domingo, 4 de janeiro de 2015

Era uma igreja muito engraçada


Algo que sempre achei estranho nas igrejas evangélicas foi o fato de não haver um local para a oração individual. Nem local, nem tempo. O que é bem curioso para uma igreja.

Pensemos nos templos gregos de Apolo, Vulcano, etc, nos tantos templos pagão que Deus mandou exterminar, nas pequenas igrejas que sinalizaram o centro de cada habitação coletiva na Europa da Idade Média e na América até os dias de hoje, que se tornaram o símbolo mais funcional do Cristianismo e despencaram em construções imensas. Esses locais sempre pareceram destinados a mostrar o homem para Deus e vice-versa, com grandiosidades para os homens e para Deus limitadas apenas pelo tamanho e o custo das construções.

Mas nunca o espaço da oração individual foi realmente valorizado. Os judeus iam ao Templo para orar (Lc 18.10). Jesus ia ao deserto ou aos montes (como o Getsêmane) para fazer isso. Paulo introduziu um um conceito de oração não verbal, mas nas ações para glória de Deus (1ª Coríntios 10.31). As igrejas católicas, grandes ou pequenas, a exemplo do Templo de Herodes ou dos templos gregos e romanos, sempre mantiveram um espaço minuciosamente ornamentado ilustrando elementos da sua fé e, pasmem, acolhedor aos que procuram um local para oração. Quero dizer, com isso, que há a disponibilidade do templo aberto, velas, água benta, etc, e todo o material preconizado para o serviço individual de fé. Alguém que procure refúgio do mundo profano nos braços de Deus vai encontrar as portas abertas a qualquer momento. Talvez encontre mesmo o pároco, ainda que isso descaracterize a oração individual.

Nas igrejas protestantes/evangélicas, o templo tem se mantido como um espaço funcional à semelhança de uma repartição ou prédio comercial. Pouca ou nenhuma decoração com elementos da fé, paredes lisas, muitas vezes nenhuma diferença arquitetônica maior que uma placa diferenciando o templo de um comércio (se bem que muitos comércios investem em propaganda externa), portas fechadas fora dos horários de culto. Dada a importância da Bíblia no culto protestante, não se encontram exemplares disponíveis ao público na maioria das igrejas, nem versões com traduções alternativas, em outras línguas, em braile, etc, que imprimisse acessibilidade. Também raramente se vêem materiais de estudo fora de lojas especializadas (em tudo semelhantes a livrarias não especializadas), ainda que exista grande ênfase no valor do estudo individual da Palavra. Seria questionado seriamente alguém que entrasse no templo e dissesse “Vim aqui para orar”. Talvez encontrasse o pastor ou análogo ali no local, mas novamente isso descaracteriza a oração individual.

Já ouvi algumas explicações sobre isso. A mais comum é a citação de Isaías 66.1, ‘O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés; que casa me edificaríeis vós? E qual seria o lugar do meu descanso? Porque a minha mão fez todas estas coisas, e assim todas elas foram feitas’, repetida no discurso de Estevão, com a adição de que o Altíssimo não habita em templos feitos por mão humanas (Atos 7.48). No entanto, existe toda uma consagração do templo, assim como reverência ao lugar em si. Entre os protestantes/evangélicos,  os templos de Salomão e de Herodes foram efetivamente (e ainda são) tidos como locais sagrados não substituíveis do Judaísmo e do Cristianismo. Algumas igrejas, entortando o exemplo de Jesus sobre a oração individual nos desertos e nos montes solitários, fazem peregrinações grupais infreqüentes a esses locais. Mas, afinal, onde e quando é o espaço da oração individual?

Prega-se que isso ocorra nos lares, no trabalho, no mundo profano. Isso está de acordo com o ideal proselitista a que o protestantismo se presta, mas abstêm-se as pessoas de um local para verem e para onde fugirem do mundo profano a fim de terem seu momento particular com Deus. As portas do Deus protestante/evangélico costumam estar fechadas, exceto nos momentos de culto onde a oração individual é coletiva e conduzida ou sobreposta pela oração de alguém mais próximo do Altíssimo na posse de um microfone e caixa de som potentes o suficiente. Na verdade, a tradição evangélica apregoa a solidez do texto bíblico, que inevitavelmente precisa ser interpretado, e costuma vincular a voz/palavra de Deus à voz do pastor proferida no local ‘sagrado’ do templo. Onde o cristão mais comum não pode ir sozinho, buscar a Deus por si mesmo, como lhe é ensinado biblicamente que faça.

Penso que as pessoas vão a restaurantes quando desejam comer de forma especial, vão a lojas de roupas quando procuram por vestes especiais, vão às suas casas quando querem privacidade e às casas dos amigos quando querem companhia especial. Estar com Deus não precisa de um momento especial, e Paulo falou de forma poderosa ao dizer ‘Em tudo dai glória a Deus’ (1ª Coríntios 10.31), mas nenhuma dessas coisas se trata exatamente de oração, de falar com Deus e ter um tempo a sós com Ele como exposto por Jesus (Mateus 6.5-6). Não se fazem refeições especiais ou comemorações na rua, por mais bem quistas que essas coisas sejam, e ainda assim a oração individual não encontra seu lugar especial nos templos.

Desabafo concluído. Amassar e jogar fora é cortesia da casa.

VALE LER ISSO AQUI Ó

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe um comentário!