sexta-feira, 27 de julho de 2012

Dando bom dia com o chapéu de Deus


- 19h, é Sabadão! Vamos tentar desvirtuar o vídeo do Carlos Ruas (esse aí encima)!
CARLOS CHEGA: E quem são vocês?
 - Quem?
Cri... cri... cri...
(moita de capim passa rolando)

PÚBLICO vs. PRIVADO

Tem boa diferença entre o que fazemos PUBLICAMENTE enquanto cristãos, isto é, para sermos vistos e reconhecidos assim, e o que fazemos PRIVADAMENTE, ou seja, coisas que fazemos em nome do cristianismo ... mas que talvez só Deus conheça. Ambos têm a sua importância.

Coisas públicas são importantes para propaganda mesmo, ou como Jesus falou, para plantar a semente cristã em outros corações (Mt 13). Nesse caso, seu desenvolvimento não depende de quem a plantou (1Co 3.1-7)! Não fosse essa propaganda extensiva do próprio Jesus, depois dos apóstolos e sobretudo de Paulo, muito menos pessoas nesse mundo saberiam da existência do cristianismo. A propaganda cristã foi muito importante no mundo grego, nas províncias romanas, nos reinos medievais. Mas quando a instituição Igreja cresceu bem, lá pelo séc. 10, "ser cristão" deixou de ser uma escolha: quem não fosse cristão seria [com todo amor a Deus e ao próximo] morto à espada, enforcado ou queimado na fogueira. Aqui na terrinha, "ser cristão" foi tão voluntário que índios e e escravos fizeram uma espécie de "cristianismo B" para terem seu politeísmo debaixo da vigilância da Igreja. Hoje, existe mesmo uma concepção de que o cristianismo é tanto mais propagandeado quanto é importante para quem fala dele, segundo a ordem de Jesus para levar a Palavra a todos os corações (Mc 16.15). Converter se fez tão necessário que até cristãos estão sendo convertidos aos cristianismo! Talvez tenhamos esquecido que o processo fé → propaganda NÃO é inversível. Fé geralmente leva à propaganda mas a propaganda em si não indica fé... Ela pode se originar de muitas outras coisas [os candidatos que o digam], como por exemplo a necessidade de aceitação social, aceitação pessoal ou até status.

CORRETO vs. PRAZEIROSO

As coisas particulares que fazemos, por outro lado, estão relacionadas ao que consideramos CORRETO e/ou PRAZEIROSO. Se as duas coisas fossem idênticas, não existiria a culpa, e Paulo não diria "Pois o que faço não é o bem que desejo; mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo" (Rm 7.15-24). Nossa mente foi projetada/evoluída para ter prazer com atividades que preservam a espécie (ex. comer alimentos mais calóricos, sexo, etc), mas no mundo coletivo esse prazer pode surgir de atividades variadas (ex. ler um blog) ou até de substâncias químicas (ex. drogas viciantes). Nós então repetimos o que é prazeiroso - comemos e fazemos sexo porque gostamos, não para preservar a espécie - mas isso pode ser ruim e pervertido quando se trata de um obeso, um viciado, para quem o ponto de parar não é mais visto.

O CORRETO em geral é PRAZEIROSO, mas não de imediato. Problemão, precisamos da  fé para fazê-lo. Trabalhar em um emprego desgostoso é um exemplo disso: as pessoas fazem porque crêem no prazer que terão ao receber o salário, não pela atividade do dia-a-dia. Se o PRAZEIROSO não é CORRETO, vivemos com a culpa. E Paulo dizia a todos o quanto experimentava isso. Eu e você também não?

