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domingo, 26 de janeiro de 2014

O contrário da sabedoria

Hrothgar, o rei bêbado
mitologia nórdica

Qual é o antônimo de sabedoria? Citando Paulo Brabo em sua busca (ou ambição) pela necessidade dos contrários, a pessoa SEM sabedoria é aquela que torna sua vida sujeita ao acaso, que restringe sua felicidade ao um grupo seleto de coisas que “deveriam” acontecer. Na Bíblia, o contrário de sabedoria é insensatez, tolice. Essa falta de sabedoria, segundo a Bíblia, é encontrada naquele que age de forma impetuosa, com raiva, levado pela imprudência e pelos impulsos de um coração tormentoso. Por curioso que seja, na Bíblia o livro de Provérbios (onde a Sabedoria é ensinada) é seguido pelo livro de Eclesiastes, onde os sábios testemunham o abandono da Sabedoria entre os reis do povo de Deus.

O autor de Eclesiastes é misterioso. O seu estilo de escrita é compatível com Salomão, e não poucos historiadores atribuem o livro ao famoso rei de Israel, lembrado por milênios por sua incrível sabedoria, por ter construído o Templo e pela suntuosa riqueza. Ao iniciar o livro, esse autor sem nome se apresenta no original hebraico como Qohélet, aquele que fala por todos, ou pela “Ecclesiae”, a Congregação. Daí veio o nome traduzido como “Eclesiastes”.

O Eclesiastes sem dúvida é de um livro para ensino da Sabedoria, assim como Provérbios. Até o estilo de escrita de ambos os livros é semelhante: muda-se rapidamente de assunto, apresentando sempre o que é certo e o que é errado, como se fossem (e olha que improvável, isso) vários pequenos pergaminhos ou tabuletas emendados por copistas do passado.

Salomão pediu a Deus sabedoria para governar. Ele escreveu essa sabedoria na forma de diversos provérbios, mas isso nunca foi uma tarefa solitária a que um rei sábio se entregasse ao longo da vida. Para os hebreus, a Sabedoria provinha do falar dos sábios, do diálogo das pessoas, da Congregação. Por isso, Salomão assim reuniu diversos sábios (alguns dos quais são nomeados, como o rei Lemuel e Agur) e designou uma “equipe” que formaria algo como “livros-texto” para o ensino da Sabedoria dentro da corte e também para o povo. É possível que Qohélet fosse uma espécie de cargo, uma posição mais importante dentre os sábios.

É interessante notar que, de fato, alguns ensinos de Eclesiastes dificilmente poderiam ser atribuídos a um monarca criado entre famílias reais das terras ao redor de Israel e a riqueza que Davi reuniu:

Por isso desprezei a vida, pois o trabalho que se faz debaixo do sol pareceu-me muito pesado. Tudo era inútil, era correr atrás do vento! Desprezei todas as coisas pelas quais eu tanto me esforçara debaixo do sol, pois terei que deixá-las para aquele que me suceder. E quem pode dizer se ele será sábio ou tolo? Todavia, terá domínio sobre tudo o que realizei com o meu trabalho e com a minha sabedoria debaixo do sol. Isso também não faz sentido.

Cheguei ao ponto de me desesperar por todo o trabalho no qual tanto me esforcei debaixo do sol. Pois um homem pode realizar o seu trabalho com sabedoria, conhecimento e habilidade, mas terá que deixar tudo o que possui como herança para alguém que não se esforçou por aquilo. Isso também é um absurdo e uma grande injustiça. (2.17-22)

São palavras que caberiam melhor na boca de um experiente pastor!

OS SÁBIOS E O VAI E VEM DOS GOVERNANTES

Como membros da corte, era de se esperar que os sábios se preocupassem com a sucessão do rei: Davi havia sucedido Saul de uma forma imprevisível, passando de pastor a músico da corte, depois a guerreiro e finalmente levando Saul e seu filho Jônatas à morte. Salomão havia sucedido Davi após uma tentativa de seu irmão Absalão tomar o trono e também após a morte dos demais príncipes na linha de sucessão. Quem sucederia Salomão? Qual dos filhos das suas concubinas? Ou seria um jovem guerreiro anônimo a liderar os exércitos, como Davi?

Os sábios da corte sem dúvida assistiam a esse jogo de poderes, ao passo que reinos vizinhos mais poderosos, como o Egito e a Assíria, hora ofereciam amizade, hora faziam guerra. A fragilização do reino pela disputa interna e o abandono da obediência ao Senhor por parte da realeza levou Israel a ser duramente atacada pelo Egito, antes uma potência mantida à distância. Eis o lamento dos sábios, perante uma casa real que se desintegrava:

O que pode fazer o sucessor do rei, a não ser repetir o que já foi feito?
Qual é o homem, designado desde muito tempo, que virá depois do rei?
(duas versões de Eclesiastes 2.12b)

Mais vale um adolescente pobre, mas sábio, que um rei velho, mas insensato, que já não aceita conselhos; porque ele [o jovem] sai da prisão para reinar, se bem que pobre de nascimento no seu reino.

