sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Falar em línguas - marqueting evangelístico?


Seguem 3 vídeos interessantes sobre o FALAR EM LÍNGUAS. Coloco aqui apenas minhas opiniões pessoais, mais as de alguns que engrossam esse caldo. Assistam antes de ler o texto.



(clique no link, pois esse vídeo não permite incorporação)

E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu. E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão falando? Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos? (Atos 2.4-9)

Esse trecho do livro de Atos já dá muito o que falar. Ele narra uma obra sobrenatural, onde a realidade mundana é distorcida em nome de uma pregação fabulosa. Numa Jerusalém poliglota que falava hebraico, aramaico, grego, persa e latim, os apóstolos de repente se põem a pregar em uma língua inexistente, que todos os ouvidos podem compreender. Até então, a única língua unânime naquele lugar havia sido a violência.

Por algum motivo, o fato de que o escritor de Atos (provavelmente Lucas, pelo estilo usado) não deu nome à lingua falada pelos apóstolos coloca ela na categoria de "língua nenhuma", ao invés de "língua geral", como o próprio texto faz acreditar. É sem dúvida de se questionar qual seria o propósito do Espírito Santo em colocar homens pregando numa língua incompreensível, que simplesmente os levaria a ser ridicularizados.

Mas como falar uma língua geral atrairia pessoas às igrejas? Pior do que isso, que artifício seria necessário para falar essa língua da qual não há conhecimento em toda história? Não duvido que o Espírito Santo a possa produzir, mas talvez Ele tenha reservado a si mesmo esse poder, impedindo que os homens o usem. Segue-se que a única alternativa que sobra a quem QUISER falar em línguas é, portanto, perverter o significado do texto original e trocar a "língua geral" que todos entendem pela "língua nenhuma" que ninguém entende. De  onde vem essa produção linguística?

Sem apelar muito a conhecimentos espirituais, é fácil observar o aparecimento das mesmas línguas e comportamentos estranhos nos transes shamânicos. Com algum treinamento, a maioria das pessoas é capaz de entrar nesse ESTADO HIPNÓTICO em que os filtros cerebrais que coordenam a consciência são desligados e todo tipo de informação no cérebro (aberrante ou não, e provavelmente desorganizada e sem propósito) tem acesso à consciência. Com uso de drogas isso é mais fácil de ocorrer, mas elas não são necessárias na maior parte das vezes. Memórias de palavras ouvidas, sons ou mesmo balbucios gruturais são o resultado disso. Talvez exista um significado místico nesse tipo de transe, pois sempre as culturas antigas associaram as pessoas capazes de promover esse estado mental com intermediários entre os homens e seus deuses. Seria necessário muito mais texto do que o pretendido aqui para explorar esse tipo de conexão. Por hora, basta dizer que em nenhuma parte da Bíblia Deus usou esse tipo de comunicação para falar ao seu povo. Quanto a outros "deuses", talvez as imagens feitas das entidades a que os shamans dizem se conectar falem muito sobre O QUE são esses seres, se são mais que apenas uma face oculta da mente deles mesmos.

Bom, uma representação ou apresentação shamânica sempre atrai público. Entre os índios brasileiros temos ou tínhamos shamans. Entre os povos europeus também, assim como entre os africanos. Está em nossa maternidade cultural ser atraído para essas pessoas, que ofereçam algum contato com o OUTRO MUNDO. Embora a Bíblia jamais descreva esse tipo de ritual sendo feito entre o povo de Deus, o fato de chamar a atenção inevitavelmente o torna atrativo, e talvez útil AOS HOMENS para encher templos. Desde os tempos do REAVIVAMENTO wesleyano se vêem procedimentos sendo imitados, introduzidos, clonados com o propósito "evangelístico".

Houve tempos em que as pessoas gritavam para mostrar comunhão com Deus, tempos em que faziam aparecer dentes de ouro, tempos em que brotavam do nada objetos "sagrados" e tempos em que os homens eram derrubados à distância por um casaco encantado ou um raio invisível lançado das mãos do "apóstolo". Hoje, parece comum que se fale em sons guturais ou variações da ladainha DECANTARIS LABACHURIAS, que talvez signifique algo em aramaico antigo mas, para as audiências atuais não-falantes de aramaico, nada significa. Embora não diga nada por si mesmo, esse "falar em línguas" faz as pessoas crerem (contrariamente ao texto de Atos) que estão diante de um homem tomado pelo Espírito Santo, perto do qual elas talvez possam sorver um pouco ou se lambusar na graça recebida.

Não há resultado efetivo disso em termos de fé, mas cria-se o desejo de que haja resultado. Mais ainda, trata-se de um transe - se assim pode ser chamado - que boa parte das pessoas pode reproduzir. Quem fala em línguas então apresenta a elas um elemento do "reino de Deus" do qual elas podem se apossar e passar a outras. Eis que surge a sustentação de um culto! Não necessariamente um culto a Deus (pois Ele mesmo não usa esse recurso, em parte alguma da Bíblia), mas ao trase shamânico com nome de cristão.

Quem vende carro oferece status. Quem vende cigarro oferece liberdade. Quem vende casa oferece tranqüilidade. Quem vende multidão oferece o Reino de Deus. O marketing é lindo.

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