A importância do que fazemos em particular, sejam direcionadas pelo CORRETO ou pelo PRAZEIROSO, são evidenciadas na Bíblia por Mt 6. Nessa passagem, o velho "Pai Nosso", Jesus instrui quanto ao conteúdo da oração, afirmando que Deus conhece as necessidades de cada um, sendo portanto inútil pedir coisas. Da motivação de orar, Ele alerta também quanto ao fato de alguns orarem não para serem vistos por Deus, mas PRAZEIROSAMENTE “para serem vistos pelo povo”. Conhecedor das motivações humanas, Jesus instrui que se ore em particular, em secreto, para que apenas Deus saiba disso. E não havendo retribuição humana desse ato (ao contrário de orar nas ruas ou jejuar com rostro triste e sujo), então teríamos uma digna demostração de fé. Bons e maus gostam de estar com pessoas de fé... Mas como sabê-lo, como determinar se estamos juntos de alguém que jejua e ora em secreto ou de alguém que debocha de Deus em seu quarto? Simplesmente não sabemos. Se alguém nos conta isso, eis que talvez seja verdade ou talvez coloque o cidadão no vil lugar daqueles fariseus apontados por Jesus, chamados até de víboras (Mt 23.33).

Peraí, mas Jesus não fez obras públicas? Ele falou a muitos, curou a muitos, expulsou demônios, até alimentou a muitos mais ainda. O Espírito Santo não se manifestou publicamente em Pentecostes (Atos 2), convertendo um sem-número de gentes? Então não é errado o ato público. Apenas ele não serve como indicativo (pessoal) de comunhão com Deus. Não pode ser um ato de auto-exaltação usar aquilo que Deus provê, usar a santidade que Ele dá em troca de ser santo aos olhos dos homens. Nem Jesus fez isso (Mt 9.27-31).

Devemos acreditar em quem faz o ato público, o culto, a oração pública? A importância desse ato é mostrada na Bíblia como divulgação cristã, não como sinal de características pessoais (os apóstolos em pestecostes terminaram chamados de bêbados em Atos 2.13-15). Seria melhor interpretar o feito público como ensino do que oferecer culto ou crença naquele que fala, pois até os anjos se negaram a receber culto.(Ap 19.10). Mas a tendência nossa é bem pelo contrário! Em todo o Novo Testamento, a única referência que Jesus fez a suas ações públicas, mesmo numa situação crítica, foi a citação de Seus ensinos diante do Sinédrio: “Eu falei abertamente ao mundo; sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde todos os judeus se reúnem. Nada disse em segredo. Por que me interrogas? Pergunta aos que me ouviram. Certamente eles sabem o que eu disse" (Jo 18.20-21).

LOBO vs. CORDEIRO

Nem a Bíblia fornece meios para medir a proximidade entre Deus e as pessoas. As Escrituras dizem que Deus presenteia com conhecimento (invisível aos olhos), sabedoria (se você não a procurar em alguém, não vai ver) e felicidade (independente da situação, ora vejam só). Quanto a riquezas, Salomão disse que Deus encarrega o pecador de ajuntar e armazená-las para quem o agrada (Ec 2:26)... A Jó, que Deus amava, toda posse terrena, material e espiritual foi tirada. E Jesus juntou a isso a célebre frase "Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus; porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos" (Mt 5.44-45).

É claro que ficamos tranqüilos de estar com pessoas “abençoadas”, mas parece que não temos como avaliar isso, saber se quem vai ali é lobo ou cordeiro. Mas não fiquemos tristes: Ele já deu mostras de usar povos inteiros (ex. o Egito, a Babilônia) e na verdade qualquer um para realizar Suas obras, e também já afirmou conhecer as necessidades de cada um. Por isso roubamos esse vídeo do Carlos Ruas, como exemplo (e desculpa) para falar desse assunto velho e sem graça, mas que de tão velho se mostrou perene. Jesus falou assim sobre esse problema da quem prefere usar as coisas de Deus para se promover:

Mt 23.23-28. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas. Guias cegos! que coais um mosquito, e engolis um camelo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque limpais o exterior do copo e do prato, mas por dentro estão cheios de rapina e de intemperança. Fariseu cego! limpa primeiro o interior do copo, para que também o exterior se torne limpo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos e de toda imundícia. Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade. 

Reparemos que Jesus não fala em diferenças doutrinais, muito menos teológicas. Coar mosquito e engolir  camelo é justamente ser rigoroso com o que há de mais trivial (ex. freqüentar todo domingo a congregação) e esquecer o cerne da(s) mensagen(s) de Deus (ex. fé e amor ao próximo). Entenda-se por “deixar sem importância” o significado mais literal do inglês “not take care”, deixar sem cuidado. Trata-se de não praticar essas coisas e/ou não se incomodar se outros o fazem.

