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Há vantagens no sofrimento, por isso sofremos publicamente (mostramos aos outros a nossa tristeza) e compartilhamos muito mais do sofrimento alheio do que da sua alegria. Somos capazes de entender um estranho chorando e até oferecer o ombro, mas dificilmente entendemos um estranho gargalhando. Talvez nos afastássemos dessa pessoa. Não muito longe disso, dentro de uma igreja é muito comum ver pessoas chorando, entristecidas, durante um momento de oração, mas raramente vemos alguém rindo. E curiosamente associamos o paraíso, a morada de Deus, a um lugar repleto de felicidade!
Uma vantagem do sentimento está justamente em mostrar aos outros que se sofre. Supostamente, uma pessoa que sofre é uma pessoa que valoriza o que foi perdido, que estaria disposta a cobrir a falta do que se perdeu. Assim, quem chora por um ente morto estaria disposto a fazer o que ele fazia ou faria (ao invés de criar a ansiedade de algo novo); quem sofre/chora por um reino tomado estaria disposto a reerguê-lo (em detrimento de filiar-se a outro reino); quem sofre pela ação de outro ficaria feliz se ele agisse de outra forma (mais condizente com o que já é conhecido). Sofrer diz isso a todos em volta, ao ponto de muitas pessoas fingirem sofrimento, até falsearem o choro para exibir uma imagem melhor que a verdade. Essa vantagem social do sofrimento está de tal forma entranhada em nós que confiamos em quem chora, mas não em quem ri...
Mas sofrer não significa necessariamente externalizar o sofrimento. Para que o sofrimento passe do mais interno do cérebro ao mundo exterior, ele tem de se traduzir em ações concretas, práticas, mesmo que essas não signifiquem nada ao outros. A forma mais simples de externalizar é o choro (que não afasta a causa do sofrimento), mas é muito eficiente em ser entendido. Outras vezes, o sofrimento se manifesta em mudanças de hábitos, comer menos, falar menos, mudar as expressões faciais. Em casos mais graves, ele afeta fortemente o processamento cerebral e pode impedir que alguém tome decisões, que interprete os sinais emotivos das pessoas próximas, que sinta prazer nas atividades diárias.
Se a causa do sofrimento é óbvia, a reação mais usual (e protetiva) é a pessoa fugir do que a agride, como por ex. evitar certas companhias, lugares, conversas, ou mesmo tomar uma atitude agressiva na impossibilidade de livrar-se do que lhe atormenta. Se a causa porém é difícil de ser determinada, ou se ela deriva de muitos pequenos fatores somados, podem haver problemas nessa "tradução" do estado de espírito para o modo de se portar. E, claro, quem está ao redor não será capaz de decodificar que você sofre, podendo agir de forma inconveniente e até dolorosa (para o sofredor), como se "tocasse em feridas". O problema é que, durante esses períodos de dor, o nosso funcionamento cerebral está favorecendo que se formem as chamadas "memórias aversivas", está como que "armado" para identificar um alvo para atacar ou do qual fugir. Erros graves de julgamento são inevitáveis.
RELIGIÃO E SOFRIMENTO
Os homens que participaram das estórias narradas na Bíblia não estavam alheios a esses problemas (bem humanos, aliás) e nem Deus deixou de intervir. O grande apelo bíblico às pessoas sempre foi a exposição do sofrimento humano, desde a crucificação de Jesus até as penúrias de Jó, os lamentos de Jeremias, a linguagem esperançosa e triste de Paulo numa prisão. Sem encontrar a fonte do sofrimento ou deparando-se com algo que não pode mudar, a mente humana geralmente fantasia, cria e elucubra conexões estranhas entre os fatos para dar forma à dor. Muitos acabam concluindo que "todas as pessoas XXX ou YYY são ruins", "o demônio opera na minha casa", "tem um encosto, assombração ou entidade me perseguindo ou atrapalhando", "eu nunca vou ser capaz de fazer isso" ou "eu não mereço a atenção dos outros". Tiago dá uma mostra da orientação divina quanto a formas de escapar disso, quando diz "Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis." (Tg 5.16), indicando que falar pode libertar as pessoas do sofrimento. Falar? Sim, pois falar A ALGUÉM força um tipo de raciocínio menos fantasioso, justamente quando o sofredor tende a falar em demasia consigo mesmo.
