sábado, 20 de novembro de 2010

7 goles de um cálice de dor

estudo por Frankcimarks Oliveira
uma análise das várias etapas do sofrimento de Cristo


E, indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.E, indo segunda vez, orou, dizendo: Pai meu, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade (Mt 26.39,42).

I. Um momento de prazer antes do Cálice
a. Comunhão com seus discipulos na última ceia (Mt 26.20)
b. Adoração através de louvores: entoação de um hino (Mt 26.30)

II. As etapas do Martírio:

1° gole: grande angústia acompanhada de indiferença por parte dos discipulos (Mt 26.36-38,40)

2° gole: a traição de Judas (Mt 26.47-50)

3° gole: condenação religiosa com agressão física e humilhação em público(Mt 26.67-68)

4° gole: a negação de Pedro (Mt 26.69-75)

5° gole: condenação política e popular. Cristo sente a dor da rejeição popular, a indiferença das autoridades políticas (Mt 27.15-26)

6° gole: o escárnio dos soldados romanos. As forças militares agrediram fisica e emocionalmente a Cristo expondo-o a vexação e ao constrangimento diante de todos (Mt 27.27-31)

7° gole: a crucificação (Mt 27.35,38)

Entender o Cálice de Cristo faz-me compreender que seu sofrimento foi bem maior que nossa mente possa captar. Achamos que sua dor foi ali na cruz, porém os evangelistas nos mostram que seu cálice começou a ser degustado ali no monte das Oliveiras. Sua alma estava num estresse incalculável, Jesus chegou a suar gotas de sangue enquanto orava ao Pai.

Cristo partilhara seus sentimentos com seus amigos, sempre dizia que viera para dar sua vida em resgate de muitos, mas nesta última ceia vemos um clima mais tenso, de tristeza, de muita angústia. Primeiro da parte de Cristo que já contemplava seu cálice de Dor, depois da parte dos discípulos, que temiam ser o traidor do Mestre. Ainda assim percebemos que Jesus alegrou-se por estar com seus discípulos, pois até cantou um hino.

No entanto, percebemos que os discípulos não vislumbravam perfeitamente o que estava por vir, se contemplavam não queriam aceitar a realidade, pois dormiam enquanto Raboni sofria de solidão. Alguns psicólogos dizem que o ato de dormir era resultado do medo que eles sentiam de perder o meigo Nazareno, era uma forma de anestésico, o único modo de não vivenciar a verdade nua e crua.

Quantos hoje não usam deste artifício para fugir de suas realidades? Porém Jesus nos ensina a encarar os fatos, com coragem de um guerreiro. Ele não fugiu dos soldados, pelo contrário, quando interrogado disse: “Sou eu a quem vocês procuram!”

Precisamos aprender muito com o Mestre da Galiléia! Mesmo tendo o poder de invocar legiões de miríades celestes não o fez, foi forte! Jesus sentiu uma dor em sua alma, uma tristeza negra e profunda ao ponto de ser chamada até a morte. Ninguém estava ali para consolá-lo.

Saiba que devemos aproveitar ao máximo nossas vidas. Jesus jantou, cantou, aproveitou os últimos instantes de sua vida fazendo o que lhe dava prazer: Estar com seus amigos! Creio que o Mestre queria deixar uma boa lembrança na mente de seus discípulos, queria que se lembrassem do quanto ele valorizava esses momentos em volta da mesa, bem junto deles.

Infelizmente nos momentos mais difíceis de nossas vidas, nem mesmo aqueles que estão em nossa volta podem nos ajudar. Somos nós e Deus... é o momento em que a azeitona exprimirá seu azeite. Não é à toa que o Senhor estava naquele horto chamado Monte das Oliveiras (Getsemani) ou lugar do lagar, lugar onde se espreme a azeitona. Jesus foi exprimido na moinha da vida, com grande ímpeto, sua carne foi dilacerada para que depois de feito tudo Ele pudesse derramar seu azeite, ou seja, seu Espírito Santo.

Foi na oração que Cristo encontrou um conforto naquele momento tão difícil de sua vida terrena. Orou por três vezes, cerca de três horas, incansavelmente. Não bastava sua emoção estar abalada ao contemplar aquele cálice em sua mente, creio que enquanto orava, enxergava a via crucis em seus pensamentos. Para abalar um pouco mais seu sentimento, um amigo seu o trairia com um gesto cotidiano em seu relacionamento: Um beijo.

Digo isso sem medo de errar. Judas traiu Jesus da pior forma possível, pois usou a própria intimidade que tinha com o Mestre Jesus. Era um costume do povo oriental cumprimentar-se com ósculo santo, lavar os pés dos visitantes e etc...

Quando recebeu o beijo, Cristo chamou Judas de amigo... isso explica sua dor. Ser entregue por um inimigo não dói, porém ser traído por um amigo dói muito. Muitos falam de Judas como se ele sempre fosse um vilão. Entenda uma coisa: Judas, ao ver Cristo, sentiu uma revolução em sua alma, pois ali estava o desejado de todas as nações em sua frente, o cumprimento das profecias de seu povo, a chance de libertação do jugo romano, e foi por não ver o reino político do Messias na terra vigorar que Judas decepcionou-se e muito com aquele que outrora incendiara sua vida de esperança.

