terça-feira, 13 de outubro de 2020

O que fazemos em nome de Jesus? Uma lembrança do Líbano de Sabra e Shatila

Campo de refugiados de Shatila, nos dias atuais.

"Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros" (João 15.7)

A história Cristã está repleta de eventos políticos. São dominações de terras, ataques militares, massacres em nome desse ou daquele rei, dessa ou daquela fé. Para qualquer leitor mais atento do Novo Testamento, fica evidente que esses atores da igreja nada têm a ver com Jesus, embora as pessoas sejam inspiradas pelo Seu nome a participar.

Por exemplo, o Novo Testamento conta sobre o surgimento da Igreja. Temporalmente, ela começou seu registro literário com as cartas de Paulo para as comunidades que ele havia fundado. Depois, essas várias comunidades, em diferentes tempos, produziram suas narrativas sobre a vida de Jesus. Ele foi um homem pobre, nascido numa família que não podia garantir teto no seu nascimento, criado por um carpinteiro/pedreiro.. Segundo o Alcorão, filho de uma mãe solteira. Seus discípulos foram pescadores e pessoas que não podiam comprar o pão para a janta, que dependiam do favor de empregadores para ganhar seu sustento dia-a-dia. As comunidades originais se moldaram por nada menos que 250 anos antes de envolverem famílias poderosas de Roma e despertarem o interesse do Império.

Não deveria haver, no NT, o menor interesse em poder político. Mas as cartas apócrifas de Paulo - isto é, as que assinaram por Paulo¹ - deixam claro que a Igreja estava se organizando politicamente. Era preciso criar um perfil do crente, uma figura do sacerdote, uma hierarquia de poderes, mesmo que isso fosse no caminho contrário de Paulo e de Jesus. Afinal, tratava-se (e ainda se trata) da Igreja inspirada neles, e não a Igreja gerida por eles. Na prática, quer dizer que só se aproveitavam seus nomes e autoridade, a promessa de uma vida Celestial.

O Cristianismo que nos chegou, 20 séculos depois de Jesus, é uma reminiscência daquilo que lhe deu o nome. Ele nos vem com doutrinas e filosofias acerca da matéria e o espírito, a vida após a morte, o sentido do mundo, como se vestir e até qual partido deve ganhar as eleições, supostamente deduzidos de alguns ensinamentos para pescadores na Galiléia antiga. Em sua história, vêm juntos o sacrifício pelos amigos e pelos pobres, mas também a tortura e o massacre de nações inteiras. Tentando separar o joio político do trigo Cristão, trago aqui uma história de terror. Algo comum e recorrente, que qualquer um já viu e verá, na esperança de assim - pela advertência - evitar mais uma repetição.

O LÍBANO

Na costa mais a leste do Mediterrâneo, o Líbano é uma terra de povoação antiga. Lá fica Baalbeck, uma das cidades sagradas mais antigas do mundo, testemunha da grandiosidade de alguns povos Cananeus. O Líbano também é célebre nos textos do VT pela referência aos grandes cedros, pinheiros imensos que crescem na sua região montanhosa. Tais cedros fizeram parte do Templo de Salomão.

Para lá se deslocaram muitos Gregos, que ajudaram a formar uma nação de comerciantes marítimos conhecidos como Fenícios. O nome da terra vem de um molusco de concha avermelhada, encontrado nas praias dali, do qual se extrai a púrpura, também famosa. Esse corante vermelho se encontra preservado, ainda colorido, em sepulturas de milhares de anos. A púrpura tingiu as túnicas dos nobres Gregos e Romanos, como Alexandre o Grande e Júlio César, e deve ter sido usada na túnica posta em Jesus, após o açoitamento.

Paulo foi uma figura importante na região, fundando ali a igreja de Antioquia da Síria, onde centralizou e passou boa parte da sua vida como pregador. Depois, a Expansão Islâmica converteu grande parte da população nos arredores mas, mesmo hoje, o Líbano detém a maior concentração de Cristãos no Oriente Médio (60%). A maioria desses Cristãos são associados à Igreja Católica Maronita..

