Esse texto pretende abordar biblicamente algumas situações em que é necessário dizer NÃO, ou mais especificamente rejeitar idéias, ações, etc no sentido de não cooperar com elas.
DIZENDO NÃO ÀS “CRIANÇAS”
“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (2Tm 3:14-17)
Esse texto da carta de Paulo a Timóteo revela a importância com que Paulo via o ensino bíblico ou, mais especificamente, das Escrituras. Um argumento anti-bíblico freqüentemente usado é o fato de que os textos bíblicos são muito antigos e nada mais têm a ensinar no mundo moderno. Uma parte dessa afirmativa é verdade (pois alguns textos como o Livro de Jó de fato remetem a 600 a.C.), a outra contradiz qualquer crença bíblica, uma vez que os ensinos sobre o Reino de Deus e o futuro do homem são, por fé, emitidos a partir de uma entidade (Deus) que não está limitada no tempo e no espaço como o homem. No entanto, sempre são homens a verificar a validade desses ensinos, e simplesmente nem podemos conceber um ser não limitado como nós... mas podemos crer Nele (sem entender). A fé sempre será necessária!
As “crianças” ensinar podem ser os pequenos mesmo ou pessoas que simplesmente têm pouco entendimento das coisas de Deus (Hb 5.13). Tanto um como outro não trazem “de fábrica” o conhecimento prático de como agir... Alguns se entregam à imitação e muitas vezes fantasiam para si limites que não lhes correspondem. Outros começam a tatear, a experimentar suas restrições: espeneiam, brigam, e precisam assim ter certeza de que há leis a serem respeitadas. Quando permitir e quando proibir?
Na infância, limites são essenciais. Os limites impostos pelos pais moldarão a forma como a criança pensa e definirão em parte o modo como o cérebro dela vai interpretar o mundo. Em outras palavras, os limites criados pelos pais guiarão a forma como elas pensarão quando adultas... Pais que não oferecem limites entregam ao mundo um jovem adulto que não é capaz de interpretar coerentemente as contingências da vida, e que portanto é emocionalmente vulnerável. De outro modo, pais extremamente restritivos criam na criança limites que realmente não existirão na vida adulta, talvez privando-a de saborear algumas coisas belas da vida. Deve-se sempre observar o equilíbrio e a veracidade do que é ensinado.
As “crianças” ensinar podem ser os pequenos mesmo ou pessoas que simplesmente têm pouco entendimento das coisas de Deus (Hb 5.13). Tanto um como outro não trazem “de fábrica” o conhecimento prático de como agir... Alguns se entregam à imitação e muitas vezes fantasiam para si limites que não lhes correspondem. Outros começam a tatear, a experimentar suas restrições: espeneiam, brigam, e precisam assim ter certeza de que há leis a serem respeitadas. Quando permitir e quando proibir?
Na infância, limites são essenciais. Os limites impostos pelos pais moldarão a forma como a criança pensa e definirão em parte o modo como o cérebro dela vai interpretar o mundo. Em outras palavras, os limites criados pelos pais guiarão a forma como elas pensarão quando adultas... Pais que não oferecem limites entregam ao mundo um jovem adulto que não é capaz de interpretar coerentemente as contingências da vida, e que portanto é emocionalmente vulnerável. De outro modo, pais extremamente restritivos criam na criança limites que realmente não existirão na vida adulta, talvez privando-a de saborear algumas coisas belas da vida. Deve-se sempre observar o equilíbrio e a veracidade do que é ensinado.
Em especial, as crianças não compreendem bem sentenças começando com "não" (ex. "você não deve mexer aí"), e sabemos disso avaliando a ativação de áreas específicas do córtex cerebral. Dizer "venha aqui" sempre evoca uma resposta mais intensa do que "não vá aí". Isso porque estabelecer comportamentos proibidos ou formas de pensar que devem ser suprimidas é tarefa de uma região cerebral conhecida como córtex dorsolateral. Essa área é bem imatura (pouco funcional) nas crianças, chegando à plena atividade somente após a adolescência. Isso não significa que é inútil repreender as crianças, mas que elas não podem compreender exatamente o porquê são repreendidas. Por outro lado, são especialmente sensíveis a experiências dolorosas, das quais elas aprendem que devem fugir, mas não necessariamente acertam em como fazer isso. Assim, existem diversos estudos de que dar alternativas à criança é mais útil do que dizer "não", pois um "não" pode simplesmente memorizar um distanciamento da pessoa que o disse, ao invés da situação em que a criança agiu errado.
