sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Uma história dos diabos

Acima, "Jesus separando carneiros e bodes", mosaico do séc. 6, Basilica de Sant'Apollinare Nuovo, Ravenna, Itália (repare o Diabo como um anjo azul). Abaixo, Mephistópheles, cartaz da ópera Faust, de Gounod, Paris, 1869. À direita, "Satanás", Codex Giga (coleção de livros da Bíblia), séc. 13, República Tcheca.

Uma abordagem desse tema do Diabo já foi feita em O Diabo do Novo Testamento

Aqui, gostaria de apresentar algumas interpretações Cristãs pós-bíblicas do Diabo. Uma delas, bem inicial, é sua associação com a serpente no jardim do Éden.

Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. E ela perguntou à mulher: "Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim’?" (Gênesis 3.1) … Então o Senhor Deus declarou à serpente: "Já que você fez isso, maldita é você entre todos os rebanhos domésticos e entre todos os animais selvagens! Sobre o seu ventre você rastejará, e pó comerá todos os dias da sua vida. (Gênesis 3.14)

Se observarmos cuidadosamente o texto que se refere à serpente, supostamente escrito por Moisés (aprox. 1400 a.C.) e, sabemos, re-compilado pelos profetas do rei Josias (640-609 a.C.), não há uma ligação entre a serpente e o Diabo. Para falar a verdade, a maldição “sobre o seu ventre rastejarás” parece bem pouco adequada a um anjo rebelde e muito mais semelhante a um mito de criação do réptil sem patas. Pelo menos na concepção hebraica, parece que a condenação de Adão e Eva se deu por uma ação deles mesmos, no máximo influenciada por uma cobra (realmente uma cascavel, sucuri, etc) no sentido literal. Ok, é menos degradante pensar nos 1os humanos sucumbindo a um poderoso ente celestial maligno que estaria lá no Éden “disfarçado de serpente”, mas as Escrituras não falam nada sobre isso. Falam sobre um réptil astuto, enganador e tagarela.

A associação da serpente com o Diabo pode ter surgido nos tempo do Velho Testamento pelo contato dos Judeus com povos cultuadores desses animais (ex. Egípcios, Cretenses, Sumérios, etc), mas as escrituras de fato falam da disputa religiosa com crenças Cananéias como Baal (senhor das tempestades), Astarte (senhora dos céus, das estrelas especificamente), Asherá (senhora das matas) e Moloque (deus da fertilidade agrícola). Em nenhum desse cultos as serpentes tinham algum significado especial. Os Judeus também absorveram muito da cultura Neo-babilônica durante seu cativeiro (597-539 a.C.), mas isso não incluiu os deuses babilônicos como Marduk ou Sin, que também não incluíam serpentes. Mesmo no período greco-romano (332 a.C.-70 d.C.), os Judeus sempre se preservaram de absorver novos deuses; e esses povos também não cultuavam serpentes. No Novo Testamento, entretanto, João faz uma profecia em Patmos, relativa ao fim do mundo, ligando o Diabo à serpente:

E houve batalha no céu. Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos. Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus. E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo. Ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele. …. E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do Seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte. Por isso alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo. (Apocalipse 12.7-12)

Essa passagem coloca o Diabo, Satanás, na Terra após uma espécie de guerra nos Céus. E mais, o coloca na forma de um grande dragão, semelhante ao Tiamat da Acádia (antiga Babilônia, aprox. 2000 a.C.) ou ao Jörmungandr viking (séc 10 d.C.). Ainda que o chame de “antiga serpente”, é algo bem diferente de uma cobra como costumamos pensar, e de como parece ser o caso na cena do Éden. João também fez sua profecia cerca de 1500 anos após o texto de Moisés, e talvez 9000 anos após a tal batalha (ver O que Deus fazia antes de Noé). Apesar disso, desde a tradição Cristã mais antiga, associou-se a serpente no Éden com o Diabo.

LÚCIFER, IMAGINO

Um ponto inicial é o nome assumido para essa entidade: Lúcifer. Tal nome não é hebraico e provavelmente não está na sua Bíblia.

