.

Alguns irão concordar comigo (e me defendam, então!) que de alguma forma, fez-se um frankenstein mecânico similar à Música Cristã e chamou-se ele de Música Gospel. Trata-se de uma música que copia trechos da boa e velha bíblia, mas que se canta aos ouvidos de judeus, gregos e troianos. Canta-se da mesma forma que se canta um “New York, New York”, um “Bessame Mucho” ou um “Parabéns pra você”, ou seja, para ouvir as palmas no final. Se a Música Cristã pretende adorar Aquele Indivíduo que lavou os pés poeirentos dos próprios discípulos, a Música Gospel precisa ser cantada com terno de lantejoulas, vestido decotado esvoaçante, num palco com jatos de fogo e telão atrás, para que a platéia dê o seu melhor, para que aplauda mais. Oferece-se a música à platéia, ao cristão que copia os MP3s do camarada, que tem um pôster dele no quarto e uma camiseta autografada. A platéia oferece suas palmas ao músico.

Não digo que artistas não sejam cristãos: quem tiver talento, pode ser artista e também cristão. Não é fácil, mas é simples como usar sapato e chapéu. O artista é conhecido como aquele que expressa a beleza. Na música, isso significa apresentar algo que se aproxime do interior das pessoas, tomando-as diretamente pelo ouvido. O artista precisa buscar a beleza, que lhe é fundamental. Já o cristão é conhecido como aquele que mostra o Reino de Deus (em outras palavras, temor a Deus e amor ao próximo). A beleza não lhe é fundamental, mas esses dois predicados são.

Defendam-me de novo, mas não há artistas tomando o nome de cristãos sem mostrar o Reino a quem quer que seja? A beleza faz o artista, mas não é dizendo versículos que se faz o cristão. Isso serve para vender música, fazer o show... enfim, fazer arte. Da mesma forma, parece que há por aí cristãos tomando o nome de artistas sem mostrar beleza alguma que atraia um público não-cristão. Bom saber que são crentes, mas pregar a palavra aos que já a conhecem é bem fácil. Atingir o povo que precisa conhecer a Deus certamente não é o que fazem, com a música que são capazes de produzir. Não estou desmerecendo cristãos ou artistas, mas dizendo que são coisas que não se mesclam, assim como ninguém usa chapéu nos pés ou calçado na cabeça. Mas é possível ter ambos? Naturalmente.

Então, que espécie de música um cristão deveria ouvir? Numa ânsia que temos por regras explícitas, com os modernos “faça isso”, “não faça aquilo”, muita gente passa horas debruçado sobre o Evangelho tentando extrair dali a cor da roupa, o tipo de música, se a comida deve ter carne ou não, se essa carne pode ser de soja, se vinho é lícito ou proibido. Para isso foi feito o Evangelho, para lhe dar regras de comportamento? A mensagem é simples: honrar a Deus com todo o seu entendimento e todas as suas forças (isso é, sacrificar a si mesmo inteiro por Ele), amar ao próximo e a ti mesmo (isso subentende apresentar o Deus bondoso ao próximo fazendo por ele semelhante do que Jesus fez). Obviamente isso não define a questão da música, mas dá toda resposta que você possa entender.

ver Comida Cristã

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Comida Cristã !



por Augusto Guedes


Todos os dias nós comemos. Na maioria das vezes, conjuntamente bebemos. Certa ocasião, à mesa para uma refeição cotidiana, me veio à mente uma hipótese no mínimo curiosa. Já imaginou se alguém, ao se converter verdadeiramente ao Senhor Jesus, arrependendo-se de tentar viver a vida de forma independente de Deus, fosse encorajado por outrem a comer, a partir de então, apenas comida cristã? Como seria?

