sexta-feira, 29 de junho de 2018

Os dois lados de uma Cleópatra

Duas moedas selêucidas, identificadas como tendo os rostos de Cleópatra/Alexandre Balas e Cleópatra/Antíoco Grypus

PRÓLOGO

Desde o retorno dos Judeus libertados pelo rei Ciro em 540 a.C., não houve rei em Israel. As reconstruções seguiram sob o comando do sacerdote Esdras (aprox. 460 a.C.) e depois o governador Neemias (aprox. 430 a.C.), mas Israel permaneceu muito tempo sob a regência dos Persas. Após Malaquias (aprox. 420 a.C.), também não houve outro grande profeta. O controle (pacífico) dos Persas foi quebrado, em 330 a.C., pela chegada de um imenso exército dos Macedônios sob o comando de Alexandre o Grande.

Esse texto fala sobre Cleópatra Thea, uma rainha do Período Inter-testamentário que viveu no centro de um furacão bíblico envolvendo Egito, Grécia, Macedônia, Fenícia, Judéia e Pártia; algo como uma Guerra Mundial do mundo antigo. Grande parte do que escrevo aqui está descrito como crônicas de guerra no livro de 1ª Macabeus, encontrado nas Bíblias Católicas, mas não nas Protestantes¹, e conta como pano de fundo o estabelecimento de um novo reinado em Israel, no ano de 140 a.C. A nova linhagem de reis duraria até a vinda de Júlio César, o Romano, em 37 a.C.

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Era uma vez um príncipe do reino da Macedônia, chamado Alexandre. Ele conquistou mais terras do que qualquer outro homem, por isso foi chamado Alexandre o Grande. Seu reino ia do Egito até a Índia, tão grande que ao amanhecer de um lado já era meio-dia de outro. No Egito, fizeram-lhe até uma das 7 maravilhas do mundo, a cidade gloriosa de Alexandria.

Infelizmente, Alexandre morreu jovem. Seu império foi, então, repartido entre os fiéis generais. Cada um deles fez uma coroa para si, iniciando uma família de reis. O Egito coube a Ptolomeu, fundador dos Ptolomai. Cleópatra Thea (164-121 a.C.; Thea = divina) nasceu nessa família real, a filha mais velha de Ptolomeu VI e Cleópatra II.

Do leste da Síria até o Irã governou Seleuco, primeiro dos Selêucidas. Entre um reino e outro estavam as terras da Fenícia, famosa comerciante naval no Mediterrâneo, além da Galiléia (terras baixas ao norte de Israel) e Judéia (terras montanhosas aos sul). Esses territórios assistiram a duelos infindáveis entre os Ptolomai e os Selêucidas.

Os Ptolomai foram os primeiros a governar a Judéia. Eles foram bons reis para os judeus, concedendo liberdade de culto em troca de apoio militar e impostos. Mas os Ptolomai também davam altos cargos no governo para quem lhes favorecesse entre os sacerdotes e doutores da lei, e acabaram atraindo a cobiça dos fariseus e saduceus.

Os judeus se dividiram por isso em conservadores/pobres (radicalmente contra os gregos), moderados (que aceitavam alguns costumes) e helenizantes/favorecidos. Os helenizantes defendiam usar o grego nos documentos, participar dos torneios de homens nus e até reverenciar deuses gregos como Zeus e Apolo.

Afora conflitos pequenos e silenciosos, houve paz até 200 a.C. Nesse ano, Antíoco III o Grande, dos Selêucidas, investiu contra o Egito e derrotou Ptolomeu V, tomando-lhe a Judéia e a Fenícia. Com isso, Selêucida iria do Mar Persa (Golfo Pérsico) até o Mar Vermelho e seria uma potência marítima. Depois que viu seu poderio militar, o herdeiro e braço direito, príncipe Antíoco IV Epiphanes (epiphanes = imagem de Deus), retornou para a capital Antioquia saqueando todo reino que não lhe jurasse obediência irrestrita. Foi o que aconteceu com a Judéia.

Quando Antíoco IV subiu ao trono da Selêucida (175 a.C.), sentiu-se desafiado pelos judeus, seu Jeová e seu Templo. Considerava-os selvagens e inferiores, por isso tentou convencer as pessoas a trocarem a cultura judaica pela dos gregos. Uma de suas medidas foi substituir o sumo sacerdote Onias III (um tradicionalista, mal visto entre seus pares) pelo irmão Jasão (um helenista, por cujo cargo o rei Antíoco aceitou 440 talentos de prata - umas 10 toneladas e meia). Um Gymnasium grego foi instalado ao lado do Templo, para horror dos sacerdotes conservadores.