No séc. 1, a Igreja era comandada por 3 patriarcas ou bispos: em Roma, Antioquia da Síria e Alexandria, no Egito. Simão Pedro foi bispo em Roma. João Marcos, provável redator do Evangelho de Marcos, foi bispo de Alexandria. No séc. 4, com a absorção do Cristianismo pelos nobres romanos, criou-se também o bispado de Constantinopla. No séc. 5, Roma criou o bispado de Jerusalém, extremamente próximo de Antioquia. Bem na virada dos sécs. 4 e 5, o monge que seria conhecido por São João Maro saiu de Antioquia para viver sozinho e admirar as criações de Deus nas montanhas do Líbano. Religiosos que o ouviram pegar, depois, contaram sobre ele liderar 15 homens que viviam em oração na mata, sem qualquer teto. Quando morreu, em 410 d.C., São João Maro deixou uma igreja nas montanhas e um grupo de discípulos que entendiam a matéria como manifestação da graça divina. Esse seria o início da Igreja Maronita, na prática uma organização espelhada na Igreja Ortodoxa, mas politicamente vinculada a Roma. Tal vínculo era a forma como Roma mantinha algum contato com as comunidades Orientais, após a cisão da Igreja em 1024.

AS GUERRAS ANTIGAS

No começo do séc. 7, a região foi tomada de Roma/Império Bizantino (definitivamente) pelo Império Sassânida, que controlava a Pérsia e outras terras a leste. Até o séc. 8, com a conversão dos Sassânidas ao Islã, tanto o Líbano como terras ao sul (ex. Galiléia e Judéia) se tornaram parte de Califados. Os Muçulmanos foram bastante tolerantes com Judeus e Cristãos nas terras dominadas, muito mais do que o Império Bizantino: como a Igreja estava se estruturando em torno do imperador, anexando a religião e a política, credos que não se conformassem à norma (quase militar) eram perseguidos de forma militar. Esses credos, em especial os Maronitas e os Druze² encontraram refúgio nas terras do Islã. Gilo se tornou Jala, Bethlehem (Belém) virou Bet Lahm, e Jericó, Ariha..

O Líbano, Galiléia e Palestina foram palco de enormes confrontos a partir do séc. 10, quando o Império Bizantino somou forças aos reinos descendentes de Carlos Magno (séc. 9), como a França. Tais reinos reunificaram a Igreja do Ocidente, com sede então na França, e juntas, as Igrejas Imperiais Ocidental e Oriental conduziram expedições ao Oriente Médio para reconquistar Jerusalém. Foi a época das Cruzadas, em que os Cristãos podem ser associados com os maiores derramamentos de sangue. Apesar das guerras, a Palestina permaneceu sob comando do Islã.

A imagem dos Muçulmanos como "inimigos de Cristo" de certa forma se popularizou tanto que, por muito tempo, as relações entre Ocidente e Oriente eram quase só relações de guerra. Como dito antes, essa postura "guerreira" dos Cristãos em nada pode ser atribuída ao Novo Testamento, e menos ainda aos ensinamentos de Jesus para os pescadores que o ouviram, no mar da Galiléia. Ela tem sua base na unificação Igreja-Império que aconteceu no Império Bizantino e depois na França (séc. 9), até devolvendo para Roma a sede da Igreja Ocidental.

Mais tarde, a partir do séc. 14, o Império Ottomano unificou os pequenos Califados e Sultanatos do Oriente e formou um imenso reino Islâmico. Tal reino até suplantou o Império Bizantino e, no final do séc. 15, o Ocidente marcava o fim da Idade Média com a tomada de Constantinopla. Enquanto o Ocidente combatia os Mouros e ganhava as terras Islâmicas no sul da Espanha (Califado de Córdova) e no Marrocos, no leste europeu as nações se fragmentavam e não poucas foram anexadas pelo Império Ottomano. O Líbano permaneceu com sua população Cristã e Druze, mas também com uma quantidade significativa de Muçulmanos, convertidos dentre sua própria população.

AS GUERRAS MODERNAS

É estranho abordar o tema de guerras tentando falar sobre espiritualidade e a Igreja, mas a história não deixou outra alternativa. As comunidades religiosas sempre foram pontos de se inflamar a população contra um inimigo espiritual, representado por esse ou aquele inimigo político. É fácil discordar de alguém gritando na praça e ir embora, mas não de alguém falando no púlpito EM NOME DE DEUS e associando a fé das pessoas com o apoio a sua causa política.