O meio religioso é afeito a atribuir os sofrimentos aos demônios (que seriam tão mais perigosos quanto mais invisíveis) e comportamentos que resultam na punição divina (e a liberdade Dele em perdoar, punir ou fazer qualquer coisa?). Tais ações/acontecimentos atestam para as pessoas a verdade de conceitos que sua mente teima em refutar, já que não são mesmo pertinentes à razão (como a simples existência do Criador) e reforçam a necessidade da Igreja como protetora. Enfim, muitas vezes são usados (ou até feitos) pela igreja para justificar sua própria existência!
Jesus não usou milagres para conseguir seguidores, Ele até afirmou que os homens poderiam fazer maravilhas maiores que as Dele (Jo 14.12). Também não usou demônios e assombrações como justificativa para as pessoas virem até Ele. Infelizmente, é muito mais fácil usar o medo (que todos têm) para atrair as pessoas do que o amor, que exige muitos sacrifícios próprios...
Dessa forma, alguns transtornos derivados do sofrimento podem ganhar caráter sobrenatural, sendo tão orgânicos quanto uma perna quebrada. Tiago enfatizava que de nada adiantaria o cristão orar por alguém que tem fome, se não lhe desse comida e com o que cobrir-se (Tg 2.15-16)! Hoje, a depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, etc são reconhecidas como questões médicas que requerem tratamento, ou seja, cuja recuperação sem atendimento profissional é muito improvável. Não se trata de especulações, mas do resultado de estudos criteriosos feitos por especialistas, com milhares de pessoas e em todo mundo. Dentro da igreja, periga o fato de que o meio fortalece a demonstração de sintomas depressivos (ex. reclusão social, tristeza profunda, dificuldade de raciocínio), até psicóticos (ex. visões, conhecimentos não obtidos por raciocínio, alterações drásticas de personalidade), oferecendo a justificação da obra de demônios (e daí a necessidade de aproximar-se mais da Igreja) ou até de Deus! Não foi exatamente essa a obra curadora que Jesus propôs.
MUITO PRAZER, MEU NOME É TRANSTORNO
Há características orgânicas das pessoas que as predispõem a engajar-se em grupos religiosos ... e também a agravar transtornos de humor. Uma delas é a maior quantidade dos receptores de serotonina (um neurotransmissor) chamados 5HT1, numa estrutura cerebral conhecida como amídala. Por essa estrutura (na verdade uma de cada lado do cérebro), passam as reações emotivas da pessoa; quando se ativa em excesso aparecem sintomas depressivos de culpa e medo, dificuldade de raciocínio e tristeza.
Essas "formas de pensamento" são bloqueadas pela chegada de serotonina à amídala. Se o fornecimento de serotonina diminui (geralmente uma conseqüência direta do estresse), o cérebro aumenta a quantidade de receptores para ela, numa tentativa desesperada de manter a personalidade da pessoa intacta. Esse aumento aparece nos trabalhos em pessoas passando por transtorno bipolar, depressão e até esquizofrenia. Se mesmo aumentando receptores não é possível mantar o funcionamento habitual do cérebro, vemos literalmente uma transformação da personalidade: o indivíduo torna-se mais triste, introvertido, agressivo, se culpa, engaja facilmente em grupos religiosos (qualquer um). Ele também fantasia conceitos estranhos sobre muitas coisas, embora evite falar nisso, porque de fato não são idéias racionais, e sua discussão ou questionamento resultam em mais retraimento e agressividade.
