1º Hinário brasileiro, de 1855 - Igreja Evangélica Fluminense
(clique para ampliar)
A música é a expressão de
sentimentos através de vibrações sonoras, uma “linguagem por detrás das
palavras”. Existe certa musicalidade até no que falamos, e não por acaso a
música sempre foi atrelada nos ritos religiosos. Aprender sobre Deus COM MÚSICA
é, para todos os humanos, melhor do que aprender SEM MÚSICA. Mas, claro, a Bíblia não é uma
coleção de livros de música. Mesmo os Salmos, que são canções, não trazem
qualquer tipo de partitura e só possuem alguma sonoridade se cantados no
dialeto hebraico original. Dessa forma, a música nas igrejas cristãs precisou
ser criada, inventada, ritmada. Como fazê-lo?
O primeiro contato que temos com
a música é no ambiente profano, mesmo aquelas canções infantis que
usamos para ensinar algo às crianças: Boi da cara preta, Era uma casa muito
engraçada, etc. Uma boa harmonia ou ritmo sempre cativam, e a música ainda traz
valores culturais, pessoais, do tempo de cada um. Todo os povos são dotados de musicalidade, não existe nem um povo que não tenha
sua própria música, assim como não existe ninguém que não aprecie algum tipo de
música.
Seria a música profana algo
maligno? Paulo recomenda à igreja de Filipos: “tudo o que é verdadeiro, tudo o
que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo
o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”
(Filipenses 4.8).
Paulo não tinha uma Bíblia; assim como ele recomenda, convém que comparemos o que ouvimos
com o que realmente é TEXTIFICADO como verdade. Há coisas lindas que as pessoas
podem produzir, mas há coisas lindas que podem ser contrárias à Bíblia. Vão
dois exemplos de canções consagradas:
Eu sei que vou te amar; por toda
a minha vida eu vou te amar; em cada despedida eu vou te amar; desesperadamente,
eu sei que vou te amar... (Eu sei que vou te amar, Tom Jobim)
Eu aprendi; a vida é um jogo;
cada um por si; e Deus contra todos; Você vai morrer; e não vai pro céu; é bom
aprender; a vida é cruel... (Homem Primata, Titãs)
Na 1ª delas, temos uma declaração
de amor erótico, de uma mulher para um homem (vejam a letra completa). Isso é
bíblico! O Cântico dos Cânticos
é muito mais erótico do que Tom Jobim já conseguiu ser. Na 2ª canção, “cada um
por si” e “Deus contra todos” simplesmente negam o ensino bíblico de Gênesis a
Apocalipse. A letra é poética, o ritmo e a melodia são geniais, mas é encher os
pensamentos com aquilo que Paulo mandou rejeitar.
Alguém talvez diga: mas os
compositores não são cristãos. Na Bíblia, a maior parte dos personagens também
não era. Pregamos um Jesus que visitava os endemoniados e os leprosos, que
andava na companhia de publicanos “impuros” e até comia em suas casas. Cada
coisa é simplesmente aquilo que apresenta! No caso da música, significa que ela
pode trazer elementos cristãos ou não, sem que isso se atrele a sua qualidade
sonora.
A MÚSICA SACRA
Música sacra é aquela que tocamos
ou cantamos especificamente em ambientes sagrados, com propósitos religiosos.
Ninguém é contra ouvir música sacra em casa, mas certamente ouvir música
profana no local de culto está fora de questão. Pensamos que é necessário
garantir dignidade do templo - o prédio - ao invés de devolver às mãos do
Senhor os flagelos com que Ele expulsou os profanadores em Jerusalém. Mas se a
música é atraente, se aprendemos música fora do culto, é realmente difícil separar
as duas coisas.
Pelo seu poder comunicativo, a música sacra pode acrescentar mais eficácia à pregação. Ela pode criar um elo entre o coração e o texto bíblico. E por isso desejamos que ela seja santa, que exclua todo o profano em si mesma, nas pessoas que tocam ou cantam, no modo como é executada e até na vida do compositor. Mas a música é por demais humana para isso... Se ela for arte verdadeira, se permitir a cada nação incluir como sacras as suas composições religiosas, sua música própria, então como podemos falar em algo TEOLOGICAMENTE universal?
