quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O modelo de Eliseu - ESTUDO BÍBLICO

Em 1740, o pintor Giuseppe Angeli teve uma visão de Eliseu assistindo Elias ser levado.
Agora é a sua vez.

Esse é outro fruto das nossas manhãs de domingo, então muita gente conhece. Fica aqui a lembrança dele, mal-escrita e puída, para que seja lembrado depois que esquecermos dele.


QUEM ERA ELISEU?


O nome de Eliseu significa “Deus é a salvação”. Seu nome aparece simultaneamente nas tradições cristã, judaica e islâmica (Al-Yasa), onde é um homem reunindo poderes políticos, de transformação pessoal e intercessor perante Deus numa terra ainda dominada pelo culto do deus agrícola Baal. 

Eliseu viveu no período entre 850 e 800 a.C., no Reino do Norte de Israel. Ele não deixou obras escritas de sua autoria, assim as narrativas de 2Rs 2-9 e 13:14-21 refletem tradições orais sobre o profeta que chegaram ao momento quando esse livro foi escrito. Elas foram também incorporados à história contada no livro de Deuteronômio (que reúne fatos de Josué, Juízes, Samuel e Reis). Por causa das raízes na tradição oral, essas narrativas não são tão preocupadas com uma apresentação de fatos históricos, mas são uma re-leitura do significado dos acontecimentos relacionados a Eliseu e as questões de fé em Israel.

Eliseu assistiu aos reinados de Jorão, Jeú, Jeoacaz, e Jeoás (Joás). Ele foi o discípulo e sucessor do profeta Elias. Antes de seguir Elias, contudo, ele era um fazendeiro que vivia com seus pais em Abel-Meolá (local incerto, 1Rs 19:16-21). Desde que ele andava lavrando com doze juntas de bois, quando Elias o encontrou, os estudiosos têm sugerido que seu pai era um rico fazendeiro. Eliseu era calvo (2Rs 2:23) e carregava um bastão, o que era comum para os moradores rurais que andavam nas colinas escarpadas da Palestina (2Rs 4:29).

Ao contrário de Elias, que vivia em cavernas no deserto, Eliseu ficou nas cidades (2Rs 6:13, 19, 32). Uma mulher rica de Suném lhe proporcionou um quarto confortável em sua casa (2Rs 4:8-10). Ele também, aparentemente, manteve sua própria casa em Samaria, para onde costumava se retirar (2Rs 6:32; ver também 2:25, 5:3). Eliseu aparece frequentemente na companhia de um grupos de profetas locais conhecido como "Os Discípulos/Filhos dos Profetas" (2Rs 2:3-15, 4:1, 5:22, 9:1), e freqüentando centros religiosos como Betel (2Rs 2:23), Gilgal (2:1, 4, 38), e Monte Carmelo (2:25, 4:25).

Em suas ações, Eliseu utilizava sua equipe como um instrumento (2Rs 4:29) e a música para invocar o Espírito de Deus (2Rs 3:15). Esse procedimento era conhecido de tempos muito anteriores, quando andavam os profetas Moisés e Samuel (1Sm 10:5-7).

UM PROFETA É ESCOLHIDO POR DEUS

E o SENHOR lhe disse: Vai, volta pelo teu caminho para o deserto de Damasco; e, chegando lá, unge a Hazael rei sobre a Síria. Também a Jeú, filho de Ninsi, ungirás rei de Israel; e também a Eliseu, filho de Safate de Abel-Meolá, ungirás profeta em teu lugar. (1Rs 19.15-16)

Jesus também deixa claro a necessidade desse chamado em João 15:16: “Vós não me escolhestes... mas eu vos escolhi a vós...”. Depois, Paulo lembrou isso em sua carta a Éfeso:

Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas. E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo. (Ef 4:10-12)

As pessoas, curiosamente, atribuem mais importância a uma função do que a outras, dentro do CORPO que a igreja se propõe a ser. Então, alguns (e geralmente muitos) QUEREM ser isso e não aquilo, deturpando a vontade de Deus para seu povo. Eliseu não escolheu ser profeta (ele aceitou um chamado), assim como outras pessoas têm chamados bem distintos. É preciso reconhecer o chamado do Senhor, e não colocar a própria vontade em Seu lugar.

DEUS ESCOLHE PESSOAS DISPOSTAS AO TRABALHO

Partiu, pois, Elias dali, e achou a Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele, e ele estava com a duodécima; e Elias passou por ele, e lançou a sua capa sobre ele. (1Rs 19:19)

Eliseu era de uma família rica, devia ter servos que trabalhavam a terra. No entanto, quando Elias foi procurá-lo, encontrou-o lavrando a terra ele mesmo. Haviam 12 juntas de bois trabalhando, uma delas comandada pelo próprio Eliseu. Antes de conhecer sua destinação ao ofício de profeta, Eliseu aplicava-se no trabalho que tinha em mãos: lavrar a terra dos pais.

