Resolvi escrever sobre a MENTIRA porque trata-se de um assunto mais difícil do que parece. A Bíblia condena a mentira. Isso não é novidade para (quase) ninguém. Mesmo assim, a mentira permeia o mundo e as igrejas, pois não temos como sair do mundo. Jesus orou pedindo Deus nos guardasse do mal, mas aqui mesmo (Jo 17.15). Não vivemos entre anjos, quem poderia dizer que não leva consigo nada de maligno do mundo ao redor? Só citando, uma pesquisa mostrou que 90% dos norte-americanos admitem não ser SEMPRE verdadeiros... Seria plausível pensar que os cristãos são muito diferentes?
Há diversos tipos de mentiroso. Seria bobagem escrever páginas sobre cada tipo, referenciar sua condenação, etc, porque nem um só deles passa por inocente. Mentira nunca é bom. Além disso, ser um grande reconhecedor/classificador de mentirosos não vai fazer ninguém dar mais valor à verdade. Não vai fazer você deixar de mentir. Embora eu também não possa fazer isso, esse texto é uma tentativa utópica disso mesmo, fazer com que você se afaste da mentira.
A grosso modo, há quem mente PARA OBTER VANTAGENS e há quem mente PORQUE SUA MENTE ESTÁ TREINADA PARA ISSO. O 1º caso é mais simples: o indivíduo sabe que está mentindo, faz isso conscientemente e o faz pretendendo se comprometer o mínimo possível. É o que faz um vendedor tentando te convencer a levar algo que ele não gostaria de ter. Omitir detalhes ou “esconder” a verdade, dessa forma, também é mentir, ainda que a intenção possa ser boa. Antes que você chegue a alguma criança e conte que o Papai Noel não existe, tentando se fazer de “o falador de verdades”, no entanto, lembre-se que nenhuma verdade é útil por si mesma. As verdades são boas se podem ser compreendidas, se levam a algum lugar. As mentiras não levam: o que não quer dizer que toda verdade deva ser dita. Jesus criou muitas parábolas para quem Ele ensinava. Quanto aos mentirosos, Jesus já quebrou-lhe as curtas pernas quando declarou que no Seu reino, os maiores são aqueles que servem, a quem o mundo odeia. Pense bem nisso...
O “surgimento da mentira” é conhecido como INTELIGÊNCIA MAQUIAVÉLICA, e ocorre na idade de cerca de quatro anos e meio. Nessa idade, as crianças aprendem a mentir convincentemente. Antes disso, elas não entendem que há outros pontos de vista, por isso contam estórias fabulosas e inacreditáveis, sem esperar fruto algum disso. Logo que descobrem como uma inverdade pode evitar a punição, ou trazer benefícios, a “natureza mentirosa” se fortalece e a moral dos pais vai ser decisiva. Mentir faz parte da natureza de outros seres intelectualmente desenvolvidos: primatas enganam uns aos outros, leões enganam suas presas. Perceber o prejuízo na mentira e trabalhar o intelecto para evitá-la faz parte apenas do ser humano. Certas doenças mentais, como o autismo, privam a pessoa da capacidade de mentir.
O 2º caso de mentiroso é mais difícil de entender, e nem por isso menos comum. As pessoas aprendem a fazer coisas automaticamente, como desenhar as letras quando escreve ou dirigir um carro. Você pode aprender a mentira, e pode torná-la tão parte de você que a mentira será gerada antes da verdade. Esse é o mentiroso que se envolve, que aprofunda sua mentira e estende-a a muitos aspectos da vida. Algumas pessoas geram para si mesmas estórias de vida inteiras! A maioria dos “mentirosos compulsivos” não chega a tanto, mas contam mentiras tais que se comprometem ou dificultam a própria vida. Mentir faz parte da sua natureza e muitos deles não gostam disso.
Qual dos dois é mais culpado? Ambos. Eles sabotam a verdade para obter benefícios. O 1º tipo faz isso para ter ganhos racionais, como por exemplo ser promovido. O 2º tipo faz isso para ter ganhos emocionais, como por exemplo fazer lógico um sentimento de superioridade. O sentimento não é racional, daí que a criação dessa mentira também ocorre “por debaixo do pano”, isto é, sem que a pessoa se dê conta. Ela tem medo de altura, então pode gerar toda a estória de um acidente aéreo na infância. Ambos os tipos de mentiroso precisam ser tratados, pois Deus não compactua com a mentira. Jesus disse que Ele era A VERDADE. E quando digo tratados, falo isso porque muitos mentirosos (do dois tipos) dificilmente deixam esse mal-hábito.