Vi todos os viventes, que se acham debaixo do sol, apressarem-se junto do adolescente que o ia suceder. Era interminável o cortejo dessa multidão, à testa da qual ele caminhava. Contudo, a geração seguinte não se regozijará por sua causa. Tudo isso é ainda vaidade e vento que passa. (Eclesiastes 4.13-16)

Os sábios também assinalavam a problemática das lideranças que os reis colocavam na corte:

Há outro mal que vi debaixo do sol, um erro cometido pelos que governam: tolos são postos em cargos elevados, enquanto homens de valor ocupam cargos inferiores. Tenho visto servos andando a cavalo, e príncipes andando a pé, como servos. (10.5-7)

Ao que parece, Salomão entregou-se ao estudo cuidadoso e prática daquilo que era a Sabedoria. No fim da vida, entretanto, Salomão deixou-se levar pelo poder que havia ganhado e esqueceu-se que esse poder lhe fora dado por Deus.

PELA INSENSATEZ DE VELHOS ERROS, O REINO SE QUEBRA

Como poderia o rei mais sábio cometer o erro de afastar-se da Fonte? De uma forma engraçada, nem a Sabedoria, nem a Insensatez são perenes em homem algum.

O rei Salomão amou muitas mulheres estrangeiras, além da filha do faraó. Eram mulheres moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hititas. Elas eram das nações a respeito das quais o SENHOR tinha dito aos israelitas: “Vocês não poderão tomar mulheres dentre essas nações, porque elas os farão desviar-se para seguir os seus deuses”
...
No monte que fica a leste de Jerusalém, Salomão construiu um altar para Camos, o repugnante deus de Moabe¹, e para Moloque, o repugnante deus dos amonitas². Também fez altares para os deuses de todas as suas outras mulheres estrangeiras, que queimavam incenso e ofereciam sacrifícios a eles. (1ª Reis 11)

Aparecendo a ele como fizera quando lhe deu sabedoria, Deus simplesmente assegurou que lhe tiraria o reino dos filhos. Era a mesma punição de Saul! De algum lugar surgiria alguém que o destronaria, e o velho Salomão sem dúvida questionava os sábios sobre quem seria esse.

Assim como Samuel avisou a Saul e depois ungiu o pastor Davi, dizendo que ele seria rei, um profeta foi chamado para avisar o futuro rei:

Também Jeroboão, filho de Nebate ... era um dos oficiais de Salomão, um efraimita de Zeredá, e a sua mãe era uma viúva chamada Zerua.
...
Naquela ocasião, Jeroboão saiu de Jerusalém, e Aías, o profeta de Siló, que estava usando uma capa nova, encontrou-se com ele no caminho. Os dois estavam sozinhos no campo, e Aías segurou firmemente a capa que estava usando, rasgou-a em doze pedaços e disse a Jeroboão:

“Apanhe dez pedaços para você, pois assim diz o SENHOR, o Deus de Israel: ‘Saiba que vou tirar o reino das mãos de Salomão e dar a você dez tribos. Mas, por amor ao meu servo Davi e à cidade de Jerusalém, a qual escolhi dentre todas as tribos de Israel, ele terá uma tribo. Farei isso porque eles me abandonaram e adoraram Astarote, a deusa dos sidônios³, Camos, deus dos moabitas, e Moloque, deus dos amonitas, e não andaram nos meus caminhos, nem fizeram o que eu aprovo, nem obedeceram aos meus decretos e às minhas ordenanças, como fez Davi, pai de Salomão. Mas não tirarei o reino todo das mãos de Salomão. Eu o fiz governante todos os dias de sua vida por amor ao meu servo Davi, a quem escolhi e que obedeceu aos meus mandamentos e aos meus decretos. Tirarei o reino das mãos do seu filho e darei dez tribos a você. Darei uma tribo ao seu filho a fim de que o meu servo Davi sempre tenha diante de mim um descendente no trono em Jerusalém, a cidade onde eu quis pôr o meu nome.

Quanto a você, eu o farei reinar sobre tudo o que o seu coração desejar; você será rei de Israel. Se você fizer tudo o que eu lhe ordenar e andar nos meus caminhos e fizer o que eu aprovo, obedecendo aos meus decretos e aos meus mandamentos, como fez o meu servo Davi, estarei com você. Edificarei para você uma dinastia tão permanente quanto a que edifiquei para Davi, e darei Israel a você. Humilharei os descendentes de Davi por causa disso, mas não para sempre.”

Salomão [tomado pela insensatez] tentou matar Jeroboão, mas ele fugiu para o Egito, para o rei Sisaque, e lá permaneceu até a morte de Salomão. (1ª Reis 11)

De uma forma estranha e trágica, o que era passado voltava ao presente. Um jovem militar se tornaria poderoso, seria líder e depois perseguido pelos exércitos do velho rei. Em seguida voltaria e assumiria o trono.