Uma parte da origem de “Lúcifer” se deve à Bíblia do rei James I da Inglaterra (1566-1625; uma tradução mais adequada do seu nome Cristão seria Tiago I). Como sucessor da linhagem Protestante de reis, James I organizou uma tradução da Bíblia a partir dos textos latinos e gregos mais antigos, e sua versão se tornaria uma das mais populares da história. Várias expressões linguísticas do Inglês surgiram a partir dos textos bíblicos dessa tradução, como "bite the dust” (“comer poeira", cair morto, fracassar, “beijar o chão”), "mosca na sopa" e "sagacidade". Foi nela que o nome “Lúcifer” se popularizou, citado pelo profeta Isaías:

Como você caiu do céu, ó Lúcifer, filho da alvorada! Como és reduzido ao chão, o que enfraqueceu as nações! (Isaías 14.12)

O texto original usado pelos tradutores do rei James I era uma outra tradução, feita por São Jerônimo, ou Jerônimo de Stridônia (347-420), um estudioso Cristão famoso por compilar uma das 1as versões da Bíblia. No seu texto, em latim, a passagem de Isaías se lê como:

Quomodo cecidisti de caelo lucifer qui mane oriebaris? Corruisti in terram, qui vulnerabas gentes?

Refazendo a tradução do latim de forma mais cuidadosa, podemos ficar também com o formato final:

Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho da alvorada! Como foi atirado à terra, você, que derrubava as nações! (Isaías 14.12)

São formas semelhantes de escrever mas, aqui, o nome Lúcifer simplesmente não existe. Na verdade, se lermos o texto de Isaías, veremos que se trata de uma profecia sobre a queda do Império Babilônico (626-429 a.C.). Mais especificamente, Isaías profetiza o fim triste do imperador Nabucodonosor II (reinou de 605 a 562 a.C.)¹. Em outras palavras, a versão do rei James I parece criar o nome “Lúcifer” onde Isaías colocou somente uma exaltação sarcástica ao rei de Babilônia, que havia invadido a Judéia, e não a uma entidade espiritual.

É interessante que Isaías iguala Nabucodonosor (o título, pelo menos) à “estrela da manhã”, nome usado na Antigüidade para o planeta Vênus, que aparece como astro mais brilhante no céu 1-2h antes do nascer do Sol. No tempo de Isaías, Vênus era cultuado pelos Egípcios como Sekhmet/Hator e pelos Babilônicos como símbolo da deusa Ishtar. Os gregos associaram-no com a deusa Vênus (de quem levou o nome atual) e os romanos da era republicana associaram o planeta-estrela com Afrodite. No latim que São Jerônimo usou para escrever, o nome do planeta Vênus era Lúcifer, que significava “o mais brilhante”.

O DIABO ANTIGO

Sem trocadilho, as composições por detrás da imagem do Diabo eram muito tentadoras. De um lado, João deixou a idéia de um grande dragão celestial combatido pelo anjos, que arrastou consigo (para a Terra) um terço das estrelas. De outro, São Jerônimo traduziu o texto de Isaías para dar um nome ao ser que caíu do céu: Lúcifer, a estrela-da-manhã. O dragão ainda era uma serpente, como aquela no Éden.

Um nome que o NT usa é Belzebu, príncipe dos demônios (Lucas 11.15). Esse nome é registrado, muito antes, como Baal-Zebube, deus de Ecrom (cidade-estado dos Filisteus) e “Senhor das moscas”, pensando-se em um divindade que expulsa as pestilências (2ª Reis 1). A demonização da divindade dos Filisteus é presumível, mas a sua imagem prevaleceu como símbolo do mal. A representação mais antiga de Baal é de Ur (de 2000 a.C., bem antes dos Caldeus), sendo um homem segurando um machado com o qual lançava relâmpagos (segura essa, Thor!). Na Judéia, entretanto, a associação de Baal com a fertilidade das terras lhe rendeu a imagem de um touro enfeitado de ouro. O deus Dagon dos Fenícios também fez sua contribuição ao apresentar uma divindade rival meio-homem, meio-animal (1ª Samuel 5.2-4). Os Judeus mais ortodoxos não demoraram a associar esse Baal agrícola com o bezerro de ouro dos seguidores de Moisés, de forma que o “Diabo”/Belzebu ao qual associaram Jesus era uma figura mais profana do que medonha, sendo às vezes representado como touro ou homem-touro.