Em que loja de supermercado ou mini-mercado a encontraria? Em que lanchonete ou restaurante teria para se comer a comida já pronta? Que igreja, ou melhor, empresa, a disporia para degustação promocional nas melhores lojas do ramo, ou a promoveria nas rádios, tvs, revistas, enfim, na mídia em geral? Quais seriam as condições ou parâmetros para que tal recomendação pudesse ser praticada? Afinal de contas, o texto de I Coríntios 10:31, é literal ao dizer: "seja comer, seja beber, ou qualquer outra coisa fazer, tudo seja feito para a glória de Deus". Se comida aparece de forma tão explícita, deve existir aquela mais adequada ou exclusiva para ser ingerida para a glória de Deus. Quem sabe, trata-se de um tipo de comida especial, ou talvez cozida por pessoas especiais, talvez de uma família especial. E por que não levantar a hipótese de um ministério também especial para tal, o ministério sacerdotal da culinária ou,os cozinheiros sacerdotes? Aqueles que através da sua arte culinária unem as pessoas a Deus ou que, por meio do seu serviço, ministram aos outros de forma que o alimento que produzem torna-se cheio de uma unção especial e específica: 'a unção da culinária'.

É possível que você até esteja considerando todas as palavras que escrevo. Vamos, então, pensar um pouco mais nessa curiosa hipótese sugerida. Talvez a primeira condição para o reconhecimento de uma comida como cristã fosse a sua composição, o seu conteúdo, os seus ingredientes. Então, quais seriam eles? Que ingredientes seriam os mais adequados ou sagrados? Vegetais, por serem alimento pré-queda do homem e não virem da morte de animais? Animais, porque durante um bom tempo eram oferecidos em sacrifícios? E porque não perguntar sobre a possibilidade de todos os feijões, arrozes, carnes, saladas, e tudo o mais, dependendo apenas da forma e quantidade que se ingere?

Para alguns, certamente o sal seria presença determinante na conceituação de uma comida cristã, pois a própria Bíblia informa sua importância para que o mundo ganhe sabor. Por outro lado, possivelmente o vinho, apesar de provocar um sabor todo especial, não deveria constar, face seu conteúdo alcoólico - embora, para alguns mais 'bíblicos', esse seria o ideal, pois, questionamentos à parte, simplesmente, é bíblico. Mas nem todos gostam de tais ingredientes. E mais, alguns até gostam, porém, não podem ingeri-los por uma questão de saúde. Fatalmente, determinar alguns ingredientes como comestíveis pelo cristão e outros não seria uma aberração,ou algo simplesmente ilógico. Certamente tal decisão não poderia ser tomada a partir do seu conteúdo.

Mas, como, então, identificar o que significa uma comida cristã? Deixando de pensar em relação à sua composição, pensemos, então, na sua aparência. Certos alimentos não têm uma boa apresentação ou são diretamente relacionados às práticas ou aos povos historicamente apegados ao que não vem de Deus. E, enfim, imagem é algo fundamental, sobretudo quando se está à mesa. Aí eu me pergunto: Comemos ou não com os olhos? É muito mais fácil pagarmos mais caro por um delicioso sanduíche fotografado com muita arte e exposto acima da bateria de caixas de um fast-food famoso, do que simplesmente ingerirmos aquele delicioso pirão gosmento em meio a um ambiente barato e simples, servido numa panela machucada de alumínio e, ainda por cima, queimada no fundo por tantos anos de fogão.

Certamente a comida cristã que procuramos teria uma aparência saudável, "santa, separada", e possivelmente um aspecto mais pautado em outra cultura do que na nossa, principalmente se tivéssemos sido evangelizados por pessoas de outras culturas como os missionários trans-culturais. Aliás, essa é uma grande tendência de alguns povos e também grande mal dos brasileiros, que têm uma gastronomia tão boa, como afirma o famoso chefe de cozinha 'Jun Sakamoto', de origem oriental e que se tornou referência na gastronomia a partir de São Paulo e Nova York: "O brasileiro muitas vezes, ao procurar uma boa comida, pensa primeiro na italiana, francesa, portuguesa, chinesa, japonesa, para depois se referir à brasileira."

Fica claro, então, que além do seu conteúdo, também não se pode definir comida cristã a partir da sua aparência. O que fazer? Por que, então, não partirmos para tentar defini-la em função da sua autoria? Quem a está fazendo? Quem é o cozinheiro ou cozinheira? De que mãos nascem essas saborosas, belas, memoráveis e saudáveis refeições, e por que não dizer, banquetes? Se formos avaliar apenas a partir da sua técnica, seríamos tentados a medir a autenticidade possivelmente com base na formação do seu autor. Que cursos gastronômicos ou de nutrição freqüentou? Qual a sua formação acadêmica? Engenharia de alimentos? Estudou em alguma renomada faculdade do ramo? Qual a sua capacitação técnica para desenvolver tais alimentos? Escreve ou lê receitas? Ou será que ele, ou ela, são capazes de criá-las simplesmente - por possuírem um dom específico na área - independente do tempo de fogão? E por falar em tempo de fogão, certamente a experiência poderia também ser um possível parâmetro. Será que tal cozinheiro possui experiência no assunto? Há quanto tempo ele cozinha? Em que restaurantes trabalhou? É profissional da área, independente da sua formação acadêmica? Com quem já fez parcerias? Ou, para quem cozinhou?