A Bíblia não nos fornece qualquer ensino objetivo de como fazer cultos entre 4 paredes. As descrições são fragmentadas, dispersas em textos com outros propósitos. O seja, a Igreja não tem exemplos das Escrituras para desenvolver serviços de culto! Assim, há uma busca pelos “princípios escriturísticos de culto”, oque depende do entendimento, valores de cada um, etc, variando um tanto entre as culturas e pessoas.
Pelo seu poder comunicativo, a música sacra pode acrescentar mais eficácia à pregação. Ela pode criar um elo entre o coração e o texto bíblico. E por isso desejamos que ela seja santa, que exclua todo o profano em si mesma, nas pessoas que tocam ou cantam, no modo como é executada e até na vida do compositor. Mas a música é por demais humana para isso... Se ela for arte verdadeira, se permitir a cada nação incluir como sacras as suas composições religiosas, sua música própria, então como podemos falar em algo TEOLOGICAMENTE universal?
A Bíblia não nos fornece qualquer ensino objetivo de como fazer cultos entre 4 paredes. As descrições são fragmentadas, dispersas em textos com outros propósitos. O seja, a Igreja não tem exemplos das Escrituras para desenvolver serviços de culto! Assim, há uma busca pelos “princípios escriturísticos de culto”, oque depende do entendimento, valores de cada um, etc, variando um tanto entre as culturas e pessoas.
No mundo Católico, existe uma
“fórmula ideal” para as missas. Mostraremos a seguir que isso variou muito ao
longo do tempo, entretanto. No mundo Protestante, não existe essa fórmula. Para
Lutero, por exemplo, as questões litúrgicas (ou seja, referentes ao FORMATO do
culto) não eram prioritárias – ele simplesmente conservou a liturgia das missas
Católicas. Para as novas Igrejas surgidas após 1500, entretanto, esta era uma
questão essencial. O famoso teólogo Protestante Ulrich Zwinglio (1484-1531)
enfatizou a pregação da Palavra como elemento central do culto. Ele até
suspeitava do “poder sedutor” da música, banindo da Igreja todo tipo de música,
artes visuais, iconografias, mandou pintar todas as paredes de branco. Esse
modelo mais ou menos continua até hoje.
NATUREZA DA MÚSICA SACRA
Nem toda música na Bíblia é
música sacra. Há canções de guerra, de lamento, de vitória. E há canções
dedicadas ao Senhor. Talvez a aparição mais inquietante da música sacra seja no
livro de Jó, o mais antigo das Escrituras, onde lemos que quando Deus lançava
os fundamentos da terra, as estrelas da alva cantavam e todos os filhos de Deus
rejubilavam (Jó 38.1-7). Se
compararmos esta passagem com Isaías 14.12 onde
Lúcifer é chamado de estrela da manhã e filho da alva, podemos entender que,
mesmo antes da criação do universo, havia no céu uma hoste angelical separada
para cantar louvores ao Eterno Deus, da qual Lúcifer parece ter sido o regente
(Ezequiel 28.12-15).
A mais forte aparição de música
sacra sem dúvida são os 150 Salmos, escritos por Davi e os músicos que
ele designou para o Templo. Todos são canções de culto; 55 deles contêm
instruções para os regentes sobre a execução de vários instrumentos
musicas e as melodias para acompanhamento. Infelizmente, tais melodias não
foram “partituradas”.
Os judeus (como nós) faziam
canções para os momentos de festa e para os de tristeza. Isso não excluía os
cultos. Assim, se tomarmos os Salmos como exemplo, as canções/orações no culto
não precisam ser espetáculos vibrantes, eufóricos. Ali também tem muito sofrimento... Há hora para festejar e hora
para chorar! O apóstolo Tiago nos deixou esse ensino: “Está alguém entre vós
aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores” (Tiago 5.13). Há muito tempo, os compositores de música sacra perceberam que a música influenciava emocionalmente as pessoas. Hoje, dizemos que tem funções de impressão e de expressão.