Ele perdeu a visão do céu e vendeu o rei da glória como um simples escravo (30 moedas)... Jesus havia perdido o seu valor para Iscariotes. É triste quando as pessoas desvalorizam o Senhor por não esperarem suas promessas e por se precipitarem em suas ações carnais. Deixa o Deus do tempo agir na hora certa!

O beijo de Judas foi como uma faca afiada, não na carne de Jesus, mas em seu sentimento, que já estava bem abalado pela angústia da morte. Estes fatos vão ocorrendo quase que simultaneamente, imagina administrar todo este caos, saber lidar com tantas perdas e frustrações ao mesmo tempo. Lembro-me até de Jó.

Augusto Cury diz que mesmo com tantos problemas, Cristo não foi flutuante em sua emoção, não sentiu depressão nem qualquer outra doença da psique. Ele tinha todos os motivos para apresentar uma doença dessas, mas lidou muito bem com tudo isso.

Jesus foi humilhado diversas vezes publicamente, primeiro pelos religiosos de sua época, depois pelo poder político, pela população em geral e pelo poder armado, militar, ou seja, todos os setores da sociedade desprezaram-no, rejeitaram-no e agrediram-no.

Dizem que é pior morrer aos poucos que morrer de uma só vez. Não houve um "tiro" de misericórdia com Cristo. Ele foi sentindo o gosto do sofrimento, da solidão, da angustia, da traição, da humilhação, do desprezo, da indiferença aos pouquinhos. Foram matando o Mestre de forma lenta e gradual, ao ponto de percebermos sete goles de um cálice de dor.

Pedro também o traíra, negando diante de pessoas que nada poderiam fazer contra ele,visto que eram pessoas comuns, que não exerciam nenhum poder na sociedade. Pedro não negou Jesus diante de chefes religiosos e nem políticos, mas negou-o diante de uma vendedora de púrpura e de homens simples. Pedro o negara por três vezes. Havia convivido com Cristo por três anos, é como se tudo aquilo que vivenciara ao lado de seu Mestre tivesse sido inútil, fútil e sem valor.

Mas mesmo assim Jesus o amou e o perdoou. Lucas diz que na hora em que o pescador o negara, Jesus fitou nele seu olhar, como se dissesse: Não temas, eu te entendo e mesmo assim te amo...

Depois de tantos goles vemos um Cristo forte, que até mesmo na cruz rejeitara beber vinagre com fel, que servia de anestésico em sua época. Cristo não foi um coitadinho não, mas foi o Senhor forte nas batalhas. Agüentou até o fim, já havia bebido seis goles, não desistiria no sétimo! Jesus quis sentir cada momento de dor, pois o que fez foi por amor, então valia a pena.

Imagino o Senhor tendo de enfrentar aquela multidão, que preferira um assassino truculento ao meigo Rabi da Judéia que ensinara sobre o amor e o perdão, ensinara sobre servir a Deus e adorá-lo e amá-lo como Pai. Barrabás deixara seu legado de injustiça. Cristo deixara seu testemunho de vida santa. Mesmo assim escolheram o engano e desprezaram a verdade. Geralmente isso sempre ocorre nas eleições humanas. Jesus morreria por um povo que não lhe dava honra, não o respeitava e que queria sua morte.

Sabemos que as massas são manipuláveis e aqui não foi diferente, os Fariseus influenciaram o povo a optar por Barrabás. Por fim ali na cruz a vergonha e a humilhação. Cristo fora condenado como um criminoso, pois ao seu lado estavam ladrões, salteadores. O pior é que puseram-no no meio de dois, é como se Cristo fosse o pior de todos, o líder dos criminosos e rebeldes de sua época.

Cristo dividiu a história em antes e depois de Cristo, ele divide a vida de um homem em velha criatura e nova criatura, por isso morrera na cruz. Nesses sete goles de um cálice de dor percebemos que o sacrifício de Cristo vai além da compreensão humana. Sua dor, seu sentimento e sua coragem foram eternizadas.

Quero terminar com o último gole:

E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito (Jo 19.30).

Ao ver que já estava para morrer, Cristo então bebe o vinagre, o que antes não fez, para sentir toda nossa culpa. Em ato profético ele demonstra que bebeu todo o cálice que Deus havia preparado. Cálice na bíblia nos revela muitas vezes a ira de Deus, ou seja, a ira que estava preparada para nós bebermos, Cristo bebeu por nós em sete goles terríveis para nos proporcionar a salvação.

Com gosto de vinagre nos lábios ele diz: Está feito, está consumado. Bebi todo o cálice de Deus para salvar os pecadores. Aquilo que eu tinha pra fazer eu fiz, cumpri minha missão.

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