Em sua sabedoria, Salomão nos deixou escrito que Deus examina até ao coração das crianças (Pv 20.11). E o que esperar delas, então? Jesus elogia a inocência e o livre aceitar dos pequenos, dizendo que devemos receber o Reino de Deus como meninos (Lc 18.17), sem nos negar a experimentá-lo. Em outra situação, onde somos comparados a crianças, Paulo afirma que a "imaturidade de espírito" (dos recém convertidos) está associada à carnalidade do homem comum (1Co 3.2). Salomão também afirma que o coração da criança é cheio de insensatez (Pv 22.15)... que apenas a correção e a justiça podem livrá-lo disso. Ele conclui com sua famosa frase “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele” (Pv 22.6). Em outras palavras, a criança não tem bons limites próprios, age de forma carnal e segue a qualquer caminho (bom ou mau) ao que for apresentada; ela simplesmente não direciona suas ações a um objetivo maior. A mensagem de Salomão é direta: ensine o caminho correto a uma criança e ela aprenderá.
Após os anos 70, surgiu uma crença popular de que corrigir a criança ceifará sua criatividade, ou a tornará um adulto traumatizado. Sempre há formas traumatizantes de aplicar "correções", mas contamos com o bom senso das pessoas para combinar punição e SUGESTÕES DE COMO AGIR CERTO a fim de efetuar instruções eficientes. Na concepção romântica dos anos 70 (e de bem antes disso, também), as crianças possuiriam modos “bons” de agir, seriam como “bons selvagens”, aos quais a educação e os costumes adultos somente podem corromper. Sim, é possível ensinar caminhos ruins a uma criança e produzir um adulto problemático, mas seria possível deixar que ela encontre os caminhos bons sozinha? Há algumas fortes razões pra prezumir o contrário.
Primeiro, a Bíblia é clara em colocar ensinamentos para as pessoas e ensina, entre outras coisas, que um homem mostre o caminho aos outros, em especial aos pequenos. Segundo, Deus sempre agiu com a humanidade através de ensinamentos: os Mandamentos dados a Moisés, os profetas, Jesus, os apóstolos, e por aí vai. Terceiro, Desde Adão (e o pecado original) até Paulo (e seu espinho na carne) é dito repetidamente às pessoas que elas possuem uma compulsão ao mau, e que somente a busca incessante por Deus poderia proteger os homens disso. Quarto, o que realmente diferencia os hominídeos dos demais animais é a capacidade de usar uma linguagem para passar conhecimentos de um indivíduo a outro. Até cães aprendem, mas não repartem o que sabem... Quinto, toda a história da humanidade é marcada pela transmissão de conhecimentos, desde o deixar mensagens em pedras até enviar dados via internet. Seria errado agir assim com uma criança, em acordo com a Bíblia e com toda a história humana? Finalmente, indivíduos com problemas de aprendizagem (e portanto preservadas da corrupção pelo ensino humano) não são pessoas mais capazes ou mais bondosas que o restante da população.
Na verdade, os pequenos naturalmente imitam o que vêem nos pais, pois essa é a sua forma principal de aprendizado. E ao fazer essa imitação, sua “insensatez” obviamente os conduzirá a erros, a interpretações erradas. Salomão é categórico: “Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá. Tu a fustigarás com a vara, e livrarás a sua alma do inferno.” (Pv 23.13-14). Não podemos esquecer de que Deus também é pai (e em especial é a própria representação do amor e da bondade), e ele mesmo “poda” ou "limpa" seus filhos para que produzam fruto (Jo 15.2), ainda que isso conduza ao sofrimento. Se Ele, que é realmente é BOM faz esse tipo de ensino, poderíamos nos achar desnecessitados de fazer igual?
Entre os diversas resultados que Salomão deixa à vista para a correção dos pais estão falar coisas retas ou justas, não invejar os pecadores, não estar entre os beberrões e os comilões, afastar-se da preguiça, adquirir verdade, sabedoria, instrução e entendimento (Pv 23). Ele afirma que o próprio Deus se alegra ao ver essas coisas nos filhos. Quem faria diferente?
