Todos os cristãos dizem que crêem nas mesmas coisas, então porque tantos conflitos e defesas de quem está certo ou errado quanto ao que vem a definir um cristão?
Considero a teologia como uma forma racional de dizer o que determinadas coisas da fé significam. Neste sentido, devemos buscar tal qual Paulo, Pedro, Tiago, João, Lutero, Agostinho compreender o que cada coisa significa. Por isso, existem diversas explicações sobre a fé, porque para saber isto não basta olhar o texto, mas conhecer sobre a história, a cultura, o ser humano e os mais variados pensamentos sobre os diversos assuntos. E isto não é diferente de qualquer proposta, de qualquer seminário, em qualquer lugar do mundo.
A fé cristã é uma fé com racionalidade e sentido. Crer não conflita com o conhecimento, mas é dimensão mais profunda, onde se extrapolam os limites dos arrazoamentos humanos e se lança no mesmo vetor do mistério. Exemplo:
- Conhecemos muito sobre Jesus.
- Sua historicidade não requer fé, apenas constatação dos fatos.
- Acreditar em fatos não pertence à dimensão da fé, mas da racionalidade.
- A pessoa pode conhecer tudo sobre Jesus e ainda assim não crer nele.
- A fé não está na afirmação de que Jesus existiu, se fosse assim, diríamos que temos fé também em Colombo, pois ele também existiu.
- A fé está na afirmação de que este Jesus é o Cristo, Ele é a exata expressão de Deus.
Olhar para Jesus e ver o Cristo, isto se dá somente pela fé. Aqui entra a teologia: o que esta fé significa? Ela é plausível? Bíblica? Quais as razões para se crer que Jesus de Nazaré seja o Cristo? Vejamos:
Aprendemos que a FÉ É O FIRME FUNDAMENTO, nas versões mais recentes diz que a FÉ É A CERTEZA DAS COISAS. Não entendo que a doutrina seja o fundamento da fé. Conforme Paulo (1Co 13) a fé permanece, mas como expressamos esta fé e a conservamos precisa ser pertinente à realidade da vida, ou será uma fé morta, pois o maior de tudo é o amor. Em Atos 5 os fariseus reclamaram de uma doutrina pregada pelos discípulos, porém o que eles queriam dize,r se não existia doutrina sistematizada? Entendo que a resposta seja quanto a fé em Jesus Cristo o Senhor e Salvador, pois a fé dos judeus é em Deus o Senhor.
Comecemos com o escritor aos Hebreus que, ao ensinar sobre as relações da comunidade cristã entre líder e liderado, não diz para se conferir as doutrinas para ver se são as corretas, mas sim que, deve-se observar o RESULTADO DA VIDA naqueles que ensinam a Palavra de Deus e imitar-lhes a FÉ (Hb 13:7). Atentemos para esta questão central.
Por sua vez, Paulo ensina a Timóteo que se ele instruísse aos crentes a se livrarem da Lei, ele seria um bom ministro de Cristo, nutrido da verdade da fé e da boa doutrina (1Tm 4). O detalhe é a possibilidade de uma boa doutrina, sem uma lei, ou ordenanças. No início da carta ele informa que BOA DOUTRINA significa a FÉ no evangelho de Jesus Cristo.
Ainda na carta de Paulo a Timóteo, ele diz que as pessoas abandonariam a FÉ por darem ouvidos aos espíritos enganadores e doutrinas de demônios. Sabedor que Paulo não tem em mãos a doutrina da Reforma, de Calvino, de Armínio, de Agostinho, de Lutero, de Moltmann, de Berkhof, de Tomás de Aquino, Fundamentalista, Liberal, Católica, Protestante, Evangélica eu me pergunto: O QUE ELE QUIS DIZER? A qual doutrina ele se referia? Voltamos à resposta inicial: a FÉ.
Se a DOUTRINA é a FÉ em Jesus, faz sentido o que João coloca (1Jo 4) sobre o espírito do anticristo, que atua no mundo e nega que Jesus é o Deus que veio em carne. Portanto, desvia-se da FÉ quem dá ouvido a uma DOUTRINA que nega a encarnação. Como cristão, não abro mão disto em hipótese alguma, CREIO nesta verdade de FÉ.