O Egito havia sido afastado por Salomão e possivelmente alguns egípcios (negros) haviam se tornado escravos em Israel. Esses seriam os instrumentos do levante do novo rei:

Ora, Jeroboão era homem capaz, e, quando Salomão viu como ele fazia bem o seu trabalho, encarregou-o de todos os que faziam trabalho forçado, pertencentes às tribos de José. (1ª Reis 11.28)

Salomão foi sucedido por seu filho Roboão, de quem o Senhor assegurou que tiraria o trono. Quando Roboão assumiu, chegou a ele o pedido dos escravos: “Teu pai colocou sobre nós um jugo pesado, mas agora diminui o trabalho árduo e este jugo pesado, e nós te serviremos”. Os sábios então aconselharam Roboão a fazer o que os escravos pediam, mas não foram ouvidos! O lamento do Qohélet contra o rei demonstrava que já os soberanos haviam desdenhado dos “sábios do reino”.

Quando todo o Israel viu que o rei se recusava a ouvi-los, respondeu ao rei: “Que temos em comum com Davi? Que temos em comum com o filho de Jessé? Para as suas tendas, ó Israel! Cuide da sua própria casa, ó Davi!” E assim os israelitas foram para as suas casas.

Quanto, porém, aos israelitas que moravam nas cidades de Judá, Roboão continuou como rei deles. O rei Roboão enviou Adonirão, chefe do trabalho forçado, mas todo o Israel o apedrejou até a morte. O rei, contudo, conseguiu subir em sua carruagem e fugir para Jerusalém.

Dessa forma Israel se rebelou contra a dinastia de Davi, e assim permanece até hoje. Quando todos os israelitas souberam que Jeroboão tinha voltado, mandaram chamá-lo para a reunião da comunidade [a Ecclesiae] e o fizeram rei sobre todo o Israel. Somente a tribo de Judá permaneceu leal à dinastia de Davi. (1ª Reis 12)

FINDADO O REINO GRANDE, FINDAR-SE-ÃO OS MENORES

Roboão ficou como rei de Judá (com 2 tribos, a maior sendo Judá) e Jeroboão tornou-se rei de Israel (com 10 tribos, a maior sendo Efraim).

Apesar de ungido para o trono como Davi, Jeroboão rapidamente acreditou que chegara ao trono por seus próprios méritos. Empreendeu uma campanha para descaracterizar o reinado de Salomão (onde estava o Templo), criando ídolos de ouro a quem ele e o povo ofereciam sacrifícios por sua libertação do Egito! Então o Senhor mandou o profeta Aías dizer a sua mulher:

Vá dizer a Jeroboão que é isto o que o SENHOR, o Deus de Israel, diz: ‘Tirei-o dentre o povo e o tornei líder sobre Israel, o meu povo. Tirei o reino da família de Davi e o dei a você, mas você não tem sido como o meu servo Davi, que obedecia aos meus mandamentos e me seguia de todo o coração, fazendo apenas o que eu aprovo.

Você tem feito mais mal do que todos os que viveram antes de você, pois fez para si outros deuses, ídolos de metal; você provocou a minha ira e voltou as costas para mim. Por isso, trarei desgraça à família de Jeroboão. Matarei de Jeroboão até o último indivíduo do sexo masculino em Israel, seja escravo ou livre. Queimarei a família de Jeroboão até o fim como quem queima esterco. Dos que pertencem a Jeroboão, os cães comerão os que morrerem na cidade, e as aves do céu se alimentarão dos que morrerem no campo. O SENHOR falou!” (1ª Reis 14)

Houve conflito entre as duas dinastias, de Judá e de Israel, pelos 2 séculos seguintes, quando a Assíria invadiu Israel e, depois, quando a Babilônia organizou-se e levou cativos os restantes de Israel (então abrigados em Judá) e os habitantes de Judá.

O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do sol. Haverá algo de que se possa dizer: “Veja! Isto é novo!”? Não! Já existiu há muito tempo, bem antes da nossa época. Ninguém se lembra dos que viveram na antigüidade, e aqueles que ainda virão tampouco serão lembrados pelos que vierem depois deles. (Eclesiastes 1.9-11)

O insensato, curiosamente, sujeita-se às ações de Deus tanto quanto o sábio. Ele apenas condiciona sua felicidade a algo que dificilmente Deus faria.

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¹ Camos ou Qemósh era, aparentemente, o deus das entranhas. Supostamente os devotos defecavam em seus locais de culto, para que os sacerdotes fizessem previsões a partir das fezes.

² Moloque era um deus agrícola da fertilidade, ao qual seus devotos ofereciam os primogênitos bebês em sacrifício, queimando-os vivos nos altares. Daí o apelido “moleque”.