IMPRESSÃO tem a ver com criar uma
atmosfera propícia, que exaltar as pessoas dependendo de sua susceptibilidade
ou carências momentâneas. A música de impressão é capaz de criar diferentes “climas”:
alegria, paz, tristeza, majestade, etc. Embora possa
vir acompanhado de texto, esse tipo de música não depende dele. Ela valoriza o som em si, seu objetivo é emocionar as pessoas, criar um ambiente místico. A música de excelência na Igreja Católica é o Canto Gregoriano,
criado pelo papa Gregório Magno entre os séculos 6 e 7. Claramente, a função do
canto gregoriano é de “impressão”, usando textos muito curtos em latim ou grego,
que são cantados beeem lentamente. Afinal, a liturgia da missa era
“mágica” e beneficiaria os presentes, quer entendessem ou não.
Ouça aqui belos cantos gregorianos
(clique em TRY US!)
A música de EXPRESSÃO é elaborada intencionalmente para que ressaltar o texto, fixá-lo nas pessoas. Como as canções de Tom Jobim e dos Titãs
acima! Ela é um veículo para o texto, eleva a letra e não a melodia. No
ambiente religioso, talvez os Salmos ofereçam o exemplo mais excelente de
música de expressão.
Ouça aqui os salmos cantados
(a numeração é a grega, usada nas Bíblias Católicas. Em geral, isso representa
-1 na numeração hebraica, usada pelos Protestantes)
Nas palavras do reformador João Calvino
(1509-1564), “... o canto por um lado concilia dignidade e graça aos atos
sacros, por outro, muito vale para incitar os ânimos ao verdadeiro zelo e ardor
ao orar. Contudo, impõe-se diligentemente guardar que não estejam os ouvi dos mais
atentos à melodia que a mente ao sentido espiritual das palavras...”.
Essa fala repetia Santo Agostinho,
que estruturou a teologia cristã no séc. 4: “Porém quando me lembro das lágrimas
derramadas ao ouvir os cânticos da vossa Igreja nos primórdios da minha conversão
à fé, e ao sentir-me agora atraído, não pela música, mas pelas letras dessas melodias,
cantadas em voz límpida e modulações apropriadas, reconheço, de novo, a grande utilidade
desse costume... Quando, às vezes, a música me sensibiliza mais do que as letras
que se cantam, confesso com dor que pequei”.
Dessa forma, a emoção e a música
de impressão no culto têm seu lugar: a emoção deve passar pelo entendimento das
verdades de Deus, e não ser um fim em si mesma. Portanto, uma música sacra ruim
é aquela que chama demais a atenção para si (seja pelo ritmo intenso, seja pela
melodia enfática), desviando a atenção da Palavra. A boa música sacra, por
outro lado, abre caminho para o texto, explica e inculca-o.
Convém explicar algo mais de
música. RITMO é a marcação do tempo ou a freqüência em que a ação se repete. O
ritmo mexe com a velocidade com que pensamos, com a nossa excitação, podendo
ser algo lento como um canto gregoriano ou rápido como uma balada de rock. Já a
MELODIA é a sucessões de sons diferentes, e ela mexe com nossas emoções. Não há
necessidade do Espírito Santo para fazer um auditório chorar; basta usar a
melodia certa! Harmonia pode ser
definida como os sons simultâneos numa música. A combinação de vozes em um
coral, por exemplo, forma uma harmonia. A harmonia excita e exige do intelecto
para ser decifrada, analisada. Mozart usava a harmonia como ninguém.
O detalhe é que nosso cérebro é
limitado nas informações que consegue receber. Quando uma música valoriza
demais o ritmo, o entendimento da letra é desligado. Por isso, o ritmo é um dos
elementos mais valiosos para o desligamento das pessoas nos centros de umbanda,
ioga, zen budismo, etc.. "Mantra" nada mais é do que uma pequena
melodia repetida tantas vezes que se torna um ritmo. Excesso de ritmo leva as
pessoas a pararem de pensar. O excesso de melodia também é ruim: as pessoas se
emocionam, choram ou riem, sem que a Palavra seja sequer compreendida. Já o
excesso de harmonia pode tornar uma música tão complexa que as pessoas mais
simples deixam de identificá-la como música. É preciso moderar os elementos da
música, se o propósito dela é servir a um culto, se é usada para fixar a
Palavra.
