quinta-feira, 31 de março de 2011

O Pecador e o Crente



O Pecador vivia se sentindo culpado por seus pecados e achava que Deus de maneira nenhuma iria aceitá-lo na igreja. Por isso vivia triste, pois sua vida era normal e em nada se parecia com a do Crente. 

O Crente vivia em uma redoma virtual, que lhe afastava das pessoas que ele julgava como pecadoras e que por isto, não poderiam estar com ele. A não ser que se tornassem como ele e passassem a freqüentar a igreja, todos os domingos e a dar o dízimo com regularidade. Tinha que entrar no padrão dele. Afinal o padrão dele era o padrão de Deus, a bíblia mostrava. Ele estava na presença de Deus e o Pecador já estava nas mãos do diabo. Ou melhor, todos os que não estavam no padrão estavam “diabolizados.” 

Certo dia, o Pecador se sentiu muito mal com sua vida, foi ao Crente e disse que queria mudar, gostaria de ser salvo. O Crente deu glória a Deus e disse que um milagre havia ocorrido, aquele homem era o mais irreversível caso de pecador. O diabo já o tinha como súdito, disse o Crente. Agora Deus aceitaria a ele. Entretanto, ele teria que cumprir regras e padrões bíblicos, senão o Senhor o rejeitaria.

Aquele homem Pecador foi então aceito na igreja, foi batizado e passou por todo o processo de escola dominical e discipulado.

O tempo passou e o Pecador viu muita coisa na igreja, mais o que mais lhe chamou atenção era o fato de que os irmãos não eram diferentes do que ele havia sido. O Pecador passou a olhar detalhadamente e percebeu que muitos dos que ali estavam tinham uma casca. Era uma casca dura, não dava para ver através. Passou então a tentar arrancar alguns pedaços das cascas, para ver se conseguia ver algo.

A cada casca retirada, ele percebia que por dentro havia algo muito diferente. O cheiro não era muito agradável, a casca deixava suas mãos imundas. Ele lavava as mãos, mas era difícil se livrar do cheiro das cascas. O mais interessante é que se ele não olhasse rápido quando a casca saía, ele perdia a oportunidade de ver, pois a casca se refazia com imensa rapidez.

Aos poucos e com muita determinação, ele foi verificando que os irmãos diziam que tinham fé, mais viviam murmurando. Diziam que eram felizes, contudo não tinham sorriso no rosto. Nos cultos falavam de amor, mas fora da igreja pareciam-se mais com déspotas do que com as pessoas amáveis que na igreja recebiam os que chegavam. Casais que na igreja entravam juntos e que jamais andavam juntos, apesar de morarem sob o mesmo teto. Homens que falavam de moral, mas seus olhares eram muito mais "amorais" que muitos atos praticados. Irmãos que oravam juntos, mas ao terminar a oração falavam mal daqueles que haviam estado ao seu lado orando. 

Quanto mais o Pecador tirava as cascas, mais ele via. Ele se tornou um especialista em tirar cascas. Foram tantas cascas que o Pecador - agora crente - não se apercebera que sob ele havia se formado uma casca. Ele agora via a casca dos outros, contudo não percebia a grossa casca que nele estava. Os irmãos agora o admiravam e viam nele um homem de Deus. Ele tinha se tornado um crente. "Glória a Deus, aleluia, por que se juntou a nós em nossas fileiras, temos mais um soldado do Senhor !". 

Orgulhoso, o Ex-pecador, agora crente, estava cascudo. Sua casca havia se tornado mais grossa do que qualquer outra jamais vista. Sentia-se forte e protegido por sua casca. Nada poderia romper aquela casca santa. Os seus inimigos não poderiam fazer com ele o que ele fez com os outros e arrancar-lhe a casca; estava seguro. 

Certo dia o Ex-pecador, agora crente, encontrou um pecador muito parecido com o que ele fora. Ele olhou e logo se reconheceu naquele homem. Chamou o homem para ir à igreja, mas o homem disse que já era da igreja. Aquilo levou o ex-pecador à revolta: saiu esbravejando e amaldiçoando o homem em seus pensamentos, mas manteve a sua postura cascal. A que raios de igreja aquele homem-do-pecado pertencia? Ele tinha que ir lá para dizer que Deus não poderia aceitar um homem como aquele. Ou ele mudava, ou Deus o rejeitaria. Quem seria o pastor daquele homem? Será que ele não via? Será que ninguém via?

Então o Ex-pecador, agora crente, resolveu ir até o homem e falar com ele. Ao se deparar com o homem, o Ex-pecador, agora crente, sentiu repugnância da sua imundícia. Como poderia alguém ser tão sujo? Assim mesmo, ele disse ao homem que gostaria de conhecer a sua igreja e o seu pastor. O homem abriu um largo sorriso e disse a ao ex-pecador, agora crente, que estava pronto para levá-lo a hora que ele quisesse. O ex-pecador, agora crente, então nervoso pediu para que no dia do culto falasse, que ele iria. Para sua surpresa, o homem lhe disse que não havia necessidade de esperar, ele poderia ir agora.

O Ex-pecador, agora crente, ficou abismado, e pensou que deveria ser uma destas igrejas que não fecham, ficam o dia inteiro abertas, e topou. Pediu para que fossem logo. Foi quando o homem lhe respondeu que já estavam na igreja. O Ex-pecador, agora crente, olhou ao redor e soltou uma enorme risada, dizendo que o homem era um brincalhão. Mais o homem insistiu que estavam na igreja. Muito furioso, o Ex-pecador, agora crente, perguntou onde estavam os instrumentos, o púlpito, onde era dado o sermão, onde estavam os membros, e onde era a escola dominical, onde estava o gasofilácio? Mas o principal ele guardou, esperou o homem responder as estas perguntas para fazer a pergunta-chave.