O Líbano foi finalmente incluído no Império Ottomano no início do séc. 16. A administração Ottomana, então, só afetou as grandes cidades; na maior parte do país, vigorou a administração de chefes islâmicos locais. O Líbano tornou-se um dos maiores produtores mundiais de Cannabis. Até o início do séc. 18, o Líbano foi governado por famílias Druze. Depois o comando passou a famílias Maronitas. Na 1ª Guerra, o Império Ottomano foi fragmentado e suas terras tomadas pela Inglaterra e França.

Entre a 1ª e a 2ª Guerras, o Movimento Sionista começou a pedir, em várias partes do mundo, uma pátria para os Judeus. Candidatos a essa ocupação dos Judeus foram terras na Amazônia, Argentina, Uganda, etc. Mas obviamente os Judeus desejavam retornar para sua pátria natal, de onde haviam sido expulsos por Roma no séc. 1. Era lá que estavam seus tesouros de fé, os lugares sagrados da sua Escritura.

Os Franceses contribuíram para realocar Judeus na Palestina, enquanto os EUA trabalharam na criação do Estado de Israel em 1948. Populações enormes de Judeus foram levadas para a Palestina, com o consequente desalojamento das famílias Palestino-Islâmicas vivendo ali sob o antigo Império Ottomano. Esses habitantes expelidos de suas terras, em sua maioria Sunnitas, foram alocados à força em duas regiões ou subúrbios do país. Devido a influência da Guerra Fria entre EUA e a antiga União Soviética, o apoio dos EUA aos Judeus foi "equilibrado" com apoio da União Soviética aos Muçulmanos e isso inevitavelmente levou à guerra entre os ocupantes das terras e os desalojados. Todos que viveram nos anos 1980 já viram muitas e tenebrosas notícias sobre esses conflitos. Como relatou o historiador e jornalista José Arbex,

“Destruíram vilas e cidades, preservando raras casas com esses traços [Palestinos]: centros culturais, boates, restaurantes e ateliês com ares exóticos. Ao mesmo tempo, as cidades israelenses foram sendo construídas com a imagem ocidental e se constituindo como uma potência francamente estrangeira em uma terra com cultura milenar. Depois, teve início a destruição da agricultura Palestina. Locais onde havia pomares desapareceram, surgindo alimento para gado e laranja. Criou-se o mito de que o Israelense dominou o deserto e que o Palestino não tinha capacidade para produzir alimentos”.

Os Palestinos ficaram conhecidos pelos atentados terroristas nos países apoiando a ocupação Judaica de suas terras.

E O LÍBANO E A IGREJA COM ISSO?

Até aqui, tentei mostrar que grandes conflitos religiosos ao redor do Líbano na verdade foram conflitos políticos, com a população "arregimentada" para a guerra "em nome de Deus". Isso foi especialmente verdade no lado Cristão, uma vez que a administração Islâmica de lugares com populações Cristãs tendeu a ser tolerante com os não-Muçulmanos. Tendeu, mas também não foi sempre assim. Em 1948 mesmo, logo após a criação de Israel, muitos Judeus foram exterminados por grupos guerrilheiros dos países Islâmicos. Em 1967, Egito, Síria e Jordânia descarregaram um ataque militar em Jerusalém.

Em certo ponto da Guerra Fria, as milícias dos Judeus também começaram a invadir os espaços Muçulmanos em Israel, como se "terminasse a sua benevolência com um adversário já derrotado". Em 1982, o resultado disso foi uma fuga de populações imensas para a Síria e o Líbano. Lá, puseram em desequilíbrio a maioria Cristã/Druze que havia. Novas batalhas por terras começaram.

Vamos entender direito o que foram essas batalhas. Os Palestinos em fuga eram homens, mulheres e crianças desalojados de suas moradias pela 2ª vez, apenas 1 geração após a formação de Israel. Isso poderia colocar eles numa situação de subserviência ao governo do novo país. Mas o controle Francês do governo estava terminando, em ponto de ser substituído por um governo local, novamente Maronita/Druze. Junto dos Palestinos vinham militantes da sua causa em Israel, completamente armados graças à URSS. Esses militantes estabeleceram regiões de milícia, como os morros ocupados pelo tráfico no Rio de Janeiro, e passaram a reivindicar seu lugar na política. Atrás deles, militantes de Israel também entravam armados no Líbano em perseguição ao que chamavam de "movimento terrorista". A resposta do governo Druze/Maronita não podia ser pior: criou sua própria força militar para destruir as guerrilhas entre Israelenses e Palestinos. O velho grupo de sem-tetos de São Maro então virou a Falange Maronita de Elie Hobeika?

