segunda-feira, 25 de junho de 2012

O antigo Cristo


Conta uma antiga lenda nativa que, muito tempo atrás, numa terra remota do Novo Mundo, um autor chamado Caio Fábio escreveu essa revelação, vinda supostamente do Mundo das Idéias. ESTAMOS TRANSCREVENDO abaixo uma tradução dos hieróglifos hindu-arábicos no dialeto luso-brasílico.

Quando Jesus disse: “Abraão viu os meus dias e regozijou-se” (Jo 8.56) - o que imediatamente se pensa é em uma visão de natureza profética, completamente subjetiva, dada a Abraão. Já quando Jesus diz: “Antes que Abraão existisse, eu sou” (Jo 8.58) - se imagina apenas a afirmação da pré-existência divina de Jesus em relação a Abraão. Ficamos, todavia, em razão das amarras teológicas sem mística e sem a simplicidade apresentada na Bíblia, impossibilitados de simplesmente aceitarmos o que sobejamente se diz nas Escrituras; ou seja: que nelas não apenas há o que a respeito de Jesus constava como profecia, mas, também, como manifestação do Cristo anterior ao Jesus da História; o qual, fartamente, se manifestou aos homens; e que, no ambiente das Escrituras bíblicas do chamado Velho Testamento, faz inúmeras inserções soberanas de Si mesmo antes da Encarnação de Deus em Jesus.

Várias em que aparece o Anjo do Senhor¹ - esse ente Santo, supra-angelical, que evoca para Si mesmo prerrogativas divinas e que aceita adoração humana - se está falando do Cristo antes de Jesus. Ora, esse Anjo do Senhor pervade as páginas das narrativas bíblicas sem pudor ou salvo resguardo algum. Na existência histórica de Abraão, por exemplo, Ele aparece sem pedir salvo conduto. Simplesmente chega, é visto, é adorado, é tratado como Deus; e como Deus/Senhor fala sem qualquer reserva. No restante da história de Israel o mesmo acontece em diversas ocasiões, embora não seja meu objetivo discorrer sobre tais ocasiões aqui. O que me interessa, no entanto, é esse Cristo antes de Jesus na História humana.

A teologia mais crente vai bem até aí em relação ao que estou afirmando, mas impõe limites; e, os tais limites são o pacto de Deus com Israel; ou seja: Cristo teria se manifestado antes de Jesus, mas apenas na História de Israel; sendo Israel, portanto, uma fronteira para Deus em Cristo antes de Jesus.

Eu, todavia, como creio na Liberdade Absoluta de Deus, e não o vejo preso nem a Israel e nem a Abraão; posto que aquele Melquizedeque, sacerdote do Deus Altíssimo, que aparece do nada a Abraão, e que é interpretado pelo escritor dos salmos e do da carta aos Hebreus como sendo claramente uma figura Crística², não aparenta carregar umbilicalidades de nenhuma natureza com Abraão ou com qualquer outro.

Na realidade o Anjo do Senhor, o Cristo antes de Jesus, sempre se manifestou aos humanos; de tal modo que nem mesmo no mundo inteiro - como diria João - caberiam as narrativas de tais acontecimentos.

De fato, o amor de Deus pelo mundo não tem nenhuma fronteira em Israel; não teve nem mesmo nos dias do Jesus Histórico; e, portanto, não teria no Cristo antes de Jesus. Este mundo de humanos tem sido objeto da revelação do Cristo Eterno desde sempre; e nunca deixou e nem jamais deixará de ser. Jesus é a manifestação encarnada Dele entre nós; é o testemunho explícito Dele a ser dado a todos os homens; mas não é o limite da Sua manifestação livre; afinal trata-se do Cristo antes de Jesus; mas Jesus é o Cristo; sendo por isto Jesus Cristo; não uma emanação budista de um dos Budas; mas o único Cristo de Deus, o único Cordeiro de Deus; o mesmo que também foi imolado antes de haver História; ou, como afirmam as Escrituras, antes dos tempos eternos, ou antes da fundação do mundo; ou, como diz Miquéias: “desde os dias da eternidade” (Mq 5.2).

Sua única manifestação Crística encarnada, todavia - com nascimento, morte e ressurreição - aconteceu em Jesus, e em Jesus somente.

Porém, Sua manifestação na História é aquela que nunca faltou em nenhuma fase da História Humana. Ele não é apenas “o Cristo de todos os caminhos”, mas também o Cristo de todos os tempos. O que na Bíblia se chama de “Ordem de Melquisedeque”, é apenas uma designação para determinar o Cristo livre de toda circunstância humana, racial, étnica, histórica, social ou religiosa - além de claramente reconhecer Suas revelações graciosas, soberanas e salvadoras.

Abraão viu os Seus dias e regozijou-se!... E pergunto: E quantos mais também não o viram ou o têm visto e se regozijado? Ele é o Senhor, o Salvador e o Deus de toda Criação; e é triste que a Religião pretenda Dele fazer um deus seitificado, religiogizado, não apenas manifestado na História, mas preso aos acontecimentos da cronologia de dois mil anos atrás; em cuja ocasião Ele se deu a conhecer na linearidade do tempo/espaço, como a revelação do mistério antes a nós oculto; mas já agora revelado de modo não sequencial a muitos, se não, a todas as formas de criatura e criação.