Se, ao contrário, deixamos a criança entregue a sua própria sabedoria (a qual Salomão chama de insensatez), ela envergonhará os pais (Pv 29.15). Longe de ser uma apologia a violência, o livro de Provérbios se mostra uma fonte de ensinamentos sobre como proceder. Nele, Salomão ainda dá exemplos do comportamento do jovem adulto que não foi instruído como deveria (Pv 7) e que facilmente se deixa seduzir por quem o conduzirá à morte. Deus poda seus filhos, e Jesus esteve entre nós para assegurar que seríamos capazes de ouvi-Lo apesar de nossa tendência ao mau.
“... a ausência de limites para uma criança (...) pode resultar em uma pessoa controladora e agressiva. Todos já testemunhamos uma cena se supermercado em que um menino de quatro anos mantém a mãe sob controle absoluto. A mãe pede, implora e ameaça o filho para acabar com a birra. Então. quando chega ao limite da paciência, dá o doce que ele estava pedindo. Mas esse é o último, hein! diz ela, buscando mostrar algum controle. Mas a essa altura, o controle já virou folclore. Agora imagine o mesmo menino com quarenta anos de idade. O cenário mudou, mas o roteiro é o mesmo. Quando contrariado, ou alguém impõe um limite, o mesmo acesso de raiva reaparece. E àquela altura, terá passado mais de trinta anos fazendo o mundo se curvar aos seus gostos. Seu programa de recuperação precisará ser muito forte e consistente para ter algum efeito.
Às vezes, a recuperação só acontece com hospitalizações, divórcios, prisão e doença. Mas ninguém pode, de fato, fugir da disciplina da vida. Ela sempre vencerá, sempre colhemos o que tivermos semeado. E quanto mais tarde na vida, maiores são os riscos.” (Henry Cloud)
FALANDO "NÃO" PARA GENTE GRANDE
A infância é uma fase caracterizada pelo aprendizado [da personalidade], mas estamos aprendendo por toda a vida. Os ensinamentos bíblicos, em sua esmagadora maioria, foram destinados a pessoas adultas, desde aqueles no livro de Provérbios até as reflexões doutrinárias que Paulo deixou em suas cartas às igrejas recém-formadas. Esses ensinos contém muitos "sims" (ou seja, coisas que você PRECISA fazer), mas também muitos "nãos" (aquilo de que você deve ficar longe). A razão de tantos "ensinamentos" e facilitar o entendimento de quem lê para que não precise experienciar na carne (o que também leva ao aprendizado) o que os autores viveram. Sim, são pessoas que viveram a milênios atrás, mas que receberam o ensino de mestres poderosos como o Pai, Jesus e o Espírito Santo. Nós também podemos aprender deles, pois são imortais, mas cabe-nos começar com saber o que já foi ensinado.
Nos capítulos 5 e 6 da carta aos crentes de Éfeso, Paulo aponta recomendações abrangentes sobre o comportamento que os chamados por Jesus deveriam ter:
Nos capítulos 5 e 6 da carta aos crentes de Éfeso, Paulo aponta recomendações abrangentes sobre o comportamento que os chamados por Jesus deveriam ter:
- Ser imitador de Deus
- Praticar o amor (esse é o 2º Mandamento de Jesus)
- Afastar-se da prostituição (os hebreus também usavam esse termo também para oferecer favores em troca de algum benefício, como por ex. levar tributos a um ídolo)
- Não ter comportamentos imorais
- Nãos ser impuro
- Não ser avarento
- Não acreditar em palavras tolas (distantes do ensinamento bíblico)
- Não ser insensato (que não pensa antes de agir)
- Não se embriagar (por que isso leva a se permitir fazer coisas ruins)
- Agradecer a Deus por todas as coisas (e aqui voltamos ao 1º Mandamento de Moisés)
- Sujeitar-se uns aos outros
- Às mulheres: sujeitar-se aos maridos; aos maridos: amar suas mulheres
- Aos filhos: obedecer aos pais; aos pais: educar seus filhos e não se irritar com eles
- Aos escravos: ter respeito e amor pelos senhores; aos senhores: tratar bem seus escravos;
- Não lutar contra as pessoas, mas contra o mau no mundo;
- Perseverar em oração;
Quantas das nossas auto-regras (as que nos foram ensinadas pelos pais ou que adquirimos ao longo da vida e praticamos) poderiam se alinhar com essas instruções de Paulo? Independentemente da resposta, cabe ao cristão ser capaz de introduzir tais "ensinamentos" como filtro para as suas próprias atitudes. Isso é o significa, no fundo, a diferença entre aprender o ensinamento ou simplesmente decorá-lo, ou ter ele como palavras mas não como ações.