O homem, muito sereno, pediu que ele se acalmasse e olhasse com muito cuidado ao redor. O Ex-pecador, agora crente, sorriu e olhou. Seus olhos percorreram um descampado onde algumas árvores margeavam o caminho ao qual ele havia encontrado um homem, que estava assentado em um banco todos os dias àquele horário. Havia pássaros nas árvores, cantando. Não havia muita coisa ao redor: só a natureza de um singelo parque que cortava a cidade. O Ex-pecador, agora crente, estava mais calmo e riu-se. Como o homem era louco... Ele estava conversando com um louco! O homem então lhe mostrou a natureza em volta e começou a falar de Deus criador de todas as coisas e que sustentava tudo aquilo e muito mais pelo Seu poder. O Ex-pecador, agora crente, ouvia e começava a observar a natureza que estava a sua volta. Foi deixando-se levar pelas palavras mansas do homem e quando percebeu, estava relaxado e tranqüilo. Olhou e sentiu-se livre como nunca antes havia se sentido em uma igreja. Mas que igreja? Ali não havia igreja. Era só um homem falando.

Então o homem lhe lembrou que, quando mais de um se reunisse em nome de Jesus, Ele, Jesus, estaria presente. O Ex-pecador, parou e começou a olhar para ele mesmo. Começou a relembrar do momento de sua conversão... Ele sentiu um bater de coração diferente, como havia sentido da primeira vez que havia se encontrado com Jesus. Mais fazia muito tempo que o Ex-pecadora, gora crente, já não sentia mais a presença de Jesus. Eram tantas tarefas e tantas obrigações, que apenas nas orações ele se lembrava de Jesus. Afinal a igreja era mais importante, pois através da igreja o mundo veria que Jesus é o Rei e Senhor.

Foi quando o Crente, ex-pecador, fez a pergunta chave: Quem é seu pastor? Ao que o homem prontamente respondeu...

– Meu pastor é Jesus.

Naquele instante a casca do Crente, ex-pecador, começou a rachar, deixando o mesmo em total desespero. O homem então lhe falou "De que tens medo?" Ele respondeu "Sem minha casca eu vou morrer". O homem então lhe perguntou "Irmão... Pode um homem morrer duas vezes?" "Como assim?" "Você já morreu em Cristo, e também Nele já ressuscitou..." Mais o homem tomado por desespero começou a olhar para si... Começou a se perceber e ver o quanto tinha mudado. Ele havia se tornado um homem de Deus, contudo havia encoberto tudo com a casca, que não o deixava ver aquilo que Deus havia feito a ele lá no inicio na sua conversão. Agora ele via que a casca o havia afastado de Deus e o tornado religioso, cheio de regras e de salamaleques, cargos e aparências, mas sem amor. Ele olhou para dentro de si, e viu o primeiro amor. Ele ficou tão feliz de saber que o amor não havia se perdido que deu um beijo no homem, e saiu como um louco a pregar o Reino de Deus novamente.

Ele falava de salvação feita por Jesus, para todos os homens. Falava da graça maravilhosa que permitia a um pecador como ele ser salvo. Ele fez questão de ir a sua igreja e falar aos irmãos do amor que ele havia recuperado. Para sua surpresa, quando chegou, a igreja seus irmãos não o reconheceram. Ele dizia... "Irmãos sou eu, vejam, estou amando como nunca". "Quem é você?", diziam os crentes. "Sou eu, não me reconhecem?" "Onde está a tua casca?" "Quebrou-se". "Então já não é um dos nossos". "Irmãos, vocês não estão vendo que a casca está lhes afastando do amor". "Que amor é este que falas? Somos crentes da igreja mundial da catedral universal batista presbiteriana nazarena de Cristo". "Pois é, é do amor de Jesus que estou falando. Quando minha casca se quebrou eu pude ver". "A quem viste?" "Jesus!" "Como podes tu ver a Jesus, se nós que temos a casca não o vimos?" "Eu o vi, e Ele em mim estava, e em vocês também está, mas a casca impede vocês de verem o Seu amor". "Afaste-se de nós, tu estás possuído, já não o reconhecemos e não sabemos a quem segues ou de quem és tu discípulo".

O Crente, ex-pecador, agora era considerado louco por seus irmãos da igreja. Entretanto, começou a encontrar nos dias que se seguiram outros loucos, muito felizes pelo caminho, e a quantos ele ia encontrando falava do amor de Jesus e do Pai, e o Espírito de Deus estava com ele, e muitos se rendiam ao Espírito da Verdade. Então ele viu que já não era mais pecador, agora estava lavado e remido, pelo sangue do Cordeiro. E o Amor de Cristo nele estava. Ninguém que viesse até ele ficava sem saber a verdade, ele a todos falava e a todos amava. Mas os ex-pecadores, agora crentes, olhavam e diziam que ele estava morto. Muito ele se alegrava, pois agora sabia ele que morrera em Cristo e com Cristo, estando com ele já assentado nos lugares celestiais. Nele anda o Rei Jesus, que está voltando e vive no coração de todos os que o amam.

Sergio Valle

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