... Logo que subiu ao poder, Jasão arrastou seus concidadãos para o helenismo. … Foi com alegria que fundou um ginásio ao pé da própria acrópole, alistou os mais nobres jovens e os educou ao pétaso. Por causa da perversidade inaudita do ímpio Jasão, que não era de modo algum pontífice, obteve o helenismo tal êxito e os costumes pagãos uma atualidade tão crescente, que os sacerdotes descuidavam o serviço do altar, menosprezavam o templo, negligenciavam os sacrifícios, corriam, fascinados pelo disco, a tomar parte na palestra e nos jogos proibidos. Não faziam caso das honras da pátria e amavam muito mais os títulos helênicos. (2ª Macabeus 4.10-15)

O MARTELO JUDEU

Nesse tempo, circulava secretamente um perigoso boato entre os líderes judeus. Falava-se sobre uma fortuna em ouro guardada nas salas mais profundas do Templo, onde só os altos sacerdotes tinham acesso². Não demorou para que essa notícia chegasse aos oficiais selêucidas e traçasse seu rumo até os ouvidos do rei Antíoco. Certo dia, um homem chamado Menelau, que era oficial judeu e foi mandado até Antíoco para negociar o pagamento dos tributos do Templo, denunciou  existência desse ouro. Em sinal de fidelidade, Menelau até ofereceu todo ouro ao rei para sua campanha no Egito, contra os Ptolomai. Pouco tempo depois, o sacerdote Jasão foi deposto, assim como os demais sacerdotes.

O Santo dos Santos ganhou uma estátua de mármore de Zeus e o Templo foi saqueado, revirado em busca do ouro (169 a.C.), terminando por virar um prédio abandonado.

[Antíoco] Penetrou cheio de orgulho no santuário, tomou o altar de ouro, o candelabro das luzes com todos os seus pertences, a mesa da proposição, os vasos, as alfaias, os turíbulos de ouro, o véu, as coroas, os ornamentos de ouro da fachada, e arrancou as embutiduras. Tomou a prata, o ouro, os vasos preciosos e os tesouros ocultos que encontrou. Arrebatando tudo consigo, regressou à sua terra, após massacrar muitos judeus e pronunciar palavras injuriosas. Foi isso um motivo de desolação em extremo para todo o Israel. … No dia quinze do mês de Casleu, do ano cento e quarenta e cinco, edificaram a abominação da desolação por sobre o altar …. rasgavam e queimavam todos os livros da lei que achavam; em toda parte, todo aquele em poder do qual se achava um livro do testamento, ou todo aquele que mostrasse gosto pela lei, morreria por ordem do rei. (1ª Macabeus 1.21-25, 54-57)

Esse foi estopim do “martelo” judeu. Um dos sacerdotes da cidade de Modi’im, Matatias, reuniu seus 5 filhos e mataram os oficiais selêucidas que os obrigavam a sacrificar aos deuses gregos. Tornando-se um criminoso, ele refugiou-se com seus “Macabeus” nas montanhas de Judá e iniciou uma revolta nacionalista que ganharia mais soldados por onde passasse.

Matatias morreu nos 1os anos da guerrilha, sendo sucedido em comando pelo filho mais velho Judas [Macabeu]. Embora um grande estrategista militar, Judas e seu irmão João acabaram mortos nos confrontos contra os Selêucidas. O terceiro irmão, Jônatas Macabeu, reuniu um exército poderoso que reconquistou Jerusalém³ e tornou-se peça importante nas disputas entre os Ptolomai e os Selêucidas, a ponto de ambos os lados o temerem. Jônatas libertou muitas cidades do controle dos gregos, tornando-se conhecido até mesmo nas terras vizinhas. Em nome de uma Israel que falava por si própria, Jônatas renovou as relações diplomáticas com Roma e o Egito, mantendo a segurança de Jerusalém através de acordos com os dois lados e o rei Antíoco.

VENCEMOS, VENHA CLEÓPATRA!

Nesse ponto da história é que aparece a princesa de Ptolomeu VI do Egito.