Esse Anjo/Cristo/Deus que se encarnou em Jesus, é o Deus de todos, mesmo antes do menino Jesus torná-Lo um fenômeno de fraqueza em morte no tempo/espaço. Em Jesus o Cristo entra na História da mortalidade e dos limites absolutos; na História da Tentação; na História da Morte; na História da Ressurreição; na História da Humilhação e da Glória como vitória sobre a dor, a fraqueza, o sofrimento experiencial e o andar em carne de mortalidade. Ele, porém, nunca negou Quem fosse; e disse aos que tinham em Abraão a suprema referencia do seu parentesco com Deus em fé: “Antes que Abraão existisse, Eu Sou!” (Jo 8.58).

Nele, que é de fato Deus e Senhor de tudo e de todos,

Caio Fábio

* Nesse texto, Caio Fábio defende um Cristo se manifestando largamente pela história, de forma diferente do Jesus encarnado, na verdade ocupando o lugar dos anjos sem nome que aparecem por toda a Bíblia. Alguns estudiosos apontam que muitos anjos refereidos nas várias culturas seriam, em verdade, representações de antigos deuses (ex. deus da cura, deus do sol, etc) agora em forma submissa ao Senhor dos hebreus.

A Bíblia oferece, é verdade, muito menos detalhes dos seres chamados de anjos do que outras referências, como as encontradas no judaísmo. Em alguma ocasiões, tais anjos aceitam sacrifício e se auto-denominam como o Senhor, a exemplo do homem que combateu Jacó no vau do Jaboque (Gn 32) e a sarça ardente que Moisés encontrou, de maneira que muitos estudiosos apontam aí uma manifestação legítima do próprio Deus, que proíbe Ele mesmo o culto a qualquer outro ser. Em outras ocasiões, os anjos comem e conversam como homens, ou voam e passam misteriosamente espalhando destruição, sem darem maiores evidências de serem ou não uma manifestação de Deus.

Embora Caio Fábio assuma toda manifestação de seres celestiais como o próprio Cristo, é um anjo que anuncia o nascimento deste, e que anuncia também sua ressurreição, colocando em questão se Cristo estaria simultaneamente em vários locais. Atitudes como cegar pessoas ou exterminar um exército também não parecem do feitio de Jesus, de forma que é preciso grande cuidado antes de assumir que toda manifestação celestial se trate do próprio Cristo.

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¹ No poço falando a Sara, grávida de Ismael (Gn 16); na montanha, impedindo Abraão de sacrificar Isaque (Gn 22); na sarça ardente, falando a Moisés (Ex 3); no caminho do profeta Balaão até Moabe, para o matar (Nm 22); em Boquim, repreendendo o povo israelita pela sua aliança com os povos da palestina (Jz 2); amaldiçoando a cidade de Meroz (norte da Galiléia) porque seus habitantes não foram em auxílio dos israelitas (Jz 5); debaixo do carvalho em Ofra, falando a Gideão (Jz 6); no campo, profetizando aos pais de Sansão (Jz 13); junto à fazenda de Araúna, o jebuseu de quem Davi comprou as terras para levantar um altar (2Sm 24); debaixo do zimbro, no deserto perto do monte Horebe, falando a Elias (1Rs 19); contando a Elias sobre a morte do rei Acazias, de Samaria (2Rs 1); matando os soldados de Senaqueribe, rei da Assíria, quando se preparavam para atacar Judá (2Rs 19), na mesma passagem citada em 2Cr 32 e Is 37; junto à eira de Ornã (ou Araúna), pronto a destruir sua família, após o censo que Davi pediu (1Cr 21); montado em um cavalo vermelho, entre as murtas de um desfiladeiro, na visão de Zacarias (Zc 1); aparecendo a José, durante um sonho, para lhe contar do nascimento de Jesus (Mt 1) e depois, no Egito, para dizer que voltassem ele, Jesus e Maria à Galiléia (Mt 2); sentado sobre a pedra que selava o túmulo de Jesus, depois que Ele ressuscitou (Mt 28); no Templo, junto ao profeta Zacarias, para lhe anunciar o nascimento de João (batista) (Lc 1); junto a 3 pastores no deserto, para lhes anunciar o nascimento de Jesus (Lc 2); libertando os apóstolos da prisão, onde os saduceus os mandaram trancar (Atos 5); mandando Filipe ao encontro do eunuco etíope (Atos 8); libertando Pedro na prisão (Atos 12) e depois matando Herodes, por querer a glória de Deus. As aparições eminentemente em forma humana estão em negrito.

² Melquisedeque é apontado em Gênesis 14 como sacerdote do Deus Altíssimo e rei de Salém, mas recebe o dízimo de Abraão, patriarca dos hebreus. Alguns teólogos apontam nisso que Abraão reconheceu nele uma figura superior, o próprio Cristo. Essa visão é compartilhada por Paulo e o autor de Hebreus.

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