domingo, 13 de outubro de 2013

O Livro de Jó - 3ª parte - se entendendo com Deus

o animal magnífico, segundo Deus

No início livro de Jó, podemos dizer que Deus e Satanás fazem uma aposta. Deus exibe seu servo Jó, homem justo e crente, que jamais se desviava do caminho reto, e a quem Ele provia de imensa fortuna, filhos e filhas felizes, além de avançada idade e admiração entre os homens. Satanás ardilosamente afirma que Jó apenas era fiel porque Deus lhe dava riqueza. Deus permite então que Satanás lhe tire tudo. Com Jó ainda fiel, Satanás afirma lhe ele só era fiel porque Deus provia saúde. Então Deus concede que Satanás lhe tire até isso, mas não a vida. Finalmente, Jó é visitado por três rabis. Seus amigos afirmam a justiça de Deus ao tirar tudo de Jó, pois ele devia ter cometido algum pecado. Ao negar que fosse injusto em qualquer coisa, Jó apela para a sua fraqueza perante o Senhor, diz que poderia contender com Ele em um tribunal e até exercita a possibilidade de um defensor justo que conhecesse o sofrimento humano e que poderia defendê-lo perante Deus.

Eis que se levanta então Eliú, o jovem, do clã de Buz, provavelmente um parente de Zofar. Seu aparecimento é um mistério, pois Eliú não é citado nas passagens anteriores ao cap. 32 nem nas passagens posteriores aos cap. 37. Surgido do nada, esse personagem sobretudo não é citado por Deus quando profere sua sentença, no final. No entanto, o discurso de Eliú é um dos mais poderosos dentre os rabis. Seu anúncio de "... estou cheio de palavras; o meu espírito me constrange" (Jó 32.18) se revela uma exaltação de que Deus é capaz de castigar para afastar o homem até de pecados futuros e ninguém pode se gabar da própria justiça, nem mesmo Jó. Ele ainda afirma que Deus paga a cada um segundo suas obras, mas acrescenta que "provado seja Jó até ao fim, pelas suas respostas próprias de homens malignos" (Jó 34:36), ou seja, Jó poderia ser culpado pelas palavras de lamúria que usou após ser afligido! Maligno seria um Deus que usasse desse artifício para castigar os homens, dar-lhes penas pelos choramingos ao serem castigados!

Quando o Senhor aparece, sua primeira fala já é terrível ao orgulho humano, e vai primeiramente a Jó:

... perguntar-te-ei, e tu me ensinarás. Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência. (Jó 38.3-4)

Os motivos do Oleiro simplesmente não dizem respeito ao vaso! Ficamos a discutir porque Ele fez isso ou aquilo, mas uma simples semente jogada no chão hoje pode ser uma floresta dentro de 100 anos, e não temos controle sobre o nosso próprio presente. Quando o Senhor o preparou, quem estava presente? Nos basta entender isso que foi preparado como o fruto de um Deus bondoso, e no caso de Jó mesmo, em todo tempo Deus o protegeu do golpe final de Satanás. Não teríamos como medir os efeitos das decisões do Senhor, muito menos sondar suas reais causas.

Então para finalizar a contenda, o próprio Deus manifesta um discurso no mínimo misterioso:

Deus começa enumerando as virtudes das cabras monteses, jumentos selvagens, bois, avestruzes, e finalmente o hipopótamo. Pelo menos essa foi uma interpretação dada para o Leviatã descrito pelo nome Beemot, Beemote ou Behemote.