Os Judeus não costumavam fazer representações divinas ou mesmo de demônios, entendendo-os mais como forças sobrenaturais do que como entidades que precisavam de rosto e forma. Na verdade, incomodava-os a adoração a qualquer tipo de imagem, fosse homem ou animal. Uma espécie de Satanás aparece no Tanach³, mais especificamente no apócrifo Livro dos Jubileus (150 a.C.), onde Yahweh concede a Satanás/Mastema autoridade sobre um grupo de anjos caídos para tentar os humanos e puni-los. Reparemos a semelhança com os Djins árabes (espíritos tentadores do deserto) e com o Satanás descrito no evangelho de Lucas. Essa era provavelmente a representação mais popular no imaginário da época de Jesus: um espírito tentador ou punitivo, às vezes o Belzebu profano com chifres de touro.

Nos sécs. 1 e 2 d.C., quando Roma impunha seu poder aterrorizante sobre Judeus e Cristãos, as estátuas imperiais eram vistas como “abominações” e representavam imperadores, mas também divindades portando lanças, espadas, escudos e tridentes. E foi assim que o Diabo ganhou sua ferramenta favorita. Com o apocalipse de João, esse ser maligno ganhou ainda coroa e símbolos de rei que seriam as marcas do Anticristo e suas bestas. Tal Diabo “coroado” aparece em figuras da Idade Média, nos estudos de demonologia do séc. 18 e, recentemente, no filme “Hellboy”.

Uma mudança significativa aconteceu com a institucionalização do Cristianismo (séc. 4 d.C.). Uma preocupação típica dos religiosos nessa época era a dualidade corpo-espírito, onde as cartas de Paulo e a obra Confissões, de Santo Agostinho, ajudaram a formar uma concepção de que o mal residia em tudo que fosse animal, carnal, instintivo. Como consequência, o Diabo pré-medieval era praticamente um lobo ou fera andando sobre duas patas, coberto de pelos, com dentes pontiagudos e cauda.

Mais ao norte da Europa, a disputa religiosa entre Cristãos romanos e Pagãos romanos lhe dava a imagem dos bodes europeus, bastante cultuados como sinal de fertilidade da terra pelos Romanos e demais povos. Por isso a representação preferida que a Igreja fazia do Diabo no norte era esse ser com chifres, pêlos e cabeça de bode. Os cavaleiros medievais deixaram muitas figuras desse tipo para simbolizar seu maior temor, o qual também esteve envolvido na perseguição feita a feiticeiros e bruxas desde o séc. 10 d.C.

No Alcorão (séc. 7 d.C.), Shaitan ou Iblis é uma entidade feita de fogo (pois o fogo era considerado o mais divino dos 4 elementos) como os demais anjos, que foi expulso do Céu porque se recusou a obedecer Alá e se curvar perante o recém-criado Adão. Cheio de mágoa, Iblis transforma seus seguidores em Djinns que habitam os desertos para incitar os humanos ao pecado, infectando suas mentes com wiaswās (sugestões malignas). Reparemos que bem diferente do conceito Cristão de um Diabo habitando entre os homens, os árabes entendiam um Diabo que era perigoso às pessoas sozinhas. No 1º caso se trataria de um ser mágico oferecendo favores em troca do culto humano; no 2º caso seria um ser mais perto do molde judaico, fazendo mágicas que perturbem a harmonia humana.

UM DIABO MODERNO

A idéia de que o Diabo governa o inferno parece ter uma fonte bem mais recente, no poema de Dante Alighieri, A Divina Comédia², publicado por volta de 1320. O poema descreve a viagem do próprio Dante através do Inferno, Purgatório, Paraíso e Céu, guiado por 3 seres: Virgílio (guia no Inferno e Purgatório), Beatriz (guia no Paraíso) e São Bernardo (guia no Céu). Virgílio foi um grande poeta romano (70 a.C. - 19 a.C.); Beatriz foi a 1ª esposa e grande amor de Milton; São Bernardo (1090-1174) foi o fundador da Ordem dos Cavaleiros Templários. Na cosmogonia registrada por Dante, Deus criou o inferno quando expulsou o Diabo e seus demônios do Céu. A ira divina foi tão grande que produziu um enorme buraco no centro da terra, onde os demônios foram habitar. Dante retratou o Diabo como uma criatura alada grotesca com três rostos - cada um mastigando um pecador desonesto - cujas asas sopravam ventos gelados por todo o Inferno.