Antíoco III o Grande havia sido derrotado pelos romanos, e cada rei Selêucida foi obrigado a deixar seu filho como refém dos romanos**. Antíoco IV era um desses reis educados em Roma. Quando ele foi coroado, Roma libertou seu irmão Seleuco IV e tomou o filho deste, Demetrius I. Seleuco subiu ao trono para servir aos interesses de Roma, mas seu reinado foi curto e acabou assassinado pelo amoroso tio Antíoco, de quem já falamos.

Os anos passaram, Demetrius I cresceu e adquiriu poder militar para reconquistar seu reino. Por causa dele, a Selêucida assistiu gerações de guerra entre duas famílias reais irmãs: os de Seleuco e os Antíoco. A Revolta dos Macabeus conviveu com alianças, traições, vitórias e derrotas de 3 gerações Selêucidas. Um desses líderes, filho de Antíoco IV, foi Alexandre Balas. Ele aparece na narrativa como grande inimigo de Demetrius I Soter (o pequeno que havia ficado em Roma), transformado num rei detestável pela sua má administração e uso indiscriminado de mercenários trazidos de Creta.

Era uma vez um príncipe Alexandre Balas, filho de um rei tirano e derrotado chamado Antíoco IV. Balas cresceu a protegido dentro da nobreza Selêucida, até que concebeu a idéia de ser o rei daquele país. Balas conseguiu conquistou o exército de Ptolemaida e assim reuniu forças, para, no que todos  chamariam de golpe, reaver seu trono. Além disso, ele intencionava reunificar o império dos Macedônios fazendo aliança com o respeitado monarca do Egito.

Quando Balas repeliu Demetrius, tanto os Ptolomai quanto as nações vizinhas lhe prestaram atenção. Tendo Demetrius I como um inimigo em igual, Jônatas Macabeu viu em Alexandre Balas um rei honrado (ao contrário do pai) e travou amizade com ele.

Então Alexandre [Balas] enviou embaixadores a Ptolomeu do Egito, com a missão de lhe dizer: “Eis-me de volta ao solo do meu reino e assentado no trono de meus pais; recobrei o poder, derrotei Demétrio e entrei na posse de meu país. Travei batalha com ele, venci-o com seu exército e subi ao trono onde ele reinava. Façamos agora laços de amizade, dá-me tua filha por esposa e serei teu genro, e vos cumularei, a ti e a ela, com presentes dignos de vós.”

O rei Ptolomeu respondeu: “Venturoso o dia em que entraste na terra de teus pais e te assentaste no trono de seu reino! Por isso dar-te-ei o que me pedes, mas vem ter comigo em Ptolemaida**, para que nos vejamos, e farei de ti o meu genro como desejas.” Saiu Ptolomeu do Egito com sua filha Cleópatra, e foi a Ptolemaida no ano cento e sessenta e dois. Deu-a em casamento a Alexandre, que lhe veio ao encontro e celebrou as bodas com real magnificência. 

O rei Alexandre escreveu também a Jônatas, para que viesse procurá-lo, e este se dirigiu a Ptolemaida, com pompa, onde encontrou os dois reis. Ofereceu-lhes, como também a seus amigos, prata, ouro e numerosos presentes e conquistou sua confiança inteiramente. … Ordenou até mesmo que se tirassem as vestes de Jônatas, para revesti-lo de púrpura, o que foi feito; e o rei fê-lo assentar-se junto de si. (1ª Macabeus 10.51-62)

Cleópatra Thea era uma princesa poderosa. Mas ela entra na nossa narrativa em 150 a.C. da melhor maneira, como esposa de um rei adorado e justo, prometendo celebrar a re-unificação dos grandes reinos Ptolomai e Selêucida para trazer paz a todas as terras do Oriente Médio. Seu casamento suntuoso foi noticiado em todas as partes do mundo, ganhou lugar até nos livros de história. Logo mais, em 148 a.C., próximo ao grande triunfo de Roma sobre seu pior rival, a cidade de Cartago, nasce o mais esperado herdeiro, Antíoco VI Dionísio, provavelmente herdeiro de tudo o que já fora de Alexandre o Grande.

Mas havia uma ameaça no sul. Demetrius I ainda lutava, e por isso Alexandre Balas mandou seu filho para longe da guerra, para ser guardado no território árabe.