Muitos séculos depois, Jesus contaria ao povo a parábola dos talentos (Mt 25), sobre o que cada pessoa faz daquilo que Deus lhe confia. Na estória, dois servos multiplicaram com seu trabalho o que fora dado, enquanto outro escondeu e ainda insultou quem o dera. Antes do ministério, Eliseu recebera uma terra extensa para cuidar. Nisso ele estava aplicado, quando foi chamado.

ELISEU FOI CAPAZ DE COMPREENDER O CHAMADO DE DEUS

Nem sempre Deus usa sinais que todas as pessoas possam confirmar, mas Ele sempre usa sinais que as pessoas entendem. No caso de Eliseu, o convite veio de forma rápida com Elias jogando a capa sobre ele. Essa mesma capa ele usou em sinal de que assumira o posto de Elias, depois que seu mestre foi levado.

E sucedeu que, indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho. O que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu pai, carros de Israel, e seus cavaleiros! E nunca mais o viu; e, pegando as suas vestes, rasgou-as em duas partes. Também levantou a capa de Elias, que dele caíra; e, voltando-se, parou à margem do Jordão. E tomou a capa de Elias, que dele caíra, e feriu as águas, e disse: Onde está o SENHOR Deus de Elias? Quando feriu as águas elas se dividiram de um ao outro lado; e Eliseu passou. (2Rs 2:11-14)

Após jogar a capa sobre Eliseu, Elias apenas confirmou sua ação: “Vai e volta; pois já sabes o que te fiz.” (1Rs 19:20). Sim, Eliseu fora capaz de entender o sinal, e não colocou em dúvida o que Deus lhe destinara. Muitas vezes nós fazemos isso, perguntando “É isso mesmo, Senhor?”. Gideão fez essa pergunta também, e mais de uma vez foi instruído pelo Senhor. Contudo, há uma linha tênue entre pedir a confirmação porque não entendemos o chamado e pedir ela “para ver se Deus desiste de nos chamar, porque não queremos serr incomodados”. Que possamos ter a sensibilidade de Eliseu e a cautela de Gideão juntas!

ELISEU ERA GRATO À SUA CASA

Um grande momento na vida de um homem. De arador a sucessor de um profeta do Senhor. Talvez ele estivesse ansioso para partir e exultante pela escolha, mas não faria isso sem antes agradecer aos de sua casa. Ele correu atrás de Elias (que estava a cavalo) e gritou: “Deixa-me dar um beijo de despedida em meu pai e minha mãe". Lembrando-se dos demais que aravam com ele, lhes presenteou a junta de bois que ele mesmo manobrava:

E Eliseu voltou, apanhou a sua parelha de bois e os matou. Queimou o equipamento de arar para cozinhar a carne e a deu ao povo, e eles comeram. (1Rs 19:21)

Era uma despedida, sem deixar sequer seus utensílios diários para trás. Os empregados ficariam felizes e Eliseu livre para ir ao encontro de sua nova vida.

A ação de Eliseu revela três ensinamentos importantes. Primeiro, ele deu prioridade ao chamado de Deus. Eliseu era solteiro, mas não ficou pensando SE iria após Elias. Isso estava já decidido. Segundo, ele lembrou-se de todos (pai, mãe e empregados) que estiveram “arando” junto a ele em todos os dias antes de seu chamado. Foi beijá-los, despedir-se e preparar comida para agradecer. Terceiro, ele findou com a tarefa em que estava envolvido antes. Nada sobrou: nem bois, nem equipamentos. Eliseu, por assim dizer, LIBERTOU-SE dessa vida anterior e foi a um novo destino de mãos limpas e acostumadas ao trabalho.

ELISEU QUERIA PORÇÃO DOBRADA

2Rs 2.9-10. Sucedeu que, havendo eles passado [o rio Jordão], Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim. E disse: Coisa difícil pediste; se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará, porém, se não, não se fará. 

Na tradição judaica, o primogênito da família recebia porção dobrada da herança do pai. Eliseu pediu “porção dobrada” do espírito de Elias, significando que queria ser tão grande quanto ou melhor do que seu mestre. Que ousadia! Mas o desafio que a Palavra de Deus nos coloca é justamente este: imitar a Cristo, sendo dignos da nomenclatura “cristãos” (vide 1Co 11.1). 

O pregador John Blanchard disse certa vez que “A Bíblia nos ensina a nos contentarmos com o que temos, mas nunca com o que somos”. Da resposta de Elias vê-se que ele aceitou o pedido de Eliseu para o suceder, como o próprio Senhor anunciara que aconteceria, mas condicionou essa sucessão a Deus. Se Deus permitisse a Eliseu ver Elias partir, estaria feita a sucessão.

Quando Eliseu e Elias chegaram ao Jordão, Elias mandou que as águas se abrissem para eles passarem.

2Rs 2.6-8. E Elias disse: Fica-te aqui, porque o SENHOR me enviou ao Jordão. Mas ele disse: Vive o SENHOR, e vive a tua alma, que não te deixarei. E assim ambos foram juntos. E foram cinqüenta homens dos filhos dos profetas, e pararam defronte deles, de longe: e assim ambos pararam junto ao Jordão. Então Elias tomou a sua capa e a dobrou, e feriu as águas, as quais se dividiram para os dois lados; e passaram ambos em seco. 