Em 1654, o holandês Joost Van den Vondel fez de Lúcifer o protagonista e título de uma de suas grandes peças teatrais. Seu interesse pelo VT o levou a produzir também “Adão Banido” e “Noé”. A peça Lúcifer era uma trama envolvendo apenas os anjos. Nela, o anjo Appolion descreve o Éden que ele viu, com seres feitos do barro e no entanto perfeitos, comandando um lugar mais belo que o Céu. Gabriel então anuncia que Deus havia reservado também o Céu para suas novas criaturas, que reinariam sobre os anjos. Lúcifer, o preferido de Deus, se rebela e comanda diversos anjos a se oporem aos desejos de Deus, mantendo os homens na Terra (reparemos a influência árabe). Deus manda Gabriel repreender os seguidores de Lúcifer e Rafael anunciar que serão perdoados, caso se conformem às ordens do Senhor. Em desespero, Lúcifer se vê diante dos seguidores a avisa que haviam ido longe demais para recuarem. Após uma feroz batalha, ele e seus parceiros são derrotados e caem do Céu. Durante a guerra, no entanto, Lúcifer trama impedir que os homens cheguem ao Céu envenenando e corrompendo-os, para que Deus jamais os queira. Lúcifer é transformado numa mistura de 7 bestas, representando os pecados capitais. Enquanto isso, Gabriel aparece entre os anjos leais para avisar que Belial, disfarçado como serpente, havia entrado no Éden e corrompido os homens. A peça termina com os anjos, chorosos, expulsando Adão e Eva do Éden. Pouco depois de sua composição, a peça foi proibida pela Igreja da Holanda, só voltando aos teatros no séc.19.

Em 1667, o diabo também ganha a posição de protagonista no livro do inglês John Milton que, cego, escreveu sua obra prima descrevendo a queda do anjo Lúcifer até se tornar Satanás. Fala-se de uma Guerra Celestial, onde Deus (noutra parte do livro é Jesus) lança todos os raios dos céus contra os rebeldes. No início do livro, os anjos estão caídos num inferno de “fogo e enxofre”. Lúcifer se torna rei deles e seus seguidores (Belzebu, Belial, Mamon, etc) constroem um grande palácio de ouro (Pandemônio), onde se reúnem para planejar a vingança contra Deus. Aos poucos ele deixa a aparência angelical (que Gustave Doré ilustrou como um jovem herói grego com asas, imenso para os padrões humanos) para se tornar um ser não só maligno, mas também destituído de beleza, aparentado com um animal voador. Mudando de forma, Lúcifer escala O Abismo e faz várias tentativas de infiltrar-se no Éden, mas é visto pelos anjos, até que consegue entrar disfarçando-se como serpente. Como o nome sugere, a obra termina com a expulsão de Adão e Eva do Éden. Ao contrário da peça de Vondel, o Paraíso Perdido se tornou um dos livros mais lidos no Ocidente e influenciou decisivamente a cultura Cristã.