Acredita-se que 10% do mundo esteja sujeito a essas alterações de personalidade, desencadeadas pelo estresse ou modificações cerebrais que ocorrem na adolescência, ao redor dos 30 anos nos homens e ao redor dos 45 nas mulheres (Previc, 2006). Para felicidade geral, o transtorno é bem resolvido pela medicina atual, com 50% das pessoas obtendo reversão total e 50% das restantes podendo levar vidas normais com algum acompanhamento médico.
Se você acha que está longe disso, o Brasil figura na lista dos países onde transtorno e religião se mesclaram. Estudos históricos e por entrevistas já compararam a nossa religiosidade com as epidemias de “loucura coletiva” no séc. 19 (que ocorreram em toda América), descrevendo minuciosamente cultos de várias religiões, práticas e entidades sagradas, evidências de Messianismo (você sabia que o Antônio Conselheiro de Canudos tinha delírio crônico de Magnan?), epidemias psíquicas, o beribéri de tremeliques ou caruara em São Luís/MA e Salvador/BA. Eles apontaram principalmente como as crenças ganham poder em populações vulneráveis ao contágio imitativo. A religiosidade das classes populares brasileiras foi assim classificada cientificamente como tendo "um caráter híbrido, no qual uma casca de catolicismo monoteísta europeu encobria crenças mais bem fetichistas, politeístas e animistas" ¹, capazes de propagar fenômenos de loucura coletiva (Dalgarralondo, 2007).
Fala-se em pessoas com idéias místico-eróticas, misturadas com autoacusação. Por exemplo, um jovem presbiteriano que teve alucinações e delírios acreditando ser o apóstolo Pedro. Após um período em que se tornou triste e sombrio, decidiu cortar o pênis com uma faca, pois se masturbava com freqüência e decidiu seguir as indicações de Jesus. Citou para justificar seu ato: “Se tua mão direita te escandaliza, corta-a e lança-a fora...”.
Embora o trabalho tenha se concentrado no catolicismo como religião européia que o Brasil absorveu, hoje vale à pena pensarmos em quanto do protestantismo [europeu] ainda temos. Quanto disso está atualmente contaminado com "fetichismos, politeísmos e animismos"? Nos anos de 1940, o município de Panelas/PE conviveu com um líder messiânico paranóide e de forte influência sobre um grupo de crentes. Em 1942, uma jovem espírita era seguida por qualidades mediúnicas - quando freqüentava as sessões espíritas, suas crises de choro, nervosismo e descontrole cessavam; sem as sessões, sentia-se nervosa e percebia que necessitava “receber os espíritos”. Em 1946, um movimento na região de Campo Grande/MS surgiu com um pai fervoroso crente, às vezes alucinado e portador de idéias místicas de super-poder, e seu filho, um adolescente com anemia profunda, de inteligência aparentemente subnormal, que tinha ânsia por curar e dizia que enlouqueceria se não o fizesse. A cidade de 30 mil habitantes recebeu uma multidão de doentes, paralíticos, asmáticos, ulcerosos, que se diziam curados pelo menino santo. A mortalidade aumentou tanto que o juiz local empregou a polícia para dar fim ao culto (Dalgarralondo, 2007).
Se por um lado o espírito comunitário, a disciplina das igrejas e o controle da vida afetiva provém uma vida mais sadia, os desequilíbrios familiares e a “desumanidade das relações industriais” podem também se configurar nos cultos, transformando a vida religiosa em neurose.
