Sábios gregos: Platão e Aristóteles desfilam em um quadro de Raffaello Sanzio Urbino, de 1509
Hoje, muitas pessoas associam a sabedoria à imagem de um senhor idoso, de longas barbas, andarilho ou eremita de uma alta montanha, talvez até um oriental. No contexto em que os livros da Bíblia foram escritos, entretanto, a Sabedoria era uma espécie de tesouro que podia ser passada de uma pessoa a outra, talvez até em forma material mesmo. O livro de Provérbios guarda, de certa forma, uma das últimas vezes em que se tentou organizar a sabedoria humana para que fosse literalmente dada a alguém.
Pela forma antiga de sua organização, hoje até mesmo é difícil que ele seja lido e compreendido. Por esse trabalho [longo] em explicar como livro foi produzido, e como o seu conteúdo foi organizado.
[O sacrifício dos ímpios é abominável ao Senhor], mas [a oração dos retos é o seu contentamento] (Provérbios 15.8)
5. pés que se apressam a
correr para o mal,
6. a testemunha falsa que
profere mentiras, e
Noutras partes da Bíblia também
há evidências do poder matriarcal, como no apelo de Bate-Seba ao moribundo rei
Davi (1ª Reis 1.13), no
reinado de Jezebel e na sucessão do rei Jeú (2ª Reis 11.1-4). Aqui,
porém, esse poder se transcreve até na formulação do ensino de Sabedoria.
O Livro de Provérbios traz um tipo de sabedoria (divinamente inspirada, se tomamos a participação especial de Salomão, Ezequias e Josias nisso) ao qual não estamos acostumados. Trata-se da compilação do pensamento de sábios em linguagem o mais simples e popular possível, porém guardando um formato e estilo que identificou-os durante cerca de 1000 anos. O livro raramente está na forma de texto, sendo geralmente uma sucessão de pequenas falas onde duas idéias são comparadas. É difícil saber quanto dos escritos originais sobreviveram ao longo desse tempo, mas a estrutura do texto (não sendo um texto...) se conservou incrivelmente ao longo do tempo.
SABEDORIA TAMBÉM É LER
Agur - wikipedia
Amenemope (pharaoh) - wikipedia
Carreira JN, Sabedoria evangélica no Antigo Egito, Faculdade de Letras de Lisboa
Ivo Storniolo, Como ler o livro dos provérbios, Ed. Paulus, 2008
Rob Harbison, Proberbs - study guide
The Proverbs of Amenemope also known as: The Instruction of Amenemope
Os seres humanos estão entre os
animais que melhor aprendem sem experimentar. Claro que se comenos algo
desagradável, ou que nos faz mal, passamos a evitar aquele alimento. Até os
animais mais simples fazem isso. No nosso caso, porém, uma pessoa dizendo que o
alimento é ruim basta para que não o comamos. Pior, algumas vezes comemos
coisas que achamos ruim porque outros nos asseguram que são boas! Esse
aprendizado faz parte do curso da vida de todos: vamos acumulando, com o tempo,
as experiências próprias e os ensinos de outros que nos proporcionam mais
sucesso no que intentamos fazer. Os ensinos obviamente vêm em maior quantidade
das pessoas mais velhas, enquanto as experiências fazem parte do dia-a-dia dos
mais novos.
O Livro de Provérbios trata
justamente da Sabedoria, ou seja, do conhecimento prático que uma pessoa pode
ter. Os compositores do livro almejavam reunir conselhos que fossem largamente
úteis para que alguém pudesse ter uma vida de sucesso. E não se tratava de um
sucesso material, ou de carreira, etc, mas um sucesso COMPLETO como aplicador
dos ensinamentos do Senhor. Esses ensinamentos foram coletados dentre as
pessoas mais sábias do reino, dentre os legados de faraós, etc.
As fontes dos Provérbios são
variadas, e de certa forma trata-se uma “bíblia” de pequenos livros reunidos. Alguns
estudiosos, no entanto, argumentam que a falta de conectividade dos Provérbios
se deve a serem uma coleção de pequenos ditos, que jamais foram um livro coeso.
Sua escrita, no entanto, parece ter sido sempre um trabalho “profissionais” de
sábios contratados por reis para discutirem exaustivamente seus temas e
destilarem em poucas palavras os seus conhecimentos de toda vida. O objetivo
sempre foi bem claro: reunir conhecimentos complexos de forma simples, para que
pudessem ser ENSINADOS à pessoas, tanto do povo quanto dos palácios.
