domingo, 7 de novembro de 2010

O cristão e a arte


L'Ultima Cena, pintura de Leonardo da Vinci para o duque Lodovico Sforza, 1495-1497

Arte é algo tão amplo, que a vemos todos os dias, seja num grafitti na porta de uma escola, seja nas músicas que ouvimos por aí, enfim, há arte em tudo. Mas pode Deus operar em nossas vidas através de uma arte que não seja propriamente cristã? Qual o papel das artes na vida de um cristão?

É óbvio que podemos revelar a glória de Deus seja através de um grafitti, uma dança contemporânea, uma música que não seja explicitamente cristã. Existem gotas da glória de Deus espalhadas por todo o universo e isso, certamente, nos inclui. Como não ouvir Mozart, Bach sem pensar em dons? Dons que Deus nos dá para que possamos usá-los, não somente pensando num caráter utilitarista: "vou fazer arte por causa disto" ou "ah, não, só faço arte para ganhar almas." Podemos aprender muitas coisas com os não-cristãos, ainda mais artistas como Lenine, Chico Buarque, Djavan, Machado de Assis, Clarice Lispector, entre muitos outros. O pior é ver dentro das igrejas uma sub-arte, ouvindo por aí que a música feita/cantada no louvor congregacional não é arte, não pode ser arte, distinguindo totalmente uma da outra.

Em Tito 1:15 diz: Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro. E também em João 17: 14-15: Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou. Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal.

Nesses excertos da Bíblia podemos entender que não é o que entra que contamina o homem, mas sim o que sai e o mais importante é aquilo que está dentro de nós. A Escritura diz que todas as áreas da nossa vida, mesmo aquelas que parecem menos puras ou menos espirituais, devem glorificar a Deus. No entanto, quando falamos da questão mais artística da coisa, muitos cristãos acham difícil apreciar a arte que lida com a vida diária, principalmente se essa não apresenta uma conclusão evidentemente espiritual.

Podemos exemplificar esse problema naquilo que é conhecido como música cristã/gospel. A música gospel é a única categoria musical reconhecida na indústria fonográfica que é definida inteiramente pelo conteúdo lírico e não pelo estilo musical. Por exemplo, quando há alguns festivais de música e algum cantor gospel ganha nessa categoria, não é definido se ele canta Samba, Rock ou Jazz. Não, não, ele canta música gospel.

Quando a arte tenta incutir alguma coisa na nossa cabeça, acaba virando uma arte ruim. Por exemplo, vários artistas foram contratados na época da Revolução Russa para impregnar na mente das pessoas o Comunismo, logo, a arte nesse caso, foi usada de uma forma ruim. Assim que os cristão pensam em arte como algo para ganhar o mundo para Cristo, cria-se uma expectativa irrealista das artes, onde os artistas são pressionados injustamente. Espera-se automaticamente que os compositores componham "músicas cristãs". Mas, o que constitui de fato a música cristã? Esse compositores são incentivados a ignorar as coisas comuns da vida porque essas não oferecem a oportunidade de testemunho, são como pessoas que só conseguem conversar sobre "o quanto o Senhor tem sido bom", mas não conseguem agregar Deus, por exemplo, no tempo, na economia, política, sistema educacional do país etc.

A fé em Cristo deve nos dar uma nova visão sobre o mundo, mesmo nas coisas mais simples da vida. Poxa, se um poeta quiser falar sobre o nariz, deixe que fale, oras. A arte feita por cristãos deve refletir essa vida por completo. Temos uma tendência dualista em dizer que somente as coisas do espírito importam, claro que importam e muito; mas não vivemos só isso na nossa vida.

Viva Cristo, viva a arte!

Nesse texto, me baseei muito no capítulo 4 da obra de Steve Turner, "Cristianismo Criativo?" e nas aulas que o Rev. Christian está lecionando para nós na ED.

Fernanda Marques

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