Além nosso fetichismo, politeísmo e animismo, eu ousaria dizer que alguns cultos cristãos até têm até traços fortes de judaísmo, o que cria um tensão cultural forte e precipitadora de transtornos. Essa tensão existe porque a religião ESTÁ banhada em elementos culturais. No VT, o judaísmo é evidente; no NT, aparece muito da cultura grega nos escritos de Paulo; o protestantismo se apóia numa racionalidade européia; a formação cultural da maior parte dos brasileiros é católica ou afro; no final, somos praticantes de uma religiosidade (que é bem diferente de fé) bem distante do nosso universo de valores. Achamos que estamos sendo ensinados aos valores do "reino de Deus", quando estamos bebendo a goles do judaísmo, da Europa, dos gregos, etc. Igreja e vida real se tornam duas coisas tão distantes que, para participar de um, somos tentados a abandonar o outro. E como não se pode viver em apenas um dos lados, surge um estresse que vai crescendo... crescendo... até desembocar em um transtorno (nas pessoas que são naturalmente sujeitas a isso).
MEMBROS TRANSTORNADOS
Os transtornados já foram chamados profetas (se as idéias bizarras podem encontrar seguidores...), possuídos (e quantos acabaram na forca ou na fogueira entre os sécs. 13 e 18 !) ou até santos (pois é, imagine se freqüentar a comunidade religiosa ou falar de forma empolgada fossem elogiados por Jesus, então!). Além de encontrar reforço, no meio religioso uma "personalidade alterada" pode até assumir influência, desviando toda uma comunidade dos princípios cristãos. Pouco sábio que é, lá no 1º século Deus já nos deixou uma instrução clara através de Paulo, alertando que as pessoas não deveriam buscar pelo poder e influência:
2Co 12.9. A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.
Quanto ao retraimento e idéias estranhas, Davi já havia experimentado na pele isso. Ele vagou pelo deserto escondido do próprio rei (a quem salvara) em cavernas, até se refugiando (e fingindo [será mesmo?] de louco entre seus inimigos), quando deixou escrito "Como é feliz aquele a quem o Senhor não atribui culpa e em quem não há hipocrisia! Enquanto escondi os meus pecados, o meu corpo definhava de tanto gemer." (Sl 32.2). O pastor e psiquiatra Ricardo Zandrino acrescenta que a fantasia pode afastar as pessoas do que é real, projetando nas outras pessoas da comunidade os conflitos que nos são próprios, em busca de um perdão que NÃO SOMOS CAPAZES DE NOS DAR. Tiago já escrevia, "Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis." (Tg 5.16).
Quando Jonas pede parra morrer e depois se entristesse em demasia por causa de uma planta, ele dá um belo exemplo de como os líderes religiosos são sujeitos a transtornos (Jn 4). Repare também a tristeza e o pessimismo de Jeremias quando escreveu o livro de Lamentações:
Lm 4.19. Nossos perseguidores eram mais velozes do que águias nos céus; perseguiam-nos por sobre as montanhas, ficavam de tocaia contra nós no deserto. O ungido do Senhor, o próprio fôlego da nossa vida, foi capturado em suas armadilhas. E nós que pensávamos que sob a sua sombra viveríamos entre as nações!
Embora a fé seja um dom, aparentemente religiosidade não é saudável para todos. Religiosidade são todas aquelas práticas que fazemos para afirmar nossa fé para nós mesmos e para o grupo, como por ex. orar, ir aos cultos, etc. De acordo com o psicólogo Gordon Allport, a orientação religiosa de alguém pode determinar o efeito da religiosidade sobre ela, podendo ser intrínseca ou extrínseca. Pessoas com orientação extrínseca usam a religião para outros interesses mais fundamentais, como segurança e conforto, sociabilidade e distração, status e auto-justificação. Essas pessoas tendem a abraçar "levemente" a religião, apoiando ou contrapondo-se a ela conforme interage com suas outras prioridades. Para essas pessoas, a religiosidade se traduz em dogmatismo, preconceito, medo da morte, ansiedade, etc. As pessoas com orientação intrínseca, por outro lado, colocam a religião como seu motivo primário, alterando outras atividades para que se adequem ao credo. Esses traduzem a religiosidade em mentes mais saudáveis (Moreira-Almeia, 2006). De qual tipo você é? ²
Entre as vantagens da religiosidade para os de orientação intrínseca, são relatados otimismo e esperança (12 dentre 14 estudos atestam isso), auto-estima (16 dentre 29 estudos), senso de significado e propósito na vida (15 dentre 16 estudos), controle dos eventos na sua vida, apoio social (19 em 20 estudos) e estar casado ou ter maior satisfação conjugal (35 de 38 estudos) (Moreira-Almeia, 2006). Essas medidas valem também para alguns pastores transtornados que se auto-acusam de "falta de fé" (o que por si mesmo já é um comportamento depressivo de baixa auto-estima), que talvez indique somente um posicionamento pessoal que não é exatamente o buscado pelas famílias, amigos, etc que dão suporte social a qualquer pessoa. Ora, os principais líderes na Bíblia (ex. Jonas, João Batista, Paulo, etc) não foram exatamente pessoas elogiadas por suas famílias, ainda que hoje isso tenha sido colocado como um ponto necessário ao "bom sacerdote".
