terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A opressão dos ídolos


Enquanto caminhamos com Jesus, deparamos com espíritos imundos. Jesus também esteve frente a frente com eles. Ele exerceu autoridade sobre esses espíritos e libertou pessoas que estavam dominadas e controladas por eles, que a Bíblia chama também de demônios. Espíritos do mal, espíritos malignos.

O evangelho narra o encontro de Jesus com um homem dominado por um espírito imundo, e registra esse confronto imediatamente após Jesus ter chamado seus primeiros talmidim e ter prometido fazer deles “pescadores de homens”. Durante muito tempo acreditei que “pescar homens” era ir buscar os pecadores do lado de fora da igreja e trazê-los para dentro. Significava fisgar pessoas que não acreditavam em Deus e em Jesus e trazê-las para o ambiente religioso, onde Jesus recebe adoração. Mas lendo esse texto com mais atenção, e meditando sobre sua relação com o chamado de Jesus a seus talmidim, passei a considerar que “pescar homens” significa buscar dentro de cada ser humano a sua verdadeira identidade, alcançar dentro de cada ser humano o "eu verdadeiro” que está ali abafado por muitos espíritos imundos.

O que são os espíritos imundos? São egos absolutos. O que é um demônio, um espírito mal, ou espírito maligno? É um ego absoluto, que pensa apenas em si e que ignora todo o resto, todos os demais, inclusive - e principalmente - Deus. Os egos absolutos podem ter vários nomes. Pode ser um demônio mesmo. Mas também podem ser tradições ou autoridades religiosas (Jesus dirigiu a eles TODAS as suas repreensões). Imposições familiares, vínculos afetivos, ideologias e estados políticos, filosofias e culturas, e qualquer tipo ou expressão de vontades absolutas e opressoras.

Aqueles que seguem a Jesus têm a sagrada tarefa de "pescar pessoas", de buscar dentro de cada ser humano oprimido por vontades que impedem sua expressão autêntica e plena a expressão mais verdadeira do seu eu, criado em imagem e semelhança de Deus. Para pescar homens, precisamos da autoridade de Jesus para confrontar os espíritos imundos, malignos e diabólicos. Muito mais do que iniciar as pessoas em uma religião, pescar homens é cooperar com Deus para que as pessoas sejam libertas de todos e quaisquer egos opressivos e escravizadores. Jesus é vida, é luz, é libertação.

O Diabo, pior dos demônios opressores, fez várias tentativas de fazer Jesus provar que ele é quem é, e fazer o Pai provar que tem por Jesus o amor que diz ter. O Diabo quis sugerir que, se Deus nos ama, então não vai deixar que nada de mau nos aconteça. Se Deus nos ama, então podemos viver do jeito que quisermos, mesmo irresponsavelmente, que ele sempre vai nos amparar. Que, como diz a canção popular, o acaso vai nos proteger enquanto andarmos distraídos. Em outras palavras, o discurso do Diabo é: “Deus tem a obrigação de cuidar de você, afinal, ele diz que o ama”.

Mas Jesus tinha uma perspectiva diferente a ensinar. Na liberdade que Ele propunha, Ele também não quis colocar Deus a prova. Não topou puxar o elástico de seu relacionamento com o Pai e exigir que ele respondesse a maneira atrevida e displicente como vivemos. Muito pelo contrario, Jesus sabia que os filhos vivem de acordo com a sabedoria dos pais, não os pais para satisfazer os caprichos dos filhos.

O Diabo citou a Bíblia, o Salmo 91: “Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra”. Os Salmos são orações dos homens, segundo os desejos do seu coração para com Deus, e eles o Diabo conhecia bem. Mas Jesus também citou as Escrituras, Deuteronômio 6: "Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus". Ele respondeu com as palavras de Deus. Silêncio entre os dois, quem se dignaria a debater Deus com Jesus?

Quando caímos nessa armadilha de viver na expectativa de que Deus se prove constantemente para nós, manipulando as palavras sagradas de acordo com nossas conveniências, Deus deixa de ser Deus e se torna um ídolo. Deixa de ser aquele que está no controle e passa a ser aquele que desejamos como desejamos, que corre atrás de nós o tempo todo, para corrigir, remediar ou dar condições ideais a forma como estamos vivendo.

Jesus olhava a vida de maneira diferente. E nos ensinou que Deus é o Pai, e nós somos seus filhos. Viver como um filho de Deus é jamais colocá-lo à prova. Viver como filho de Deus implica não exigir que Deus prove seu amor. O ídolo oprime porquê nos faz acreditar que somos iguais a Deus, que Ele precisa querer o que nós queremos. Mas os filhos de Deus não tratam o Pai como um ídolo.

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A PROVA DO CRIME

Ed René Kiwitz, Talmidim 024
Ed René Kiwitz, Talmidim 035

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