Todos esses questionamentos podem até nos ajudar a identificar uma comida muito bem feita, talvez de boa fama, deliciosa de se consumir, e, até, agradável aos olhos. No entanto, jamais os seus ingredientes, a sua aparência, ou a técnica, a experiência e a capacitação natural do seu autor para desenvolvê-la podem defini-la ou não como uma comida cristã. É óbvio que não existe uma comida cristã. Pode ser que cristão seja aquele que a produz. E você pode até estar achando tudo isso aqui meio ridículo. Mas foi exatamente o que fizeram com a nossa música chama de "cristã". Releia o artigo, substituindo a palavra "comida" por "música", e com algumas pequenas adequações, e constate tal realidade.

Que o Senhor, Pai da Luzes e das Artes, Criador Criativo em tudo, abençoe você ricamente!

Para quem não ler: deseja-se criar uma classificação para música como cristã, muitas vezes baseada no seu conteúdo, na sua aparência ou na técnica, experiência ou talento natural do seu compositor, quando na realidade não existe música cristã propriamente dita, mas sim cristãos que fazem músicas!

Augusto Guedes é pastor, empresário, compositor e músico. Já atuou na Igreja Presbiteriana da Boa Vista, Organização Palavra da Vida NE, Dókimos e Grupo Musical “Novo Viver” (1973–1986). Colaborou com a fundação da Igreja Presbiteriana Nova Jerusalém, foi ministro de adoração e jovens na Igreja Batista Central de Fortaleza, e mais recentemente compôs o colegiado de pastores da Igreja de Cristo na Aldeota. Hoje, com ministério bi-vocacionado, exerce atividades profissionais, e é um dos líderes da Comunidade de Discípulos (igreja nas casas) na mesma cidade.

domingo, 7 de novembro de 2010

O cristão e a arte


L'Ultima Cena, pintura de Leonardo da Vinci para o duque Lodovico Sforza, 1495-1497

Arte é algo tão amplo, que a vemos todos os dias, seja num grafitti na porta de uma escola, seja nas músicas que ouvimos por aí, enfim, há arte em tudo. Mas pode Deus operar em nossas vidas através de uma arte que não seja propriamente cristã? Qual o papel das artes na vida de um cristão?

É óbvio que podemos revelar a glória de Deus seja através de um grafitti, uma dança contemporânea, uma música que não seja explicitamente cristã. Existem gotas da glória de Deus espalhadas por todo o universo e isso, certamente, nos inclui. Como não ouvir Mozart, Bach sem pensar em dons? Dons que Deus nos dá para que possamos usá-los, não somente pensando num caráter utilitarista: "vou fazer arte por causa disto" ou "ah, não, só faço arte para ganhar almas." Podemos aprender muitas coisas com os não-cristãos, ainda mais artistas como Lenine, Chico Buarque, Djavan, Machado de Assis, Clarice Lispector, entre muitos outros. O pior é ver dentro das igrejas uma sub-arte, ouvindo por aí que a música feita/cantada no louvor congregacional não é arte, não pode ser arte, distinguindo totalmente uma da outra.

Em Tito 1:15 diz: Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro. E também em João 17: 14-15: Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou. Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal.

Nesses excertos da Bíblia podemos entender que não é o que entra que contamina o homem, mas sim o que sai e o mais importante é aquilo que está dentro de nós. A Escritura diz que todas as áreas da nossa vida, mesmo aquelas que parecem menos puras ou menos espirituais, devem glorificar a Deus. No entanto, quando falamos da questão mais artística da coisa, muitos cristãos acham difícil apreciar a arte que lida com a vida diária, principalmente se essa não apresenta uma conclusão evidentemente espiritual.