LÍDERES TRANSTORNADOS
Os pastores, como qualquer tipo de líder, estão particularmente sujeitos à sobrecarga por problemas pessoais dos fiéis (sobrevive ainda a função do sacerdote do livro de Levítico, ou seja, de vigia, legislador, médico e até culpado pelos males), desarticulações da igreja e problemas financeiros. Com pouca exceções, a igreja protestante herdou dos católicos a participação majoritária dos pastores no grupo que Jesus mesmo chama de igreja, como se falássemos de um reino onde o pastor é rei - obra requerida por Jesus para si mesmo. O resultado é uma ocorrência maior de ansiedade, depressão, transtornos de humor, ou até esquizofrenia entre os líderes. Não é situação diferente dos líderes de empresas, mas o fato estarrecedor é que a igreja (a menos que Jesus tenha errado) não é uma empresa, e sim um grupo (não uma reunião) de fiéis. Alguns trabalhos avaliam que pelo menos 28% dos pastores/padres/etc declaram-se emocionalmente exaustos, sentimento compartilhado por outras profissões que lidam constantemente com pessoas, como policiais (26%) e executivos (20%). Hoje fala-se até em uma "Síndrome do bom samaritano desiludido, desencantado” (Mitra Diocesana de Caxias do Sul, 2011).
Estima-se que entre 20-30% dos cristãos que procuram atendimento psiquiátrico (e veja-se que isso é provavelmente menor do que a fração de portadores de transtornos) são pastores. Isso porque há uma certa aceitação de transtornos orgânicos entre os pastores protestantes. Aparentemente, a Igreja Presbiteriana é onde ocorre maior reconhecimento desses problemas. A causa principal, apontada por 50-60% desses pastores, é o estresse causado por problemas dentro da Igreja, baixa remuneração (bem diferente das causas na população em geral!) e falta de fé (60-70%), seguido por problemas no casamento (+ ou - 20%) como insatisfação das esposas pela falta de tempo dedicado à família e tratamento recebido dentro das igrejas. Em algumas denominações mais do que em outras, a ação do demônio também é citada, ainda que a Bíblia envolva o demônio em ações bem diferentes (Deus, 2009).
Quanto ao estresse, os pastores são homens como todo o resto do mundo... Quanto à falta de fé, quem poderia reclamar da falta de fé de um pastor? Deus (e imagino que ele tenha modos mais claros de se expressar) ou ele mesmo. Graças à teologia da prosperidade, se alguém tem problemas é porque Deus o está rejeitando! Juntem-se a outros rejeitados que também tiveram muitos problemas e portanto devem estar na LISTA NEGRA do Senhor: Jó, Abraão, Moisés, Davi, Jonas, Jeremias, João (batista), Jesus, Marcos, Estevão, Paulo... Entretanto, assumir os problemas, mesmo numa perspectiva de normalidade, não os resolve, melhora a remuneração (que alguém pode escolher ter pouca, mas não sua família), deixa mais tempo para se dedicar à família ou melhora o tratamento das esposas. Pastores estão particularmente sujeitos a transtornos. Entretanto, na figura de líder carismático, ungido, esse “homem de Deus” na comunidade, tem que estar sempre pronto e disponível, a qualquer momento, com uma profissão e local de trabalho que lhe são determinados por outros, agravando a predisposição a problemas. Mesmo assim, avalia-se que 60-70% desses líderes rejeitam a princípio a busca por tratamento psicológico ou psiquiátrico, creditando suas mazelas a falhas deles próprios (Deus, 2009).