Após o arrebatamento de Elias, Eliseu faz o mesmo percurso carregando o manto de Elias e ele mesmo agora abre as águas, indicando às pessoas ali (os Filhos dos Profetas) que estava no lugar de Elias.

2Rs 2.13-15. Também levantou a capa de Elias, que dele caíra; e, voltando-se, parou à margem do Jordão.
E tomou a capa de Elias, que dele caíra, e feriu as águas, e disse: Onde está o SENHOR Deus de Elias? Quando feriu as águas elas se dividiram de um ao outro lado; e Eliseu passou. Vendo-o, pois, os filhos dos profetas que estavam defronte em Jericó, disseram: O espírito de Elias repousa sobre Eliseu. E vieram-lhe ao encontro, e se prostraram diante dele em terra. 

Igualmente, Jesus dá-nos poder, o poder do Seu Nome! O crente que faz diferença neste mundo é alguém que usufruiu deste poder, a exemplo da Igreja apostólica em Atos (vide Atos 3). Para que Eliseu chegasse ao ponto de ocupar a função profética antes desenvolvida por seu mestre, Elias, foram necessários sete anos de intensa convivência e aprendizado, resultando num ministério tremendamente importante na vida de Israel durante décadas. Somos desafiados como crentes em Jesus a seguí-lo de perto, ter comunhão com Ele, conhecer sua palavra e seu modelo de vida, imitá-lo, fazer a sua obra, representá-lo como seus embaixadores.

Eliseu fez questão de permanecer junto de Elias durante todo o tempo. Diferentemente dos “filhos dos profetas”, ele acompanhou seu mestre até o fim. Igualmente, o cristão autêntico, que diferencia-se neste mundo, segue Jesus de perto. Em Lucas 22, na narrativa da prisão de Jesus, no verso 54 lemos: “e Pedro seguia-o de longe”. Em seguida, o evangelista nos afirma das três negativas de Pedro para com Jesus. Hoje, muitos há que seguem Jesus de longe e o resultado disso é escândalo para o Evangelho.

ELISEU COMEÇA UM NOVO TEMPO

2Rs 2:18-22. Então voltaram para ele, pois ficara em Jericó; e disse-lhes: Eu não vos disse que não fosseis? E os homens da cidade disseram a Eliseu: Eis que é boa a situação desta cidade, como o meu senhor vê; porém as águas são más, e a terra é estéril. E ele disse: Trazei-me um prato novo, e ponde nele sal. E lho trouxeram.

Então saiu ele ao manancial das águas, e deitou sal nele; e disse: Assim diz o SENHOR: Sararei a estas águas; e não haverá mais nelas morte nem esterilidade. Ficaram, pois, sãs aquelas águas, até ao dia de hoje, conforme a palavra que Eliseu tinha falado. 

Eliseu havia pedido para ser o primogênito, então isso significava que ele seria responsável por suas decisões perante o povo de Deus. Jericó era uma bela cidade, tinha de tudo para oferecer uma vida feliz aos seus habitantes. Localizada a 258 m abaixo do nível do mar, em um oásis, a fonte de Jericó chamada Ein es-Sultan produz 1.000 galões de água por minuto, irrigando por canais uns 2500 Acres (10 km²) ao seu redor, até 10 km de distância no deserto. Entretanto, seu povo era infeliz em virtude das “águas amargas”, que pouco prestavam para se beber.

A Bíblia informa que as águas de Jericó eram péssimas. Isso era, ainda, fruto de uma maldição lançada sobre a cidade por Josué. Jericó era uma cidade cananéia surgida talvez em 9000 a.C.; quando Josué tomou a cidade, ele ordenou que apenas Raabe e sua família fossem poupados. Em seguida, Josué amaldiçoou Jericó e suas terras:

Js 6.26. E naquele tempo Josué os esconjurou, dizendo: Maldito diante do SENHOR seja o homem que se levantar e reedificar esta cidade de Jericó; sobre seu primogênito a fundará, e sobre o seu filho mais novo lhe porá as portas. 

A maldição de Josué traria morte aos filhos de quem reedificasse Jericó. Igualmente há vidas preciosas na Igreja do Senhor que, embora agraciadas com beleza, inteligência e capacidade, padecem da “amargura de coração”. Uma alma amargurada perde até mesmo a alegria de cultuar ao Senhor! A amargura enraizada tem o mal--hábito de contaminar outras vidas. Paulo diz: “e que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem” (Hb 12.15). A esterilidade resultante da amargura tende a alastrar-se pela Igreja do Senhor! É um mal terrível! Por isso, o primeiro ato de Eliseu como profeta foi encerrar esse tempo de tristeza na cidade da qual estava próximo, pedindo que as águas de Jericó fossem curadas. Nenhum ato cinematográfico foi feito, nem um sal poderosíssimo foi usado: apenas a confiança de que Deus sararia as águas. Que possamos ter essa confiança no Senhor, para que sare as nossas vidas e de todos que chegam com amarguras à Igreja!

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A gente que a gente leu

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