quinta-feira, 3 de maio de 2012

Igreja dos rinocerontes

 

Jesus falou que Ele é o caminho (Jo 14.6). Sem Ele, não tem cristão. Então só cristão vai para o céu...

Mas não se preocupe, é bem fácil ser cristão. Às vezes, tudo o que precisamos para ser cristãos é dizer isso mesmo: “Sou cristão”. Para ficar mais forte e convincente, pode-se acrescentar o sobrenome. Cristão Apologético Marcolino Joanonino do Vigésimo Nono Livro de Atos Reformado. Outras vezes, requer um pouco mais, algo como falar o dialeto específico, usar a sagrada roupa dos cristãos e ter a bíblia ao alcance das mãos, como uma espada para bater na cabeça dos hereges mundanos (d)e todo mundo. Outras vezes, ainda, ser cristão pode exigir de você uma frequência no Fabuloso Templo Dourado dos Sete Pilares de Mármore e Ouro, onde você também deve passar e receber Aquele passe do santo pastor de fortes orações, que derruba 318 pessoas com seu paletó do 3º Céu e cura 414,5 endemoniados repetindo três frases em aramaico invertido, que era a língua santa e ininteligível de Jesus. Talvez isso te exija algumas horas semanais, ou algum capital, mas você no fim vai recuperar essa grana ficando longe dos bares, festas, alegrias, amigos de infância, família, etc.

Para falar a verdade, pode ser caro sim...

No passado, ser cristão já foi mais duro. Significava levar pedras a tiracolo para jogar nos judeus, ter bom ouvido para delatar bruxas, ser rico para financiar as obras da Igreja ou abster-se de sexo e carnes vermelhas, pois estes devem ser totalmente condenados na Bíblia ou noutro texto ainda mais santo. Não ser declarado cristão poderia também te colocar no grupo das pessoas que você perseguia quando era cristão, o que era um risco e tanto.

Não sejamos hipócritas... Se isso significa ser cristão, estou fora dessa, junto com Jesus e seus apóstolos tomadores de vinho que andavam com prostitutas, gente imoral e morreram antes que pudessem deixar mais do que um Novo Testamento. Não quero ser aplaudido por ser cristão, pois eles não foram. Se escapar das penas deles, já está bom! Também não quero ser esquecido pelos amigos por ser cristão, como eles não foram. Em 1Co 12.13, Paulo se deu até ao desfrute de dizer que todos beberam do mesmo Espírito, até os livres, sem religião ou grupo para pertencer. Bem feito para eles, que vão ficar de fora junto comigo.

Jesus e os que o acompanhavam fizeram o possível para ensinar que é necessário amar a Deus ... e ao próximo. Isso foi às custas, por exemplo, de renunciar ao sábado paralítico dos judeus. Deus ordenou que se guardasse o sábado, e Jesus trabalhou nesse dia honrando a Ele com o mandamento de amar ao próximo. Deus ordenou que se não tivessem outros deuses diante Dele, e Jesus mandou dar ao deus César (isso mesmo – leia de novo: deus César) o que era dele, e a Deus o que era de Deus. Parece uma ruptura, não é? Servir a César não significa servir a Deus, mas Jesus manda que demos a Cesar exatamente o que ele quer. Ele não pediu ouro, nem sequer obediência.

Sinceramente, se Naquele Dia eu for me encontrar com Jesus para que o Senhor nada tenha a falar de mim exceto sobre ter usado essa roupa ou aquela, ter bebido as coisas certas, ouvido a música boa, assistido os programas de TV corretos e ter frequentado tantos porcento dos cultos, tentarei perguntar porque Ele se deu ao trabalho de reger as vidas daqueles que escreveram a Bíblia. Os 10 Mandamentos já não eram suficientes?

Tiago, o justo (e irmão de Jesus) dá uma descrição magnífica do que significa igreja: “Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é vã. A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo” (Tg 1.26-27). Antes que ele se tornasse o bispo de Jerusalém, contudo, Jesus mesmo disse “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Mc 12:30-31). Onde está dita a importância de freqüentar cultos, falar de forma ininteligível? Cadê a moda certa, música que se deve ouvir para ser cristão?!

Embora sejamos ensinados a pernsar “o que eu posso fazer para mim mesmo para ser um cristão”, Jesus era mais interessado em “o que você pode fazer para Deus e para o outro”, deixando as etiquetas de "bom cristão" para serem postas por Ele mesmo. E depois Tiago detalhou especificamente como “amar ao próximo de forma prática”. O livro de Eclesiastes nos ensina que Deus pode prover tudo - felicidade, sabedoria, etc - e não precisa da nossa direção para isso. Para Ele nada podemos oferecer além de nossa confiança e obediência, e até nesse pouco somos bem falhos! Em ajudar aos necessitados nas suas aflições, então...

Quanto dos 2012 anos de história da Igreja foram dedicados a esse propósito? E quanto tempo se gastou em levantar colunas, torres, templos, músicas, hábitos, tradições? Se a Igreja perder suas paredes, capital, bandas, hinários e jornais... se as tradições forem esquecidas... se os cultos terminarem... o que realmente vai restar para mostrar ao Senhor? São por essas quinquilharias que as pessoas brigam, até se matam - em nome Dele. E por incrível que pareça, o próprio Jesus nada teve disso, e nada ordenou quanto a tais coisas.

De repente dá um grande vazio! Talvez os cristãos tenham bem pouco a dizer Naquele Dia, afinal.

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