No trecho “E deu Deus a Salomão sabedoria, e
muitíssimo entendimento, e largueza de coração, como a areia que está na praia
do mar. E era a sabedoria de Salomão maior do que a sabedoria de todos os do
oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios. E era ele ainda mais sábio do
que todos os homens, e do que Etã, ezraíta, e Hemã, e Calcol, e Darda, filhos
de Maol; e correu o seu nome por todas as nações em redor. E disse três mil
provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco” (1ª Reis 4:29-32)
aparecem os nomes de pessoas cujo ofício era, aparentemente, ensinar a
Sabedoria. Parece um exagero do autor atribuir 3000 provérbios a Salomão, se
pensarmos nos capítulos em que o livro de Provérbios está dividido. No entanto,
desvinculando cada “versículo” dos demais, chegamos a um número enorme de
pequenas citações, o que pode aproximar-se muito mais do escrito em 1ª Reis.
Acredita-se que Salomão também
tenha composto uma grande quantidade de conselhos. E ele teve ajuda de sábios
no seu tempo e depois, como Agur e Lemuel. Essa “coleção de ensinamentos”
destinava-se a orientar as pessoas em questões práticas.
O temor do Senhor é o princípio
da sabedoria. Esse é um tema que se repete nos Provérbios e noutras partes da
Bíblia (Pv 1.7, Pv 9.10, Jó 28.28, Sl 111.10). A Sabedoria (ou aquilo que os
sábios têm) então é apresentada como uma revelação divina da forma como um
homem deve se comportar perante outro homem. A Sabedoria não é algo que deve
ser feito, mas a forma de fazer as coisas.
No livro dos Provérbios, há 3
categorias de pessoas, e o livro preza pela simplicidade ao supor que TODOS se
encaixam numa dessas categorias. Há o Sábio, que se guia segundo os modos que
recebe de Deus. Há o Tolo, que despreza todo ensinamento e, tomando por valores
aquilo que o Senhor desconsidera, se guia para a destruição. E há o Simples,
que não sabe qual caminho seguir, e luta consigo mesmo. Em todo momento, o
livro parece dedicado ao Simples, de forma que ele siga pelo caminho do Sábio.
O Simples é aquele que desconhece os ensinamentos, que não foi instruído. Para
aqueles que o conhecem, o livro adverte que “Como as pernas do coxo, que pendem flácidas, assim é o
provérbio na boca dos tolos" (Provérbios 26:7), de forma que
conhecê-lo e ignorá-lo já mostra o caminho optado por alguém.
Muitas vezes, o livro de
Provérbios descreve o Sábio dizendo que é o contrário do Tolo. O Tolo se
caracteriza por orgulho (3.7), exaltação (16.18, 17.19, 18.12, 21.4), soberba, arrogância
(8.13, 21.24), auto-propaganda (20.6, 25.14, 27.2).
PROVÉRBIOS DE SALOMÃO
Existe mais de um tipo de
provérbio na Bíblia. Além daqueles escritos no Livro de Provérbios, o texto
bíblico traz referências como “por isso se diz: Como Ninrode, poderoso caçador
diante do Senhor” (Gênesis 10.9), “Pelo que se tornou
em provérbio: Está Saul também entre os profetas?” (1ª Samuel 10.12), “Tal mãe, tal
filha” (Ezequiel 16.44). Esses provérbios
se parecem muito com “Água mole e pedra dura, tanto bate até que fura”, “Pau
que nasce torto morre torto”, “Em briga de marido e mulher não se mete a
colher”, etc. Mas todos estão bem distantes do formato do Livro de Provérbios,
onde sempre temos a estrutura [frase 1] ... [frase 2], com ambas levando alguma
relação entre si:
[O temor do Senhor é o princípio
da sabedoria], e [o conhecimento do Santo a prudência] (Provérbios 9.10)
[O sacrifício dos ímpios é abominável ao Senhor], mas [a oração dos retos é o seu contentamento] (Provérbios 15.8)
Aparentemente, “Provérbios de
Salomão”, uma expressão comum na Bíblia, corresponde a um estilo próprio dos
sábios profissionais, não sendo usado fora do contexto de ensino. Ao rei Salomão
corresponderia, de fato, o início dessa tradição.
PROVÉRBIOS NUMÉRICOS
Outro formato comum no livro são
os provérbios que mostram categorias crescentes de importância, como se
elencassem qualidades e defeitos em ordem crescente. Os capítulos 30 e 31 do
livro dão muitos exemplos desse estilo curioso, mas que aparece também em
diversos outros capítulos.
