Orar é uma questão de fé

Se não tivermos cuidado, poderemos nos tornar como aquele homem que vangloriava-se por ser um perito em arco e flecha. Após atirar sua flecha na parede de um celeiro, pintava um alvo ao redor da flecha, e este era o segredo do seu sucesso.

É fácil viver fazendo o que queremos e achando que os nossos caminhos e instintos atingem o alvo, quando na realidade nosso “alvo na vida” não foi alcançado. Provérbios 14:12 afirma: “Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte.” Algumas vezes parece certo vingar-se, acumular dinheiro, buscar prazeres, gritar com os que gritam conosco. No entanto, os caminhos de Deus são diferentes dos nossos. Ele definiu um alvo ao pedir que perdoemos quem nos magoa, que doemos generosamente àqueles em necessidade, que vivamos para agradá-lo ao invés de a nós mesmos, e que ofereçamos a outra face. Devemos orar, “Ensina-me, Senhor, o teu caminho; e andarei na tua verdade” (Salmo 86:11).

Deus nos fez para Si, então de forma alguma poderemos ser felizes, completos ou - como está em moda dizer - realizados, se não fizermos o que o Senhor quer de nós. Ao contrário do que muitos esperam, fazer os nossos próprios caminhos não nos trará a ira de Deus, ou qualquer forma de vingança, punição, etc por parte Dele. Nós podemos fazer e fazemos isso a nós mesmos sozinhos, pois carregamos o nosso mal conosco. Apenas junto Dele estamos livres desse peso, o qual sentimos quando avaliamos a nós mesmos. Como ouvi um dia Mark Driscoll dizer, nos sentimos mal quando vemos o quanto somos maus, simples assim.

Mas, se Jesus nos alivia desse peso todo, e se os caminhos Dele são bons, porque tantos (e nós também) insistem em andar por outros lados, experimentar outras coisas, ter outros deuses (ex. fama, nós mesmos, beleza, poder, reconhecimento, ...)? Porque todas essas coisas nos dão o que é mais caro à nossa carne, no sentido físico da coisa. Nos dão prazer. Fossem ruins, ninguém as quereria! Mas poderiam ser melhores que estar junto de Jesus, fazer a vontade Dele, que é nosso Senhor e Criador? Nesse mundo, certamente que sim. Ninguém precisa ter fé no Deus invisível para sentir-se feliz com tudo o que o mundo tem a oferecer. Essas coisas simplesmente nos fazem felizes, sem exigir nada da nossa fé. Elas nos tiram outras coisas, criando uma espécie de vazio dentro de nós, um vazio onde Deus deveria estar. E, segundo a Bíblia também, nos guiar por tais coisas - por esses outros deuses que arrumamos tão facilmente vai nos levar a nada - ou talvez a algo pior do que isso.

Mas é possível aproximar-se de Deus sem fé? A Bíblia diz que não (Hb 11:6). Realmente, é preciso ter muita fé (ou ser meio louco, como quiserem chamar) para abrir mão do que o mundo oferece em troca do que um Deus invisível ou um carpinteiro morto há mais de 2000 anos prometem. Não se produziu ainda fé a partir de algo, como a razão. De fato, mesmo a fé é um presente de Deus, que ele oferece a quem o busca. Não se chega a Deus sem ela, e sem pedi-la a Ele não se pode ter ela. Estranho círculo, esse onde nos propomos a entrar... Principalmente, a fé exige que a tenhamos sem esperar maior recompensa que o bem-querer de um Senhor que não podemos tocar. Quão louco a fé faz alguém parecer!

Seria muito fácil dizer que todos os nossos pensamentos poderiam ser inspirados por Deus, de forma que nunca nos afastássemos do que Ele quer de nós. Talvez com alguém seja assim, mas aposto que não é dessa forma com a maioria das pessoas. Ouvimos sempre uma voz nossa falando alto, uma vontade que disputa em pé de igualdade (isso sendo otimista) com o que Deus tem a nos dizer. Não, não é banal escutá-lo e saber da Sua vontade. Até Jesus, sendo parte Dele, tremeu ao conhecê-la por inteiro, quando orou sobre no Getsêmani (Mc 14:32-36).

Por isso, e sobretudo por isso, se faz necessária a oração. Orando ao Pai, podemos saber os desejos Dele, e assim Ele se agrada de nós, pois ao orarmos, dizemos principalmente a essa nossa voz interior Quem é o Deus que seguimos.

Assim vamos nos desfazendo dos nossos alvos pintados...

escrito sobre http://ministeriosrbc.org/2010/10/09/olho-de-boi/