³ Astarote ou Astarte era a deusa que controlava o destino dos homens, associada geralmente às estrelas (daí a palavra “star” ou mesmo o nome Ishtar). Talvez sua adoração estivesse associada à queda de um grande meteorito no Oriente Médio, perto de onde hoje fica Meca.

sábado, 3 de agosto de 2013

A Sabedoria - um estudo do livro de Provérbios

Sábios gregos: Platão e Aristóteles desfilam em um quadro de Raffaello Sanzio Urbino, de 1509

Hoje, muitas pessoas associam a sabedoria à imagem de um senhor idoso, de longas barbas, andarilho ou eremita de uma alta montanha, talvez até um oriental. No contexto em que os livros da Bíblia foram escritos, entretanto, a Sabedoria era uma espécie de tesouro que podia ser passada de uma pessoa a outra, talvez até em forma material mesmo. O livro de Provérbios guarda, de certa forma, uma das últimas vezes em que se tentou organizar a sabedoria humana para que fosse literalmente dada a alguém. 

Pela forma antiga de sua organização, hoje até mesmo é difícil que ele seja lido e compreendido. Por esse trabalho [longo] em explicar como livro foi produzido, e como o seu conteúdo foi organizado.

Os seres humanos estão entre os animais que melhor aprendem sem experimentar. Claro que se comenos algo desagradável, ou que nos faz mal, passamos a evitar aquele alimento. Até os animais mais simples fazem isso. No nosso caso, porém, uma pessoa dizendo que o alimento é ruim basta para que não o comamos. Pior, algumas vezes comemos coisas que achamos ruim porque outros nos asseguram que são boas! Esse aprendizado faz parte do curso da vida de todos: vamos acumulando, com o tempo, as experiências próprias e os ensinos de outros que nos proporcionam mais sucesso no que intentamos fazer. Os ensinos obviamente vêm em maior quantidade das pessoas mais velhas, enquanto as experiências fazem parte do dia-a-dia dos mais novos.

O Livro de Provérbios trata justamente da Sabedoria, ou seja, do conhecimento prático que uma pessoa pode ter. Os compositores do livro almejavam reunir conselhos que fossem largamente úteis para que alguém pudesse ter uma vida de sucesso. E não se tratava de um sucesso material, ou de carreira, etc, mas um sucesso COMPLETO como aplicador dos ensinamentos do Senhor. Esses ensinamentos foram coletados dentre as pessoas mais sábias do reino, dentre os legados de faraós, etc.

As fontes dos Provérbios são variadas, e de certa forma trata-se uma “bíblia” de pequenos livros reunidos. Alguns estudiosos, no entanto, argumentam que a falta de conectividade dos Provérbios se deve a serem uma coleção de pequenos ditos, que jamais foram um livro coeso. Sua escrita, no entanto, parece ter sido sempre um trabalho “profissionais” de sábios contratados por reis para discutirem exaustivamente seus temas e destilarem em poucas palavras os seus conhecimentos de toda vida. O objetivo sempre foi bem claro: reunir conhecimentos complexos de forma simples, para que pudessem ser ENSINADOS à pessoas, tanto do povo quanto dos palácios.

No trecho “E deu Deus a Salomão sabedoria, e muitíssimo entendimento, e largueza de coração, como a areia que está na praia do mar. E era a sabedoria de Salomão maior do que a sabedoria de todos os do oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios. E era ele ainda mais sábio do que todos os homens, e do que Etã, ezraíta, e Hemã, e Calcol, e Darda, filhos de Maol; e correu o seu nome por todas as nações em redor. E disse três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco” (1ª Reis 4:29-32) aparecem os nomes de pessoas cujo ofício era, aparentemente, ensinar a Sabedoria. Parece um exagero do autor atribuir 3000 provérbios a Salomão, se pensarmos nos capítulos em que o livro de Provérbios está dividido. No entanto, desvinculando cada “versículo” dos demais, chegamos a um número enorme de pequenas citações, o que pode aproximar-se muito mais do escrito em 1ª Reis.

Acredita-se que Salomão também tenha composto uma grande quantidade de conselhos. E ele teve ajuda de sábios no seu tempo e depois, como Agur e Lemuel. Essa “coleção de ensinamentos” destinava-se a orientar as pessoas em questões práticas.

O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Esse é um tema que se repete nos Provérbios e noutras partes da Bíblia (Pv 1.7, Pv 9.10, Jó 28.28, Sl 111.10). A Sabedoria (ou aquilo que os sábios têm) então é apresentada como uma revelação divina da forma como um homem deve se comportar perante outro homem. A Sabedoria não é algo que deve ser feito, mas a forma de fazer as coisas.

No livro dos Provérbios, há 3 categorias de pessoas, e o livro preza pela simplicidade ao supor que TODOS se encaixam numa dessas categorias. Há o Sábio, que se guia segundo os modos que recebe de Deus. Há o Tolo, que despreza todo ensinamento e, tomando por valores aquilo que o Senhor desconsidera, se guia para a destruição. E há o Simples, que não sabe qual caminho seguir, e luta consigo mesmo. Em todo momento, o livro parece dedicado ao Simples, de forma que ele siga pelo caminho do Sábio. O Simples é aquele que desconhece os ensinamentos, que não foi instruído. Para aqueles que o conhecem, o livro adverte que “Como as pernas do coxo, que pendem flácidas, assim é o provérbio na boca dos tolos" (Provérbios 26:7), de forma que conhecê-lo e ignorá-lo já mostra o caminho optado por alguém.