A VINGANÇA DOS GUERREIROS

A paz pareceu reinar quando Demetrius I acabou derrotado por Alexandre Balas. Estava constituído um novo império gigantesco. Na ilha de Creta, entretanto, crescia Demetrius II, treinado para a guerra no mesmo lugar de onde saíam os soldados do pai. Aos 15 anos, em 147 a.C., o jovem Demetrius II também desembarcou na Fenícia com um exército de mercenários.

Demetrius investiu poderosamente contra Alexandre Balas. Um dos generais de Balas, Diodotus Tryphon, prevendo sua queda, foi à Arábia buscar o pequeno rei para coroá-lo sem demora. E Cleópatra Thea, no Egito, viu seu pai Ptolomeu tomar uma inédita decisão: ele a separaria de Alexandre para entregar a Demetrius II Nicator. O pai queria unir os reinos, mas apostava agora no outro braço da família real.

O novo casamento deu-se em Antioquia, em 145 a.C., 5 anos após o 1º casamento e estando ela pelo menos 2 anos separada do filho. Certamente 145 a.C. seria um ano terrível para todos os reis.

Tryphon era um hábil general. Em 145 a.C. ele repeliu Demetrius, que deslocou suas tropas muito a leste e acabou capturado pelas tropas da Pártia. Mas Ptolomeu já havia conquistado boa parte da Selêucida.

Enquanto o rei Ptolomeu triunfava, Alexandre chegou à Arábia, para procurar ali um asilo, mas o árabe Zabdiel mandou cortar-lhe a cabeça e enviou-a ao rei do Egito. Ptolomeu morreu três dias depois, e as guarnições que ele havia posto nas fortalezas foram massacradas pelos habitantes das cidades vizinhas. (1ª Macabeus 11.16-18)

Alexandre também deslocou suas tropas para o sul, pressionado por uma invasão vinda do Egito. Lá, ele acabou morto por um partidário árabe de Ptolomeu VI. O próprio rei do Egito acabou ferido numa queda de seu cavalo e morreu, antes do final do ano.

Assim, no mesmo ano, a rainha Cleópatra perdeu seu antigo esposo, separado à força, o novo esposo e também o pai. Mesmo ela já estava ameaçada pela sombra de Tryphon, mas ele tinha outros planos. Com Demetrius II derrotado, Ptolomeu e Alexandre Balas mortos, o general Tryphon sentiu-se muito apto a tomar o trono da Selêucida para si. O jovem rei todo poderoso (até chamado deus Dionísio) Antíoco VI era uma criança, e Tryphon tinha em suas mãos o exército. Seu único adversário era ainda o companheiro do antigo rei, nosso general e sacerdote Jônatas Macabeu.

Tryphon usou de toda astúcia e falsidade possíveis para resolver isso: primeiro convidou Jônatas a se reunir com ele em Ptolemaida, depois pediu que dispensasse seu exército, pois estava em território amigo. Jônatas consentiu, mantendo apenas 1000 homens consigo. Ao chegarem em Ptolemaida, subitamente os dois reis encontraram as portas da cidade fechadas. Era uma emboscada, e os homens de Jônatas não foram suficientes para protegê-lo. Assim Jônatas acabou preso e mais tarde executado perante os homens de Tryphon. Foi-lhe feita a tumba de um rei, e ninguém mais se oporia a Tryphon.

Em 142 a.C., no seu próprio palácio de Antioquia, o rei Antíoco IV Dionísio (com 8 anos de idade) foi executado. Tryphon noticiou que a criança morrera durante uma cirurgia, ao que ninguém acreditou. E rapidamente Tryphon coroou-se rei da Selêucida.

Quando levaram-lhe a notícia, Cleópatra declarou Tryphon inimigo de toda a linhagem dos Ptolomai e dos Selêucidas.

O RETORNO DO REI

Do 2º casamento, Cleópatra Thea concebeu dois filhos: Seleuco V Philometor (philometor = preferido da mãe) e Antíoco VIII Grypus (grypus = narigudo). Logo após o nascimento dos filhos, Tryphon fez com que seu esposo Demetrius fosse capturado. Ele permaneceu 10 anos além das fronteiras do reino, em algum lugar da Pártia...