Lutero já dizia: "eu sei que
amanhã, 2ª feira, vocês vão esquecer o que eu estou falando agora no meu
sermão. Mas os hinos que os faço cantar, jamais vão ser esquecidos". Por
isso mesmo, toda música sacra deve passar pelo crivo da Bíblia, ou corre o
risco de catequizar a igreja com baboseiras teológicas. Mas se a música for
ruim, também não fixará coisa alguma. O célebre músico Johan Sebastian Bach
passou 45 anos de sua vida trabalhando como músico de uma única Igreja (a
Igreja de St. Thomaz, em Leipzig). Sua obra inteira foi S.D.G. (Soli Deo
Gloria). Ele assinava assim. Essa era a sua finalidade; por isso ele fazia o
melhor que podia, exatamente porque era para a glória de Deus. Quem dirá
Antônio Vivaldi (compositor de As Quatro Estações), que era padre!
Quando falamos de música boa ou
ruim, estamos apenas desejando que ela realize seu propósito SACRO. Existem músicas "de louvor" muito boas, assim como existem músicas "de hinário" que precisam ser revistas. O sacro, na verdade, aquilo que é verdadeiramente
aceito por Deus, não tem nada a ver com o tipo de sons; tem a ver com o coração
e lábios limpos, tem a ver com o cantante e com Deus.
E A MÚSICA SACRA MUDOU AO
LONGO DO TEMPO...
Algumas pessoas argumentam que a
Igreja Primitiva dirigia seus próprios cânticos, que cantar e dirigir cânticos
eram coletivos, não um evento profissional dirigido por
especialistas. No entanto, a Bíblia mostra que já em 1000 a .C. havia um serviço
de música especializado, antes mesmo que houvesse um Templo (1ª Crônicas 16.4).
Com muitos hinos compostos por
Davi e seus músicos, o livro dos Salmos é o hinário mais antigo que se conhece,
usado tanto por judeus como por cristãos. Novas feições musicais foram
inseridas com o aparecimento de cânticos e hinos especificamente do
Cristianismo (1ª Coríntios 14.26;
Efésios 5.19; Colossences 3.16).
Diderentemente dos músicos do templo, que usavam címbalos, tambores, chifres e cítaras, os 1os cristãos aparentemente não usavam instrumentos na sua adoração a Deus.
Isso porque o uso de instrumentos no Velho Testamento estava associado com as
ofertas e cerimônias do templo, que não aconteciam nas sinagogas após a
Diáspora. Desta forma, nos dias de Jesus e dos apóstolos, o canto à capela (só
com vozes) era o modo usado para se louvar a Deus. As canções usadas talvez
ainda incluíssem os Salmos, mas haviam composições novas, como fica sugerido no
Magnificat de Maria.
A minha alma engrandece ao
Senhor,
E o meu espírito se alegra em
Deus meu Salvador;
Porque atentou na baixeza de sua
serva;
Pois eis que desde agora todas as
gerações me chamarão bem-aventurada;
Porque me fez grandes coisas o
Poderoso;
Santo é seu nome, e a sua
misericórdia é de geração em geração sobre os que o temem.
Com o seu braço agiu
valorosamente;
Dissipou os soberbos no
pensamento de seus corações.
Depôs dos tronos os poderosos, e
elevou os humildes.
Encheu de bens os famintos, e despediu
vazios os ricos.
Auxiliou a Israel seu servo, recordando-se
da sua misericórdia;
Como falou a nossos pais, para
com Abraão e a sua posteridade, para sempre.
Quando o Cristianismo se tornou a
religião ESTATAL romana, a prática do coral foi adotada do costume romano iniciar
as cerimônias imperiais com música. Foram fundadas escolas especiais e os
cantores do coral foram reconhecidos como “clero de segunda ordem”. Assim
nasceu o cantor profissional na igreja, e cantar na adoração cristã agora
estava sob o controle do clero e do coral. Para os corais, o bispo Ambrósio de
Milão (339-397 d.C.) escreveu os primeiros hinos pós-apostólicos de que se tem
conhecimento.
Na época de Constantino, surgiram
corais infantis nos orfanatos. Era um costume pagão estendido ao Cristianismo,
pois os pagãos acreditavam que as vozes dos meninos possuíam poderes especiais!
No séc. 5, os cristãos passaram a usar templos e prédios (antes destinados às
divindades greco-romanas) e começaram a refinar a liturgia cristã, que
substituiu a simplicidade inicial por uma cerimônia formal e institucional. A
melodia ganhou multivocais e contracantos. Com a dificuldade das melodias e dos
arranjos, o povo foi definitivamente substituído pelos corais. Foi se tornando
mero espectador, adorador passivo.