Estas seis coisas o Senhor odeia,
e a sétima a sua alma abomina:
1. olhos altivos,
2. língua mentirosa,
3. mãos que derramam sangue
inocente,
4. o coração que maquina
pensamentos perversos,
7. o que semeia contendas entre
irmãos.
LIVRO 1 - PALAVRAS DOS SÁBIOS
A parte mais antiga dos
Provérbios está no trecho que vai de Pv 22.17 a Pv 24.22 (repare a fragmentação do
texto). Em traduções mais antigas da Bíblia, esse trecho se inicia com o título
“Palavras dos Sábios”. Trata-se de ensinamentos que circulavam em tabletes de
madeira no Egito, numa coleção chamada de “Provérbios de Amenemope”, que
Salomão importou para Israel e usou como início da atividade de ENSINO dos
sábios. Na época, o Egito era de fato a nação mais desenvolvida do Oriente, e
muitas outras coisas egípcias foram importadas por Salomão, como a organização
do governo.
O faraó Amenemope havia deixado
para seu sucessor uma obra “literária” contendo instruções para que um
funcionário da corte tivesse uma vida feliz. Ensinada às gerações seguintes, a
obra se popularizou em todo Oriente. Salomão praticamente copiou os 30
conselhos de Amenemope e os usou como parte de sua coleção pessoal. De fato, a
semelhança dos textos em conteúdo e seqüência é tão grande que, no início do
século 20, a
tradução dos “Provérbios de Amenemope” (a partir do egípcio) foi usada para
revisar e corrigir pontos confusos da tradução bíblica (a partir do hebraico).
O conteúdo desse livro é claramente uma instrução aos membros da corte, de como deveriam se comportar na presença de reis e governadores. Para instruir a não beber em demasia, por exemplo, há uma bela descrição dos efeitos intoxicantes do vinho e de como as pessoas agem quando bêbadas.
O conteúdo desse livro é claramente uma instrução aos membros da corte, de como deveriam se comportar na presença de reis e governadores. Para instruir a não beber em demasia, por exemplo, há uma bela descrição dos efeitos intoxicantes do vinho e de como as pessoas agem quando bêbadas.
De quem são os ais? De quem as tristezas? E as brigas, de quem são? E os ferimentos desnecessários? De quem são os olhos vermelhos? Dos que se demoram bebendo vinho, dos que andam à procura de bebida misturada. Não se deixe atrair pelo vinho quando está vermelho, quando cintila no copo e escorre suavemente! No fim, ele morde como serpente e envenena como víbora. Seus olhos verão coisas estranhas, e sua mente imaginará coisas distorcidas. Você será como quem dorme no meio do mar, como quem se deita no alto das cordas do mastro. E dirá: "Espancaram-me, mas eu nada senti! Bateram em mim, mas nem percebi! Quando acordarei para que possa beber mais uma vez?" (Provérbios 23.29-35)
A origem egípcia desses provérbios se torna ainda mais evidente quando se consideram duas divindades do Egito relacionadas à vida e à morte: Anúbis era o deus-chacal que regulava a entrada dos homens no mundo dos mortos, pesando seus corações para ver se mereciam a vida eterna; Toth era o deus-íbis que controlava a "força da vida" e mantinha os homens vivos ou os matava.
Mesmo que você diga: "Não sabíamos o que estava acontecendo! " Não o perceberia aquele que pesa os corações? Não o saberia aquele que preserva a sua vida? Não retribuirá ele a cada um segundo o seu procedimento? (Provérbios 24.12)
LIVRO 2 - TAMBÉM ESSAS SÃO PALAVRAS DOS
SÁBIOS
Não há como ter certeza de que
Salomão tenha composto sozinho seus provérbios. Se considerarmos que a noção
hebraica de Sabedoria se apóia no debate incessante de idéias e leis (até
hoje), isso na verdade é muito improvável. O rei deve ter contado com “sábios
profissionais” para essa obra, e o trecho de Provérbios 24.23-34 parece
ter sido emendado aos provérbios de Amenemope no reinado dele. Trata-se de um
texto que aconselha a não favorecer pessoas num julgamento, a não devolver o mal
com o mal e que condena a preguiça.