Muitas vezes, o livro de Provérbios descreve o Sábio dizendo que é o contrário do Tolo. O Tolo se caracteriza por orgulho (3.7), exaltação (16.18, 17.19, 18.12, 21.4), soberba, arrogância (8.13, 21.24), auto-propaganda (20.6, 25.14, 27.2).

PROVÉRBIOS DE SALOMÃO

Existe mais de um tipo de provérbio na Bíblia. Além daqueles escritos no Livro de Provérbios, o texto bíblico traz referências como “por isso se diz: Como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor” (Gênesis 10.9), “Pelo que se tornou em provérbio: Está Saul também entre os profetas?” (1ª Samuel 10.12), “Tal mãe, tal filha” (Ezequiel 16.44). Esses provérbios se parecem muito com “Água mole e pedra dura, tanto bate até que fura”, “Pau que nasce torto morre torto”, “Em briga de marido e mulher não se mete a colher”, etc. Mas todos estão bem distantes do formato do Livro de Provérbios, onde sempre temos a estrutura [frase 1] ... [frase 2], com ambas levando alguma relação entre si:

[O temor do Senhor é o princípio da sabedoria], e [o conhecimento do Santo a prudência] (Provérbios 9.10)

[O sacrifício dos ímpios é abominável ao Senhor], mas [a oração dos retos é o seu contentamento] (Provérbios 15.8)

[Tira da prata as escórias], e [sairá vaso para o fundidor] (Provérbios 25.4)

Aparentemente, “Provérbios de Salomão”, uma expressão comum na Bíblia, corresponde a um estilo próprio dos sábios profissionais, não sendo usado fora do contexto de ensino. Ao rei Salomão corresponderia, de fato, o início dessa tradição.

PROVÉRBIOS NUMÉRICOS

Outro formato comum no livro são os provérbios que mostram categorias crescentes de importância, como se elencassem qualidades e defeitos em ordem crescente. Os capítulos 30 e 31 do livro dão muitos exemplos desse estilo curioso, mas que aparece também em diversos outros capítulos.

Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima a sua alma abomina:
1. olhos altivos,
2. língua mentirosa,
3. mãos que derramam sangue inocente,
4. o coração que maquina pensamentos perversos,
5. pés que se apressam a correr para o mal,
6. a testemunha falsa que profere mentiras, e
7. o que semeia contendas entre irmãos.

LIVRO 1 - PALAVRAS DOS SÁBIOS

A parte mais antiga dos Provérbios está no trecho que vai de Pv 22.17 a Pv 24.22 (repare a fragmentação do texto). Em traduções mais antigas da Bíblia, esse trecho se inicia com o título “Palavras dos Sábios”. Trata-se de ensinamentos que circulavam em tabletes de madeira no Egito, numa coleção chamada de “Provérbios de Amenemope”, que Salomão importou para Israel e usou como início da atividade de ENSINO dos sábios. Na época, o Egito era de fato a nação mais desenvolvida do Oriente, e muitas outras coisas egípcias foram importadas por Salomão, como a organização do governo.

O faraó Amenemope havia deixado para seu sucessor uma obra “literária” contendo instruções para que um funcionário da corte tivesse uma vida feliz. Ensinada às gerações seguintes, a obra se popularizou em todo Oriente. Salomão praticamente copiou os 30 conselhos de Amenemope e os usou como parte de sua coleção pessoal. De fato, a semelhança dos textos em conteúdo e seqüência é tão grande que, no início do século 20, a tradução dos “Provérbios de Amenemope” (a partir do egípcio) foi usada para revisar e corrigir pontos confusos da tradução bíblica (a partir do hebraico).

O conteúdo desse livro é claramente uma instrução aos membros da corte, de como deveriam se comportar na presença de reis e governadores. Para instruir a não beber em demasia, por exemplo, há uma bela descrição dos efeitos intoxicantes do vinho e de como as pessoas agem quando bêbadas.

De quem são os ais? De quem as tristezas? E as brigas, de quem são? E os ferimentos desnecessários? De quem são os olhos vermelhos? Dos que se demoram bebendo vinho, dos que andam à procura de bebida misturada. Não se deixe atrair pelo vinho quando está vermelho, quando cintila no copo e escorre suavemente! No fim, ele morde como serpente e envenena como víbora. Seus olhos verão coisas estranhas, e sua mente imaginará coisas distorcidas. Você será como quem dorme no meio do mar, como quem se deita no alto das cordas do mastro. E dirá: "Espancaram-me, mas eu nada senti! Bateram em mim, mas nem percebi! Quando acordarei para que possa beber mais uma vez?" (Provérbios 23.29-35)

A origem egípcia desses provérbios se torna ainda mais evidente quando se consideram duas divindades do Egito relacionadas à vida e à morte: Anúbis era o deus-chacal que regulava a entrada dos homens no mundo dos mortos, pesando seus corações para ver se mereciam a vida eterna; Toth era o deus-íbis que controlava a "força da vida" e mantinha os homens vivos ou os matava.

