"Uma vez eu fiquei com muita inveja dos católicos. Por quê? Ah! Porque as coisas deles são tão bonitas! Entre numa igreja católica, que coisa mais linda! Aquela arquitetura, as pinturas, os vitrais, os rituais, os trajes. É tudo tão legal e bonito! O papa e aquele chapéu grande! Os franciscanos com aqueles roupões marrons e cordinhas na cintura... Também existem os mistérios! A Opus Dei, a biblioteca do Vaticano e tantas coisas bacanas! Não estou falando que nada disso tenha algum valor espiritual que vá colocar os católicos na frente da fila pra entrar no céu. Não é isso. O legal é ver como os católicos contribuíram para a cultura geral. Daí eu olho pro povo evangélico num esforço de reconhecer alguma coisa bacana assim e não consigo encontrar nada. Talvez seja minha própria ignorância. Você conhece algo?
Me sinto um pouco deprimido quando olho pros católicos e vejo em seu arraial de artistas como Caravaggio, Michelangelo, Leonardo e todos aqueles artistas renascentistas. Posso ver obras como o teto da Capela Sistina e a escultura de Davi, os profetas de Aleijadinho. Enfim... Quando olho pro povo evangélico, parece que tenho que me limitar à música (porque é difícil evangélico fazer outra arte além da música) onde encontro artistas como... Cassiane. Nada contra a Cassiane! Mas eu acho que deu pra entender o que eu quis dizer. Parece que no meio evangélico a arte é um meio de atração ao invés de ser a simples expressão daquilo que o artista sente. O problema é que não se entende o poder que a simples expressão do sentimento tem. Quando se tem todo o amor de Deus na vida e reconhecemos seu sacrifício, a arte, pura e simples, é um testemunho muito forte! São motivos especiais e relevantes. Enquanto os católicos fazem pinturas magistrais, nós fazemos música que rimam "Jesus" com "Cruz" com "Pus" e colocamos fogo, chuva, vento, todas essas palavrinhas no meio.
Arte não é marketing pra trazer visitantes pra igreja. Onde estão os pintores, escultores, poetas e escritores evangélicos? Como deve ser a arte do cristão? Acho que foi Francis Schaeffer que disse que a arte cristã deve ser algo como no movimento naturalista, onde a natureza é representada de forma pura e fiel, enaltecendo assim a criação de Deus, e por conseqüência, o próprio Deus. Faz sentido, mas eu acho que a galera pode pirar e fazer coisas diferentes também né? Ou não?"
Se alguém pudesse definir: a arte cristã é assim e assim, baseado em tais e tais pontos da Bíblia, acho que nenhum artista se sentiria inspirado. Por outro lado, se dizemos que isso ou aquilo não são coisas cristãs, quantos artistas não "jogamos fora" do nosso meio! Simplesmente não temos o direito de fazer tal coisa, muito menos recebemos qualquer chamado para fazer isso. Jesus não mandou selecionar as pessoas que melhor se enquadrassem para segui-lo, Ele buscou se misturar às pessoas (não à arte, ou qualquer tipo de manifestação cultural) e chamá-las para deixar o que tinham de valioso e buscar o reino de Deus. No caso do rico, isso era vender tudo e ir atrás Dele. No caso do pescador, significava deixar os barcos e ir atrás Dele. No caso da adúltera, importava deixar a culpa e ir atrás Dele. Talvez ao artista isso signifique deixar o motivo que o rege (seja beleza, seja admiração, seja a inovação) e buscar a Ele. Note que é e sempre foi um chamamento às pessoas, não ao que fazem. Claro, pecar contra o amor a Deus, ao seu próximo ou a si mesmo não é algo que se possa fazer e ao mesmo tempo segui-Lo.
Já ouvi dizer que Deus é o artista supremo. Se pensarmos um pouco, Ele deixou o que tinha de mais valioso: seu próprio filho, sua vida entre os homens, para que nós fôssemos chamados a segui-Lo. Isso não significou pôr fim à arte, mas simplesmente dar um motivo a ela. Não a arte para ser bela, para ser admirada, mas para seguir a Jesus. Se isso significa atrair as pessoas, ensinar-lha algo com uma música, que seja abençoada. Talvez signifique mostrar às pessoas uma visão do paraíso, ou de como fizeram as pessoas de que a Bíblia trata, ou mesmo os horrores do pecado numa tela. Sejam abençoadas essas artes por isso! Talvez seja um poema que fale do amor divino, ou da dor (Jó, Davi e Asaph falaram muito sobre a dor). Quem sabe uma escultura, para mostrar algo nas pessoas que elas não conheciam... Enfim, a arte precisa cristã ter um propósito, não necessariamente uma forma. Uma fotografia de um dia especial pode ser tão cristã como a estátua de Davi.
Historicamente, os templos Protestantes não levam nenhuma escultura ou pintura. Não que seja anti-cristão uma pintura retratando Jesus, muito pelo contrário! Infelizmente as pessoas (na sua simplicidade e ignorância) já foram levadas a adorar essas figuras, ao invés de adorar a Deus. Isso sim é pecado, tentar enquadrar Deus em uma forma, uma imaginação sua. É aquela velha estória de você apontar para algo e a pessoa se interessar não pelo o que você aponta, mas pelo seu dedo. Para evitar a tentação, ficamos sem as belas esculturas e pinturas nos templos.
Há quem pense inevitavelmente em uma arte cristã retratando cenas bíblicas. Na Idade Média, quando haviam muitos iletrados (hoje não, hoje todos lêem muito), a Igreja Católica usou a arte para evangelizar. Havia paredes de mosteiros com cenas pintadas retratando as passagens bíblicas, enquanto alguém falava e contava sobre elas. Esse era um propósito cristão, e ter propósito (de amor) é algo ensinado por Jesus! Não sei sobre os propósitos de Aleijadinho, da Vinci, etc, mas sempre penso neles artistas cristãos. E também Van Gogh, que retratou as pessoas como viviam, com a beleza que Deus lhes deu e que ele pôde ver para contar aos outros. Deus sabe sobre os propósitos de cada artista e, se Ele for lembrado aos nossos olhos e ouvidos por algo que eles façam, será essa obra abençoada pelo bem que fará às pessoas.
Talvez isso possa ser, afinal, uma arte cristã. Claro que o artista pode (e deve) expressar o que tem no coração, mas enganoso é o coração e nem tudo o que um artista faça (artista cristão ou não) seria arte cristã somente por vir do seu coração. É arte humana, e também é arte. Não é pecado um artista fazer arte não-cristã. Só não é tão belo como seria ele transformar a si próprio e aos outros com sua arte, mostrando-lhes a Deus. Talvez não vejam, só Deus pode de fato quebrantar um coração, mas o artista pode fazer a sua parte, para começar, no próprio coração.
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