LIVRO 3 - O REINADO DE EZEQUIAS
Ezequias (715-687 a .C.) foi rei de Judá
após a ocupação assíria que Oséias descreve. Durante seu reinado viveram os
profetas Isaías e Miquéias. Na Bíblia, Ezequias é apontado como um dos grandes
reis:
Ezequias, porém, se humilhou pela exaltação do seu coração,
ele e os habitantes de Jerusalém; e a grande ira do Senhor não veio sobre eles,
nos dias de Ezequias. E teve Ezequias riquezas e glória em grande abundância;
proveu-se de tesouraria para prata, ouro, pedras preciosas, especiarias,
escudos, e toda a espécie de objetos desejáveis. Também de armazéns para a
colheita do trigo, e do vinho, e do azeite; e de estrebarias para toda a
espécie de animais e de currais para os rebanhos. Edificou também cidades, e
possuiu ovelhas e vacas em abundância; porque Deus lhe tinha dado muitíssimas
possessões. Também o mesmo Ezequias tapou o manancial superior das águas de
Giom, e as fez correr por baixo para o ocidente da cidade de Davi; porque
Ezequias prosperou em todas as suas obras (2 Crônicas 32:26-30).
Ao centralizar novamente o poder
real, após uma época de guerras contra a Assíria e devastações, Ezequias
contratou sábios para reunirem provérbios e os escreverem, a fim de que fossem
ensinados ao povo e aos nobres. A parte de Provérbios 25 a 27 corresponde ao seu
legado para o povo. A parte de Provérbios 28 e 29 corresponde ao seu legado
para a nobreza. Os sábios de Ezequias começaram seu trabalho com uma marca
significativa - “Também estes são
provérbios de Salomão, os quais transcreveram os homens de Ezequias, rei de
Judá” (Provérbios 25:1).
Na parte referente ao povo, os
sábios usaram novamente o Tolo como forma de evidenciar o Sábio. O Tolo é sem autocontrole
(Provérbios 25.28), não
presta atenção aos ensinamentos (26.7), é recebedor de
castigos (26.3); não se deve ter relações com ele e muito menos conceder-lhe
honras (26.1-8), ele é preguiçoso e sábio aos próprios olhos (26.13-16), fica
se gabando de dádivas não recebidas (25.14), é incorrigível (26.11 e 27.22), maldizente,
enganador (26.18-22) e irado (27.3). O livro ainda traz ensinamentos sobre como
proceder no dia-a-dia com as outras pessoas, evitando mulheres que criam brigas
(27.15), prestar atenção nos senhores (27.18), de como se comportar no Palácio,
sendo comedido e discreto (25.6-7 e 15-17), como evitar problemas legais (25.
8-10), etc.
Na parte referente à nobreza, os
sábios elaboraram uma espécie de manual para príncipes e altos funcionários da
realeza, que provavelmente foi usado na educação dessas pessoas. Trata-se de
uma exaltação da justiça e da lei (Provérbios 28), sem que o
pobre seja oprimido (28.3, 28.15-16). O livro adverte os poderosos de que serão
vítimas de bajulação e inveja, mas que serão bons governantes se agirem com
justiça (Provérbios 29.2,
29.7, 29.14, 29.16, 29.27).
LIVRO 4 - A REFORMA DE JOSIAS
Quando o bisneto de Ezequias subiu
ao trono, encontrou um vácuo de poder: o Egito (ao sul) havia se desestruturado
por problemas internos, a Assíria (ao norte) havia sido vencida nas guerras
contra as tribos babilônicas e a Babilônia ainda não era um império unificado.
Nessas condições, Josias (640-609
a .C.) deu pleno trabalho à re-unificação do reino, onde
atuavam o profeta Jeremias e sua parente, a profetisa Hulda.
Durante a reforma do Templo,
Josias recebe a notícia de que o livro da Lei havia sido encontrado. Isso é
muito significativo, pois revela que a lei escrita de Moisés talvez tivesse se
perdido durante as guerras, no reino do sul, pelo menos. Ao ver o livro da Lei,
Josias inicia profundas reformas religiosas para re-estabelecer o império dos
tempos de Davi e Salomão. Essas reformas incluíram a proibição do culto de
outros deuses, a destruição dos prostíbulos sagrados ANEXOS AO TEMPLO, a
derrubada dos pilares sagrados de Baal e Asherá, a destruição de imagens
sagradas, a execução de sacerdotes pagãos e até desenterrar os sacerdotes
pagãos antigos e queimar seus ossos (o que era visto como pior das afrontas).
