sábado, 26 de março de 2011

Sobre pipas e piões



Duas brincadeiras me fascinavam quando criança: soltar pipa e rodar pião. O engraçado é que são justamente as que eu menos sei fazer. Falta-me a habilidade para ambas. Admiro quem sabe rodar o pião e quem sabe colocar uma pipa no alto e manejá-la bem (só colocar no alto, até eu faço). Pipas e piões são brinquedos que têm muito a nos ensinar em suas táticas, maneiras e modo de serem usados. Somos como pipas e piões...

Piões são brinquedos que só funcionam se desenrolados, se livres daquela cordinha que lhes dá “vida própria”. Assim somos nós só funcionamos bem se desenrolados. Mas não quero dizer com isso que são ruins as “cordas” que nos enrolam. Não, são elas que nos impulsionam, são elas que nos dão forças para girar e girar. 

Assim são os problemas para com a nossa vida. Devemos encará-los como força motriz de um novo caminhar. Ao nos livrarmos deles, percebemos o quanto serviram para o nosso amadurecimento, para “rodarmos” direito. Um pião mal-enrolado nunca girará corretamente. Até me faz lembrar as palavras antigas de um sábio... “no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo”.

Pipas são fascinantes também... vivem no céu. Uma pipa nunca é tão bela no chão quanto é no ar, confiando na força do vento. Conta-se que um aprendiz de feiticeiro encontrou-se com uma formiguinha numa de suas caminhadas entre a serra e o mar. Ao ver a formiguinha carregando uma folha bem maior que ela mesma, o moço perguntou: Como consegues carregar uma folha tão pesada em um corpo tão pequeno? A formiguinha respondeu-lhe sorrindo: Aprendi a confiar na força do vento!

Essa é a lição da pipa: confiar na força do vento. Saber que o vento sempre lhe levará a um lugar bonito, onde poderá demonstrar toda a sua beleza e encantar crianças e adultos que sempre estarão dispostos a contemplar a beleza de pipas coloridas rasgando o céu azul.

Interessante é que o mesmo sábio que disse que teríamos aflições no mundo, também disse algo sobre o vento:O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai... assim é todo o que é nascido do espírito”. Engraçado é que no grego clássico as palavras “vento” e “espírito” são uma só: PNEUMA. Há uma identificação do vento com o espírito.

Precisamos confiar na força do vento, deixar que ele nos mostre o caminho, confiar que há algo melhor “além do arco-iris”. Não nos prendermos a coisas materiais, de forma que sejamos mais livres. O vento sopra onde quer... uma hora aqui... outra ali, não sabe pra onde vai... assim é todo aquele que deixa se levar. Pessoas mesquinhas estão sempre presas, não sabem o que é se deixar levar pelo vento. Nunca experimentaram a alegria de voar leve, à toa! Mas há ainda duas coisas que quero falar sobre pipas e piões: uma que os distingue e outra que os une, que os torna iguais. E ambas nos trazem lições importantes.

A primeira, que os distingue, é que piões rodam no chão, na terra, e pipas voam, estão sempre nos ares. Essa é a primeira lição: transcendência e imanência. Sentimento e ação. Precisamos voar e ter os pés no chão. Saber a hora de levantar vôo, viajar, transcender e saber a hora de pôr os pés no chão, caminhar firme, enfrentar o pó da estrada e a hora da união. Verbo se fazendo carne.

A segunda lição, que os une, é essa: pipas e piões só têm beleza se manejados por mãos habilidosas. Como eu disse, nunca tive essa habilidade. Pipas e piões não são pra qualquer um. Nossas vidas, como pipas e piões, só se mostrarão belas em mãos seguras, habilidosas. E não há mãos melhores para pipas e piões do que as mãos que os fazem, assim como não há mãos melhores para o homem do que as mãos do criador. 

O sábio a quem me referi no texto é Jesus, o Cristo, criador de todas as coisas. Ele declarou que não deveríamos nos desesperar com os problemas... porque ele os venceu. Não há meio melhor de voar, nem jeito melhor de girar do que “impulsionados” pelas mãos de quem tudo criou: aquele “que até o vento lhe obedece”.

Com todo carinho, José Barbosa Junior.

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