Nesse tempo, Cleópatra encontrou um novo fiel. O irmão de Demetrius, Antíoco VII Sidetes, jurou-lhe que destruiria Tryphon. De fato, 4 anos depois chegariam notícias de que Sidetes encurralou Tryphon e o executou em sua terra natal, Apamea. Quando voltou a Ptolemaida, Sidetes pediu a mão de Cleópatra e a desposou, tornando-se o novo rei da Selêucida. E por 6 anos reinou a paz em toda terra.

Certo dia, em 130 a.C, chegou a Ptolemaida a notícia de que Demetrius havia entrado em Selêucida, com uma grande escolta de mercenários. Ele voltava do cativeiro casado com uma princesa guerreira da Pártia, Rhodogune, em sinal de sua fidelidade àquele reino. 

Cleópatra se negou a receber Demetrius de volta em Ptolemaida. Por fim ela soube, anos depois, que ele sofrera derrotas seguidas defendendo seu país contra os Ptolomai do Egito (pois a invasão não cessara). Demetrius havia se tornado um alcoólatra e foi assassinado pelas próprias tropas, quando lhe faltou meios de pagá-los.

QUE FIM LEVOU CLEÓPATRA?

Cleópatra comandou toda Selêucida e manteve relações pacíficas  com os Ptolomai por 3 ou 4 anos, enquanto seus príncipes cresciam. Dois eram filhos de Demetrius II e um filho era filho de seu irmão, chamado Antíoco IX Cyzicenus (cyzicenus = piedoso). Além disso, ela tinha mais 4 filhos que não eram sucessores ao trono. Cleópatra sabia que os herdeiros lutariam pelo trono, então tentou mantê-los alternadamente no poder à medida que completavam 15 anos. Cada qual teve a coroa da Selêucida por um ou dois anos, governando sob a tutela da mãe.

Mas o terceiro filho, Grypus, conhecido por suas habilidades de caça, mostrou-se um jovem tirano logo que assumiu o trono. Em menos de 1 ano ele desafiou o Egito demais membros da família real,  prometendo devolver o reino a uma guerra de dinastias. Em desespero, a mãe tentou matá-lo com vinho envenenado. Suspeitando do comportamento da mãe, Grypus chamou seus soldados e a obrigou a beber do vinho que lhe oferecia. Isso matou Cleópatra no palácio de Ptolemaida em 121 a.C., aos 37 anos de idade.

Com a morte de Jônatas Macabeu, seu irmão Simão Macabeu assumiu a posição de general e sumo sacerdote de Israel. Ele veria a Selêucida ruir na sua guerra de dinastias, e estabeleceria a paz com o Egito, Roma e Esparta, dando início à linhagem dos reis Hasmoneus em Judá. Eis a inscrição deixada sobre ele:

No dia dezoito do mês de Elul, do ano cento e setenta e dois, o terceiro ano do pontificado de Simão, em Asaramel, na grande assembléia dos sacerdotes do povo, dos chefes da nação e dos anciãos do país, foi declarado isto: No momento em que as guerras renasciam sem cessar no país, Simão filho de Matatias, descendente de Jarib, e seus irmãos, expuseram-se ao perigo e resistiram aos inimigos de sua raça, para salvar o templo e a lei, levando seu povo a uma grande glória. Jônatas reuniu seu povo e tornou-se o sumo sacerdote; depois foi juntar-se aos seus mortos. Os inimigos quiseram invadir o país para devastá-lo e lançar a mão sobre os lugares santos, mas então se levantou Simão. Combateu por sua nação, distribuiu uma grande parte de seus bens para armar os homens de seu exército e pagar seu soldo. Fortificou as cidades da Judéia: Betsur, que se acha na fronteira, outrora arsenal do inimigo, onde ele estabeleceu uma guarnição judia; Jope, que se acha na costa; Gazara, na região de Azot, outrora povoada de inimigos, que ele substituiu por judeus. E muniu todas estas cidades com o que era necessário para sua defesa. O povo viu o procedimento de Simão e a glória que ele queria adquirir para a sua raça. Escolheram-no para chefe e sumo sacerdote, por causa de tudo o que ele havia efetuado, pela justiça e fidelidade que guardou à sua pátria e porque procurava de todo modo exaltá-la. (1ª Macabeus 14.27-35)