Nada contra o comparecimento semanal às congregações, mas fato é que a maioria das pessoas (não apenas cristãs) vê nisso o CENTRO da religião. Assim, quem não comparece aos cultos é um “afastado de Deus”. Embutido na idéia... quem está sempre presente é o mais próximo possível da santidade em pessoa, para os outros e - aí está o problema - para si mesmo. No Brasil e em outros países (posso falar que nos EUA a situação é bem semelhante), freqüentar os cultos é mais “religioso” ou santo até do que conhecer os pilares da própria religião. No caso dos cristãos, isso quer dizer que muitos não conhecem a Bíblia  [e não se importam com isso]. Fé e amor que são coisas subjetivas, difíceis de quantificar, então... o que é isso mesmo?

OS DOIS JESUS

O envolvimento de muitos com a SUA religião também não é medido pelos frutos que isso produz. Paulo enumera esses frutos como amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5.22-23), mas quem poderia vê-los em si mesmo? Dependemos do outro para isso, e nenhum "olheiro" demonstra mais o que vê do que as congregações de fiéis. Nos tempos de Jesus, o parâmetro para medir quanto cada um estava próximo de Deusa eram (1) a descendência das castas judaicas que surgiram após o cativeiro babilônico e (2) a observância rigorosa de uma extensa lista de costumes. Jesus não gozava do prestígio inato das castas superiores, nem aparentava sucesso em seguir as leis sociais, pois foi acusado pelos fariseus e além disso criticou duramente esse grupo.

Sua crítica se apoiava num conjunto diferente de valores que desconsiderava a publicidade de ações e títulos, tornando os “mais santos” fariseus literalmente em sepulcros caiados. Se por um lado Jesus chamava até de víboras os principais do judaísmo, por outro lado era para eles um descrente, falso profeta e anarquista. Boa parte dos fariseus e saduceus não viu ou não acreditou nas coisas que Jesus fazia ou contava. Eles não eram exceção nisso, a exemplo de outros que conviviam bem próximos de Jesus, como o jovem rico, Judas, Pedro, etc. No caso de Pedro em particular, mesmo a proximidade não lhe deixou crer prontamente em Jesus, ainda que as suas obras sugiram que a condição de fé mudou.

AS TEOLOGIAS

Como não há mesmo uma forma de medir a fé da pessoas (e me pergunto que ganho há nisso), medidas indiretas como a observância das leis, a prosperidade financeira, a freqüência nos cultos, as músicas que ouve, o modo de se vestir, etc, sempre foram populares. E as teologias fizeram o favor de preencher as lacunas das escrituras com valores adequados a cada época, lugar e lideranças. Jesus não se impressionou com qualquer dessas medidas e até chamou a atenção para ações de reflexo da fé que não eram percebidas, como um pedido de ajuda (Lc 8.43-46), uma argumentação (Mc 7.25-30), um gesto de lisonja (Lc 7.37-38). E quanto aos preferidos por Sua graça, Jesus parece que sempre tentou dizer que Ele não via qualquer diferença entre as pessoas, nem o mais rico, nem o mais severo, ou o mais religioso! Seriam os ricos mais abençoados? Jesus disse que era difícil seguirem-no. Seriam os que estão sempre nas igrejas mais abençoados? Os fariseus eram assíduos no Templo, bem ao contrário dos centuriões, embora um deles tenha sido elogiado por Ele (Mt 8.5-10). Ouvir músicas cristãs seria o ponto importante? Nem existiam nos tempos bíblicos. Roupas então... não eram os apóstolos bem diversos em educação e posses? Pedro era pescador, Mateus era publicano, Paulo era oficial romano. Eu e você não somos nem um nem outro.

Essa pequenas coisas significativas que cada um pode fazer pelo próximo (até um vigarista), de repente são uma grande marca do cristianismo, ou pelo menos do que ele pretende ser. De pouquinho em pouquinho, o reino de Deus, às vezes, chega até pelo telefone.

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