Perto do fim do século 6, o papa
Gregório reorganizou a Schola Cantorum (escola de cantores) em Roma. A Schola profissionalizou
cantores nos coros cristãos ao longo de todo o Império Romano. Cada cantor agora
era um clérico treinado por 9 anos e tinha de memorizar todos os famosos
“cânticos gregorianos”. Os “meninos cantores” entretanto persistiram,
geralmente cantando em missas para a realeza. À medida que Roma Ocidental se
fragmentou, o lado Oriental (ou Bizantino) aprimorou os cantos em grego. A
Igreja Ocidental fundou monastérios por toda Europa, a fim de catequizar os
pagãos; nesses mosteiros, o canto gregoriano manteve o latim, língua de Roma. O
famoso canto “Dedit Dominus Confessionem Sancto Suo”, dos monges cistercianos franceses
do séc. 12, por exemplo, consiste em repetições de “O Senhor deu sua santa
confissão”, uma referência a Neemias 9.3. Ouça
esse canto AQUI.
Na Idade Média, a dramaturgia e a
encenação das histórias bíblicas foram usados como ferramentas de
cristianização. O “2º clero” vestia roupas simbólicas; o sacerdote e o coral promoviam
diálogos musicais. Isso se manteve até o século 10, as monarquias na Europa
começaram a disputar territórios.
Até o século 9, o canto
gregoriano ERA a música sacra. Uma música vocal em latim ou grego, com
uma linha melódica apenas, ou seja, que se adaptava ao ritmo das palavras.
Claro que poucos fora da igreja entendiam o latim ou o grego, mas o canto e a
própria cerimônia religiosa eram considerados mágicos, ou seja, seu fim estava
em simplesmente ser recitados. A música profana era semelhante, mas admitia o
acompanhamento de instrumentos e danças, além de ter como tema as paixões
humanas.
Pelos séculos 12 e 13, o órgão
foi incorporado na Missa, como acompanhamento. Nessa época aflorou o Humanismo,
que declarava o homem como centro do universo. Os humanistas davam muita
importância ao ser humano e ao natural. Leonardo da Vinci e Michelangelo
Buonarotti ousaram dar rostos humanos a Deus! A música deixou de seguir o ritmo
das palavras para tomar um ritmo regular e certa exatidão na duração das notas,
o que era necessário para sincronizar instrumentos. Mais ainda do que antes, o
compositor precisava de altos conhecimentos de escrita musical. Essa época
marcou uma mudança das composições anônimas (canto gregoriano) para composições
autorais. Freqüentemente, cléricos eram chamados à vida na corte por sua fama
como músicos.
No séc. 16, a música religiosa incluía
duas formas musicais: a missa e o moteto. A missa era organizada como um
ritual, contendo vários cantos como o Kyrie Eleison (Ó Senhor, tem misericórdia de nós - Salmo 51.1),
o Gloria
in excelsis Deo (Glória a Deus nas alturas – Lucas 2.14), o Credo in unum Deum (Creio em um só Deus),
o Sanctus (Santo, Santo, Santo; Senhor Deus dos Exércitos; Céu e a Terra estão cheios da
Vossa glória; Hosana nas alturas - como em Jó 37), o Benedictus (Bendito é aquele que vem em nome do Senhor; Hosana nas alturas – como Lucas 19.38) e o Agnus Dei (Cordeiro de Deus; que tirais o pecado do mundo; Tende piedade de nós;
Cordeiro de Deus; que tirais o pecado do mundo; Dai-nos a paz – como João 1.29). Em meio a uma divisão
dos cristãos em Católicos ou Protestantes, a missa do séc. 16 foi adotada pelas
1as igrejas Protestantes, podendo incluir recitais.
O moteto era um canto a 4, 5 ou
mais vozes, construído em cima de pequenos textos, que podiam ser pequenas
frases em que cada voz cantava uma palavra. No início o texto era em latim;
mais tarde, passou ao o francês e outras línguas nas outras vozes. Quase não havia
uma música instrumental independente do canto, pela baixa qualidade dos
instrumentos.