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¹ Macabeus é uma palavra hebraica para “martelo”, significando uma força revolucionária da Judéia que a protegeu das influências gregas nos anos após Alexandre o Grande (330 a.C.). Os livros dos Macabeus (1 a 9) são crônicas dessa resistência dos Judeus em um mundo dominado - em todos os lados - por impérios gregos. Os dois principais livros, 1ª e 2ª Macabeus, foram preservados como partes da Torá e, depois, na Bíblia Septuaginta, de onde se originou a versão Católica. Até o séc. 16, houve consenso de que tais livros eram inspirados divinamente e portanto foram mantidos na Bíblia. Na Reforma Protestante, os livros dos Macabeus foram considerados somente crônicas de guerras humanas e portanto foram tirados do Livro Sagrado. Eles cobrem justamente o período entre a chegada dos gregos na Judéia (330 a.C.) e a dominação romana (37 a.C.).

² Os boatos sobre o tesouro dentro do Templo eram antigos (2ª Macabeus 3.2). Eles parecem ter começado com uma denúncia de Simão o Benjamita, que desejava controlar o mercado dentro do Templo. O enviado do rei Seleuco IV (irmão de Antíoco IV), Heliodorus, acabou assassinado dentro do Templo. Supostamente sua morte foi atribuída ao aparecimento de anjos em vestimentas douradas, que defendiam o lugar sagrado.

³ A reconquista de Jerusalém teve um impacto profundo na mentalidade dos judeus. A cidade sagrada estava nas mãos de judeus, o Templo foi restaurado e re-dedicado. O poderio de Jônatas como líder militar pode ser atestado por sua aliança com Demetrius II Nicator (nicator = vitorioso), rei Selêucida filho de Alexandre Balas (170-146 a.C.) (1ª Macabeus 11.42-52), com Roma e Esparta (1ª Macabeus 12.1-23). A partir da morte de Jônatas (143 a.C.), instaurou-se uma dinastia de reis judeus conhecida como Hasmoneus (140-37 a.C.). Essa dinastia clamava descendência de um alto sacerdote Hashmonay e começou com Simão Macabeu, um dos filhos de Matatias. Ele aproveitou-se das guerras internas entre as famílias Selêucidas e seus descendente manobraram relações pacíficas de poder com os Selêucidas, os Ptolomai e o crescente poder Romano, após a derrota de Cartago (146 a.C.).

* Era costume de Roma tomar por reféns os herdeiros daqueles reis que derrotava. Ao invés de confiná-los em calabouços, os romanos alojavam esses príncipes prisioneiros como hóspedes de suas famílias mais ricas. Sendo jovens, eram educados por professores romanos de forma que adquirissem lealdade ao império para, em momento oportuno, assumirem seus tronos como clientes/fiéis de Roma. Ao contrário de ser uma prática inovadora, ela já havia sido muito utilizada por Nabucodonozor II (634-562 a.C.) durante seu longo reinado entre os Caldeus. Daniel, Hananiah (Sadraque), Mishael (Mesaque), Azariah (Abednego), Ezekiel, Jeremias e Isaías estavam entre a elite de Jerusalém que foi feita refém pelos Caldeus. Os 4 primeiros, em especial, eram príncipes e foram alojados no próprio palácio de Nabucodonozor.

** Ptolemaida era a cidade natal de Ptolomeu I Soter (soter = salvador), melhor amigo e general que acompanhou Alexandre o Grande em suas batalhas. Após a morte de Alexandre, ainda jovem, ele coroou-se Faraó e fundou a nova dinastia do Egito, onde nasceram 15 rainhas denominadas Cleópatras.

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LIVROS BANIDOS DO REINO

3rd century BC - wikivividly
Antiochus, Encyclopaedica iranica, iranicaonline.org
Books of the Maccabees - wikipedia
Cleopatra Thea - wikipedia
Gilad E,  Meet the Hasmoneans: a brief history of a violent epoch, Haaretz, 23dez2014
Hasmonean dynasty - wikipedia
I Maccabees - wikipedia
Josephus, Antiquities of the Jews - Book XIII
Maccabean Revolt - wikipedia
Marans D, Baumann N, The real history of Hanukkah is more complicated than you thought, Huffington Post, 24dez2016
Millington UMC on the Fox, Old testament vs. secular historical timeline, 7ago2013
Oates H, The Maccabean revolt, Ancient History Encyclopedia, 29out2015
Onias III - wikipedia
The Onias dinasty, losthistory.com

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