Uma parte enorme do discurso de Deus no cap 40 ocupa-se em elogiar o animal que "nutre-se da erva como o boi", que "sob os lotus se deita, oculto entre os juncos do brejo" e "quando o rio se enfurece, ele não se abala; mesmo que o Jordão encrespe as ondas contra a sua boca, ele se mantém calmo". Sobre esse animal, o livro é categórico - "ele ocupa o primeiro lugar entre as obras de Deus. No entanto, o seu Criador pode chegar a ele com sua espada". De forma muito interessante, não há qualquer referência sobre hipopótamos no rio Jordão (em qualquer época da história), apesar de ser um animal típico dos rios da Mesopotâmia, na região da Síria e Assíria. Mais além, fala Ele de fogo saindo de suas ventas:

Cada um dos seus espirros faz resplandecer a luz, e os seus olhos são como as pálpebras da alva. Da sua boca saem tochas; faíscas de fogo saltam dela. Das suas narinas procede fumaça, como de uma panela fervente, ou de uma grande caldeira. O seu hálito faz incender os carvões; e da sua boca sai chamas. (Jó 41.18-21)

Transformado em um Leviatã monstruoso e sendo a 1ª obra do Criador, o hipopótamo do Eufrates é o estranho símbolo de poder divino apresentado a Jó e seus amigos. Essa criatura aparentemente fazia parte da mitologia suméria e encontrou os hebreus quando foram deportados para a Babilônia, sem dúvida um animal enorme que deve ter lhes causado algum espanto pela força e ferocidade.

Se o mundo havia sido criado da água, e tal criatura vinha da água, eis a besta primordial! "Nada na terra se equipara a ele; criatura destemida! Com desdém olha todos os altivos; reina soberano sobre todos os orgulhosos" (Jó 41.33-34). Deus simplesmente desafia Jó e seus amigos a "pescar" o hipopótamo. Como somente Ele se aproxima do hipopótamo, Deus conclui: "quem seria maior do que eu?".

Quem então será capaz de resistir a mim? Quem primeiro me deu alguma coisa, que eu lhe deva pagar? Tudo o que há debaixo dos céus me pertence. (Jó 41.10-11)

A singeleza dessa aparição de Deus está no fato de que o Senhor não invalida o discurso de nenhum dos homens ali: nem de Jó (que O chamava de insensível e até destruidor), nem de qualquer dos seus amigos (que acusavam Jó pelos seus próprios sofrimentos). Ele apresenta suas criações (com graaande destaque para o hipopótamo), depois emenda que os amigos de Jó não haviam falado o que era certo sobre Ele. Deus simplesmente não debate nada sobre a sua natureza! Ele apenas diz "Eu sou supremo, acatem o que eu lhes ordeno".

E ficamos nós ainda discutindo sobre o que Deus aceita ou não, o que Ele gosta ou não. Se fulano teve desventuras na vida porque Deus está lhe punindo, ou se Deus se aproxima mais justamente dos sofredores. Há pessoas que se auto-infligem sofrimentos para que Deus as veja! E há pessoas que se gabam da proteção de Deus ao terem prosperidade!

Sobre a complexa discussão de Jó e seus amigos, Deus escolheu dizer "Calem-se!" ao invés de se explicar. Esse aspecto repentino do Senhor, essa supremacia de irromper para além do que se possa esperar Dele, foi o mais presente em todo o ministério de Jesus. Ele resolveu falar com uma mulher samaritana porque... estava próximo dela. Resolveu curar um homem na piscina de Betesda porque... topou com ele. Ele tratou bem dos leprosos porque passou onde eles ficavam. Salvou a adúltera porque levaram-na a Ele, mas não se desviou do que fazia para resolver esse problema. Resolveu curar no sábado porque era apenas mais um dia, em que seu Pai também trabalhava. Na imensa maioria das ocasiões, não parece que Jesus tenha "arquitetado" nada do que aconteceu. Os homens lhe levaram algo, e ele respondeu com sabedoria divina.

Paulo fez de tudo para entender e explicar o comportamento de Jesus, e certamente por isso os teólogos gregos se apaixonaram rapidamente por ele. Afinal, não podiam entender Jesus, assim como os rabis de Jó não podiam explicar a Deus.

Para os que insistem em prever o que Deus gosta ou não, talvez o hipopótamo saiba de algo.

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