A principal contribuição da
música dos reformadores foi a restauração da música na congregação e o uso de
instrumentos. João Hus (1372-1415 d.C.) da Boêmia e seus seguidores estiveram
entre os primeiros a usar a música não-profissional. Lutero
também encorajou o cântico congregacional, mas a música sacra Protestante só
alcançou seu auge no século 18, durante o avivamento de Wesley na Inglaterra.
Entre os Protestantes, não havia
consenso quanto ao uso de instrumentos. Enquanto os Puritanos (de Zwinglio) destruíam
os órgãos das igrejas, os Luteranos e Calvinistas os aproveitavam ao máximo. Calvino
acreditava que a música inflamava humano com zelo espiritual, podendo trabalhá-lo.
O ponto central da música na igreja era primeiramente o que se cantava; a
música era direcionada à congregação e devia ser simples, sem requerer
treinamento ou habilidade daquele que a cantaria. Seu foco, obviamente, foi
restaurar o canto dos Salmos.
“Aqueles que introduzem
novidades, métodos inventados de adoração a Deus, realmente cultuam e adoram a
criação de suas próprias destemperadas imaginações” (Calvino).
Em algumas partes da Europa, o
canto da missa simplesmente passou a ser coletivo, incluindo o Kyrie Eleison,
Gloria in Excelsis, e posteriormente o Nunc Dimitris (ou Cântico de Simeão - Lucas 2.28-32). Com exceção do Kyrie, os
demais foram traduzidos para as línguas populares. Sem a tradução, o Kyrie
lentamente desapareceu das igrejas Protestantes. Porém, outros cantos
congregacionais foram inseridos: os Dez Mandamentos (largamente
utilizados), a Oração do Senhor, o Credo dos Apóstolos e outros. Contudo, os
que em maior numero foram metrificados e inseridos na liturgia foram os salmos.
Calvino providenciou para que eles fossem traduzidos diretamente do hebraico
para o francês:
1539 - Alcuns Psalmes et Cantiques mys em chant
Talvez o 1º
Hinário, de Calvino e Clement Marot, incluía 19 salmos, o Cântico de Simeão, os
10 mandamentos e o Credo dos Apóstolos.
1542 - versão com 49 salmos
1551 - 34 salmos metrificados por
Theodorus Beza
1552 - versão com 83 salmos
1561 - todo o saltério
Theodorus Beza e François Gindrom também introduziram os 1os Cânticos que não eram transcrições bíblicas.
Os Saltérios sem dúvida superaram
as Bíblias, em vendagem. Por ser um livro muito mais volumoso, a Bíblia usava
mais papel e era um livro caro no séc. 16. Aconteceu, entretanto, que os
Saltérios se transformaram em um grande negócio para os Protestantes leigos.
Estavam desejosos de algo mais, que os fizesse poder abraçar com maior
integralidade as doutrinas ouvidas na explanação da Palavra. Ao cantar, eles
“tornavam viva” a sua fé.
No começo do séc. 17, a música instrumental
(antes um acompanhamento dos vocais) ganha independência e passa a ser
expressão da própria música. Tanto na música vocal como na música instrumental
os compositores se empenhavam na MELODIA para que as pessoas fossem afetadas
por elas.
Pelo séc.18, o órgão tomou o
lugar do coro nos cultos cristãos. É interessante, mas não há qualquer
evidência de instrumentos musicais na igreja cristã até a Idade Média. Após
esse período, toda música durante o culto era realizada sem instrumentos.
Calvino continuou esta prática. Ele acreditava na música, mas achava que os
instrumentos eram pagãos. Assim, reavivaram-se os corais (inclusive nas igrejas
Protestantes), de forma que havia (como na igreja Católica) uma “música
especial” que a congregação simplesmente assistia.
Ao final do século 19, apareceram
coros de crianças nas igrejas americanas. O local do coro é sugestivo:
o coro não só voltou, com roupões eclesiásticos, mas ocupavam a frente do
“público”! Na igreja Católica, o papa Pio X reagiu ao crescente laicismo e
estabeleceu que a língua própria da Igreja Romana sempre seria a latina. Foi
proibido cantar em língua vulgar nas cerimônias; o coro ainda devia ser
composto por homens de conhecida piedade e probidade de vida (e as mulheres foram
consideradas incapazes do canto sacro).
