sexta-feira, 26 de março de 2010

A Ilusão do Pecado

Há alguns dias eu conversava com um amigo que se diz agnóstico e ele me fez uma pergunta muito interessante: “Se eu como Cristão vier a pecar, o que acontece?”. Naquele instante eu respondi quase que automaticamente sobre a misericórdia de Deus, a eficiência do sacríficio de Cristo por mim e o seu papel como meu advogado diante de Deus. Simples. Do jeito que eu sempre li e aprendi.

Algum tempo depois encerramos o assunto e eu como quase sempre faço, saí da mesa fazendo uma retrospectiva da discussão, repassando as perguntas e as minhas respostas. E foi aí que eu percebi a minha ilusão…
Eu me lembrei da pergunta do meu amigo e pensei “como assim, SE eu vier a pecar?!”
Bom… Vamos lá. Em primeiro lugar, o que é pecado, afinal? Segundo a Bíblia, entendemos que pecado nada mais é do que a desobediência a Deus.
É relativamente simples. Deus é perfeito, santo e justo e na Sua perfeição, santidade e justiça, definiu uma série de regras morais e de conduta, não apenas para o Seu povo, mas para toda a humanidade. Os 10 Mandamentos são o que podemos chamar de resumo ou a base dessas regras definidas por Deus.
Se algum homem quiser agradar à Deus (quiser ser aceito por Ele, ser chamado Seu filho, etc…), deve obedecer a esses mandamentos sem exceção. E a desobediência de qualquer uma dessas ordenanças é o que a Bíblia chama de pecado. Simples, certo?
Olhando pra essa lista – os 10 Mandamentos, eu rapidamente percebo que a questão não é SE eu pecar… Afinal, quem nunca mentiu, por exemplo? Quem nunca pensou mal de outra pessoa? Quem nunca cobiçou nada de alguém? Quem ama a Deus acima de todas as coisas?!
Se eu for minimamente honesto comigo mesmo, logo percebo que eu não sei o que é não pecar, pois tenho pecado desde que nasci (a desobediência é de berço) e não fosse a educação que recebi de meus pais (e família) e alguma influência social (do meio em que cresci), não haveria muita diferença entre um assassino estuprador e eu.
Mesmo que eu não mate, não roube, não minta, não cobice, não tenha ídolos (tipo carreira, dinheiro, sucesso, e uns outros tantos), respeite meus pais e siga vivendo praticamente como um monge, eu ainda não estarei livre de mim mesmo. E esse é o maior problema… o maior abismo entre eu, e Deus sou eu mesmo.
Eu passo o dia todo, todos os dias pensando em mim mesmo. E ainda por cima sou orgulhoso demais para admitir que preciso de Deus.
É lógico que Deus me ama – eu digo na minha cegueira – Eu sou uma boa pessoa (tenho minhas falhas, mas ninguém é perfeito), eu faço o bem para as pessoas à minha volta, eu dou esmolas, faço caridade, ajudo a quem precisa, eu, eu, eu…
Assim, eu crio essa ilusão de pecado. Eu tenho essa lista de pecados que não cometo, tipo matar, roubar, mentir (mentiras ‘brancas’ não contam), obedecer às leis, etc. E acho que está tudo bem entre Deus e eu.
Eu desenho uma balança bem grande e coloco todas as coisas boas que eu faço de um lado. Do outro lado, eu coloco todas as coisas que eu acho que talvez deveria fazer, mas que no fundo, convenhamos, quem é que faz de verdade, não é?
Aí eu crio esse senso de justiça completamente distorcido e infinitamente distante da verdadeira justiça de Deus e penso comigo mesmo “Bom, se esse negócio de inferno existe mesmo, eu não irei pra lá… Afinal! Olha a minha balança como está pendendo em minha vantagem! Deus sabe que eu sou uma pessoa boa…”
Lembra-se do orgulho? Não é o orgulho de um pai sobre um filho que tirou nota 10 na escola. Estou falando daquele sentimento de que somos maiores ou melhores do que outras pessoas, que temos prioridade sobre os outros, de que merecemos aquilo que temos e principalmente o que ainda não temos. Ego, conhece? A gente vive buscando a nossa própria satisfação, fazendo aquilo (seja uma coisa boa ou ruim) que nós gostamos de fazer, de acordo com a nossa vontade, pra nos agradar…
Vamos fazer um rápido exercício mental:
Só hoje, quantas vezes você reclamou de alguma coisa ou de alguém?