As reformas de Josias condizem
com o livro de Deuteronômio, que deve ter sido o “livro da Lei” encontrado. Ao
menos em sua parte central (Deutoronômio 12-26): muitos trechos do
livro só se tornaram populares após o reinado de Josias, de forma que devem ter
sido escritos e incluídos nesse período. Esse livro traz basicamente um código
de leis sobre o culto a Javé, o papel do rei de transmitir as mensagens de Deus
ao povo, as coisas proibidas para se fazer e comer, e uma estrutura
político-legislativa a ser observada pelos governantes.
Durante o reinado de Josias, os
sábios ligados à corte reuniram mais provérbios às coleções anteriores,
compondo a parte conhecida como Provérbios de Salomão (10.1 até 22.16). Como fez Ezequias,
a 1ª parte (Provérbios 10 até 15)
é um código de moral dedicado ao povo); a 2ª parte (Provérbios 16 até 22.16) é
um código de ensino para a realeza e os altos funcionários. A parte dedicada ao
povo está entre os mais belos exemplos de filosofia de vida: ela estabelece uma
moral baseada no temor a Javé, ardor no trabalho, modéstia, humildade,
generosidade, misericórdia e honestidade; por outro lado condena a preguiça,
injustiça, insensatez e perversidade. Em especial, faz uma prodigiosa descrição
das emoções humanas e sua relação com Deus. A parte dedicada aos governantes é
fortemente religiosa e apresenta Javé como protetor dos justos, sendo o rei seu
emissário. Ainda, estabelece que os ricos se enganam freqüentemente e Javé
protege os pobres.
Apesar de seu trabalho exemplar
em registrar essa parte do Livro de Provérbios, Josias morreu em condições no
mínimo estranhas. Conforme 2ªCrônicas 35.20-27, o faraó Necao havia entrado em guerra contra a Assíria;
enquanto passava com seu exército por Judá, Josias foi combatê-lo. O faraó teria
declarado “segundo Deus” que sua guerra não era contra Judá, mas Josias
insistiu na batalha, onde acabou mortalmente ferido. Menos de uma década depois
dele, as tribos babilônicas se consolidaram e o rei Nabucodonosor II capturou
Jerusalém em 597 a .C.,
deportando toda sua população para outras terras.
LIVRO 5 - O RETORNO DA BABILÔNIA
Após 50 anos de servidão dos judeus nas terras
babilônicas, Ciro “o grande” chega da Pérsia e conquista a capital de
Babilônia. Com um reino tão grande para se apossar, sua estratégia foi
conseguir apoio de todas as nações escravizadas. Por meio de uma lei escrita,
ele permitiu que todas as nações deportadas voltassem para suas terras e
ofereceu os tesouros reais para reconstruir o que os babilônicos tivessem
destruído. Funcionou! Em poucos anos, a Babilônia e todas as terras vizinhas
idolatravam Ciro como um “grande salvador” e passaram pacificamente a fazer
parte de seu gigantesco império. Dario e Xerxes (também chamado Assuero), dois
reis históricos, seriam seus sucessores.
Neemias partiu com uma carta do
rei e grandes riquezas para começar a reconstrução de Jerusalém. Pouco depois,
chega Esdras, escriba e profeta do rei, para devolver as leis de Moisés ao
Templo, agora em trabalho de reconstrução (Esdras 7.7-10). A Lei passa a
ser lida e explicada publicamente e ressurge uma classe poderosa em Jerusalém,
formada principalmente por sacerdotes. Logo essa classe reassume os trabalhos
de educação a que se dedicavam na Babilônia, passando a compor também uma parte
do Livro de Provérbios. Até 400
a .C., os “sábios do reino” haviam anexado os ensinamentos
de Provérbios 1 até 9,
com a introdução “Provérbios de Salomão, filho de Davi e rei de Israel”. O
objetivo era claro: resumir e re-ensinar ao povo as antigas escrituras.