Nas igrejas contemporâneas, Católicas
e Protestantes, o coro tem sido substituído pelo “grupo de louvor”. Essa
“equipe de adoração” surgiu na Capela do Calvário (EUA), em 1965. Chuck Smith,
o fundador da denominação, começou um ministério para “hippies e surfistas”,
convidou-os a transformar sua música em uma nova música sacra. Ele deu à contracultura
uma base para sua música, levando-os a fazer exibições aos domingos pela noite.
A nova forma musical começou a ser chamada “louvor e adoração”.
Nas igrejas Protestantes, o
edifício ainda tem poucos símbolos religiosos. A roupa dos cantores agora é normal,
são usados vários instrumentos. Apenas algumas denominações usam hinários. Os
cânticos são corinhos animados e positivos ricos em RITMO e MELODIA, que a congregação
acompanha cantando, com palmas, balançando os corpos com as mãos levantadas e às
vezes dançando. O enfoque de quase todos os cânticos é uma experiência
individual, são cheios de pronomes na primeira pessoa - “eu, mim, meu”. Em
algumas poucas congregações, a coletivização do louvor fez com que os fiéis passassem
a compor a música, levando-a para ser ensinada aos demais. Tantos nas igrejas
Protestantes como Católicas, as mulheres recentemente voltaram a compor o grupo
de canto e até representam a maioria nesses grupos. Vários grupos passaram a
cantar música sacra em espetáculos fora da igreja, como forma de evangelização.
HINOS BRASILEIROS
Os hinos são músicas que vêm da
metrificação de trechos bíblicos ou de composições independentes. Eles levam
uma mensagem congregacional, sendo ao mesmo tempo evangelizadores e
instrumentos de coesão denominacional. O 1º hinário brasileiro - Psalmos &
Himnos - foi organizado pelo casal Kalley, fundadores da Igreja Evangélica
Fluminense, a 1ª igreja evangélica em língua portuguesa no Brasil, em 1855. Os
hinos eram traduções de composições européias e logo foram adotados por várias denominações
no país. Em 1891, compositores da Assembléia de Deus e da Igreja Batista do
Brasil criaram um hinário destacando as doutrinas pentecostais: o Cantor
Pentecostal, com 44 hinos e 10 corinhos. Em 1922 surgiria a Harpa Cristã, com
300 hinos. Mas em 1932, a
Harpa Cristã já havia sido ampliada para 400 hinos! A Harpa Cristã tem sido o principal
hinário brasileiro desde então, o que talvez se explique pelo fato de cada
crente assembleiano ter que possuir o seu próprio exemplar do hinário.
O Cantor Cristão foi adotado pela
Igreja Batista do Brasil, que o ampliou para 571 hinos em 1921. Nesse meio
tempo surgiram também obras de menor impacto como o Hymnário Evangélico e a
Lyra Christã. A Igreja Presbiteriana do Brasil introduziu o Novo Cântico, um
manual com cerca de 400 hinos dividido por assuntos como oração, evangelização,
vida cristã, reforma, advento, natal, passagem de ano, vida futura, trindade,
etc.
Mais conservadores, a Igreja
Evangélica Luterana do Brasil publicou no Brasil o Hinário Luterano (em alemão)
em 1824. A
obra trazia hinos alemães da Reforma Protestante até a Guerra dos Trinta Anos
(séculos 16 e 17) e hinos dos Estados Unidos do século 19, que foram traduzidos
antes do início do séc. 20. Os hinos mais antigos, ainda são adaptações de canto
gregoriano, com as melodias em partitura.
ET VOCIS PODERUM LEREM SI QUISEREM
Alonso J, História da música na igreja cristã contemporânea, 2011
Arte e Júbilo - O fim do período de Louvor, 2010
Cantor Cristão –
wikipedia
Flauzino I, Colégio Teresiano –
CAP/PUC, Estudo dirigido do 2º bimestre de 2012
Goes C, Convergindo em Cristo - O papel da musica na Igreja, 2011
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Hinário Luterano –
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Machado FAC, Propósito Eterno – a música na Igreja, 2008
Missa Católica – wikipedia
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Zágari M, Apenas - Cristão deve ouvir música do mundo?, 2011
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