Espero estar deixando claro que embora os grupos se identificassem religiosamente como Maronitas, Judeus e Muçulmanos, nunca houve motivação do Novo Testamento, da Torá ou do Alcorão para esses feitos. Nunca existiu um comando divino para matarem um ao outro em nome do equilíbrio do Universo.. Ao contrário disso, havia a resposta inflamada dos Libaneses mais antigos contra a invasão do seu território por refugiados; a organização dos Israelenses antigos ao redor de forças para-militares; e a perseguição dos novos Israelenses ao que consideravam um inimigo perigoso.

A marca do envolvimento popular nas disputas militares, sancionada por líderes religiosos locais (e não os grandes patriarcas, rabinos ou imans de cada lado), infelizmente sempre foi eleger os líderes mais beligerantes. Segundo uma pesquisa do Instituto Gallup, publicada em um jornal de Israel, 46% dos entrevistados apoiavam um ataque em grande escala contra os Palestinos vivendo em seu território.

Um fruto dessa desconfiança religiosa foi o partido Kata'ib, dos Maronitas e Druze que governavam o país desde a saída dos franceses. Curiosamente o partido tinha um apelo forte aos Nazistas. Seu lema era "Deus, nação e família".

" ... Fomos aos Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim. E eu vi então essa disciplina e ordem. E eu disse a mim mesmo: "Por que não podemos fazer a mesma coisa no Líbano?" Então, quando voltamos para o Líbano, criamos esse movimento jovem. Na época, quando eu estava em Berlim, o Nazismo não tinha a reputação que tem agora. Nazismo? Em todo sistema do mundo, você pode encontrar algo de bom. Mas o Nazismo não era Nazismo ainda. A palavra veio depois. Em seu sistema, eu vi disciplina. E nós, no Oriente Médio, precisamos de disciplina mais do que qualquer outra coisa". (Pierre Gemayel, criador do partido)

O Kata'ib tornou-se muito poderoso nos anos 1970, proclamando um combate ao Comunismo da URSS e a independência do povo libanês (Fenícios) em relação aos árabes. Já em 1976, o partido contava com diversos grupos de "militantes" ou "para-militares" como Exército do Líbano Livre, al-Tanzim, Milícia dos Tigres, Guardiões dos Cedros, Movimento da Juventude Libanesa, etc, a maioria deles envolvidos em massacres de Palestinos. Um de seus agentes mais famosos foi Elie Hobeika.

Hobeika, líder da "Falange", uma milícia agindo em prol do governo mas não oficialmente vinculada a ele, era ele próprio alguém que perdeu a família nos ataques de milícias Palestinas nos anos 1970. Em 1977, ele já ficava famoso por fuzilar civis na vila de Yarim. Mais um ano e teria eliminado milícias Maronitas concorrentes, sendo nomeado guarda-costas do presidente Libanês.

AS IGREJAS DE 1982

Nesse ano em que Israel oficialmente enviou tropas para dentro do Líbano, em perseguição à OLP de Yasser Arafat, cada um dos grupos envolvidos no episódio terrível entre Muçulmanos, Judeus e Cristãos, não o único nem o pior, foram nomeados pelas suas filiações religiosas. E nenhum dos grupos estava pregando sua fé para os demais.. Todas foram ações por ressentimentos, desejos de poder político e interesses econômicos (não esqueçamos como a indústria bélica é lucrativa).

A filiação dos grupos a entidades religiosas foi importante em conseguir apoio popular para as causas de seus líderes, quais fossem os meios terríveis de serem defendidas. A imprensa de todos os cantos do mundo, incluindo o Líbano e Israel, bombardeou a mídia quando souberam do incidente, e de repente todas as pessoas tomavam algum partido, da Falange, do exército Israelense ou dos Palestinos. Cada grupo culpando os demais, ou os próprios homens. A ONU reconheceu um incidente político dos Falangistas Libaneses, com apoio do governo Libanês e coordenação Israelense, a cooperação de inimigos que só acontece nas guerras.