Mesmo que você diga: "Não sabíamos o que estava acontecendo! " Não o perceberia aquele que pesa os corações? Não o saberia aquele que preserva a sua vida? Não retribuirá ele a cada um segundo o seu procedimento? (Provérbios 24.12)

LIVRO 2 - TAMBÉM ESSAS SÃO PALAVRAS DOS SÁBIOS

Não há como ter certeza de que Salomão tenha composto sozinho seus provérbios. Se considerarmos que a noção hebraica de Sabedoria se apóia no debate incessante de idéias e leis (até hoje), isso na verdade é muito improvável. O rei deve ter contado com “sábios profissionais” para essa obra, e o trecho de Provérbios 24.23-34 parece ter sido emendado aos provérbios de Amenemope no reinado dele. Trata-se de um texto que aconselha a não favorecer pessoas num julgamento, a não devolver o mal com o mal e que condena a preguiça.

LIVRO 3 - O REINADO DE EZEQUIAS

Ezequias (715-687 a.C.) foi rei de Judá após a ocupação assíria que Oséias descreve. Durante seu reinado viveram os profetas Isaías e Miquéias. Na Bíblia, Ezequias é apontado como um dos grandes reis:

Ezequias, porém, se humilhou pela exaltação do seu coração, ele e os habitantes de Jerusalém; e a grande ira do Senhor não veio sobre eles, nos dias de Ezequias. E teve Ezequias riquezas e glória em grande abundância; proveu-se de tesouraria para prata, ouro, pedras preciosas, especiarias, escudos, e toda a espécie de objetos desejáveis. Também de armazéns para a colheita do trigo, e do vinho, e do azeite; e de estrebarias para toda a espécie de animais e de currais para os rebanhos. Edificou também cidades, e possuiu ovelhas e vacas em abundância; porque Deus lhe tinha dado muitíssimas possessões. Também o mesmo Ezequias tapou o manancial superior das águas de Giom, e as fez correr por baixo para o ocidente da cidade de Davi; porque Ezequias prosperou em todas as suas obras (2 Crônicas 32:26-30).

Ao centralizar novamente o poder real, após uma época de guerras contra a Assíria e devastações, Ezequias contratou sábios para reunirem provérbios e os escreverem, a fim de que fossem ensinados ao povo e aos nobres. A parte de Provérbios 25 a 27 corresponde ao seu legado para o povo. A parte de Provérbios 28 e 29 corresponde ao seu legado para a nobreza. Os sábios de Ezequias começaram seu trabalho com uma marca significativa - “Também estes são provérbios de Salomão, os quais transcreveram os homens de Ezequias, rei de Judá” (Provérbios 25:1).

Na parte referente ao povo, os sábios usaram novamente o Tolo como forma de evidenciar o Sábio. O Tolo é sem autocontrole (Provérbios 25.28), não presta atenção aos ensinamentos (26.7), é recebedor de castigos (26.3); não se deve ter relações com ele e muito menos conceder-lhe honras (26.1-8), ele é preguiçoso e sábio aos próprios olhos (26.13-16), fica se gabando de dádivas não recebidas (25.14), é incorrigível (26.11 e 27.22), maldizente, enganador (26.18-22) e irado (27.3). O livro ainda traz ensinamentos sobre como proceder no dia-a-dia com as outras pessoas, evitando mulheres que criam brigas (27.15), prestar atenção nos senhores (27.18), de como se comportar no Palácio, sendo comedido e discreto (25.6-7 e 15-17), como evitar problemas legais (25. 8-10), etc.

Na parte referente à nobreza, os sábios elaboraram uma espécie de manual para príncipes e altos funcionários da realeza, que provavelmente foi usado na educação dessas pessoas. Trata-se de uma exaltação da justiça e da lei (Provérbios 28), sem que o pobre seja oprimido (28.3, 28.15-16). O livro adverte os poderosos de que serão vítimas de bajulação e inveja, mas que serão bons governantes se agirem com justiça (Provérbios 29.2, 29.7, 29.14, 29.16, 29.27).

LIVRO 4 - A REFORMA DE JOSIAS

Quando o bisneto de Ezequias subiu ao trono, encontrou um vácuo de poder: o Egito (ao sul) havia se desestruturado por problemas internos, a Assíria (ao norte) havia sido vencida nas guerras contra as tribos babilônicas e a Babilônia ainda não era um império unificado. Nessas condições, Josias (640-609 a.C.) deu pleno trabalho à re-unificação do reino, onde atuavam o profeta Jeremias e sua parente, a profetisa Hulda.