Em Efésios 4 Paulo orienta a igreja que ajude na edificação uns dos outros na FÉ, não na DOUTRINA, justamente porque a DOUTRINA pode levar a pessoa a abandonar a FÉ. Para Tito 2 ele diz que a sã doutrina é ser moderado, digno de respeito, sensato e sadio na fé, no amor e na perseverança. E Paulo ainda nos ensina que mais profundo ainda seria o alicerce da FÉ que não é a DOUTRINA, mas Jesus Cristo (1Co 3). Mas ele também fala sobre a existência de um fundamento dos apóstolos e dos profetas, que também é sustentado pela pedra angular que é Cristo.
Aqui devemos nos perguntar o que seria o fundamento dos apóstolos? Aquele que não é como o sacerdócio judaico, mas sim o do sacerdócio universal dos crentes. Que Jesus Cristo, o sumo-sacerdote, fez de judeus e gentios um só e reconciliou o mundo com Deus. O fundamento dos apóstolos é o não à lei sacerdotal.
Qual o fundamento dos profetas? Jesus, como um profeta, convocava à mudanças. Em Mt 12 ao ser inquirido sobre a doutrina, responde com a convocação profética de Oséias: "Misericórdia quero e não sacrifícios".
Resumindo, Paulo não poderia defender doutrinas que não existiam, como estas que temos hoje, pois elas foram elaboradas depois de Paulo. Devemos nos lembrar que suas cartas são do período de Atos, tempo em que ainda não existia a catalogação de nenhuma doutrina. Enfim, vemos na própria Bíblia que o conceito de doutrina não é o que normalmente pensamos. Se quisermos ser fiéis ao espírito cristão precisamos encarar isto, ou vamos fazer da doutrina um fundamento, coisa que para os apóstolos é a fé.
Para que esta FÉ defendida pelos apóstolos faça sentido, tenha significado e comunique à presente geração, as doutrinas elaboradas precisam ser pertinentes ao mundo em que vivemos, ou a FÉ poderá morrer. Judas diz que iria escrever sobre salvação, mas percebeu a necessidade de convocar que os crentes batalhassem por esta fé entregue aos santos. Qual? Ele mesmo responde: A que não muda a graça, negando que Jesus Cristo é nosso único Senhor.
Temos uma concepção sobre doutrina diferente daquela colocada pela igreja primitiva. Não precisamos e nem devemos desprezar as doutrinas, mas ao pensarmos nelas devemos fazê-lo na mesma categoria que pensaram seus propositores: A razão de se ter uma doutrina. Não a doutrina em si, mas sim seu espírito, que era preservar a fé e não transformá-la em fé.
Crer nas doutrinas não salva ninguém e nem torna a pessoa mais santa. Há um só Senhor, Salvador e Mediador, que é Jesus e não a doutrina.
A partir disto convido-o a pensar comigo: se uma doutrina, por mais piedosa e tradicional que seja e mesmo que em nome da defesa da fé
- afasta a pessoa da graça
- coloca-a incrédula quanto ao amor de Deus
- impede-a de perceber Deus em Jesus
- leva-a a ser mais fiel à letra do que a Cristo; amar mais a doutrina do que o próximo
- para defender preceitos machuca pessoas, ensina apunhalar quem lhe estendeu a mão
- entre caráter e versículos prefere versículos
- não permite ver que é a bondade de Deus que leva ao arrependimento
devemos com humildade, sinceridade e espírito de oração repensar esta doutrina, pois ela não pode contrariar a FÉ que nos fundamenta e nem ser mais importante do que o que para Deus é mais importante:
"De todos os mandamentos, qual é o mais importante?" Respondeu Jesus: "O mais importante é este: 'Ouve, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus, o Senhor é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças'. O segundo é este: 'Ame o seu próximo como a si mesmo'. Não existe mandamento maior do que estes". (Mc 12:28-31)
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Esse texto foi achado durante a noite no quintal de http://www.elielbatista.com/2011/07/doutrinas-nao-salvam-e-nem-transformam.html, enquanto o Eliel Batista dormia. Depois de uma lustradinha na camisa, foi posto aqui. Limpou, tá novo.
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