A todo momento, renovamos as nossas “auto-regras”, sejam boas ou más, porque isso simplifica o modo como pensamos. Ninguém deixa de assaltar uma loja apenas porque reflete na possibilidade de ser preso (na verdade, nem os criminosos). Simplesmente aprendemos a refrear a vontade sobre as coisas colocando uma auto-regra de que “roubar é proibido”. A imensa maioria das pessoas aprende essa regra e a respeita, ou não iriam se irar contra os criminosos.
Como as crianças, nós temos mais dificuldade em assimilar os "não" dos que os "sim". Afinal, para "não ter comportamentos imorais" é preciso antes saber o que é um comportamento imoral. Da mesma forma, "não ser impuro" envolve primeiro saber o que é "ser impuro". Cada um desses pontos mereceria todo um livro de discussão, mas no fundo existe um ensino muito mais simples que é simplesmente identificar o pior nas pessoas ditas "imorais" e esforçar-se para ser diferente delas, para restringir a si mesmo quando se flagrar sendo semelhante a elas. E, relembrando o que foi dito acerca do entendimento das crianças, apenas restringir não é o bastante: nosso cérebro precisa que criemos rotas alternativas para o pensamento. Se imoralidade significa usar certa roupa (isso é apenas um exemplo), então é preciso escolher uma roupa diferente para usar. Simplesmente "não usar uma roupa" resolve só metade do problema. Se "ser impuro" significar consumir bebidas alcoólicas (esse é apenas outro exemplo), então é preciso decidir O QUÊ consumir em lugar delas. A última negativa de Paulo dá um exemplo disso: "não lutar contra as pessoas, mas lutar contra o mau no mundo". Afinal, pessoas são más... porém não é contra elas que lutamos, e sim contra o que elas fazem.
Como as crianças, nós temos mais dificuldade em assimilar os "não" dos que os "sim". Afinal, para "não ter comportamentos imorais" é preciso antes saber o que é um comportamento imoral. Da mesma forma, "não ser impuro" envolve primeiro saber o que é "ser impuro". Cada um desses pontos mereceria todo um livro de discussão, mas no fundo existe um ensino muito mais simples que é simplesmente identificar o pior nas pessoas ditas "imorais" e esforçar-se para ser diferente delas, para restringir a si mesmo quando se flagrar sendo semelhante a elas. E, relembrando o que foi dito acerca do entendimento das crianças, apenas restringir não é o bastante: nosso cérebro precisa que criemos rotas alternativas para o pensamento. Se imoralidade significa usar certa roupa (isso é apenas um exemplo), então é preciso escolher uma roupa diferente para usar. Simplesmente "não usar uma roupa" resolve só metade do problema. Se "ser impuro" significar consumir bebidas alcoólicas (esse é apenas outro exemplo), então é preciso decidir O QUÊ consumir em lugar delas. A última negativa de Paulo dá um exemplo disso: "não lutar contra as pessoas, mas lutar contra o mau no mundo". Afinal, pessoas são más... porém não é contra elas que lutamos, e sim contra o que elas fazem.
DIZER NÃO PODE SER BOM
Certamente, um dos questionamentos mais comuns quando se pode dizer “sim” ou “não” é com relação à organização de vida pessoal, sobre como e quando perseverar. Quando estamos sendo perseverantes e quando estamos simplesmente sendo teimosos? Afinal, vivemos num ambiente onde somos requisitados e instigados o tempo todo a sairmos de nossa rota pessoal. É um parente que pede ajuda justamente no dia em que planejamos fazer algo para nós mesmos, são os colegas de trabalho que pedem constantemente auxílio, são atividades simples ou dispensáveis que levam mais tempo que o necessário ou planejado, é o chefe que delega mais tarefas do que você é capaz de realizar, são as oportunidades imprevistas que surgem e o deixam indeciso se a melhor opção é segui-las ou continuar no trajeto já iniciado.