Durante a reforma do Templo, Josias recebe a notícia de que o livro da Lei havia sido encontrado. Isso é muito significativo, pois revela que a lei escrita de Moisés talvez tivesse se perdido durante as guerras, no reino do sul, pelo menos. Ao ver o livro da Lei, Josias inicia profundas reformas religiosas para re-estabelecer o império dos tempos de Davi e Salomão. Essas reformas incluíram a proibição do culto de outros deuses, a destruição dos prostíbulos sagrados ANEXOS AO TEMPLO, a derrubada dos pilares sagrados de Baal e Asherá, a destruição de imagens sagradas, a execução de sacerdotes pagãos e até desenterrar os sacerdotes pagãos antigos e queimar seus ossos (o que era visto como pior das afrontas).

As reformas de Josias condizem com o livro de Deuteronômio, que deve ter sido o “livro da Lei” encontrado. Ao menos em sua parte central (Deutoronômio 12-26): muitos trechos do livro só se tornaram populares após o reinado de Josias, de forma que devem ter sido escritos e incluídos nesse período. Esse livro traz basicamente um código de leis sobre o culto a Javé, o papel do rei de transmitir as mensagens de Deus ao povo, as coisas proibidas para se fazer e comer, e uma estrutura político-legislativa a ser observada pelos governantes.

Durante o reinado de Josias, os sábios ligados à corte reuniram mais provérbios às coleções anteriores, compondo a parte conhecida como Provérbios de Salomão (10.1 até 22.16). Como fez Ezequias, a 1ª parte (Provérbios 10 até 15) é um código de moral dedicado ao povo); a 2ª parte (Provérbios 16 até 22.16) é um código de ensino para a realeza e os altos funcionários. A parte dedicada ao povo está entre os mais belos exemplos de filosofia de vida: ela estabelece uma moral baseada no temor a Javé, ardor no trabalho, modéstia, humildade, generosidade, misericórdia e honestidade; por outro lado condena a preguiça, injustiça, insensatez e perversidade. Em especial, faz uma prodigiosa descrição das emoções humanas e sua relação com Deus. A parte dedicada aos governantes é fortemente religiosa e apresenta Javé como protetor dos justos, sendo o rei seu emissário. Ainda, estabelece que os ricos se enganam freqüentemente e Javé protege os pobres.

Apesar de seu trabalho exemplar em registrar essa parte do Livro de Provérbios, Josias morreu em condições no mínimo estranhas. Conforme 2ªCrônicas 35.20-27, o faraó Necao havia entrado em guerra contra a Assíria; enquanto passava com seu exército por Judá, Josias foi combatê-lo. O faraó teria declarado “segundo Deus” que sua guerra não era contra Judá, mas Josias insistiu na batalha, onde acabou mortalmente ferido. Menos de uma década depois dele, as tribos babilônicas se consolidaram e o rei Nabucodonosor II capturou Jerusalém em 597 a.C., deportando toda sua população para outras terras.

LIVRO 5 - O RETORNO DA BABILÔNIA

Após 50 anos de servidão dos judeus nas terras babilônicas, Ciro “o grande” chega da Pérsia e conquista a capital de Babilônia. Com um reino tão grande para se apossar, sua estratégia foi conseguir apoio de todas as nações escravizadas. Por meio de uma lei escrita, ele permitiu que todas as nações deportadas voltassem para suas terras e ofereceu os tesouros reais para reconstruir o que os babilônicos tivessem destruído. Funcionou! Em poucos anos, a Babilônia e todas as terras vizinhas idolatravam Ciro como um “grande salvador” e passaram pacificamente a fazer parte de seu gigantesco império. Dario e Xerxes (também chamado Assuero), dois reis históricos, seriam seus sucessores.

Neemias partiu com uma carta do rei e grandes riquezas para começar a reconstrução de Jerusalém. Pouco depois, chega Esdras, escriba e profeta do rei, para devolver as leis de Moisés ao Templo, agora em trabalho de reconstrução (Esdras 7.7-10). A Lei passa a ser lida e explicada publicamente e ressurge uma classe poderosa em Jerusalém, formada principalmente por sacerdotes. Logo essa classe reassume os trabalhos de educação a que se dedicavam na Babilônia, passando a compor também uma parte do Livro de Provérbios. Até 400 a.C., os “sábios do reino” haviam anexado os ensinamentos de Provérbios 1 até 9, com a introdução “Provérbios de Salomão, filho de Davi e rei de Israel”. O objetivo era claro: resumir e re-ensinar ao povo as antigas escrituras.