Do lado Israelita, as ordens para dar passagem à Falange vieram do alto comando e grande parte dos soldados envolvidos no cerco a Sabra e Shatila se manifestaram como furiosos com aquilo, no que lhes foi permitido dizer a repórteres.

O Rabbi Menachem Ha-Cohen publicou, poucos dias depois do massacre, um "chamado aos Rabbis de Israel" no jornal Yedioth Ahronoth, expressando sua indignação:

"Devemos ser comparados a Sodoma? Somos parecidos com Gomorra?³ Se nós permanecermos silenciosos neste momento, tanto os Judeus como os Gentios exclamarão: Esta é a Torá, isto é o Judaísmo. Rabinos de Israel, não guardem silêncio!"

Não houve sequer um movimento nas Sinagogas quanto fazer o massacre parecer correto. Apesar disso, o mundo Judeu estava alarmado com os recentes atentados a bomba em Paris e Roma, onde os criminosos foram amplamente inocentados devido a uma suposta "legítima defesa" contra Israel. Em outras palavras, era o tempo de ordens de Estado fazerem Israel uma nação militarmente agressiva, em prol de auxílios e auxiliadores internacionais, enquanto a população e mesmo os militares desconheciam ou reprovavam tal posicionamento.

O lado Palestino nesses eventos foi o das vítimas, mas nem sempre foi essa a sua posição. Desde os movimentos pan-arabistas no Egito em 1957, liderados pelo presidente Jamāl Abdannāœir, houve ações drásticas contra os ocupantes Judeus em Israel, quase dez anos antes. No Líbano, os Palestinos dos subúrbios representavam o grupo mais mal pago da população, geralmente empregados "sem carteira assinada" de obras civis, que viviam praticamente à margem dos direitos. Isso criou o ambiente para a OLP inserir sua guerrilhas e milícias armadas.

As mesquitas frequentadas pelos novos Libaneses, boa parte deles Shiitas, protestaram fortemente contra as reprimendas Maronitas e Israelenses à presença de Yasser Arafat (famoso líder da OLP) no Líbano. Na época, Arafat era um inflamador das guerrilhas Palestinas. Mais tarde, com a saída de Arafat do país, o vácuo de liderança expôs a classe de trabalhadores militantes a todo tipo de reprimendas por parte do governo, que encontrava apoio nas forças Israelenses de ocupação. Inevitavelmente, os Shiitas viram nas palavras do aiatolá Khomeini uma liderança. Uma ideia religiosa de pureza pela Sharia, mas também uma idéia de repúdio a outras tradições, o que isolou os novos Palestinos (Shiitas) até mesmo dos Palestinos de 1948 (Sunnitas).

Antes da ocupação Francesa/Inglesa na 1ª Guerra, havia paz entre os grupos religiosos. No entanto, o Império Ottomano manteve os Cristãos Maronitas apenas com sua liberdade religiosa, isso é, sem nenhuma representatividade política ou legal. Com a destruição do Império, essa situação foi invertida e 70 anos depois os Cristãos Maronitas acreditavam lutar por seus direitos culturais. A ameaça de perder tais direitos foi utilizada pela política populista para entrelaçar fé, liberdade e o exemplo Nazista de controle das dissidências.

O presidente Bashir Gemayel, Hobeika e seus Falangistas não estavam em absoluto distantes do que era um entendimento "igrejístico" da guerra, por um lado calçado no envolvimento de Jesus com as temáticas populares, por outro bem longe do ensino Dele sobre amor ao próximo. Na ocasião da Guerra Civil, os monges Maronitas defenderam o armamento da população e a defesa militar da cultura Cristã. Muitos mosteiros serviram como estoques de armas e munição. Enquanto isso, os patriarcas defendiam a moderação, logo após o Concílio Vaticano II, quando a Igreja Católica entrava em um período de diálogo pacífico com Judeus e Muçulmanos.