Há quem simplesmente não consiga realizar ater-se aos seus objetivos. Há ainda aqueles que não possuem objetivos e neste caso, organizar a vida torna-se uma tarefa quase impossível, pois a “linha reta” a ser seguida simplesmente não existe! E há, muitas vezes esquecido, o objetivo de Deus. Vale a pena pensar se o “grande objetivo” por detrás do que Moisés, Jesus e Paulo colocaram está sendo cumprido ou tomado com a importância que deve em nossas vidas. Muitos de nós têm objetivos... e será que eles se alinham com o grande propósito de Deus? Já pensou em consultar Ele a respeito da rota a seguir?
Ele nos instruiu a não sermos ansiosos, pois cada amanhã sempre pertence a Ele (Lc 12). Dessa forma, Deus garante que seus propósitos não possam deixar de se concretizar ... mesmo que isso signifique impor sofrimento às pessoas. Mas como um Deus bondoso seriam assim autoritário? Nessa hora, penso em como seria o mundo se os propósitos de todas as pessoas se pusessem a realizar-se. Teríamos milhares de ganhadores da loteria, pessoas caindo mortas porque ofenderam alguém, outros ressuscitando ou sendo mudados aos gostos de terceiros. Em Sua misericórdia, o Senhor restringiu nossa vontade ao interior do crânio, de forma que precisássemos do seu aval para toda e qualquer coisa. Jesus pedia ao Pai pelos milagres que realizava, e Jó clamava a soberania do Senhor a despeito de suas mazelas, Francisco de Assis agradecia a pobreza que lhe trazia entendimento de Deus. Assim, independente dos Seus planos, jamais esqueça Quem os pode colocar em prática. Ou queime alguns neurônios tentando entender que até o questionar dos homens é feito mediante um cérebro que Ele criou.
Por outro lado, se não estamos no comando de nossas vidas, ela está sendo guiada pelas pessoas à nossa volta, de forma que não possamos aprender com as próprias ações. Deus tem produzido essa forma ensino, à qual mesmo Pedro e Paulo estiveram sujeitos, e de forma fantástica tiveram convites a mudar os próprios rumos. Pedro abandonou um negócio familiar de pesca e Paulo deixou um cargo político no exército romano, mas aprenderam por fazerem isso de sua vontade. Muitas vezes, as pessoas estão sujeitas a jugos que lhes tiram essa capacidade de escolha (ou elas nem acreditam tê-lo), seguindo os conceitos e exemplos mais diversos. Jesus referiu-se a esse conjunto de coisas de uma forma bem ruim, chamando-as de “o mundo”. O efeito de seguir o mundo sobre a auto-estima é devastador... a pessoa, com o tempo, deixa de acreditar que tem o poder de decisão sobre a própria vida, tornando-se uma marionete passiva, aguardando que outros a manipulem.
DIZENDO NÃO AOS OUTROS
“A tarefa do homem é simples: ele deve parar de permitir que sua existência seja um acaso inconseqüente.” (Nietzsche)
A resistência ao planejamento, principalmente do povo brasileiro, é grande. Parece romântico, poético dizer que prefere viver a vida ao “sabor do vento”, deixar o destino guiar, não interferir na vontade de Deus, etc. Mas exatamente ao que você atribui a “vontade de Deus”? Você tem falado com Ele sobre isso? Acreditar que o planejamento irá torná-lo uma pessoa metódica, manipuladora ou chata é comum. Também é usual pensar que sem planejar nada, a vida o levará poeticamente a realização de todos os seus sonhos, ou que mesmo sem sonhos, seu destino será belo e próspero. Igualmente, há o medo de planejar, pois a sensação de fracasso ao não se conquistar o que se quer machuca o ego e corrói a auto-estima.
Estudando os casos de sucesso pessoal, observa-se que são muito poucas as estórias de êxito atribuídas ao acaso. Bom, êxito também é uma questão complicada – o que somos ensinados “pelo mundo” a chamar de êxito costuma ser prosperidade financeira, poder... Muitas vezes nem lembramos de coisas como família, amor verdadeiro, amizades sinceras, capacidade de emocionar-se e influência positiva sobre as pessoas. Lembre-se dos “frutos do espírito” que Paulo enumerou em Gl 5.22: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Nenhum deles é um bem comprável!
As sincronicidades proporcionadas por Deus acontecem, mas quando não se está focado num objetivo específico, é muito fácil não notá-las ou até mesmo optar pelo caminho errado ao maravilhar com uma “coincidência” qualquer. Os santos que a Bíblia mostra, alguns que vemos com nossos próprios olhos, outros que a Igreja Católica reverencia (e para muitos não podemos negar que refletiram o poder de Cristo, ainda que não nos distraiamos de Deus para os cultuar, coisa que eles mesmos não fizeram) tinham uma clara noção de Quem eles serviam. Sobre nenhum deles pode-se dizer que não tenham almejado as características que Paulo apontou.