Em 1806, o alemão Johann Wolfgang von Goethe publicou sua obra Fausto. Apropriando-se do livro de Jó e do conceito de um diabo tentador, Goethe misturou tais idéias com as estórias sobre um médico-bruxo alemão, Johann Faust, que ficou famoso por volta de 1530. Ele imaginou que o diabo deveria ser atraente e fazer todas as suas maldades de forma oculta. A fantasia clássica desse personagem inclui maquiagem com rosto sinistro e sorridente, além de uma roupa vermelha com capa. Na famosa peça teatral, o demônio Mephistópheles vai ao Céu e aposta com Deus de que ele seria capaz de seduzir seu humano favorito, Fausto. Na Terra, Fausto queria ser capaz de resolver todos os problemas. Buscando na Bíblia suas respostas, ele não as encontra. Nem tampouco na Filosofia ou na Magia. Desamparado com a futilidade dos homens (há vários trechos copiados de Eclesiastes, na peça), ele tenta se matar e falha. Na volta para casa, é seguido por um cão que se transforma em Mephistópheles. O demônio promete a Fausto realizar qualquer desejo seu na Terra, e Fausto o serviria no inferno. Mas Fausto coloca um porém: Mephistópheles poderia levá-lo apenas quando estivesse plenamente feliz. O demônio ajuda Fausto a seduzir Gretchen, a moça que ele admirava, e ainda induz Gretchen a sem saber matar sua mãe com uma dose excessiva de sonífero, para que Fausto pudesse ir ao seu quarto. Ela depois descobre que está grávida. Seu irmão vai atrás de Fausto e morre ao chegar perto dele. Gretchen tem o bebê e, sendo um ilegítimo, mata a criança e vai presa. O demônio ajuda Fausto a ir libertá-la da prisão, mas Gretchen recusa-se a ir. Fausto vai embora ouvindo anjos que o avisam de que Gretchen estava salva. Finalmente, Fausto morre mas, como jamais havia sido plenamente feliz, o demônio assiste enquanto ele sobe ao Céu.

Devil as a tailor, Jerome Witkin, 1978

Em 1978, o pintor Jerome Witkin produziu um “retrato” do diabo como alfaiate ou costureiro musculoso e sinistro, semelhante aos gênios da Disney, tecendo os uniformes de soldados. Essa idéia de alguém agindo “por trás das cortinas”, influenciando as ações dos homens, foi bastante aproveitada em obras como Hellblazer (1988, DC Comics), de onde surgiu o personagem cinematográfico John Constantine. De quimera boi-homem ou bode-homem, o diabo moderno ganhou ares de poderoso empresário e ser controlador dos homens que nem sabem sobre serem suas vítimas.

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¹ Nabucodonosor II foi um rei-símbolo do Império Neo-babilônico. Vários sucessores usaram seu nome como se fosse um título, assim como aconteceu com César, em Roma. Ele teve um reinado extremamente longo e não morreu de forma humilhante como Isaías previu, tendo inclusive conduzido seu reino a um auge de poder e riqueza. Certamente esse nome foi usado por seu penúltimo sucessor Nabonidus (reinou de 556 a 539 a.C.), que pode ser a vítima predita por Isaías. Nabonidus era na verdade um religioso, que se isolou da função de rei em um oásis para cultuar a deusa ancestral Sin (representada pela Lua). Ao desprezar o deus maior de Babilônia, Marduk, ele revoltou os altos sacerdotes, que o culparam pela invasão dos Persas liderados por Ciro, o grande. Apesar disso, não se sabe dizer se mesmo Nabonidus teve o fim desonroso que Isaías prevê. Ciro era famoso por seu respeito aos reis conquistados e, segundo a única fonte escrita descrevendo o fim de Nabonidus, ele foi exilado como administrador de terras do rei.

² A palavra Comédia não significava, para Dante, o que significa para nós hoje. Trata-se de uma palavra aparentada com Cômico, no sentido de ser teatral, novelístico. Talvez uma tradução atual para o nome da obra pudesse ser “Novela Divina”. Ainda hoje se usa, no inglês, a palavra Comics para descrever não obras engraçadas, mas sim fictícias ou fantasiosas e com uma arte visual.

³ Tanach é o equivalente hebraico do Velho Testamento. Há outros livros sagrados, no Judaísmo. Tanach é a junção das iniciais de Torá (a Lei) + Neviim (os Profetas) + Chetuvim (as Escrituras). A Torá é a junção de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Neviim é o conjunto formado por Josué, Juízes, 1ª Samuel, 2ª Samuel, 1ª Reis, 2ª Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Chetuvim compreende Salmos, Jó, Provérbios, Rute, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Lamentações, Ester, Daniel, Esdras, Neemias, 1ª Crônicas e 2ª Crônicas.

Todos são livros muito antigos. A tradução utilizada nas Bíblias vem das versões em grego e latim desses livros, que foram produzidas a partir de 37 a.C., com a anexação da Judéia ao Império Romano. Apesar disso, versões mais antigas foram preservadas na Babilônia (atual Irã/Iraque), que são utilizadas na Tanach.

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PALAVRAS DO ORCO

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