O SACRIFÍCIO DOS INOCENTES

Em 16/set de 1982, os três grupos se encontraram de forma terrível. Dois dias antes, uma mala-bomba destruira o quartel-general do Kata'ib, matando o presidente eleito. Como retaliação, as Forças de Defesa de Israel cercaram os campos de refugiados Palestinos chamados Sabra e Shatila, argumentando que guerrilheiros associados com o atentado terrorista podiam estar escondidos lá.

Ao anoitecer, os militares deram passagem ao grupo de Hobeika, conhecido pela violência, que adentrou os bairros.

Enquanto os "Israeli" bloqueavam as saídas e disparavam sinalizadores para iluminar as ruas dos bairros às escuras, durante 3 dias e noites "a Falange" matou de forma cruel cerca de 3500 civis morando naqueles assentamentos. Durante o massacre, até tratores foram fornecidos para enterrar os corpos de homens, mulheres e crianças. Qualquer semelhança com a SS (polícia nazista) fuzilando 2000 Judeus no Gheto Geral de Krakovia, na Polônia, em mar/1943, não é mera coincidência.

Os envolvidos do massacre no Líbano jamais foram punidos, mas a investigação feita pela ONU, depois, incluiu cruzes gravadas nas testas de vários cadáveres e boa parte das mortes causada por facas, espadas e espancamentos. Mulheres foram estupradas e estripadas. Crianças foram esquartejadas. Pelo menos 50% das mortes ocorreram nas 1as horas da invasão, antes mesmo do amanhecer.

Em 1991, Hobeika foi anistiado de todos os crimes cometidos durante a Guerra Civil, inclusive sua interação com a CIA estadunidense, iniciando carreira política e sendo nomeado para 4 ministérios em sequência, até 2001. No ano seguinte, ele morreu vítima de um carro-bomba na frente de sua casa, em Beirute. Os líderes militares Arafat e Sharon estenderam suas carreiras políticas.

Eis o que se fez em nome de Jesus. O que você é capaz de fazer em nome de Jesus?

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¹ As cartas Paulinas de autoria questionável incluem Efésios, Colossenses, 2ª Tessalonicenses, 1ª e 2ª Timóteo e Tito. Os motivos para esse questionamento são quanto ao conteúdo, local de produção das cartas e estilo de escrita.

² Os Druze se dizem descendentes de Jethro, sogro de Moisés. São um grupo religioso chamado de Esotérico ou Gnóstico, que mistura elementos Judaicos, Cristãos e Islâmicos. Os Druze acreditam em reencarnação e aproximação sucessiva de uma mente cósmica que identificam com Allah, na verdade absoluta sobre o que se fala, na proteção e ajuda aos irmãos de fé, no repúdio ao mal, na unidade de Deus, na aceitação dos atos de Deus.

³ "Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado. E se ensoberbeceram, e fizeram abominações diante de mim; portanto, vendo eu isto as tirei dali." (Ezequiel 16.49,50)

Embora seja uma tradição Cristã pregar que o extermínio de Sodoma e Gomorra ocorreram por punição ao homosexualismo, na verdade o texto bíblico é uma narrativa e não uma dissertação. Quer dizer, conta um estória e não as opiniões ou explicações de pessoas. Entre os Judeus, a pregação sobre Sodoma e Gomorra tem outro viés, baseado no texto do profeta Ezekiel. Segundo Ezekiel, Sodoma e Gomorra eram cidades-estado ricas e poderosas, que não auxiliavam suas cidades irmãs, um exemplo de rico caçoando do pobre. Ver http://loungecba.blogspot.com/2013/05/sodomia-gomorria.html

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RECADOS NUMA PAREDE




Druze - wikipedia

Elie Hobeika - wikipedia


HENLEY, Alexander D. M. Politics of a Church at War: Maronite Catholicism in the Lebanese Civil War, Mediterranean Politics, v. 13, n. 3, 353-369, 2008.

Kataeb Party - wikipedia

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Maron - wikipedia

MEDINA, Mesas.’Não é com pedras que os palestinos agridem Israel, Jornal da Unicamp, fev/2002.

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Pseudepigrapha - wikipedia

RABINOVICH Abraham. Journalist reckons with Israeli blame for Sabra and Shatila, timesofisrael.com, set/2020.

ROSA, João Maurício, Os garotos das fundas, Jornal da Unicamp, dez/2001.

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The medieval papacy - britannica.com

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