As principais causas de estresse no trabalho (qualquer ocupação) são (1) excesso de demandas, (2) falta de controle sobre os resultados, (3) longas jornadas de trabalho, (4) falta de recursos para atingir as metas, (5) objetivos mal-definidos, (6) atribuição de tarefas mal-definidas e (7) conflitos inter-pessoais, nessa ordem (Nixon, 2011). Vendo o sacerdócio como um emprego/ocupação da pessoa, líderes religiosos em geral são seriamente afetados pelos 4 primeiros ítens, com o peso extra de que se o sacerdócio é imputado por Deus (algumas denominações chamam isso de "chamado"), então falhar nele é falhar no seu objetivo primordial de vida. Como é difícil lembrar que o mesmo Senhor criador nosso fez Adão, que começou nossa história com uma falha. Os sintomas geralmente provocados pelo agravamento do estresse são comportamentos ansiosos (ex. impaciência), comportamentos depressivos (especialmente quebra de relacionamentos), adicção (na forma alcoolismo ou freqüência compulsiva à internet), o sexismo (erotização de tudo, homens fazem isso, mulheres fazem aquilo), bulimia/anorexia (literalmente comer-e-vomitar ou simplesmente não comer), etc. Uma pessoa comum pode recorrer ao álcool, mas com que culpa extra um sacerdote faria isso? Felizmente Jesus veio ao mundo humano para tratar os doentes, ao invés dos sãos...
Entre as pessoas com orientação intrínseca (espera-se que os pastores estejam aqui), um estudo encontrou ligação entre a prática religiosa e a proteção contra sintomas depressivos, mas somente nas pessoas sob grande estresse (os pastores estão aqui). Entre as com orientação extrínseca, por outro lado, a prática religiosa parece agravar os sintomas depressivos (esperemos que os pastores não estejam aqui). Nesse caso, quanto maior o trabalho a que o pastor estiver sujeito, maior risco para sua saúde gravemente sua saúde. Resta que saibamos nos posicionar de acordo com a orientação de cada um, levando a vida religiosa (sim, ela é importante, até para os ateus) com um pouco mais de leveza e deixando de Deus faça o trabalho dele (que nós, pelo grande esforço, devemos atrapalhar bastante).
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¹ Fetichismo: crença de que alguns objetos (ex. varinha mágica, paletó sagrado, lenço santo) possuem poderes mágicos ou sobrenaturais; Politeísmo: adoração de vários deuses (ex. tupã, ci, oxum, egum, pai, filho e espírito santo separados); Animismo: crença de que pedras, plantas, lugares, etc (ex. encruzilhada, espaço dentro da igreja, montanha mais próxima) possuem alma ou até personalidade, como se fossem entidades ou pessoas.
² Se você quer ver a sua orientação religiosa (ou de outros), abra o questionário abaixo. Você pode mandar esse link por email, chat, colar na sua página pessoal, etc. Vamos atualizar a página o mais vezes possível durante a semana, ok?
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SE VOCÊ SE INTERESSA POR ESSE TEMA, LEIA TAMBÉM
- os links nos parágrafos (eles funcionam!)
- Hoch LC, Noé SV, Comunidade Terapêutica, Ed. Sinodal, 2003
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