quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O Deus experimental


Como surgem as experiências espirituais? Chamamos de espiritual aquilo a nossa mente não explica, e por mente entendamos que ela tem suas partes racional, sensorial e emocional.

Uma experiência sobrenatural do tipo racional é algo não podemos explicar segundo o modelo de mundo que conhecemos. Por exemplo, Mateus 14, Marcos 6 e Lucas 9 contam sobre Jesus abençoando 5 pães e 2 peixes, que foram distribuídos para toda uma multidão, restando ainda o suficiente para encher vários cestos. Você acha isso possível? Eu não, por isso chamo de milagre. Quando ouvimos ou vemos esse relato, no entanto, somos levados a questionar se quem narra não estava enganado ou mentindo. Nossa lógica tenta solucionar o inconcebível e topa com essa saída do erro narrativo, velho conhecido. Rejeitar tal saída é uma quase-fé; trata-se de trancar uma porta, não necessariamente em favor de outra. A fé verdadeira está em encontrar saída na divindade de Jesus.

Nós acreditamos no que ouvimos, mesmo que desafie a lógica, mas acreditamos ainda mais nas experiência sensoriais. Se eu ouço uma voz, há alguém falando. Temos fé no que sentimos: se estivéssemos degustando pão e peixe saídos daquele cesto, nem haveria um narrador de quem duvidar. Mas isso se passou há 2000 anos! Experiências sensoriais precisam ser experimentadas e sentidas. Apenas os cegos de Jerusalém, Betsaida e Jericó saberão realmente como foram curados; apenas Paulo sabe realmente como é um “resplendor de luz do céu” (At 9.3). Há pessoas que relatam ouvir vozes enquanto oram, ou aprender muito rapidamente coisas que nunca estudaram, ou serem curadas de dores pela simples oração. Deus ensinou Bezalel (Ex 35.30-35) e tornou Salomão mais inteligente que todos os homens (1Rs 3.6-14). Ele também já manipulou os ouvidos e mentes, quando fez o povo multilingüe de Jerusalém compreender as palavras dos apóstolos, que talvez só falassem aramaico (At 2.11). Encare que Deus é muito responsável por você estar lendo isso e compreendendo... Mesmo assim, não é algo que se possa contar, pois então se torna racional (para quem ouve). Se você teve essa experiência, tal bagagem ficará contigo.

A experiência emocional é algo mais sutil, mas ainda só tua e Deus pode se manifestar por ela. Trata-se de uma emoção sem origem explicável. Saul tinha sua ira acesa por um espírito mal vindo de Deus (1Sm 11.6), que se retirava quando Davi tocava a harpa (1Sm 16.23). O espírito da mentira curva-se ao Senhor, como o fez perante os profetas Micaías e Zedequias (1Rs 22.20-25), e assim também o desejo de submeter-se a Ele mesmo, como revelou a Ezequiel (Ez 36.27). Você encontra alguém e o odeia, ou ama aquela pessoa... Muito da psicologia se dedica e procurar as dos sentimentos nalgum lugar que você simplesmente não veja: uma recordação no subconsciente, uma conexão diferenciada dos seus neurônios. Conhecendo-se uma causa, exclui-se a sobre-naturalidade. Afinal, como incluir Deus nas leis do natural? Acaso é Ele o criador e articulador do mundo?

Mas o intuito desse texto não é explorar a mente, e sim a religião. Nossa pergunta aqui não é “como a mente vê o inexplicável”, mas como saber se há diferenças entre o que tomamos por inexplicável e o que Deus faz. Seria o inexplicável sempre uma manifestação de Deus? Seria Deus explicável? Primeiramente, é necessário dizer que entre 20 e 60% das pessoas que se consideram “religiosas” em diversas culturas dizem nunca ter tido qualquer tipo de experiência sobrenatural não-racional (Saver & Rabin, 1997). Elas ouviram falar e acreditam, mas nunca experimentaram ou sentiram algo inexplicável. Se Deus as atrai, usa Seu espírito de forma sutil ou manipula a realidade explicável para isso.