Certa vez li um artigo onde a mentira era tratada como uma espécie de possessão. Livrar-se dela seria o equivalente a lutar contra um “espírito imundo” e pedir a Deus que o livrasse dele. Sem dúvida, esse tratamento é eficiente. Se a mentira não faz parte de Deus, o Espírito Santo é uma arma poderosa contra ela, e vice-versa. Ao escolher a mentira para o próprio bem, mesmo de forma inconsciente e automática, deixamos de lado o 1° Mandamento: “não terás outros deuses diante de mim”. Esse dEUs não é de barro, ouro ou prata, mas ele nos afasta do Deus verdadeiro. O mundo dos negócios é particularmente atormentado por esse problema: a desonestidade, as reuniões "esquecidas", o roubo de empresas, promessas não cumpridas, contratos quebrados, etc. Nunca se quebraram tantos contratos entre os homens como hoje em dia!
“Quando eu era jovem, fazia grande esforço para me certificar de que meus pais não descobririam as notas baixas. Agora tenho 46. Eu arruinei meu casamento. Menti para minha esposa para que tudo parecesse estar bem, a maioria das mentiras tem a ver com coisas financeiras. Eu emprestava dinheiro e não contava a ela sobre isso. Tinha muito medo que, se descobrisse, ela me deixasse. As mentiras ficaram tão grandes e numerosas que agora eu não a culpo por querer me deixar. Eu a amo muito, mas ainda não parei de mentir. Ela acha que eu tenho uma namorada e há muitas outras partes da minha vida que ela não conhece. O estranho é que eu nunca poderia sequer olhar para outra mulher...”
Esse é o relato de um mentiroso compulsivo. Ele não gosta, mas mente. A razão disso é o orgulho: somos orgulhosos e preocupados com o que os homens vão pensar de nós, ao invés de o que Deus pensa de nós. Todos nós, às vezes, não conseguimos fazer as coisas que temos intenções de fazer ou somos impedidos de fazer. Se somos incapazes de cumprir um compromisso, precisamos ser capazes de admitir nossa fraqueza e cancelar, ou dizer que chegaremos atrasados. Todos temos fraquezas: parecer não tê-las é orgulho e desonestidade para com os outros.
Pv 6.16. Estas seis coisas o SENHOR odeia, e a sétima a sua alma abomina: (1) olhos altivos, (2) língua mentirosa, (3) mãos que derramam sangue inocente, (4) o coração que maquina pensamentos perversos, (5) pés que se apressam a correr para o mal, (6) a testemunha falsa que profere mentiras, e (7) o que semeia contendas entre irmãos.
Olhos altivos, língua mentirosa, a testemunha falsa... o que o subconsciente nos leva a buscar! No córtex pré-frontal do cérebro, os mentirosos patológicos têm 26% mais massa branca do que as pessoas que não mentem. Esse desenvolvimento lhes aumenta capacidade de criar estórias. Por outro lado, a menor quantidade de matéria branca é típica de autistas. As mentiras patológicas não são planejadas, são espontâneas. Esse mentiroso é um repentista que semi-acredita na sua própria criação. Nem são mentiras úteis: você pergunta o que ele fez no sábado e ele diz que ele foi ao shopping, viu um cara tentar roubar uma loja, mas ele foi pego por dois policiais fora de serviço. E depois você descobre que ele estava na casa da namorada.
Ele reconhece que os "fatos" são mentiras, mas não a essência, o espírito. "Ok, olhe, eu realmente não fui ao shopping". Mas em sua mente, ele lembrou de um filme, de algo que leu, sua mente imediatamente juntou isso ao mundo real e a estória surgiu. Porque ele está cansado? Porque estava ajudando os policiais, aqueles que prenderam o bandido.
Cabe um tratamento do tipo “calma, pare e pense, use sua criatividade de outra forma” para esse sujeito. Sempre criam situações que os valorize ou beneficie de alguma forma, por isso cabe fazê-los pedir ajuda Espírito Santo antes de falar, antes de tomar suas decisões.
Essa sede de admiração é o que precisa ser sanado, em todos nós. Lembre-se que o 1° relato de uma ação do diabo junto aos homens foi sugerir que poderíamos ser como Deus. Mas não podemos. Deus cria o mundo, não nós. Nos cabe somente aceitá-lo e usar da melhor forma possível, isto é, buscando o que Deus ensinou, não o que nós queremos.
Fabrizio
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