SIMPLESMENTE DIZENDO NÃO
O título deste artigo, no entanto, é sobre a “arte de dizer não”. Saber dizer “não” é um privilégio desejado por muitos, mas conquistado por poucos. O “não”, entretanto, é a pedra fundamental de uma vida organizada e direcionada ao sucesso. Com tantos estímulos, opções, solicitações e pedidos de outras pessoas ao nosso redor, se você não souber dizer não, dificilmente conseguirá concentrar-se em seu próprio caminho. E aí está o motivo principal da introdução deste artigo.
Se você não sabe QUAL o seu “próprio caminho”, ou seja, se não tem objetivos definidos, não há porque “dizer não”, pois você não tem prioridades. Essa ausência de foco faz com que você considere importante muita coisa que não é. E provavelmente aceitará pedidos de terceiros para realizar tarefas e favores, mesmo sem querer fazê-lo, porque não sabe como recusar, e essa dificuldade, muitas vezes não vem da timidez ou do receio de parecer antipático, mas da sensação interior de que o pedido do outro é realmente mais importante do que qualquer coisa que você tenha para fazer. Talvez seja realmente, mas provavelmente não é... E, caso você esteja realmente fazendo o que Deus espera que você faça, com certeza não é. Pense portanto em pesar a prioridades das coisas: Jesus não abandonou a nenhum dos que Lhe pediram ajuda, mas também não se embrenhou em atividades que nada tinham a ver com Seu ministério.
Expor seus projetos de vida ao Senhor é uma medida profilática, um tipo de “medicina preventiva”, quanto aos possíveis males causados pela interferência de outros. Quando você não tem um direcionamento, algo certo a fazer, dizer “não” torna-se mais difícil. O outro coloca seu problema como importante, e como você não sabe o que é importante para você, sente-se culpado dizendo “não”. Por volta de 1550 a.C., no entanto, o próprio Senhor enviou exércitos a destruírem toda cidade de Jericó, sem poupar sequer o gado... (Js 6). Porque Jericó representava uma ameaça aos seus projetos, porque disseminava ensinamentos que não deveriam perseverar. Lembre-se de como a rainha fenícia Jezabel - desposada pelo rei Acabe - corrompeu o povo do Senhor e como Elias a confrontou! Saiba o que Deus espera de você... Como ajudou a Josué, Gideão e Elias, o próprio Deus o fará realizar os propósitos certos.
Ninguém consegue fazer tudo. Estabelecer o que é importante para você é essencial para que você delimite sua área de atuação no dia-a-dia e consiga dizer não com tranqüilidade, sem sentir-se egoísta ou antipático. Quando você sabe exatamente o que estará fazendo e Quem lhe comanda, acabará rejeitando certas propostas e pedidos alheios, não por egoísmo, mas por que isso é o certo. Um dos maiores segredos da administração eficaz do tempo é concentrar seus esforços em suas prioridades e descartar o que for irrelevante. Muitas vezes, o irrelevante pode ser o que você mais foi ensinado a amar.
O “dizer não” se torna uma arte quando você consegue fazê-lo com autoconfiança, sentindo-se bem com a decisão e sabendo que a recusa foi boa para que você continuasse em linha reta, seguindo Seus objetivos. Nem sempre a contraparte irá compreender seus motivos, podendo acusá-lo de ser egoísta, insensível ou não-cooperativo. Jesus também foi muito acusado, e foi severamente punido. Você deve estar consciente, entretanto do fato de que o principal “segredo” do fracasso é tentar agradar a todos. Com todos ele mostrou amor, mas a quem Jesus realmente tentou agradar? Se você tenta fazer isso, e tem dificuldade de quebrar as expectativas alheias quanto à sua pessoa e parecer antipático, dizer “não” será muito difícil, e consequentemente a realização dos objetivos para os quais você existe ficará mais difícil. Mas afinal, o que é mais importante para você, manter a pose de bonzinho ou fazer o que é certo?
Que Deus te abençoe nessa escolha.
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texto de Lázaro de Paula, revista Viva o Reino, agosto 2012
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