Só hoje, quantas vezes você pensou mal de alguém? Qualquer crítica já vale, não precisa ir muito longe…
Só hoje, quanto tempo você já passou pensando nas coisas que você quer (ter, comprar, fazer, etc)?
Só hoje, quanto tempo da sua vida (e da vida dos outros) você perdeu?
Só hoje, quantas coisas você deixou de fazer por preguiça?
E por último, quanto tempo (horas, dias, semanas) você consegue ficar sem pensar em você mesmo?
Sentiu a dificuldade?
A culpa é uma coisa interessante… A culpa corrói o nosso interior… É como a ferrugem corroendo um metal, desgastando a sua superfície, tirando toda a pintura cromada e revelando fraqueza do material.
A culpa nos mostra de que ao contrário do que muitos tentam argumentar, existe sim um “certo” e um “errado”. No fundo da sua alma todo mundo sabe disso. A benção da culpa, é ela que nos revela a santidade e a justiça de Deus. Afinal, se eu estou errado, eu estou errado de acordo com um padrão maior. E esse padrão é o padrão de Deus.
Mas eu, por mim mesmo, nunca conseguirei alcançar esse padrão! E ao concluir isso, eu vejo que a única coisa que me resta é a morte (tanto física como espiritual que é a separação de Deus). Como disse Paulo em Romanos 3:12 “Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só.”
Por que, afinal, Deus faria então um conjunto de regras que ninguém jamais conseguiria obedecer e ainda exigir a obediência completa dessas regras em troca da salvação?! Isso não me parece muito justo! Ninguém consegue obedecer os 10 Mandamentos. Jesus mesmo resumiu todos esses em apenas 2 mandamentos (Amar a Deus acima de todas as coisas e ao meu próximo como a mim mesmo) e nem assim eu consigo obedecer e me ver livre de pecar, nem assim eu consigo agradar a Deus!
Se hoje eu fosse responder aquela pergunta do meu amigo, a minha resposta teria que ser mais ou menos assim:
“A questão não é SE eu pecar, mas sim QUANDO eu peco.”
Hoje eu sou perdoado dos meus pecados não por que consigo obedecer às leis de Deus, mas simplesmente por que Jesus obedeceu todas elas no meu lugar, e ainda pagou o preço (a morte) pelos meus pecados. Tudo isso mesmo eu sendo inimigo de Deus. Mesmo eu sendo orgulhoso demais pra aceitar a Sua existência ou a minha necessidade dEle. Ele me amou incondicionalmente com todos os meus defeitos… Sem que eu merecesse…
Isso é a graça de Deus. Isso é a prova maior do seu amor pela humanidade.
A culpa, como eu dizia, nos revela a nossa necessidade de perdão. E o perdão de Deus é dado gratuitamente à todo aquele que se arrepende de seus pecados, crê que Jesus é o Cristo, o Salvador, Filho de Deus que morreu em seu lugar, por causa dos seus pecados e entrega a sua vida, o seu coração a Deus.
Não existe culpa tão grande que não possa ser perdoada. Se a culpa é grande, o Amor e a misericórdia são maiores ainda.
Sendo assim, pela fé, você recebe o perdão de Deus e é salvo, primeiramente da morte eterna (do inferno), e em segundo lugar, salvo de você mesmo… Do seu egoísmo, do seu orgulho, do seu Eu. Então passa a obedecer a Deus, não por obrigação, mas por amor, por que Ele te amou primeiro. E passa então a amar ao seu próximo (quer ele mereça ou não). Não por que você é bom, mas por que Deus te amou primeiro incondicionalmente.
Eu ainda peco, sim… Como disse ao meu amigo, eu peco todos os dias… Eu também não passei no teste acima… Paulo, novamente em Romanos se vê nessa mesma situação quando diz “Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita o bem: o querer o bem está comigo, mas o efetuá-lo não está. Pois não faço o bem que quero; mas o mal que não quero, esse pratico.” (Rm. 7:18,19).
Mas hoje eu tenho a consciência dos meus pecados e, arrependido, peço perdão a Deus por meio de Jesus, meu fiel advogado que pagou o preço e comprou a minha vida com o Seu sangue. Hoje eu sou capacitado por Deus a deixar de pecar, sou capacitado a pensar menos em mim e mais nos outros, sou capacitado a corrigir meus erros a cada dia. E ser cada dia mais parecido com Jesus Cristo, o único homem que nunca pecou.

Guilerme Menga

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