O mundo atual é, acima de tudo, multimídia: há fotos, vídeos, música onde quer que se vá. Acreditem, já houve um tempo em que a fotografia decorria de saber manusear uma câmera, revelar o filme e finalmente ter um papel-retrato para exibir. Levava-se a foto para um conhecido ver, álbuns eram coisas muito íntimas, que se exibia para a família e amigos mais chegados.
Também houve um tempo em que os vídeos eram fotografias trocadas tão rápido que nosso cérebro intuía o movimento. Então, havia um templo especial para ver essas coisas, e chamava-se cinema. Não o cinema como arte, mas o cinema como local onde se viam os filmes com pipoca e uma boa companhia.
Por estranho que pareça, a música já teve seu pudor, também. Muito tempo atrás, havia um músico que era responsável por fazer música. Se quisessem ouvir música, as pessoas precisavam ir até o músico! Dependendo da disponibilidade desse profissional, muitos passavam anos aprendendo tocar instrumentos, para levar a música às (suas) casas.
Mas então, como disse a Galadriel de Tolkien, “O mundo mudou...”. O rádio roubou a música e deu-a aos pobres, para toda casa, para todo andante. É facil ouvir a expressão “24 horas de música”, o que quer dizer que estarão tocando mesmo se ninguém estiver ouvindo! A televisão roubou vídeo e levou-o parta a sala da família - a cadeira do cinema virou a poltrona da sala, onde você pode roncar deliciosamente enquanto um ganhador do óscar de melhor filme é exibido. A fotografia foi roubada pelo CCD e o monitor. O arrojado componente eletrônico permitiu jogar fora o filme e enviar a fotografia pelos fios elétricos e ondas de rádio, para ser mostrada pelo comparsa vídeo do outro lado. Sem nenhum papel, nem álbum...
Por essa disseminação indiscriminada do que era valioso antes, cogitou-se que a música das igrejas pudesse ser usada para pregar a palavra de Deus. Jesus nada cantou ou tocou que merecesse ser registrado - antes conviveu com as pessoas ensinando o que era certo - mas a Bíblia traz muita música. Davi era músico de Saul, os Salmos são canções. Daí pensa-se que ouvir a palavra de Deus cantada talvez seja significativo para conquistar os corações. Dessa forma foi que as músicas cantadas para o louvor de Deus foram levadas aos gentios...
Soltas no mundo, as músicas de louvor produziram um dilema: as pessoas não vão à igreja (ou vêm à Igreja?) pela música, mas oferecem a música à Deus. A música não é o objetivo, mas sim um sacrifício, uma espécie de incenso sonoro. Logo, como a música mostraria o Reino de Deus a alguém que já não pisasse as terras Dele? Repare o quanto se fala em música de “louvor e adoração”. Isso é o que chamaria de Música Cristã - uma música produzida pelos cristãos, para Deus. Claro, ela pode ser feita para ensinar a palavra de Deus, mas apenas a palavra falada (ou cantada?), não a palavra praticada que Jesus ensinou.
Alguns irão concordar comigo (e me defendam, então!) que de alguma forma, fez-se um frankenstein mecânico similar à Música Cristã e chamou-se ele de Música Gospel. Trata-se de uma música que copia trechos da boa e velha bíblia, mas que se canta aos ouvidos de judeus, gregos e troianos. Canta-se da mesma forma que se canta um “New York, New York”, um “Bessame Mucho” ou um “Parabéns pra você”, ou seja, para ouvir as palmas no final. Se a Música Cristã pretende adorar Aquele Indivíduo que lavou os pés poeirentos dos próprios discípulos, a Música Gospel precisa ser cantada com terno de lantejoulas, vestido decotado esvoaçante, num palco com jatos de fogo e telão atrás, para que a platéia dê o seu melhor, para que aplauda mais. Oferece-se a música à platéia, ao cristão que copia os MP3s do camarada, que tem um pôster dele no quarto e uma camiseta autografada. A platéia oferece suas palmas ao músico.
Não digo que artistas não sejam cristãos: quem tiver talento, pode ser artista e também cristão. Não é fácil, mas é simples como usar sapato e chapéu. O artista é conhecido como aquele que expressa a beleza. Na música, isso significa apresentar algo que se aproxime do interior das pessoas, tomando-as diretamente pelo ouvido. O artista precisa buscar a beleza, que lhe é fundamental. Já o cristão é conhecido como aquele que mostra o Reino de Deus (em outras palavras, temor a Deus e amor ao próximo). A beleza não lhe é fundamental, mas esses dois predicados são.
Defendam-me de novo, mas não há artistas tomando o nome de cristãos sem mostrar o Reino a quem quer que seja? A beleza faz o artista, mas não é dizendo versículos que se faz o cristão. Isso serve para vender música, fazer o show... enfim, fazer arte. Da mesma forma, parece que há por aí cristãos tomando o nome de artistas sem mostrar beleza alguma que atraia um público não-cristão. Bom saber que são crentes, mas pregar a palavra aos que já a conhecem é bem fácil. Atingir o povo que precisa conhecer a Deus certamente não é o que fazem, com a música que são capazes de produzir. Não estou desmerecendo cristãos ou artistas, mas dizendo que são coisas que não se mesclam, assim como ninguém usa chapéu nos pés ou calçado na cabeça. Mas é possível ter ambos? Naturalmente.
Então, que espécie de música um cristão deveria ouvir? Numa ânsia que temos por regras explícitas, com os modernos “faça isso”, “não faça aquilo”, muita gente passa horas debruçado sobre o Evangelho tentando extrair dali a cor da roupa, o tipo de música, se a comida deve ter carne ou não, se essa carne pode ser de soja, se vinho é lícito ou proibido. Para isso foi feito o Evangelho, para lhe dar regras de comportamento? A mensagem é simples: honrar a Deus com todo o seu entendimento e todas as suas forças (isso é, sacrificar a si mesmo inteiro por Ele), amar ao próximo e a ti mesmo (isso subentende apresentar o Deus bondoso ao próximo fazendo por ele semelhante do que Jesus fez). Obviamente isso não define a questão da música, mas dá toda resposta que você possa entender.
ver Comida Cristã
ver Comida Cristã
Gostei de sua opiniões ! Você tem um ótimo ponto de vista, que poucos desenvolvem !
ResponderExcluirObrigado pelo comentário. Um grande abraço!
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