Curiosamente, esse trecho
precisava de uma séria adaptação em relação aos outros. Não havia mais um rei
como emissário do Senhor. As escrituras eram o que tinham de mais forte
ligando-os às eras passadas do Templo, e então a Sabedoria aparece como um
personagem, uma imagem do próprio Deus que busca converter o homem de seus
enganos. E o maior deles era desprezar o ensino! A Sabedoria toma as feições de
uma pessoa que chama os Simples de cima dos muros, de cima das casas, que lhes
oferece um banquete para ensinar o Temor ao Senhor. Em Provérbios 8.13, esse temor é
“odiar o mal; a soberba e a arrogância, o mau caminho e a boca perversa”. A
apresentação da Sabedoria nessa parte do Livro dos Provérbios curiosamente
iguala a Sabedoria ao próprio Messias:
O Senhor me possuiu no princípio
de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras. Desde a eternidade fui
ungida, desde o princípio, antes do começo da terra. Quando ainda não havia
abismos, fui gerada, quando ainda não havia fontes carregadas de águas. Antes
que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada. Ainda
ele não tinha feito a terra, nem os campos, nem o princípio do pó do mundo. Quando
ele preparava os céus, aí estava eu, quando traçava o horizonte sobre a face do
abismo; quando firmava as nuvens acima, quando fortificava as fontes do abismo,
quando fixava ao mar o seu termo, para que as águas não traspassassem o seu
mando, quando compunha os fundamentos da terra. Então eu estava com ele, e era
seu arquiteto; era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em todo
o tempo; regozijando-me no seu mundo habitável e enchendo-me de prazer com os
filhos dos homens. (Provérbios 8.22-31)
Disse-lhes Jesus: Em verdade, em
verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou. (João 8.58)
E agora glorifica-me tu, ó Pai,
junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo
existisse. (João 17:5)
O ADULTÉRIO
Curiosamente, o adultério ocupa
um lugar muito significativo nos ensinamentos hebraicos, e mesmo de Jesus. Isso
só pode significar que se tratava de um problema do dia-a-dia, que perturbava
tanto reis como humildes. Todo o capítulo 5 do Livro de Provérbios trata de
descrever a mulher adúltera como uma armadilha mortal ao homem, como alguém que
atrai os jovens e os leva à morte.
AS TRIBOS DO DESERTO E SUAS
MULHERES
Normalmente pensamos nos nômades
governados por patriarcas autoritários... Talvez o livro de Provérbios mostre
um lado bem diferente desses povos! As contribuições pra o Livro de Provérbios nem
sempre vieram dos palácios reais. Algumas tiveram origem em reinos distantes,
nas tribos nômades que andavam nas bordas do deserto, entre Israel e a Assíria. Um exemplo claro está em Provérbios 30.1-9, que
começa com “Palavras de Agur, filho de Jaque, o masaíta, que proferiu este
homem a Itiel, a Itiel e a Ucal”. Os nomes podem ser fictícios, porque Agur
significa “aquele que ajunta” e Jaque é “o que é religioso”, ou podem ser nomes
reais de pessoas. O povo de Massá é bem real, mencionado em outras partes da Bíblia:
E estes são os nomes dos filhos
de Ismael, pelos seus nomes, segundo as suas gerações: O primogênito de Ismael
era Nebaiote, depois Quedar, Adbeel e Mibsão, Misma, Dumá, Massá, Hadade, Tema,
Jetur, Nafis e Quedemá. Estes são os filhos de Ismael, e estes são os seus
nomes pelas suas vilas e pelos seus castelos; doze príncipes segundo as suas
famílias. (Gênesis 25:13-16)
Agur expõe sua ignorância e suas
dúvidas ao Senhor, pedindo que não seja rico (para esquecê-Lo), nem pobre (para
desonrá-Lo roubando).
Após o seu testemunho, seguem
conselhos variados sobre coisas importantes e desprezíveis, e então as palavras
de Lemuel, rei de Massá. Lemuel deixa evidente o poder matriarcal ao enunciar
que são palavras que lhe foram ensinadas por sua mãe. São conselhos sobre como
proceder quanto às bebidas alcoólicas. Em seguida, há uma série de ensinamentos
sobre o valor da mulher virtuosa.
CONCLUSÃO
O Livro de Provérbios traz um tipo de sabedoria (divinamente inspirada, se tomamos a participação especial de Salomão, Ezequias e Josias nisso) ao qual não estamos acostumados. Trata-se da compilação do pensamento de sábios em linguagem o mais simples e popular possível, porém guardando um formato e estilo que identificou-os durante cerca de 1000 anos. O livro raramente está na forma de texto, sendo geralmente uma sucessão de pequenas falas onde duas idéias são comparadas. É difícil saber quanto dos escritos originais sobreviveram ao longo desse tempo, mas a estrutura do texto (não sendo um texto...) se conservou incrivelmente ao longo do tempo.
SABEDORIA TAMBÉM É LER
Agur - wikipedia
Amenemope (pharaoh) - wikipedia
Carreira JN, Sabedoria evangélica no Antigo Egito, Faculdade de Letras de Lisboa
Ivo Storniolo, Como ler o livro dos provérbios, Ed. Paulus, 2008
Rob Harbison, Proberbs - study guide
The Proverbs of Amenemope also known as: The Instruction of Amenemope
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