Curiosamente, esse trecho precisava de uma séria adaptação em relação aos outros. Não havia mais um rei como emissário do Senhor. As escrituras eram o que tinham de mais forte ligando-os às eras passadas do Templo, e então a Sabedoria aparece como um personagem, uma imagem do próprio Deus que busca converter o homem de seus enganos. E o maior deles era desprezar o ensino! A Sabedoria toma as feições de uma pessoa que chama os Simples de cima dos muros, de cima das casas, que lhes oferece um banquete para ensinar o Temor ao Senhor. Em Provérbios 8.13, esse temor é “odiar o mal; a soberba e a arrogância, o mau caminho e a boca perversa”. A apresentação da Sabedoria nessa parte do Livro dos Provérbios curiosamente iguala a Sabedoria ao próprio Messias:

O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras. Desde a eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra. Quando ainda não havia abismos, fui gerada, quando ainda não havia fontes carregadas de águas. Antes que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada. Ainda ele não tinha feito a terra, nem os campos, nem o princípio do pó do mundo. Quando ele preparava os céus, aí estava eu, quando traçava o horizonte sobre a face do abismo; quando firmava as nuvens acima, quando fortificava as fontes do abismo, quando fixava ao mar o seu termo, para que as águas não traspassassem o seu mando, quando compunha os fundamentos da terra. Então eu estava com ele, e era seu arquiteto; era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em todo o tempo; regozijando-me no seu mundo habitável e enchendo-me de prazer com os filhos dos homens. (Provérbios 8.22-31)

Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou. (João 8.58)

E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse. (João 17:5)

O ADULTÉRIO

Curiosamente, o adultério ocupa um lugar muito significativo nos ensinamentos hebraicos, e mesmo de Jesus. Isso só pode significar que se tratava de um problema do dia-a-dia, que perturbava tanto reis como humildes. Todo o capítulo 5 do Livro de Provérbios trata de descrever a mulher adúltera como uma armadilha mortal ao homem, como alguém que atrai os jovens e os leva à morte.

AS TRIBOS DO DESERTO E SUAS MULHERES

Normalmente pensamos nos nômades governados por patriarcas autoritários... Talvez o livro de Provérbios mostre um lado bem diferente desses povos! As contribuições pra o Livro de Provérbios nem sempre vieram dos palácios reais. Algumas tiveram origem em reinos distantes, nas tribos nômades que andavam nas bordas do deserto, entre Israel e a Assíria. Um exemplo claro está em Provérbios 30.1-9, que começa com “Palavras de Agur, filho de Jaque, o masaíta, que proferiu este homem a Itiel, a Itiel e a Ucal”. Os nomes podem ser fictícios, porque Agur significa “aquele que ajunta” e Jaque é “o que é religioso”, ou podem ser nomes reais de pessoas. O povo de Massá é bem real, mencionado em outras partes da Bíblia:

E estes são os nomes dos filhos de Ismael, pelos seus nomes, segundo as suas gerações: O primogênito de Ismael era Nebaiote, depois Quedar, Adbeel e Mibsão, Misma, Dumá, Massá, Hadade, Tema, Jetur, Nafis e Quedemá. Estes são os filhos de Ismael, e estes são os seus nomes pelas suas vilas e pelos seus castelos; doze príncipes segundo as suas famílias. (Gênesis 25:13-16)

Agur expõe sua ignorância e suas dúvidas ao Senhor, pedindo que não seja rico (para esquecê-Lo), nem pobre (para desonrá-Lo roubando).

Após o seu testemunho, seguem conselhos variados sobre coisas importantes e desprezíveis, e então as palavras de Lemuel, rei de Massá. Lemuel deixa evidente o poder matriarcal ao enunciar que são palavras que lhe foram ensinadas por sua mãe. São conselhos sobre como proceder quanto às bebidas alcoólicas. Em seguida, há uma série de ensinamentos sobre o valor da mulher virtuosa.

Noutras partes da Bíblia também há evidências do poder matriarcal, como no apelo de Bate-Seba ao moribundo rei Davi (1ª Reis 1.13), no reinado de Jezebel e na sucessão do rei Jeú (2ª Reis 11.1-4). Aqui, porém, esse poder se transcreve até na formulação do ensino de Sabedoria.

CONCLUSÃO

O Livro de Provérbios traz um tipo de sabedoria (divinamente inspirada, se tomamos a participação especial de Salomão, Ezequias e Josias nisso) ao qual não estamos acostumados. Trata-se da compilação do pensamento de sábios em linguagem o mais simples e popular possível, porém guardando um formato e estilo que identificou-os durante cerca de 1000 anos. O livro raramente está na forma de texto, sendo geralmente uma sucessão de pequenas falas onde duas idéias são comparadas. É difícil saber quanto dos escritos originais sobreviveram ao longo desse tempo, mas a estrutura do texto (não sendo um texto...) se conservou incrivelmente ao longo do tempo.

SABEDORIA TAMBÉM É LER

Agur - wikipedia
Amenemope (pharaoh) - wikipedia
Carreira JN, Sabedoria evangélica no Antigo Egito, Faculdade de Letras de Lisboa
Ivo Storniolo, Como ler o livro dos provérbios, Ed. Paulus, 2008
Rob Harbison, Proberbs - study guide
The Proverbs of Amenemope also known as: The Instruction of Amenemope