Por outro lado, podemos citar os hebreus durante o Êxodo: eles viram a natureza quebrar suas próprias regras, viram o Senhor matar todos os primogênitos dos egípcios (Ex 12:29-30) e não alteraram sua adoração pagã (Ex 32) de um deus (Atis) que nada era além de um objeto (Sl 135.15-17; Is 40.18-20). Objetos não respondem à fé, então qual o critério deles para dizer que estavam diante de um Deus? Pura imaginação. Somos imaginativos o suficiente para fazer que a experiência sobrenatural não garanta nosso contato com Deus; e sendo Deus senhor da nossa razão, sensações e sentimentos, essa experiência talvez passe despercebida por nós.

De fato, há substâncias químicas chamadas de enteógenos, que reproduzem no cérebro as experiências sensoriais e emocionais que figuram nos relatos religiosos. A verossimilhança é tão grande que os usuários dessas substâncias (geralmente toxinas de plantas) quase sempre estão em grupos religiosos. Mais recentemente, descobriu-se que maiores quantidades do neurotransmissor serotonina são encontradas em certas partes do cérebro de pessoas que aceitam ou dão explicações sobrenaturais, as que podemos chamar de “religiosas” (Borg et al., 2003). Curiosamente, a serotonina é o neurotransmissor humano que os enteógenos mais freqüentemente imitam! Temos então uma religiosidade muito crível (com experiências sensoriais e emocionais) sem nenhuma participação de Deus, a menos que os enteógenos e a serotonina ou o cérebro humano sejam todos obras Dele também. 

O que faz alguém que desconfia das próprias sensações? Busca a verdade sobre Deus fora de si, num certo “mundo lógico” que existe, talvez, apenas na imaginação das pessoas. Alguns olham as árvores, rios, nuvens (o mundo não-humano) e dizem: só Deus poderia criar isso. Ele o fez! Saindo dali, abrem o jornal e se jubilam de a genética e dos testes de carbono 14 apontarem provas das migrações de povos segundo a Bíblia. Afirmam a mesma ciência que é rejeitada quando fala em evolução, pois Deus nunca poderia usar a evolução, a menos que fosse o Supremo Criador.

Outros apontam que o nosso pensamento, aprisionado que está dentro do cérebro, não deve comandar fatos ou acontecimentos pelos quais não sejamos “manipulativamente” responsáveis. O pensamento meu não deve modificar o crescimento das plantas, se chove ou faz sol, se o cachorro late ou não; a menos que eu trate das plantas, use um foguete provocador de chuva ou interaja com o cão, não sou responsável por eles. Quem acredita (por experiência não-racional) nessas coisas geralmente é chamado de feiticeiro ou louco. Ainda assim, cremos que todas essas coisas não são espontâneas, mas refletem o comando (sábio) segundo um plano pré-concebido. Mais ou menos como “o cão late para que eu ou alguém o ouça”.

Deus expôs detalhadamente ao profeta Isaías sua condição de único conhecedor e arquiteto desse plano, a fim de que Seu povo entendesse que não havia outro além Dele. Assim, tudo o que Ele pronuncia sobre o futuro torna-se automaticamente verdade. Deus sabe, Ele faz. “[eu] Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam, que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade.” (Is 46.10).

Deus controla sua razão, sua percepção e seus sentimentos, além do mundo ao seu redor. Jesus não comandou os peixes, andou sobre o mar e até convidou Pedro a ir onde Ele estava (Mt 14.25-33)? Por dentro e por fora, você está sob o comando Dele. Soberano, Ele pode falar palavras à sua mente, dar-lhe as sensações que Ele preferir e quebrar todas as leis da natureza que Ele mesmo fez. Podemos até interroga-Lo sobre suas ordens: Ele respondeu a Gideão (Jz 6.36-40), mas talvez a incerteza sobre a verdade das sensações seja a cobrança Dele pela nossa fé, para que busquemos o logicamente impossível através Dele.

Creiamos no Deus que organiza o mundo e faz questão de ouvir nossas preces e até os nossos pensamentos mais íntimos. Mesmo que você não saiba, Ele age. Talvez Paulo não tivesse pedido um terremoto para converter o carcereiro (At 16.26), ou que o navio onde estava fosse destruído por uma tempestade (At 27). Mas Deus o fez, para que hoje conhecêssemos Sua palavra. Que possamos honrar esse Deus supremo com todas as nossas ações e mesmo os nossos pensamentos! Se Ele assim permitir.

Fabrizio

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