Podemos exemplificar esse problema naquilo que é conhecido como música cristã/gospel. A música gospel é a única categoria musical reconhecida na indústria fonográfica que é definida inteiramente pelo conteúdo lírico e não pelo estilo musical. Por exemplo, quando há alguns festivais de música e algum cantor gospel ganha nessa categoria, não é definido se ele canta Samba, Rock ou Jazz. Não, não, ele canta música gospel.

Quando a arte tenta incutir alguma coisa na nossa cabeça, acaba virando uma arte ruim. Por exemplo, vários artistas foram contratados na época da Revolução Russa para impregnar na mente das pessoas o Comunismo, logo, a arte nesse caso, foi usada de uma forma ruim. Assim que os cristão pensam em arte como algo para ganhar o mundo para Cristo, cria-se uma expectativa irrealista das artes, onde os artistas são pressionados injustamente. Espera-se automaticamente que os compositores componham "músicas cristãs". Mas, o que constitui de fato a música cristã? Esse compositores são incentivados a ignorar as coisas comuns da vida porque essas não oferecem a oportunidade de testemunho, são como pessoas que só conseguem conversar sobre "o quanto o Senhor tem sido bom", mas não conseguem agregar Deus, por exemplo, no tempo, na economia, política, sistema educacional do país etc.

A fé em Cristo deve nos dar uma nova visão sobre o mundo, mesmo nas coisas mais simples da vida. Poxa, se um poeta quiser falar sobre o nariz, deixe que fale, oras. A arte feita por cristãos deve refletir essa vida por completo. Temos uma tendência dualista em dizer que somente as coisas do espírito importam, claro que importam e muito; mas não vivemos só isso na nossa vida.

Viva Cristo, viva a arte!

Nesse texto, me baseei muito no capítulo 4 da obra de Steve Turner, "Cristianismo Criativo?" e nas aulas que o Rev. Christian está lecionando para nós na ED.

Fernanda Marques

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Esquisitices da música gospel: Adoração estravagante.


O louvor da sua igreja é extravagante? Não? Então você está fora do mover de Deus. É exatamente isso que algumas pessoas têm dito àqueles que não aderiram a um dos mais novos métodos de adoração.


No Brasil, os representantes mais conhecidos deste estilo de louvor congregacional são Davi Silva, Mike Shea, Ludmila Ferber, David Quinlan e Ministério Diante do Trono. Em linhas gerais, essa tendência afirma a necessidade de uma adoração sincera, abundante, espontânea, totalmente guiada pelo Espírito de Deus. Para estes a palavra “extravagante” fala da atitude do adorador, a qual deve sobrepujar os padrões formais e expressar sua adoração em termos de liberdade e espontaneidade. Nesta perspectiva, o verdadeiro adorador voa como águia, ruge como leão, salta como coelho, canta de costas para o público, além de rolar pelo chão quando tocado por Deus. Para os adoradores extravagantes o que vale é romper com os paradigmas religiosos, manifestando através do louvor congregacional uma adoração desprovida de frieza espiritual. Segundo estes, tudo é válido desde o riso incontido ao choro histérico por parte dos adoradores.

Caro leitor, vamos combinar uma coisa? Em nenhum momento as Escrituras Sagradas nos ensinam a cantar extravagantemente. O Novo Testamento não nos concede respaldo teológico para que entoemos cânticos cuja inspiração é de cunho delirante. Ora, vale a pena ressaltar que o nosso louvor ainda que emocionado deve ser absolutamente racional.

Ah! Que saudade do louvor onde Cristo era o foco da adoração. Ah! Que saudade do tempo em que se cantava e entoava cânticos por missão! Lembro-me de momento maravilhosos onde a igreja prostrava-se em adoração ao Senhor cantando a Deus com coração contrito e quebrantado.

Prezado amigo, diante de tanta extravagância alguma precisa ser feita, os valores do reino de Deus precisam ser resgatados, e o evangelho de Cristo vivenciado.

Amados, mais do que nunca é imprescindível que reflitamos a luz da história sobre o significado e importância da Reforma. Acredito piamente que os conceitos pregados pelos reformadores precisam ser resgatados e proclamados a quantos pudermos, até porque, somente agindo desta forma poderemos sair deste momento preocupante e patológico da igreja evangélica brasileira.

Uma nova reforma Já!

Renato Vargens